O conflito entre Michelle e Flávio Bolsonaro e o lobby do plástico
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🔸 Depois de a ex-primeira dama Michelle Bolsonaro criticar o deputado federal André Fernandes (PL-CE) pelo possível apoio do PL à candidatura de Ciro Gomes (PSDB) ao governo do Ceará em 2026, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) descreveu a fala da madrasta como “autoritária e constrangedora”. À coluna de Igor Gadelha, no Metrópoles, o filho mais velho do ex-presidente Jair Bolsonaro afirmou que Michelle “atropelou o próprio presidente Bolsonaro, que havia autorizado o movimento do deputado André Fernandes no Ceará” e que ela “não é política e precisa entender que a forma de tomar uma decisão às vezes é mais importante do que a própria decisão”. A coluna apurou ainda que Flávio e André Fernandes teriam conversado por telefone ainda no domingo. Segundo relatos, o filho mais velho do ex-presidente Jair Bolsonaro pediu desculpas ao parlamentar cearense em nome da família pela fala da madrasta.
🔸 A propósito: Flávio é o nome mais provável para assumir uma candidatura à Presidência em 2026. “Flávio é um nome óbvio para a família manter o nome na urna. Que é o que provavelmente vai acontecer porque, antes de tudo, é um projeto político familiar. Quando Bolsonaro se elege presidente, os três filhos já estavam eleitos. Agora, tem o filho mais novo [Jair Renan] como vereador em Balneário Camboriú. A ex-mulher [Rogéria] já foi vereadora. É um projeto político-familiar”, afirma o cientista político Cláudio Couto, professor da Fundação Getúlio Vargas. O Nexo revisita a trajetória política do filho mais velho de Bolsonaro e ouve analistas sobre seu potencial enquanto sucessor do ex-presidente. Segundo Couto, o PL, porém, pode não ter os mesmos interesses da família. “O nome de Flávio interessa à família, e não a todo o campo da direita mais amplamente, nem mesmo à ultra direita em particular.”
🔸 E Michelle? Sua candidatura ainda é uma incógnita e seu discurso de esposa submissa ao marido parece contradizer o protagonismo político conquistado nos últimos anos. A Agência Pública analisa a popularidade da ex-primeira dama e como faz jogo duplo sobre se lançar ao pleito do próximo ano. “No momento, não me declaro candidata a nenhum cargo e não estou dedicando o meu tempo para trabalhar nesse sentido”, disse. “Se no futuro houver outro chamado [para a candidatura presidencial], ele virá de Deus — e, como sempre, obedecerei.” Para a pesquisadora Jacqueline Teixeira, que estuda mulheres pentecostais na política, ao se colocar como uma mulher que faz grandes sacrifícios em prol da sua família, Michelle conquista sobretudo um público feminino, que se identifica com essa realidade: “Essa é uma capacidade que não é vista como uma submissão, que esvazia a potencialidade dessa mulher. É sim um ponto importante para produzir uma imagem política de muita força e uma sensação muito significativa de representatividade”.
🔸 Em um mês, Nikolas Ferreira (PL-MG) viu seus planos virarem de cabeça para baixo. Deputado federal mais votado do país, ele foi condenado por transfobia, apareceu em imagens que levaram o Supremo Tribunal Federal (STF) a cobrá-lo sobre o uso de um celular ao lado de Jair Bolsonaro e anunciou que desistiu de disputar o governo de Minas Gerais. Em coluna na CartaCapital, o jornalista Daniel Camargos destaca a série de crises que colocou o parlamentar na defensiva e se ele sobreviverá como fenômeno eleitoral em um momento pós-Bolsonaro. “O deputado que fez carreira provocando conflitos para os outros gerencia agora os que criou para si. Mesmo acuado, segue amparado por uma fortuna familiar e por uma audiência fiel que garante sua permanência na extrema direita da cena política.”
📮 Outras histórias
Em imagens: 40 canoas percorreram o rio Mearim no domingo para marcar o início do período de defeso da piracema (momento de “subida dos peixes”) no Maranhão. Conforme a norma do Ibama, entre 1º de dezembro e 30 de março a pesca é proibida para respeitar o período de reprodução dos peixes. O Pedreirense registrou o tradicional percurso fluvial entre o Parque Maratá, em Trizidela do Vale, até a sede da Colônia de Pescadores Z-28, em Pedreiras. “Nosso grito, hoje, foi por preservação, conscientização. Nossa entrada no rio foi diferente, não apenas para celebrar São Pedro, mas também nossas culturas, tradições e a preservação desse rio que nos sustenta todo dia”, afirma Celivane Carvalho, militante das águas e presidente da colônia.
📌 Investigação
Apesar de a poluição causada por plásticos ser considerada a segunda maior ameaça ambiental ao planeta, o Brasil não tem uma legislação própria para reduzir a produção de plástico descartável. Ao menos 41 projetos de lei (PLs) tramitam no Congresso sobre o tema, e um deles teve o texto aprovado em uma comissão do Senado, mas está parado há 20 meses. A Repórter Brasil revela como atua o lobby do plástico para barrar os marcos regulatórios que restringem a fabricação de produtos de uso único como copos, canudos e sacolas e mostra quem tem legitimado os interesses econômicos de empresários do setor no Congresso e no governo federal. No Legislativo a lista é liderada pelos senadores Otto Alencar (PSD-BA) e Jaques Wagner (PT-BA). Ambos são entusiastas do Polo Petroquímico de Camaçari, um dos maiores produtores de matéria-prima plástica do país. Outra figura-chave é o senador licenciado Vanderlan Cardoso (PSD-GO). Dono de uma fábrica de salgadinhos, sua campanha à prefeitura de Goiânia em 2024 recebeu R$ 90 mil em doações legalmente registradas de empresários do ramo de embalagens.
🍂 Meio ambiente
Quase 23 toneladas de lixo geradas nas zonas oficiais da COP30 chegaram em frente à casa de Tereza Fontel, onde está o Aterro Sanitário de Marituba, já lotado dos rejeitos do cotidiano das cidades. O local recebe resíduos dos municípios de Ananindeua, Marituba e da capital paraense, Belém. Há estudos e denúncias sobre a contaminação do solo e do ar por conta do aterro. Desde 2019, decisões judiciais adiam o final do seu funcionamento pela falta de um novo espaço para receber o lixo da Grande Belém. Segundo a Sumaúma, a organização da Conferência do Clima afirma que foram instalados mais de 2,4 mil conjuntos de lixeiras para rejeitos, recicláveis e compostáveis. Também foram escolhidas três cooperativas para receber as 11,5 toneladas de materiais recicláveis recolhidos no evento. Mas o que chegou às cooperativas foi reciclável misturado com lixo orgânico. “A nossa reclamação quanto ao resíduo que tem vindo de lá é a questão da mistura. Não tem a separação que deveria ter sido feita”, afirma a catadora Adriana Fonseca.
📙 Cultura
Ambientado em futuro distópico no qual os idosos são retirados do convívio social, “O Último Azul”, de Gabriel Mascaro, vai na contramão de como personagens dessa faixa etária são comumente retratados no cinema, a partir de um passado que não volta mais e na finitude diante da morte. “O filme é lírico, põe um corpo idoso em jornada de pulsão de desejo presente. Em países como o Brasil, que é deficitário em políticas da terceira idade, causa identificação, funciona como uma alegoria, provoca um sentimento sincero e real”, afirma o cineasta. O Colabora mergulha na universalidade do longa para narrar as possibilidades de uma vida plena na velhice. “O fato de o filme ganhar o Urso de Ouro mostra o quanto sua história é universal. A diferença é que no Brasil a desigualdade social marca a vida em diversas etapas, inclusive na velhice”, diz Carla Giacomin, geriatra e ativista dos direitos da pessoa idosa.
🎧 Podcast
“Tem algo insólito na experiência analítica que é: o analista não entra com as histórias dele, não dá palpite, não julga o que foi dito, não dá opinião”, afirma a psicanalista, escritora e podcaster Vera Iaconelli. Entrevistadora do podcast “Isso Não É Uma Sessão de Análise”, ela explica como funcionam os exercícios de escuta, de escrita e de análise. Acostumada a ouvir as histórias de outras pessoas, no “Fio da Meada”, produção da Rádio Novelo, Iaconelli conta sua própria história, raízes e referência de família. Ela também fala sobre a relação de gênero no modo como as pessoas refletem sobre a própria trajetória. “Há coisas que a gente foi obrigada a fazer por ser mulher. A gente se queixa, mas elas acabaram se tornando grandes ferramentas que os homens não têm.”
👩🏾⚕️ Saúde
Aprovado na semana passada pela Anvisa, Butantan-DV é o primeiro imunizante contra a dengue em dose única do mundo. A vacina poderá ser usada na população de 12 a 59 anos e enfrenta a arbovirose mais frequente no planeta, e uma das que mais pressionam o sistema de saúde brasileiro. O país convive com ciclos intensos de dengue há algumas décadas, sobretudo com a circulação alternada e simultânea dos quatro sorotipos do vírus causador, criando condições para a ocorrência de epidemias maiores. No Conversation Brasil, o especialista em Epidemiologia André Ricardo Ribas Freitas analisa o papel estratégico da produção do imunizante em território nacional. “O enfrentamento das arboviroses exige estratégias combinadas: vacinação, controle vetorial contínuo, vigilância epidemiológica sensível, gestão urbana que reduza criadouros, comunicação clara e vigilância epidemiológica capaz de detectar rapidamente mudanças no padrão de circulação viral, além de uma assistência médica adequada. A nova vacina não substitui essas ações, mas as complementa de forma decisiva, adicionando uma camada de proteção que o país não possuía em grande escala.”




