A COP das controvérsias e a redução de danos em quadrinhos
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🔸 A COP28 começou ontem imersa em controvérsias. Se já era polêmico o fato de a presidência da Conferência do Clima das Nações Unidas ser ocupada pelo sultão Al Jaber, dos Emirados Árabes Unidos, CEO da Empresa Nacional de Petróleo de Abu Dhabi, documentos vazados pela BBC indicam que o país planejava usar o papel como anfitrião para fechar acordos sobre petróleo e gás com nações participantes do encontro. O Eco também aponta um avanço já no primeiro dia da conferência: a criação do Fundo de Perdas e Danos, destinado a ajudar países impactados pelas mudanças climáticas. Com cerca de US$ 550 milhões iniciais, os doadores incluem Emirados Árabes Unidos, Alemanha, Reino Unido, União Europeia, EUA e Japão. O valor, porém, está longe da estimativa de US$ 400 bilhões anuais necessários.
🔸 Em menos de um mês antes da COP28, um vídeo questionando o aquecimento global alcançou quase 800 mil usuários só no Facebook. Levantamento da Lupa revela que o vídeo partiu de apenas três usuários da rede e mostra que eles o disseminaram em 15 grupos públicos diferentes. O conteúdo falso inclui declarações como a inexistência de evidências científicas sobre o gás carbônico aquecer o planeta, refutadas por instituições como a Nasa e o IPCC. A reportagem lembra que, desde 2004, há consenso científico sobre a influência humana nas emissões de gases de efeito estufa no aquecimento global.
🔸 “Nas 27 COPs anteriores, os resultados mantiveram uma regularidade impressionante. Eles variaram sempre entre um fracasso retumbante e alguns avanços tímidos”, escreve Agostinho Vieira, em artigo no Projeto Colabora. Segundo ele, a preocupação dos países com questões políticas domésticas e o próprio fato de esta edição ser realizada numa das capitais globais do petróleo leva a crer que “estamos mais para fracasso do que para avanço, mesmo que tímido”.
🔸 Enquanto a queda do desmatamento na Amazônia deve ser destaque do governo brasileiro na COP28, por aqui, o BNDES financia produtores rurais que desmataram ilegalmente áreas de floresta. Em parceria com o jornal holandês FD, a Repórter Brasil identificou dois empréstimos do banco público de desenvolvimento para fazendeiros autuados pelo Ibama por destruir 331 hectares de vegetação nativa no Cerrado e na Amazônia. Embora não sejam irregulares, esses empréstimos foram concedidos a poucos meses de uma nova regra que, a partir de 2024, vai dificultar esse tipo de operação. A reportagem detalha quem são os dois beneficiados pelos recursos.
🔸 Em campanha pela vaga para o Supremo Tribunal Federal, Flávio Dino escreveu uma carta aos senadores. No texto, o indicado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para a Corte afirma que será técnico e imparcial. A CartaCapital conta que, no périplo por gabinetes, ele defendeu a harmonia entre os Poderes e que o Supremo não pode ser “parte da polarização”. “É isso que eu tenho ouvido de parlamentares à direita, esquerda, de centro, de vários partidos, e tenho certeza de que isso é uma necessidade nacional.”
📮 Outras histórias
“Ela tinha um trabalho na educação que se tornou um legado. Tinha um método que chegou a ser premiado pela Unesco e virou modelo na África. Ela não era completamente alfabetizada, só depois que fez um curso de formação de professores.” Davison Coutinho, doutor em Design pela PUC-Rio e morador da Rocinha, fala sobre Francisca Elizia de Medeiros Pirozi, conhecida como Dona Elizia. A educadora chegou à favela na zona sul do Rio de Janeiro em 1966 e, por mais de quatro décadas, trabalhou para que moradores pudessem estudar e entrar em universidades. O Fala Roça resgata a história e o legado de Dona Elizia, cujo modelo de educação foi premiado pela Unesco e implementado em Moçambique, na África. Ela morreu em 2017, aos 77 anos.
📌 Investigação
Ex-pastor da Igreja Universal do Reino de Deus, Robson Fonseca da Silva relata que os bispos monitoram o peso dos pastores. Segundo Silva, que deixou a instituição em 2020, ele precisava enviar fotos da balança a cada 15 dias ao bispo Josué Amorim, responsável pela Universal no Piauí. Ao Intercept Brasil o ex-líder da igreja revela também que casamentos interraciais também eram vetados. “Houve um tempo lá dentro que o pastor tinha de casar com uma noiva, uma obreira, da mesma cor de pele que ele. Por exemplo: um branquinho não podia casar com uma moreninha, e vice-versa. Essa prática ainda existe lá dentro, até hoje.”
🍂 Meio ambiente
Importantes indicadores da saúde das águas, os peixes-boi-da-Amazônia podem ser afetados pelas mudanças de temperatura e pela seca da região, que, por sua vez, impactam na oferta de alimentos. “Eles morrem entupidos, porque em momentos de seca não há disponibilidade de alimentos, então se alimentam da lama do fundo, o lodo. Ao ingerir muitos sedimentos, aquilo vai se acumulando no intestino e eles acabam morrendo porque o intestino está socado de barro”, explica Miriam Marmontel, oceanógrafa e líder do Grupo de Pesquisas em Mamíferos Aquáticos do Instituto Mamirauá. A InfoAmazonia descreve a atuação de organizações para resgatar e reabilitar os peixes-boi-da-Amazônia.
📙 Cultura
Em vídeo: a exposição “Quilombo dos Teixeiras: Território e Ancestralidade no Litoral Negro do RS” reúne fotografias, objetos e relatos da comunidade quilombola localizada no município de Mostardas, onde moradores resistem há mais de 200 anos. O Sul21 conta que a mostra, inaugurada em novembro, fica para visitação gratuita até março de 2024 no Memorial do Rio Grande do Sul, no Centro de Porto Alegre. O material exposto vem dos esforços e da colaboração entre a equipe do Arquivo Histórico do estado e membros da própria comunidade.
🎧 Podcast
A probabilidade de uma mulher negra ter realizado um aborto no Brasil é maior que a de uma branca, tornando o acesso à interrupção da gravidez segura também uma pauta racial. O “Papo Preto”, produção da Alma Preta, recebe Paula Nunes, advogada criminalista, defensora de direitos humanos e deputada estadual pelo PSOL em São Paulo, para debater a necessidade de encarar o procedimento como uma questão de saúde pública e sua relação com as vivências de mulheres negras, principais vítimas de violências de gênero no país.
💆🏽♀️ Para ler no fim de semana
Em quadrinhos: grupos de extrema direita se apropriaram da pauta de redução de danos para espalhar desinformação, afirmando existir um “kit drogas” para incentivar o uso entre os jovens. A revista O Grito! narra como a Escola Livre de Redução de Danos ainda responde a um processo por apologia ao uso de drogas. A denúncia aconteceu depois que o grupo criou uma casa de acolhimento durante o Carnaval deste ano em Olinda (PE). No local, as pessoas podiam descansar, alimentar-se, beber água, e também recebiam protetor solar, preservativos e objetos que diminuem os riscos do uso de entorpecentes.