O comício machista de Bolsonaro e o Grito dos Excluídos
Uma curadoria do melhor do jornalismo digital, produzido pelas associadas à Ajor. Novos ângulos para assuntos do dia
🔸 O sequestro do Dia da Independência: Bolsonaro se apropriou do feriado nacional ontem e o converteu em ato de campanha. Como mostrou o Jota, o candidato do PL voltou a falar das eleições como “uma luta do bem contra o mal” e conclamou seus apoiadores: “Vamos todos votar. Vamos convencer aqueles que pensam diferente de nós”. Já a revista piauí percorreu a Esplanada dos Ministérios, ocupada por faixas que diziam: “Bolsonaro/Acione as Forças Armadas”. No palanque, o presidente, no entanto, foi menos direto. Alfinetou o STF (“Hoje todos sabem o que é o Supremo Tribunal Federal”, disse), mas não falou em voto impresso ou em convocar as Forças Armadas. A reportagem resume já no título o que se viu: “Comício no trio elétrico, golpismo no gramado”.
🔸 No Rio de Janeiro, o tom subiu um pouco, e Bolsonaro atacou diretamente Lula, como apontou o Metrópoles. Chamou o petista de “quadrilheiro” e afirmou que “esse tipo de gente tem que ser extirpado da vida pública”.
🔸 O uso eleitoral da data foi denunciado ao Tribunal Superior Eleitoral. As executivas do PT, PV, Rede e do União Brasil acionaram o TSE para questionar o emprego da máquina pública como ferramenta para impulsionar comícios de Bolsonaro. O Congresso em Foco ouve especialistas sobre o assunto.
🔸 Mais um ponto para o machismo: Bolsonaro puxou uma comparação entre as primeiras-damas – Michelle Bolsonaro e Janja Lula. A CartaCapital lembra que ele ainda aconselhou solteiros a buscarem “princesas” e tentou (sem muito sucesso, como se vê no vídeo do Metrópoles) puxar um coro para si mesmo: “Imbrochável! Imbrochável! Imbrochável!”.
🔸 Não por acaso… As mulheres resistem à reeleição de Bolsonaro. E não se trata apenas de uma rejeição às suas falas misóginas, mas à falta de compromisso com os direitos das mulheres. O Nós, Mulheres da Periferia lista outras razões para a resistência feminina ao candidato do PL e lembra, por exemplo, que ele vetou a distribuição de absorventes gratuitos e não aderiu a compromissos da ONU para a proteção aos direitos reprodutivos das mulheres.
🔸 Ex-porta-voz de Donald Trump, Jason Miller esteve no ato em Copacabana e foi flagrado pela Agência Pública. A reportagem conta quem é ele e conta que fazia propaganda de sua rede social Gettr, ao lado de um tótem inflável com o slogan: “Chegou a hora de dizer o que pensa do jeito que quer!”. Miller, diga-se, estava promovendo o comício bolsonarista na rede, o que poderia configurar crime eleitoral.
🔸 O saldo dos atos no bicentenário da Independência. O Nexo conversa com dois cientistas políticos para entender como os atos de ontem reverberam nas eleições e nas instituições.
📮 Outras histórias
Não é de Bolsonaro o 7 de setembro. Em vários lugares do país, resiste o Grito dos Excluídos, tradicional manifestação de contraponto ao ufanismo dos desfiles militares do Dia da Independência. O Marco Zero acompanhou o ato em Pernambuco – uma manifestação cheia e vibrante, e com a presença de políticos de esquerda e militâncias partidárias. Também foi assim em Natal, como mostra a agência Saiba Mais. Lá, milhares foram às ruas pela vida e pelo fim do governo Bolsonaro. Em São Paulo, a Ponte conta que o Grito dos Excluídos, na Praça da Sé, sob o mote “Brasil: 200 anos de (In)dependência para quem?”, distribuiu refeições para a população de rua.
📋 Checagem
Mentiras sobre corrupção, meias verdades sobre a transposição do rio São Francisco, a pandemia e o preço da gasolina. O Aos Fatos checou a íntegra das falas de Bolsonaro nos palanques de Brasília e do Rio de Janeiro. A Lupa mostra que, no Twitter, perfis com alta probabilidade de serem robôs foram os grandes convocadores dos atos em apoio a Bolsonaro: cerca de três em cada cinco perfis que postaram a hashtag “#7deSetembroVaiSerGigante” tinham características típicas de “bots”.
📌 Investigação
Tão longe, tão perto. O debate sobre os problemas na Amazônia, como desmatamento, grilagem e queimadas, está distante da floresta, concentrado no Sudeste do país. Uma análise exclusiva feita pelo InfoAmazonia e pelo PlenaMata com quase 700 mil tuítes que mencionaram temas ligados à preservação da floresta mostra que líderes indígenas, ambientalistas e contas ligadas a ONGs com atuação na região amazônica aparecem na discussão. Mas, em termos de volume de contas engajadas na conversa, a região da floresta quase não aparece.
🍂 Meio ambiente
Indígenas em meio ao fogo. Na Terra Indígena Mãe Maria, em Bom Jesus do Tocantins, no sudeste do Pará, 12 famílias ficaram desabrigadas após um incêndio atingir a aldeia Hõpryre. Além das casas, a escola e o posto de saúde da comunidade foram destruídos. Ainda não se tem certeza da origem do fogo, mas a principal suspeita é de que tenha sido de uma queimada em uma região próxima. Segundo os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o estado do Pará foi o que teve mais registros de focos de queimadas em agosto. A Amazônia Real mostra como está a investigação do caso.
Crise climática? Não para os presidenciáveis. Embora a questão ambiental, especialmente a Amazônia, apareça em todos os planos de governo dos candidatos à Presidência, as estratégias de combate às mudanças climáticas são escassas. O documento proposto pelo ex-presidente Lula (PT) é o que mais faz referência ao problema, mas não detalha quais os meios para enfrentá-lo. Simone Tebet (MDB) e Soraya Thornikle (União Brasil) também citam brevemente a crise climática, como mostra o Projeto Colabora.
📙 Cultura
Curador do Museu Afro Brasil, ícone da cultura negra, escultor e pesquisador, Emanoel Araújo morreu ontem, aos 81 anos. Ao longo de mais de seis décadas, sua carreira múltipla, da escultura à cenografia, voltou-se sempre para a herança negra na cultura. O Alma Preta conta que ele trabalhava para levar ao museu, em novembro, uma exposição sobre o bicentenário da independência, unindo duas datas: o 7 de setembro e o 2 de julho de 1823, data de efetivação do movimento da independência baiana, que concretizou o processo de emancipação do Brasil.
🎧 Podcast
“A culinária afro-brasileira com a sua mistura de temperos do dendê, da cebola, do camarão defumado, do gengibre, de várias pimentas… É uma verdadeira alquimia de aromas que alimenta o corpo e a alma”, descreve Mãe Cristina, autora de “Culinária brasileira: sabores ancestrais”. Ela está no podcast Alimentação Ancestral, recém-lançado pelo Portal Catarinas, que fala sobre comida de Santo – as comidas ofertadas aos orixás em religiões afro-brasileiras como o candomblé e a umbanda.
✊🏽 Direitos humanos
Quilombolas no Censo 2022. Em 29 dias de trabalho, pesquisadores do IBGE coletaram dados de 386.750 pessoas que se autodeclaram quilombolas. O Regra dos Terços lembra que, em 150 anos, é a primeira vez que o IBGE engloba quilombolas como grupo étnico populacional. Bahia, Maranhão e Pará são os estados com maior número de quilombolas autodeclarados até o momento.