A conversa entre Lula e Trump e a disputa por terras raras em MG
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🔸 Os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Donald Trump conversaram durante 30 minutos ontem, em meio às tensões comerciais entre Brasil e Estados Unidos. No telefonema, Lula pediu que Trump retire a sobretaxa de 40% imposta a produtos brasileiros. O Jota apurou como foi a conversa e conta que Trump designou o secretário de Estado, Marco Rubio, para conduzir as tratativas com o vice-presidente Geraldo Alckmin, o chanceler Mauro Vieira e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. “Gostei muito da ligação. Nossos países irão se sair muito bem juntos”, escreveu Trump em sua rede social. Segundo o Palácio do Planalto, Lula destacou que os EUA têm superávit na balança comercial com o Brasil e convidou Trump para a COP30, em Belém, além de sugerir um encontro durante a Cúpula da Asean, na Malásia. Os dois trocaram números de telefone, um gesto considerado incomum na diplomacia recente.
🔸 A propósito: escalado para negociar com o Brasil, Marco Rubio teve papel central na comunicação sobre restrições e sanções a autoridades brasileiras. A CartaCapital conta quem é o senador republicano da Flórida e atual secretário de Estado dos EUA. Ex-rival de Trump nas primárias de 2016, Rubio se tornou uma ponte entre o trumpismo e o establishment republicano ao defender uma política externa que mistura ideologia, retaliação e interesses econômicos. Ele foi um dos principais articuladores da aplicação da Lei Magnitsky contra Viviane Barci de Moraes, esposa do ministro Alexandre de Moraes, alegando “abuso de autoridade” e “perseguição política”.
🔸 Entre bolsonaristas, a conversa entre Lula e Trump caiu mal. O advogado Fabio Wajngarten afirmou, sem detalhar, que as negociações não devem avançar: “A mera ligação entre chefes de Estado que pensam e atuam de maneira absolutamente contrastante não quer dizer absolutamente nada”, escreveu o aliado de Jair Bolsonaro (PL). O Metrópoles informa que o braço direito de Eduardo Bolsonaro nos Estados Unidos, o influenciador Paulo Figueiredo, disse estar em férias e que, por isso, não faria comentários. Mais tarde, porém, apareceu nas redes sociais: “Acordei embasbacado vendo a imprensa comemorando porque Trump colocou Marco Rubio para negociar com o Brasil”, comentou.
🔸 Os casos de intoxicação por metanol levaram à disseminação de desinformação nas redes sociais. Entre os alvos, estão a Receita Federal, o governo Lula e o Supremo Tribunal Federal (STF), apontados como culpados das duas mortes confirmadas no país. A Lupa detalha as mentiras que circulam sobre o caso. Há publicações afirmando que o STF suspendeu um sistema de “rastreio” de bebidas, o Sicobe, o que teria facilitado a circulação de produtos adulterados. O Sicobe, porém, foi descontinuado em 2016 e nunca teve a função de avaliar a qualidade de bebidas, mas apenas de registrar, para fins tributários, a quantidade de cervejas, refrigerantes e águas produzidas no país. O sistema, aliás, não abrangia bebidas destiladas, como gim, vodca e uísque, que estão ligadas aos casos de intoxicação. A desinformação teve origem em vídeos de políticos do PL, como o suplente de vereador Paulo Melo (PR) e a deputada Amanda Teixeira Dias (MG), com alcance estimado de mais de 1 milhão de pessoas.
🔸 Novos 159 nomes entraram para a Lista Suja do Trabalho Escravo, atualizada ontem pelo Ministério do Trabalho e Emprego. O cadastro, que enumera empregadores responsabilizados por trabalho escravo, chega agora a 691 nomes. A Repórter Brasil destaca a ausência da JBS Aves, retirada da lista por decisão individual do ministro Luiz Marinho, apesar de ter sido autuada em abril por manter trabalhadores em situação degradante em uma granja no Rio Grande do Sul. Os fiscais haviam considerado a JBS Aves “principal responsável” pelas infrações, mesmo com a terceirização da mão de obra. A decisão inédita de Marinho provocou protestos, e 19 auditores deixaram cargos de coordenação. A atualização da lista incluiu a empresa Ozone (antiga Yellow Stripe), contratada para o Lollapalooza 2023 e acusada de manter trabalhadores 24 horas no local em condições degradantes.
📮 Outras histórias
Há mais de três meses, Marli de Pádua tenta (em vão) conseguir uma vaga para o filho numa escola pública de Itapuã, bairro onde vive, em Salvador (BA). Regivaldo Rosa, tem 12 anos e deveria cursar o 6º ano do Ensino Fundamental 2. Depois que a família mudou de bairro, a mãe percorreu escolas municipais e estaduais: “Todas me falaram a mesma coisa: que não tem vaga”. Marli buscou o Conselho Tutelar e, mesmo com um documento do órgão, não conseguiu a matrícula do filho. Desempregada, a auxiliar de serviços gerais depende da garantia de Regivaldo na escola para poder receber o Bolsa Família. A Revista Afirmativa mostra que, na região de Itapuã, cerca de 30% das demandas que chegam ao conselho estão relacionadas à educação. Com 60 mil habitantes, o bairro tem apenas 11 escolas públicas. A reportagem também denuncia as chamadas “filas de espera” – prática comum e ilegal nas escolas públicas de Salvador, em que pais aguardam desistências para conseguir vagas no meio do ano letivo.
📌 Investigação
Embora Lula tenha afirmado que “ninguém bota a mão” nos minerais brasileiros em referência às terras raras, com elementos importantes para a transição energética, a prática nos municípios do sul de Minas Gerais aponta para um caminho oposto. A Meteoric, uma das empresas australianas que pretende iniciar a exploração no estado já no ano que vem, tem um acordo firmado com a canadense Ucore, financiada pelo Departamento de Defesa dos EUA. A Agência Pública mergulha na corrida mineral nos municípios de Poços de Caldas e Caldas e mostra como a Área de Proteção Ambiental (APA) da Pedra Branca entrou no conflito geopolítico depois de o Conselho Gestor da unidade de conservação vetar a presença da Meteoric na região por entender que as atividades minerárias comprometeriam a preservação ambiental do santuário ecológico.
🍂 Meio ambiente
Dez anos depois do Acordo de Paris, o Brasil é reconhecido pela matriz energética renovável, com ganhos em fontes como eólica e solar, mas o desmatamento e a degradação florestal pesam contra o país no cumprimento das metas climáticas. Um relatório da iniciativa Deep Decarbonization Pathways analisou a ação de 21 países e aponta onde países avançam e emperram nas políticas climáticas. Segundo O Eco, o documento traz recomendações, como a organização da cooperação internacional em torno de prioridades domésticas, como infraestrutura, inovação e tecnologia. Para o Sul Global, foram recomendadas garantias compartilhadas entre países e meios para reduzir o custo de capital – uma agenda fundamental para o Brasil.
📙 Cultura
“A arte sempre tem que estar usando a cabecinha humana, e eu acredito muito nisso, até porque, se eu não acreditar, acho que entro em crise”, afirma a cineasta Renata Pinheiro, que está usando inteligência artificial para construir uma caverna em seu novo filme. “É muito difícil a gente conseguir filmar numa caverna real, elas em geral são de difícil acesso, tem também a questão da segurança, traslado de toda a equipe até o local, então se conseguirmos um bom resultado, vamos fazer essa composição de atores reais com a caverna criada pela IA”, explica. A Revista O Grito! ouviu diretores e realizadores do audiovisual pernambucano sobre o uso de IA em suas obras. Embora se abra um mundo de possibilidades, a padronização estética e a falta de remuneração por direitos autorais no treinamento das ferramentas são os principais pontos de atenção. “O uso indiscriminado dessas ferramentas traz riscos. Pode provocar uma padronização estética e enfraquecer a autoria, principalmente se forem usadas de forma automática, sem nenhum critério artístico”, diz o realizador Tiago Delácio.
🎧 Podcast
“A literatura policial, quando ela nasce como gênero e com força, nasce em uma época em que tinha uma estrutura muito clara: começa com um crime, tem uma investigação, e o objetivo do livro é descobrir o criminoso. Tinha essa ideia de livro-jogo, era algo que se vendia em banca de jornal”, afirma Raphael Montes, autor de romances policiais e de suspense, vencedor do Prêmio Jabuti em 2020. Ele é criador, roteirista e produtor-executivo da série “Bom dia, Verônica”, da Netflix, vencedora do prêmio APCA 2020 e baseada em seu livro homônimo. O “451 MHz”, produção da Quatro Cinco Um, conversa com Montes e com o dramaturgo e diretor de teatro Edyr Augusto sobre a escrita do gênero policial no Brasil e as adaptações de suas obras para o audiovisual. Em agosto, “Pssica”, romance de Augusto, estreou na Netflix como minissérie, com direção de Quico Meirelles e Fernando Meirelles.
🙋🏾♀️ Raça e gênero
Em sete eixos que abrangem desde o setor público, como orçamento, tributação e macroeconomia, até o privado, como filantropia, empreendedorismo e comércio internacional, a Marcha das Mulheres Negras, em parceria com o Instituto NoFront, lançou o Manifesto Econômico na semana passada. O documento apresenta propostas e discussões necessárias para combater o racismo e a desigualdade social. Fruto da mobilização de mais de 300 mulheres negras de todas as regiões do país, o manifesto tem como conceitos fundamentais a reparação histórica e o bem viver. A Alma Preta reúne os eixos do documento, como o de reparação econômica e institucional, que inclui instituir a tributação progressiva sobre grandes fortunas, heranças e altas rendas para financiar a reparação, e criar um Fundo Nacional de Reparação Econômica permanente, gerido com participação da sociedade civil e liderança de mulheres negras.