A Copa no país das violações de direitos humanos e a rede social Koo
Uma curadoria do melhor do jornalismo digital, produzido pelas associadas à Ajor. Novos ângulos para assuntos do dia
🔸 Na abertura da Copa do Mundo do Catar, projeções levaram ao gramado, convertido em deserto, camelos, mulheres viajantes e tratadores. Foram relembradas mascotes e canções de outras copas, descreve o Portal Terra. No discurso oficial de abertura, Tamim bin Hamad al-Thani, emir do Catar, elogiou a diversidade: “As pessoas, por mais que sejam de culturas, nacionalidades e orientações diferentes, vão se reunir aqui no Catar. Que beleza juntar todas essas diferenças”.
🔸 O emir não falou, é claro, sobre as denúncias de violações de direitos humanos de que o país é alvo: as mulheres vivem sob tutela de homens e precisam de autorização para estudar, trabalhar ou casar, a homossexualidade é proibida e há ainda a acusações de milhares de mortes de imigrantes sul-asiáticos que trabalharam na construção dos estádios. Como informa o Nexo, o presidente da Fifa, Gianni Infantino, não só relativizou as violações em entrevista à imprensa, como também se comparou a imigrantes e à comunidade LGBTI+ por ter sofrido bullying na infância: “Hoje me sinto catari. Hoje me sinto árabe. Hoje me sinto gay, hoje me sinto africano, deficiente. Me sinto mulher também. Sei como é ser discriminado, sofrer bullying, ser estrangeiro. Quando era criança na Suíça, sofria por ser ruivo, ter sardas e não falar bem alemão”.
🔸 Por que o Dia da Consciência Negra não é feriado nacional? A data de ontem é dedicada a lembrar da resistência dos povos africanos que vieram escravizados para o Brasil, no processo de colonização, tendo como referência o mártir quilombola Zumbi dos Palmares. Alguns estados e municípios, por meio de leis regulamentadoras, transformaram o 20 de novembro em feriado, mas falta uma lei federal. A Alma Preta resgata a origem da data, relembrando a história de Palmares, e ressalta que um projeto para tornar o dia um feriado nacional aguarda votação na Câmara – desde setembro de 2021.
🔸 De volta da COP27 e da visita ao presidente de Portugal, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chega a Brasília nesta semana para intensificar três pontos no trabalho da equipe de transição. Segundo o Congresso em Foco, Lula deverá definir os integrantes do grupo de transição na Defesa, única área cujos nomes ainda não são conhecidos. Há quem diga que também começará a definir alguns nomes para ministérios, em especial, encontrar um posto para Fernando Haddad (PT). A principal tarefa, enfim, será trabalhar pela aprovação da PEC da Transição.
🔸 Membro do grupo de comunicação na equipe de transição de Lula, Manuela D’Ávila quer levar a pauta da educação digital para o debate. Ex-deputada federal, estadual e candidata a vice-presidente em 2018, ela defende que “o Brasil tenha um longo plano de educação, de letramento midiático e digital”. Em entrevista ao Sul21, afirma: “As pessoas, hoje, têm dificuldade prática e objetiva de diferenciar fato de opinião e de saber como proceder diante da enxurrada de informações que recebe pela internet. Eu me refiro a procedimentos simples. O que faz eu não cair numa fake news e outras pessoas caírem não é inteligência, mas sim um método, é ter uma determinada capacidade instalada”.
📮 Outras histórias
Moradores do semiárido do Nordeste comemoraram a vitória de Lula com uma expectativa específica – a de ter acesso a uma cisterna. Desde 2017, a política pública que levava cisternas à população sofreu intensa desaceleração. Se o orçamento executado em 2013 passou de R$ 816 milhões, o orçamento previsto para 2023 é de R$ 2,2 milhões. A equipe de transição de Lula, porém, garantiu que o Programa de Cisternas será prioridade e que o meio de destinar recursos já está sendo debatido com o Congresso, segundo reportagem do Marco Zero.
“Estou há uma semana com estômago ruim e nunca tem médico para me atender.” A frase é de Jô, como pede para ser chamada a moradora da Nova Holanda, uma das 16 favelas do Complexo da Maré, no Rio de Janeiro. O drama de Jô não é apenas dela – mulheres negras têm acesso à saúde dificultado, além de serem as que mais sofrem com violência obstétrica, como mostra o Maré de Notícias.
📌 Investigação
A empresa brasileira JBS está no centro de uma denúncia de trabalho infantil nos Estados Unidos. A investigação conduzida pelo secretário de trabalho estadunidense Martin Walsh desde agosto indica que pelo menos 31 crianças entre 13 e 17 anos estão presentes em funções perigosas. Subcontratadas pela empreiteira Packers Sanitation Services (PSSI), elas estariam fazendo a limpeza noturna das fábricas da JBS em quatro cidades. O Le Monde Diplomatique Brasil detalha o caso de uma criança de 13 anos que apresentou queimaduras químicas cáusticas em razão dos produtos de limpeza utilizados.
🍂 Meio ambiente
Balanço da COP27: pouco avanço e muita repetição. A conferência do clima da Organização das Nações Unidas (ONU) terminou no último sábado com representantes de governos sinalizando positivamente ao acordo de criação de um fundo para compensar perdas relacionadas às mudanças climáticas em países considerados vulneráveis. Mas, segundo especialistas, são poucos os resultados concretos. O Metrópoles faz um balanço da conferência, lembra o que era esperado e o que não andou. “A velocidade dos acordos está muito aquém da velocidade em que o problema avança”, afirma o pesquisador do ClimaInfo Bruno Toledo, que acompanhou a conferência em Sharm El-Sheikh, no Egito.
Mangues estáveis, praias e dunas em retração. Num raio-x do litoral brasileiro, o MapBiomas analisou praias, dunas, manguezais, apincus e áreas de aquicultura e salicultura. A Agência Eco Nordeste percorre os dados obtidos. O mangue, que se estende pela costa do Amapá até Santa Catarina, aumentou sua área em 4% no período entre 1985 e 2021. É berçário de inúmeras espécies marinhas – 70% a 80% dos peixes, crustáceos e moluscos que a população consome precisam desse bioma em alguma fase de suas vidas. A má notícia vem das praias, que tiveram uma retração de 15% no mesmo período, graças à pressão do mercado imobiliário e do avanço de infraestruturas urbanas.
📙 Cultura
“Era na roda de jongo que o povo preto se refazia, depois de muito lenhada, porque no outro dia tinha que estar de pé. A cultura é o INSS do povo preto escravizado”, afirma Laura Maria dos Santos, 63 anos, mestra de Jongo, manifestação popular do Quilombo Campinho em Paraty (RJ). A revista AzMina conversa com mulheres negras das cinco regiões do Brasil. Elas são a voz da arte e da resistência nos quilombos, nos terreiros, nas ruas, nos palcos e nas universidades.
Entre essas vozes, está MC Carol. Em entrevista à revista O Grito, Carolina de Oliveira Lourenço, uma referência do funk brasileiro, relata sua trajetória desde a infância e tem consciência do legado que construiu antes de chegar aos 30 anos. “Sinto muito peso por ser quem eu sou. Não sou uma mulher branca, padrão, falando sobre sexo. Sou uma mulher preta, gorda, totalmente fora dos padrões, falando sobre sexo abertamente”, diz.
🎧 Podcast
Já faz três anos que a Anvisa não divulga os resultados de suas análises sobre a quantidade de agrotóxicos nos alimentos. O tema, que envolve saúde e um enorme jogo de interesses, tornou-se um tópico sensível no Brasil, e pesquisadores da área passaram a sofrer ameaças. São com esses profissionais que o Prato Cheio, podcast d’O Joio e O Trigo, conversam no episódio “Agrotóxicos: Doença e Perseguição”.
👩🏽💻 Tecnologia
Depois do Twitter, o Koo. Na sexta-feira, os brasileiros descobriram a rede social indiana, que se tornou o mais novo refúgio para usuários do Twitter que estão deixando a plataforma desde que passou a ser controlada por Elon Musk – o bilionário demitiu milhares de funcionários, criou uma taxa para quem quer ter perfil verificado, entre outras medidas nada populares. No Manual do Usuário, Rodrigo Ghedin explica a origem da plataforma, criada em 2020 em meio a tensões do governo autoritário de Narendra Modi com o Twitter. Perfis de extrema-direita migraram em massa para a rede e há acusações de que ela amplifica a propaganda estatal e deixa correr livre o discurso de ódio contra muçulmanos. Estima-se que já tenha 50 milhões de usuários pelo mundo. Na avaliação de Ghedin: “Trocar o Twitter pela Koo soa como trocar seis por meia dúzia”.
A propósito: na madrugada de quarta-feira passada, Elon Musk mandou um e-mail para os funcionários do Twitter pedindo que se comprometessem com um sistema de trabalho “extremamente hardcore” ou se demitissem até às 17h do dia seguinte. O Núcleo conta que o ultimato teve mais demissionários do que o esperado. Embora os números não sejam divulgados, a estimativa é que o Twitter esteja agora com cerca de 30% da força de trabalho de duas semanas atrás, quando Musk assumiu a empresa. Os sinais de degradação da infraestrutura nas últimas semanas confirmam: alguns sistemas de verificação pararam de funcionar e o desempenho da plataforma estagnou ou piorou.