As comissões de raça nas universidades e o alcoolismo feminino
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Oi, gente, bom dia!
Nesta semana, damos continuidade à pesquisa da Brasis, para conhecer melhor vocês, leitores. O questionário é breve, e as respostas poderão nortear nossa seleção diária de textos. Para participar, é só clicar aqui.
Obrigada e boa leitura.
🔸 Com outros 23 países, o Brasil assinou ontem um pedido de cessar-fogo na Faixa de Gaza. No documento, a Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) aponta “intransigência” do governo de Israel, como informa a CartaCapital. Os 24 países signatários da declaração destacam resoluções do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) e reiteram “a importância crucial do estabelecimento de dois Estados, Israel e Palestina, vivendo lado a lado dentro de fronteiras seguras e reconhecidas”. Em nota, o governo brasileiro afirmou que o texto “amplia o clamor da comunidade internacional por um cessar-fogo”.
🔸 Aprovados nas vagas para pretos, pardos e indígenas na Universidade de São Paulo (USP), dois alunos tiveram as matrículas canceladas na última semana. Eles não tiveram as autodeclarações (como pardos) aceitas pela instituição, que avalia a autenticidade do documento por meio de uma comissão de heteroclassificação racial. Para o sociólogo Luiz Augusto Campos, coordenador do Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa (Gemaa), o funcionamento dessas comissões ainda é “opaco”. Em entrevista ao Nexo, ele conta que a avaliação dos estudantes a distância, via internet, é o formato mais comum, mas cada universidade tende a adotar um modelo próprio. “Costumo dizer que, mais do que identificar pretos, pardos e indígenas, o objetivo das comissões é identificar pessoas indubitavelmente brancas que estão tentando se valer daquela vaga de cotas que não é feita para elas. Essa tem que ser a conduta.”
🔸 O Supremo Tribunal Militar (STF) absolveu os oito militares que mataram o músico Evaldo Rosa e o catador de recicláveis Luciano Macedo, em abril de 2019. Os ministros da Corte alegaram que os policiais agiram em legítima defesa, pois teriam trocado tiros com assaltantes no momento em que acertaram o primeiro disparo em Evaldo – ele recebeu ao todo nove tiros de fuzil quando viajava com a família na região de Guadalupe, no Rio. Na Agência Pública, Natalia Viana conta que o tenente brigadeiro do ar Carlos Augusto Amaral Oliveira fez “ginástica retórica” para embasar sua teoria. Segundo ele, “Evaldo já estava morto depois o primeiro tiro, ou seja, condenar os militares pela segunda rajada seria um “crime impossível”.
🔸 Em Belém (PA), sede da próxima Cúpula do Clima, crianças brincam no lixão do Aurá, a 19 quilômetros do centro da capital. Quando falta comida em casa, é também dali que tiram as refeições, o que ilustra a situação do estado onde 53,4% dos habitantes enfrentam insegurança alimentar moderada e grave. Mobilidade urbana, crise sanitária e segurança engrossam os problemas da capital da 30ª Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (ONU), marcada para novembro de 2025. A revista Cenarium detalha os principais desafios de Belém a um ano e oito meses do evento, ouve moradores da comunidade vizinha ao lixão e trabalhadores do Complexo Ver-o-Peso, um dos pontos mais tradicionais do Pará.
📮 Outras histórias
Professora de uma escola em Santa Cruz do Sul (RS), Janaina Venzon publicou um vídeo nas redes sociais apontando o uso de “palavras de baixo calão” no livro “O Avesso da Pele”, de Jeferson Tenório, vencedor do Prêmio Jabuti em 2021. Em seguida, no último sábado, a 6ª Coordenadoria Estadual de Educação (CRE) emitiu um ofício para que a obra fosse retirada de bibliotecas da rede estadual de ensino. A Secretaria Estadual da Educação (Sedac) não aceitou, como narra o Sul21, e confirmou que o livro, previsto no Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), do Ministério da Educação (MEC), seguirá em uso nas escolas gaúchas. A reportagem destaca que a obra foi escolhida pela própria escola em 2023.
📌 Investigação
“Tem peixinho bem pequenininho, mas os peixes grandes, igual pirosca, tartaruga, que vinham pra cá, agora não vêm”, afirma Levi Pêphã Brito Ribeiro Krahô, que vive na aldeia Takaywrá, no município de Lagoa da Confusão, no oeste de Tocantins. O cenário descrito pelo indígena é consequência de uma barragem no rio Urubu que impede o processo de reprodução dos peixes. Na fronteira entre a Amazônia e o Cerrado, a região é alvo de projetos hidrológicos de irrigação e barramento herdados da ditadura, além do avanço do agronegócio. O Joio e O Trigo visitou o local e revela como as populações Javaé, Krahô de Takaywrá e Krahô-Kanela estão expostas à insegurança alimentar, acesso à água potável, vulnerabilidade social e doenças.
🍂 Meio ambiente
Espécie de origem europeia, o lebrão já se espalha por toda a região Sul do país e nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Goiás e Bahia. Ao contrário do coelho nativo que prefere florestas, o Lepus europaeus ocupava campos naturais na Europa, o que explica sua adaptação ao Pampa. A pesquisadora Clarissa da Rosa, que há mais de uma década acompanha invasões biológicas, conta que a propagação de lebrão resulta na destruição das lavouras. No sul de Santa Catarina, fruticultores de municípios como Meleiro, Sombrio e Santa Rosa do Sul perderam safras inteiras este ano. O Eco mostra que os estragos gerados por 476 espécies exóticas invasoras no Brasil já chegam a US$ 3 bilhões ao ano, ou quase R$ 15 bilhões.
📙 Cultura
O Plano Nacional de Cultura (PNC) completa 14 anos com dados inconsistentes e poucas metas alcançadas, inclusive com divergências entre especialistas. Enquanto o relatório da Escola Nacional de Administração Pública aponta que apenas três das 53 metas foram cumpridas, a pesquisadora Claudinéli Moreira Ramos avaliou que oito delas foram executadas. O Nonada reúne os principais desafios nas metas do primeiro PNC, como imprecisão no planejamento do monitoramento e avaliação e falta de definição das unidades responsáveis pela execução. A partir de 2024, um novo plano começa a tomar forma com a 4ª Conferência Nacional de Cultura, que começa hoje.
🎧 Podcast
O lobby do agronegócio para ficar de fora do mercado regulado de carbono, a mistura entre a regulação e o mercado voluntário e disputa entre a Câmara dos Deputados e o Senado. Essas variáveis transformaram o projeto de lei sobre o tema numa proposta “Frankenstein”, nas palavras de Sérgio Teixeira Jr., editor do Reset. No “Economia do Futuro”, produção da Rádio Guarda-Chuva, o jornalista aprofunda o debate sobre o mercado regulado de carbono brasileiro, além de explicar a lógica de um novo mecanismo de proteção cambial para viabilizar investimentos verdes no Brasil, definido no encontro do G20 em São Paulo.
🧑🏽⚕️ Saúde
Quase 44 mil mulheres buscaram atendimento no Sistema Único de Saúde (SUS) por uso de drogas e álcool apenas entre janeiro e outubro de 2023. O número ultrapassa a marca de todo o ano de 2022. Também houve crescimento no número dos óbitos (+7,5%) e das hospitalizações (+5%) de mulheres atribuíveis ao álcool, quando comparadas às taxas por 100 mil habitantes entre 2010 e 2021. A revista AzMina detalha como o alcoolismo feminino tem crescido e como o estigma de gênero afeta o tratamento. A Associação de Alcoolismo Feminino (AAF) busca auxiliar no processo de recuperação, por meio de grupos terapêuticos específicos para mulheres negras, lésbicas, bissexuais, transexuais, vítimas de violências e mães. Além da interrupção do consumo de álcool e drogas, a equipe incentiva o autoconhecimento e o amor próprio.