As contas de Michelle Bolsonaro e os falsos 'detox' de vacina
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🔸 Mauro Cid, que foi ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), pagou em dinheiro vivo contas de Michelle Bolsonaro. Além da falta de registros sobre a origem dos recursos, a Polícia Federal também estranhou o fato de a ex-primeira dama resistir a ter um cartão de crédito em seu próprio nome – o que ela usava tinha como titular Rosimary Cardoso Cordeiro, assessora parlamentar e antiga aliada do clã Bolsonaro. A trama foi revelada pelo Uol, a partir do histórico de conversas do celular de Mauro Cid, preso na semana passada durante a operação que investiga fraudes no cartão de vacinas do ex-presidente. O Congresso em Foco destaca que o então ajudante de ordens temia que a forma de pagamento das contas pessoais de Michelle se tornasse pública. Numa das conversas, Cid afirmou: “O Ministério Público, quando pegar isso aí, vai fazer a mesma coisa que fez com o Flávio [Bolsonaro], vai dizer que tem uma assessora de um senador aliado do presidente, que está dando rachadinha, tá dando a parte do dinheiro para Michelle”.
🔸 Com a tramitação travada no Congresso, o PL das Fake News é alvo do Republicanos. Deputado federal do partido, Lafayette de Andrada (MG) afirmou que vai apresentar hoje na Câmara um projeto de lei em substituição ao que vem sendo discutido na Casa. O parlamentar afirma que o texto substitutivo terá uma “perspectiva constitucionalista e integradora”. O Metrópoles lembra que a proposta atual, sob relatoria do deputado Orlando Silva (PCdoB–SP), não agrada a oposição, sob a alegação (sem fundamento) de que o texto poderia ser ferramenta de censura. O Aos Fatos já mostrou, aliás, que este é um dos pontos-chave da crise que levou ao adiamento da votação do projeto.
🔸 A propósito: na sexta-feira, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), aceitou o pedido de abertura de inquérito para apurar a participação de diretores e demais responsáveis do Google e Telegram, na campanha contra o PL. O Mobile Time explica que o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-PL), encaminhou notícia-crime à Procuradoria Geral da República (PGR) por acreditar que as campanhas das empresas contra o projeto de lei foram abusivas, com anúncios e mensagem aos usuários contendo desinformação sobre a proposta.
🔸 “Há espaço para o agro e há espaço para a pequena produção e movimentos que trabalham com a terra, como o MST.” A afirmação é de Luiz Marinho, à frente do Ministério do Trabalho. Ele foi um dos três ministros do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) que foram à Feira Nacional da Reforma Agrária, promovida pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, em São Paulo. A CartaCapital lembra ainda que Márcio Macêdo, da Secretaria-Geral da Presidência, disse não haver “nenhuma contradição entre as pautas [do agro e do MST]”.
🔸 “Detox” de vacina. À venda na Amazon, livros oferecem protocolos falsos para “reverter” o efeito dos imunizantes da Covid-19. Em levantamento exclusivo, a Lupa identificou ao menos 20 obras em inglês com as palavras “detox covid vaccine”. Não foram escritos por médicos e não têm qualquer embasamento científico. A reportagem detalha algumas das obras, que profetizam, por exemplo, que as vacinas são produtos de terapia gênica – tratamento caracterizado por introduzir material genético em células com o objetivo de adicionar ou deletar uma sequência genética para tratar doenças. Segundo a Anvisa, porém, as vacinas não são produtos de terapia gênica e não têm a capacidade de alterar o DNA humano.
📮 Outras histórias
Nas favelas, as mães enfrentam desafios que vão da violência à falta de serviços públicos básicos. O Voz das Comunidades conta a história de algumas delas, como Alexsandra da Silva, moradora do Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, e mãe das quadrigêmeas Esther, Sophia, Laura e Giovanna. A jovem de 22 anos que cursava duas faculdades antes da maternidade agora concilia o trabalho numa loja de departamentos com os cuidados das bebês. Precisou se mudar para o Morro da Formiga, na Tijuca, a fim de baixar os custos com aluguel. “Eu me deixo em segundo plano”, lamenta.
📌 Investigação
Fornecedora da Starbucks não disponibiliza máquina de colheita de café para trabalhadores. A Fazenda Piedade, em Minas Gerais, é certificada pela multinacional estadunidense com um selo de “fornecimento ético do café”, que tem entre seus objetivos a garantia dos direitos trabalhistas e “o bem-estar dos cafeicultores e trabalhadores, suas famílias e comunidades”. Nada disso corresponde, porém, com os relatos de trabalhadores ouvidos pela Repórter Brasil. Eles afirmam que precisam tirar do próprio bolso R$ 2,7 mil para comprar uma derriçadeira, máquina essencial para acelerar o trabalho durante a safra. O valor corresponde a mais de 30% do rendimento médio mensal de um safrista, considerando o volume de café médio colhido ao longo de seis dias de trabalho por semana. Essa é uma prática ilegal – a legislação trabalhista brasileira determina que o empregador forneça os equipamentos necessários para a atividade.
🍂 Meio ambiente
A preservação de terras indígenas economiza gastos com problemas de saúde provocados pelo fogo. É o que revela o artigo publicado na revista científica “Communications Earth & Environment”. Foram analisados dados da Amazônia Legal entre 2010 e 2019, que revelam que a floresta conseguiu absorver 26 mil toneladas por ano de poluentes proveniente das queimadas, sendo os territórios indígenas responsáveis por 27% dessa absorção. De acordo com o estudo, o resultado é uma economia de U$S 2 bilhões para o sistema público de saúde por evitar doenças relacionadas aos incêndios florestais. A InfoAmazonia destrincha a pesquisa, segundo a qual, mesmo distantes dos focos de fogo, as terras indígenas prestam esses serviços às populações rurais e urbanas que moram em toda a região.
Investigada por crimes ambientais, a empresa de orgânicos Meri Pobo vende sua produção como sustentável e afirma ser a maior produtora de acerola orgânica do Brasil. A sustentabilidade, no entanto, está longe de ser vista por moradores do interior do Ceará. A chegada da empresa coincidiu com a pior seca já registrada no estado entre 2012 e 2017. Enquanto a população do Vale do Jaguaribe precisou de carros-pipa para sobreviver, a Meri Pobo nunca encontrou tais obstáculos, já que, em 2015, conseguiu três outorgas da secretaria para captar águas do Jaguaribe. O Joio e O Trigo revela que a exaustão hídrica não é o único problema causado por ela: para realizar uma expansão, não foram cumpridas as exigências da licença ambiental. Como consequência, o Ministério Público do Estado do Ceará move um processo contra a empresa por crimes contra a fauna.
📙 Cultura
Artesanato de quilombo de Pernambuco nas passarelas do São Paulo Fashion Week. Na comunidade quilombola Povoação São Lourenço, em Goiana, a atividade pesqueira é a principal fonte de renda: enquanto os homens vão ao mar com as embarcações, as mulheres trabalham coletando mariscos na costa. A fim de complementar a renda, elas se valem da mesma matéria-prima da pesca – redes e mariscos – para a confecção de roupas e acessórios. A Marco Zero conta que a união das marisqueiras artesãs com a estilista baiana Isaac Silva resultou em peças que serão exibidas em desfile no maior evento de moda do país, no fim do mês.
Duas perspectivas distintas sobre o 13 de Maio e a liberdade se encontram no palco em “Oitenta e Oito”, espetáculo que narra a amizade de duas ex-escravizadas, Ada e Felipa. Enquanto a primeira respira o alívio de sair da casa do ex-senhor que a agredia, a segunda reflete sobre a condição precária e o racismo vivido por pessoas negras. O Nós, Mulheres da Periferia explica que as personagens da peça receberam um pouco da história das próprias atrizes Jessica Mendez (Ada), que aborda a ancestralidade africana, e Tamara Louise (Felipa), que traduz a crueldade da vida cotidiana. “A arte é acessível, consegue alcançar lugares que outras manifestações não conseguem. Então, trazer essa narrativa sobre a abolição para a arte é muito importante”, afirma Jéssica.
🎧 Podcast
A queda de braço entre as instituições do governo e as big techs. Professor e jurista, Paulo Rená participou ativamente das discussões do Marco Civil da Internet e analisa a reação das empresas de tecnologia diante do PL das Fake News, que dispõe sobre a regulação das redes sociais. O “Guia Prático”, produção do Manual do Usuário, conversa com Rená sobre a publicidade contra a legislação feita pelo Google, além da mensagem disparada pelo Telegram na última semana e a decisão do ministro do STF Alexandre de Moraes contra a plataforma. O advogado afirma que nunca viu o debate sobre o direito da tecnologia ter tanta atenção na opinião pública como atualmente.
✊🏾 Direitos humanos
O motivo da abolição tardia da escravidão no país é questionado até hoje por pesquisadores. Enquanto os vizinhos latino-americanos encerraram o sistema escravista ao longo das guerras de independência, entre 1810 e 1825, o Brasil manteve o modelo até 1888 – algo que especialistas ainda tentam explicar. A Alma Preta reflete sobre as múltiplas possibilidades estudadas por pesquisadores. Segundo o professor e historiador Duílio Battistoni Filho, a rentabilidade do trabalho escravo teria permitido prolongá-lo quase até o fim do século 19. O fim da escravidão é também um resultado direto do movimento abolicionista. A historiadora Ana Luíza Mello Santiago de Andrade explica que o ativismo incentivou uma fuga em massa dos escravizados das fazendas paulistas.