O combate ao racismo nas escolas e os impactos dos parques eólicos

Uma curadoria do melhor do jornalismo digital, produzido pelas associadas à Ajor. Novos ângulos para assuntos do dia

🔸 A companheira de Ronnie Lessa, acusado de assassinar Marielle Franco, derrubou o álibi do ex-policial militar. Em depoimento prestado há dois meses, Elaine Lessa desmentiu a alegação dele de que estava em casa na noite do crime, em 14 de março de 2018. Segundo ela, “Ronnie só chegou quando estava próximo de amanhecer, pois pouco tempo depois ela acordou para levar seu filho na escola”. A CartaCapital lembra que, ao lado da delação de Élcio de Queiroz, outro acusado do crime, o depoimento de Elaine representa mais um passo na apuração do assassinato da vereadora carioca e de seu motorista, Anderson Gomes. 

🔸 Se a delação de Élcio de Queiroz e o desmentido de Elaine Lessa movimentam o caso, há ainda muitas pontas soltas. Uma das principais diz respeito ao sargento reformado Edimilson Oliveira da Silva, conhecido como Macalé. Segundo Élcio, foi ele quem fez a ponte entre os mandantes do assassinato e Ronnie Lessa. Seria, portanto, uma fonte crucial para a apuração da autoria e da motivação do crime. O problema é que, destaca o Metrópoles, Macalé foi executado a tiros em 2021, em plena luz do dia, em Bangu, na zona oeste do rio. Élcio, por sua vez, afirma não ter participado do planejamento da execução e alega que só soube quem seria o alvo do atentado na noite do crime.

🔸 Para entender: cinco anos depois do crime, as investigações voltaram a andar com a delação de Élcio de Queiroz e a prisão do ex-bombeiro Maxwell Corrêa, que movimentaram o caso Marielle nesta semana. O Aos Fatos explica as principais novidades no trabalho dos investigadores, detalha o que Élcio confessou, o papel de Maxwell e o destino das provas do crime, mas lembra que a resposta sobre os mandantes segue em aberto.  

🔸 O governo Lula publicou ontem medida provisória sobre apostas esportivas. Foi o primeiro grande avanço no tema em mais de quatro anos. Sem regras claras desde 2018, as empresas operavam sem pagar impostos. Boa parte dos sites de apostas que operam em português está sediada em paraísos fiscais, como Curaçao e Gibraltar. Com a medida provisória, terão de se instalar no Brasil. O governo estima arrecadar R$ 2 bilhões com a taxação das apostas em 2024. O Nexo organiza em cinco eixos os principais pontos da medida: autorização, taxação, restrições, publicidade e fiscalização. 

🔸 O país retrocedeu no combate ao racismo, machismo e homofobia nas escolas públicas. As ações do tipo chegaram ao menor nível em uma década, de acordo com levantamento da ONG Todos pela Educação. O ano de 2015 registrou o maior percentual de escolas que responderam ter projetos contra o racismo, chegando a 75,6% das instituições. Já menor número foi registrado em 2021, quando apenas 50,1% das escolas responderam ter ações contra o racismo. O Notícia Preta conversa com Lavini Castro, professora e doutoranda em História Comparada, para explicar os motivos do retrocesso. O cenário político conservador dos últimos anos, afirma ela, é uma das causas do problema.

📮 Outras histórias

• Único cinema dentro de uma comunidade no Rio de Janeiro, o CineCarioca Nova Brasília, no Complexo do Alemão, será reformado. De reparos elétricos à troca do projetor e das poltronas, a reforma, custeada pela RioFilme, vai impactar 60 mil pessoas de 15 favelas da região, informa o Voz das Comunidades. Os ingressos no cinema custam R$ 5. À frente do espaço cultural desde a abertura, há 13 anos, Wellington Cardoso, diretor da GW Cinemas, conta que o preço das entradas será mantido, bem como os valores acessíveis das pipocas e guloseimas vendidas por lá. “A novidade em primeira mão é que iremos colocar internet de acesso para clientes, já que o sinal de algumas operadoras são ruins. O cliente fará o cadastro de acesso e desfrutará de até 15 minutos de conexão”, conta.

📌 Investigação

• Maior instituição financeira do país, o Itaú Unibanco teria usado um programa de desligamento voluntário como “política de descarte”, pressionando profissionais em licença médica e idosos à adesão. É o que indica relatório de operação inédita do Ministério do Trabalho e Emprego, ao qual a Repórter Brasil teve acesso. O documento aponta 18 autos de infração por infrações trabalhistas diversas. Os auditores ainda detalham que há problemas na política de contratação e remuneração do banco, em que mulheres negras chegam a ganhar 52% a menos que funcionários homens e não negros com o mesmo nível de escolaridade. “Para o início de carreira, o único padrão verificado é a desigualdade”, afirma o relatório.

🍂 Meio ambiente

• Parques eólicos offshore (complexos instalados no mar) ainda não existem no Brasil, mas já se instaurou uma corrida de empresas no Ceará. Só na costa do estado, está prevista a instalação de 3.921 turbinas eólicas. Esse boom vai além de gerar eletricidade para o consumo em terra  – tem a ver com a expectativa de que essa energia renovável possa alimentar a produção do chamado hidrogênio verde (ou H2V), que vem sendo exaltado como “combustível do futuro”. Ao longo de dois meses, a Agência Pública conversou com comunidades do litoral cearense que podem ser afetadas pelos empreendimentos. Os pescadores artesanais podem ser as principais vítimas e temem que turbinas atrapalhem a pesca e bloqueiem o acesso ao mar. 

• Em terra, as comunidades sentem os impactos das construções de parques eólicos. O novo episódio do “Prato Cheio”, podcast d’O Joio e O Trigo, percorreu a Paraíba e Pernambuco para entender como os moradores foram atravessados por esses grandes empreendimentos. Com destaque por conta da emergência climática, as energias renováveis na mão das grandes empresas também se tornaram parte do conflito fundiário e da interferência na qualidade de vida e na produção de pequenos agricultores no Nordeste.

📙 Cultura

• Tercília dos Santos é uma das grandes referências em arte naïf no Brasil, com obras que retratam as memórias da sua infância na roça. Esse estilo artístico é usado para caracterizar pinturas feitas por autodidatas, que trabalham com cores vivas e caráter narrativo. Nascida em Piratuba (SC), a artista plástica começou a pintar depois de sonhar com o menino Jesus em 1990. Em 1992, já participou da Bienal Naïf de Piracicaba (SP), principal evento do gênero no país. Em 1994, recebeu o Prêmio de Aquisição. O Portal Catarinas narra a trajetória de Tercília, que, aos 70 anos, conta como tem sido receber reconhecimento de seu próprio estado apenas nos últimos anos. 

• “Ainda são poucos os exemplos de ficções sobre o entendimento de gênero e de sexualidade”, afirma o roteirista Lui Castanho, que, ao lado do quadrinista Lino Arruda, lança a HQ “Cisforia: O Pior dos Dois Mundos – Vol. 1”, em que é criado um novo mundo, onde todas todas as práticas dissidentes e não-reprodutivas e toda a cultura LGBTQIA+ são exaltadas, cabendo aos homens cis héteros uma posição secundária. À revista O Grito! os autores explicam que a narrativa é mais complexa que a “inversão” de modelos, tornando-se também uma realidade distópica e embranquecida.

🎧 Podcast

• Autor de 17 livros sobre análise e história literária, Marcos Frederico Krüger tem sua produção mesclada à literatura do Amazonas. Entre os títulos de autoria dele, está “Amazônia: Mito e Literatura”, que traz o universo folclórico da região do rio Negro. O professor aposentado da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e docente na Universidade do Estado do Amazonas (UEA) é o segundo entrevistado do especial do “Pensando a Amazônia pela Literatura”, do “LatitudeCast”, produção da Amazônia Latitude. 

🏃🏾‍♀️ Esporte

• “A minha luta é trazer uma pauta diferente mesmo, de sororidade, doloridade, enquanto mulher negra.” Cris Oliveira, de 42 anos, voltou a jogar futebol aos 38, em um time de várzea, o Jardim Brasília, do distrito do Campo Limpo, na zona sul de São Paulo. “No primeiro momento, havia um medo por causa da idade, mas ao mesmo tempo estava muito encantada com as possibilidades que começaram a se abrir para o futebol feminino, que é totalmente diferente da minha época”, relata. Em entrevista à Agência Mural, ela conta que a atenção que a modalidade tem ganhado a empolgou na volta aos gramados, mas ainda falta muito apoio para mulheres no meio amador – existem poucos campeonatos e pouca estrutura.