A COP 30 nas eleições de Belém e jogos para falar de política escola
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🔸 Se o número de candidaturas de mulheres negras e indígenas nas eleições municipais de 2024 aumentou, os desafios para as campanhas delas seguem significativos. São 81 mil candidatas autodeclaradas negras e 961 indígenas num ambiente em que é difícil competir com igualdade de condições. Elas enfrentam o subfinanciamento e a falta de apoio partidário. Mas não só: movimentos como o Mulheres Negras Decidem denunciam também a prorrogação do repasse de recursos do Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC) e do Fundo Partidário. O Catarinas conversa com candidatas sobre o problema e lembra que 70% da verba pública eleitoral nas últimas eleições foi destinada a homens brancos. “Diversas candidaturas de mulheres, especialmente mulheres negras e indígenas, receberam apenas R$16 mil. Quem faz campanha sabe que esse valor não chega nem perto do que é necessário para custear uma campanha eleitoral competitiva”, conta Evelin Moreira (PT), candidata à vereadora de Curitiba (PR).
🔸 Vale lembrar: pela primeira vez, as mulheres negras são mais da metade das candidaturas femininas. Enquanto a proporção de mulheres na corrida por uma vaga de vereadora se mantém estável desde 2016 (em cerca de 34%), o percentual de mulheres negras nesse recorte passou de 16% em 2016, para 17% em 2020 e 18% em 2024. A Gênero e Número organiza em gráficos os dados sobre a participação feminina nas eleições deste ano, incluindo candidaturas de mulheres indígenas, amarelas e de pessoas trans, tanto para as prefeituras quanto para as câmaras municipais.
🔸 Em Belém, cidade sede da COP 30, a conferência do clima influencia a corrida eleitoral. A questão ambiental e a crise climática têm moldado as propostas dos nove candidatos em disputa pela prefeitura da capital paraense. O Eco lembra que esta é uma exceção: o cenário não se repete em outras cidades da Amazônia, nem mesmo diante da grave crise ambiental. Já em Belém, os três principais concorrentes – Igor Normando (MDB), Delegado Eder Mauro (PL) e o atual prefeito Edmilson Rodrigues (PSOL) – enfatizam a sustentabilidade em seus planos de governo. Na liderança da disputa, eles mencionam a COP 30 como uma oportunidade de tornar Belém uma cidade referência em sustentabilidade.
🔸 No Rio de Janeiro, a prefeitura criou um protocolo de calor – que não foi posto à prova. A medida foi anunciada em junho, depois da morte de uma jovem por exaustão térmica durante o show de Taylor Swift. A Agência Pública explica que o protocolo tem cinco níveis e prevê medidas como a suspensão de eventos com grandes aglomerações. Desde a criação, porém, nenhum evento foi cancelado porque a capital não atingiu os níveis mais críticos desde que foi lançado. Um dos problemas do protocolo, segundo especialistas, está no fato de não ser regionalizado, ou seja, considera-se um índice de calor único para a cidade inteira, embora os bairros registrem condições muito diferentes.
🔸 Na Bahia, em Arataca, o prefeito transformou uma plantação de orgânicos num lixão. Fernando Mansur (PSD), candidato à reeleição na cidade que fica a 100 km de Ilhéus, despeja lixo – incluindo resíduos hospitalares, plásticos e carcaças de animais – no lote onde Lourisval José Mendes liderava a produção de orgânicos com outros membros do assentamento Terra Vista do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). O Intercept Brasil conta que Lourisval trabalhou 40 anos em condições análogas à escravidão na produção de cacau antes de se juntar ao assentamento, em 1994. Lá, ajudou a recuperar o solo degradado e conquistou certificação de produção orgânica para alimentos como cacau, cupuaçu, mamão e outros. Mesmo com determinação judicial de interrupção do despejo e limpeza da área, testemunhas afirmam que a prefeitura continuou a despejar lixo clandestinamente.
📮 Outras histórias
A seca severa em Porto Velho (RO) tem causado graves problemas no abastecimento de água potável. Com o nível do rio Madeira inferior a 40 cm, o mais baixo em 50 anos, a prefeitura recorre a caminhões-pipa e à perfuração de poços. Só em agosto, a Companhia de Águas e Esgotos de Rondônia intensificou o uso de caminhões-pipa, que forneceram quase 1 milhão de litros de água por dia, informa o Varadouro. Além disso, incêndios florestais têm agravado a situação: o Parque Estadual de Guajará-Mirim já perdeu mais de 60% de sua vegetação.
📌 Investigação
Mais de R$ 2 milhões. Este foi o valor que a clínica do vice-prefeito de Pedreiras (MA), Dr. Walber Rodrigues da Cruz (PT), recebeu da Secretaria de Estado da Saúde. O objetivo do contrato, assinado em 2022, era a “locação de imóvel com estrutura de maternidade”. No entanto, seu uso só existe no papel e na folha de pagamentos do estado. O Pedreirense revela que secretários de saúde afirmam desconhecer a existência de uma maternidade estadual em Pedreiras, ou de qualquer estrutura semelhante. As transferências de gestantes e recém-nascidos para o Hospital Macrorregional de Alto Alegre e outras unidades são recorrentes quando as estruturas de saúde dos municípios do Médio Mearim encontram casos com gravidades que não podem solucionar.
🍂 Meio ambiente
“A terra é viva, o Cerrado é vivo. Se você joga produto químico, acaba matando, mas, se jogar uma cobertura, o solo muda a textura, aparecem as minhocas e as raízes flutuam sob o solo porque tem muito mais matéria orgânica”, afirma o agricultor Bernardino Alves Barbosa. Com meio hectare de terra na região oeste da Bahia, ele produz 14 tipos diferentes de frutas, além de plantas medicinais e hortaliças, em um sistema agroflorestal, mostrando a biodiversidade do Cerrado e como preservá-la. A partir do curso técnico de Agropecuária, ele conseguiu um intercâmbio em Brasília, onde aprendeu as técnicas de manejo de agrofloresta que implantou na propriedade da família. A Eco Nordeste visitou o Sítio Primavera e mostra uma alternativa à devastação ambiental promovida pela expansão da monocultura de soja.
📙 Cultura
Criada para garantir acesso à produção de autores negros, a biblioteca comunitária Assata Shakur, na zona leste de São Paulo, oferece uma variedade de livros gratuitos, além de promover cursos, debates e festas que celebram revolucionários negros. “A biblioteca é essa grande possibilidade de conhecer a nossa história e estudar os nossos teóricos, pessoas negras que produzem conhecimento e que não é tão fácil de ser acessado”, afirma o professor e cofundador do espaço, Kairu Kijani. O Desenrola e Não Me Enrola conta que a iniciativa propõe atividades para crianças durante as férias escolares, com oficinas de hip hop, capoeira, balé, culinária e contação de histórias.
🎧 Podcast
Urbanização desenfreada, racismo religioso e passado escravocrata são alguns dos temas abordados por João do Rio em suas crônicas no início do século 20 – o que o mantém ainda atual. Um dos autores mais importantes de sua época, ele é o escritor homenageado da Festa Literária de Paraty (Flip) deste ano. O “451 MHz”, produção da Quatro Cinco Um, conversa com a editora e curadora do evento, Ana Lima Cecilio, e com o historiador Luiz Antonio Simas sobre a obra de João do Rio e suas reverberações contemporâneas. “Ele é um dos inventores do jornalismo no Brasil, transformou o jeito da imprensa de se fazer jornal, foi a pessoa que colocou a pedra fundamental do gênero crônica e a pessoa do Brasil em transformação”, afirma a curadora da Flip.
🧑🏽🏫 Educação
Jogos, plataformas e guias mostram como abordar temas políticos, como democracia, justiça social, direitos humanos, desigualdade social e privilégios, em sala de aula. O Porvir reúne materiais de apoio para auxiliar educadores na promoção de debates inclusivos e no fortalecimento da educação para a cidadania, com objetivo de estimular o pensamento crítico, respeitar a diversidade e incentivar o diálogo construtivo. Um dos exemplos é o “Cidade em Jogo”, um jogo online em que os participantes assumem o papel de prefeitos e enfrentam desafios reais da gestão municipal.