A comparação entre genocídios e o ponto de não retorno na Amazônia
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🔸 Nas redes sociais, Israel acusou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de negar o Holocausto. A acusação partiu de uma conta do X administrada pelo Ministério das Relações Exteriores israelense, informa o Metrópoles. O ministro Israel Katz também voltou a cobrar um pedido de desculpas de Lula, que, no último domingo, comparou o massacre do exército de Israel na Faixa de Gaza aos crimes cometidos por Hitler no Holocausto.
🔸 Para o embaixador da Palestina no Brasil, Ibrahim Alzeben, a reação do governo israelense é parte da estratégia de genocídio do povo palestino. Em entrevista à CartaCapital, ele afirma que o objetivo de Israel ao atacar o Brasil é “calar as vozes solidárias”. “Se vamos comparar com a primeira e a segunda guerras, é pior, porque está acontecendo no século 21, com tanta comunicação. O mundo está vendo. É uma guerra televisionada, transmitida por voz e imagem. É incrível que isso aconteça e o mundo não intervenha da maneira que deve, diante de tanta agressividade por parte de Israel e do encobrimento desses crimes por parte dos Estados Unidos e de algumas potências ocidentais”, afirma Alzeben.
🔸 Ao classificar como antissemita qualquer comparação entre governantes israelenses e o nazismo, Israel tenta se blindar: “É uma maneira de tentar instrumentalizar o antissemitismo para deslegitimar os oponentes”. A afirmação é da professora de História Árabe da USP Arlene Clemesha. O Aos Fatos ouve especialistas e organizações para analisar as falas de Lula e explicar o conceito de antissemitismo. Para alguns grupos judaicos, como o Instituto Brasil-Israel, o presidente alimenta a hostilidade contra o povo judeu. Para outros, como o coletivo Vozes Judaicas por Libertação, a declaração de Lula foi um ato político imprudente, mas não antissemita. “Genocídios são comparáveis. Só que há uma espécie de excepcionalização do Holocausto judeu como se fosse um genocídio incomparável na história. E não é verdadeiro isso. O Holocausto contra os judeus foi um genocídio terrível, assim como foi o genocídio armênio, o congolês, o sudanês, o palestino”, afirma Bruno Huberman, professor de relações internacionais da PUC-SP e membro do coletivo.
🔸 Em áudio: mais uma vez, os Estados Unidos barraram um pedido de cessar-fogo na Faixa de Gaza. Foi o terceiro veto dos EUA a resoluções desse tipo no Conselho de Segurança da ONU. O “Durma com Essa”, podcast do Nexo, lembra que o veto ocorre em meio à ofensiva prometida pelo Exército de Israel que pretende invadir Rafah, região ao sul do território palestino que abriga centenas de milhares de civis.
🔸 Em 18 dias, a atual edição da Operação Escudo fez 29 mortos na Baixada Santista, em São Paulo. É duas vezes mais mortal que a Escudo deflagrada entre julho e setembro do ano passado, que, em 40 dias, deixou 28 mortos. A Ponte detalha os casos das vítimas mais recentes, explica como são as operações e as define como como ações organizadas de vingança instituídas pelo governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) após a morte de policiais na região.
📮 Outras histórias
Um grupo de alunos de Manaus vai embarcar para a Olimpíada Internacional de Matemática, em Bangkok, na Tailândia. O time amazonense cursa o Ensino Médio no Colégio Militar da Polícia Militar Tenente Coronel Cândido José Mariano, no centro da capital. Pedro Henrique Rodrigues, de 17 anos, conta que vira as noites estudando para a competição, como narra o Amazonas Atual. O adolecente, aliás, já coleciona 15 medalhas desde 2015, em desafios como as Olimpíadas Nacional de Ciências. Mas ele não é um caso isolado: os cinco alunos de Manaus, que agora vão disputar em grupo, já conquistaram individualmente 26 medalhas em olimpíadas e campeonatos de matemática, física e astronomia.
📌 Investigação
Nos últimos oito anos, os anúncios online se tornaram a segunda maior categoria de investimentos da Secretaria de Comunicação Social (Secom), principal órgão responsável por promover o poder Executivo, especialmente a Presidência da República. Desde 2016, foram cerca de R$ 1,47 bilhão com publicidade, sendo 17% (R$ 248 milhões) destinado à “Internet”, guarda-chuva que inclui redes sociais e sites de notícias. O Núcleo traz um gráfico interativo com os 15 maiores recebedores de anúncios online no período. A lista inclui big techs, como a Meta e a Google, e grandes conglomerados de mídia, como a Globo e a Record.
🍂 Meio ambiente
“Tudo o que acontece na Amazônia vai afetar a segurança hídrica e energética de todos.” Marina Hirota é pesquisadora da Universidade Federal de Santa Catarina e uma das autoras do estudo publicado na última semana na revista científica “Nature” sobre as partes da Amazônia que podem atingir o ponto de não retorno até 2050. O “não retorno” acontece quando a floresta perde a capacidade de se autorregenerar, a partir de três fatores – o desmatamento contínuo, a falta de água e a mudança de clima. O Projeto Preserva conversa com a cientista para entender os principais impactos do ponto de não retorno da Amazônia e como evitá-lo.
📙 Cultura
Um dos principais coletivos alagoanos de dança do coco, o Grupo Cultural do Coco de Roda Reviver enfrenta dificuldades para continuar levando a tradição ao público devido ao desastre ambiental causado pela mineração da Braskem em Maceió. O Bebedouro, onde fica a sede da entidade, foi um dos cinco bairros afundados pela exploração de sal gema. Sem o ponto de encontro oficial, o grupo usa locais emprestados distantes do antigo endereço. À Revista Alagoana o presidente do coletivo Roberto Calheiros diz que o deslocamento se tornou um obstáculo para continuar com a arte: “O grupo é um pessoal carente, a gente tem muita dificuldade em relação à parte financeira porque eles não têm como ajudar, eles não têm como pagar a passagem do bolso deles”.
🎧 Podcast
A Comunidade Vó Dôla, da matriarca Maria Petronilha dos Santos, tornou-se o primeiro quilombo urbano de Vitória da Conquista (BA), após receber a certificação da Fundação Cultural Palmares, em janeiro deste ano. Na década de 1940, a mudança de Vó Dôla e sua família para a zona urbana significou a formação de um espaço de luta coletiva e ancestral de mulheres negras no município. O último episódio do “Fatos & Vozes”, produção do Conquista Repórter, narra a história da comunidade e conversa com os descendentes da matriarca.
👩🏾⚕️ Saúde
“Em uma sociedade capitalista como a nossa, o envelhecimento é desvalorizado e a menopausa descrita como constrangimento e decadência, da qual se pode fugir como se fosse uma ‘escolha’”, escreve a ginecologista Halana Faria. Em coluna na revista AzMina, a médica explica como a menopausa vive uma disputa narrativa entre a mercantilização de soluções e remédios mágicos e destaca também como a desigualdade socioeconômica e de gênero afeta esse período. “Para viver melhor a menopausa, a gente precisa de uma sociedade mais justa, principalmente com divisão de trabalho reprodutivo mais equitativa.”