A Comissão Indígena da Verdade e a saga de uma pessoa com deficiência no Carnaval
Uma curadoria do melhor do jornalismo digital, produzido pelas associadas à Ajor. Novos ângulos para assuntos do dia
Oi, pessoal. Aqui é a Audrey, editora da Brasis.
Estamos na última semana da pesquisa sobre a newsletter que, em fevereiro, completa seis meses no ar. Para afinar o trabalho de curadoria, queremos ouvir de vocês, nossos leitores, como avaliam este primeiro semestre da Brasis. O questionário é curtinho, com perguntas simples, e o objetivo é melhorar a seleção de histórias que fazemos todos os dias. Para responder, é só clicar aqui. Contamos com vocês!
Obrigada e boa leitura.
🔸 A tragédia na terra Yanomami pede a criação de uma Comissão Nacional Indígena da Verdade (CNIV). A defesa consta do relatório final da Comissão da Verdade, que investigou graves violações de direitos humanos ocorridas na ditadura militar. O InfoAmazonia informa que, antes mesmo de a crise humanitária em Roraima vir à tona, o Ministério Público Federal divulgou, em dezembro do ano passado, uma nota técnica pedindo a criação da CNIV. “O trabalho da Comissão da Verdade foi limitado, só tateou [a questão indígena], investigou algumas situações, e não teve a capacidade de afirmar em seu relatório as milhares de mortes dos indígenas como vítimas da Ditadura Militar. É uma incoerência que precisa ser solucionada pela CNIV”, afirma o procurador da República Marlon Weichert. Ele completa: “O período Bolsonaro é uma espécie de soluço autoritário de projeto militarista conduzido por um presidente que, quando deputado, saudou o maior torturador da ditadura, o Brilhante Ustra”.
🔸 A Força Aérea Brasileira criou três corredores de voo para a saída voluntária de garimpeiros da terra Yanomami. O espaço delimitado pela FAB ficará aberto até a próxima segunda-feira. Coordenador de articulação política do Movimento Garimpo é Legal, Jailson Mesquita, alega que garimpeiros em áreas remotas já não conseguem transportes para deixar a região. A CartaCapital conta ainda que agentes da Polícia Federal estiveram ontem na terra indígena para apurar a morte de três indígenas em áreas de forte presença de garimpos ilegais.
🔸 A saída voluntária de garimpeiros não é caminho para a impunidade, de acordo com o governo. O uso de força sem planejamento poderia agravar o problema, e as investigações estão em andamento, segundo o ministro da Justiça, Flávio Dino. O Nexo discute os impactos da saída dos garimpeiros para o povo Yanomami e explica que o foco das apurações serão os financiadores, os donos dos garimpos e as pessoas que usam a atividade para lavagem de dinheiro.
🔸 Enquanto isso, Aloizio Mercadante, ao tomar posse como presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), afirmou que a preservação da Amazônia será uma das prioridades de sua gestão. O BNDES é responsável por gerir o Fundo Amazônia, que estava paralisado desde o início da gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Como mostra o Congresso em Foco, o destaque da posse, porém, foi o discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que voltou a criticar os juros do Banco Central: “Não existe nenhuma justificativa para que a taxa de juros esteja nesse patamar! É uma vergonha a taxa e a explicação que deram para a sociedade”.
📮 Outras histórias
“Você já está na área acessível e ainda quer ver o show?” Foi a pergunta que Nicole Aguiar ouviu de uma pessoa que, como ela, comprou ingressos para o Bloco de Bar em Bar, em Pernambuco. Como a organização prometeu acessibilidade em todos os ambientes da festa, Nicole, que tem meningocele e usa cadeira de rodas, acreditou que seria sua chance de ver Zé Vaqueiro, uma das atrações da noite. O bloco, no entanto, não entregou o que prometeu. O Eficientes narra a saga da jovem ao longo da noite. Em tempo: sobre a pergunta que Nicole ouviu quando, sentada na cadeira de rodas, tentava enxergar o palco, vale lembrar o artigo 4 do Estatuto da Pessoa com Deficiência. Diz o texto: “Toda pessoa com deficiência tem direito à igualdade de oportunidades com as demais pessoas e não sofrerá nenhuma espécie de discriminação”.
📌 Investigação
Servidor público desde 1996, o policial legislativo do Senado Federal, Alexandre Hilgenberg, é investigado por ter colaborado com a invasão dos prédios dos Três Poderes no dia 8 de janeiro. A Agência Pública apurou postagens nas redes sociais que embasam a denúncia. No dia do ataque, Hilgenberg pediu apoio à deputada federal Bia Kicis (PL-DF) via Twitter: “Bia, vá URGENTE ao CONGRESSO… precisamos do teu apoio”. Há também publicações em que ele ataca diretamente senadores: “Calma Randolf… se os conservadores erram, erram para aprender a acertar… diferente de vcs que erram para se profissionalizarem…”, publicou em resposta a um tuíte do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP). As investigações internas do Legislativo também localizaram imagens em que Hilgenberg comemora a entrada dos bolsonaristas no Congresso.
🍂 Meio ambiente
Boa parte da madeira tropical do mundo vem da Amazônia, mas apenas um terço da exploração é aproveitado. Atualmente, o coeficiente de rendimento volumétrico (CRV) – relação entre o volume da tora de madeira processada e o volume obtido de madeira serrada – determinado pelos órgãos ambientais é de 35%. A Agência Bori revela que um estudo de caso feito por pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) propõe que o CRV seja baseado no rendimento de cada indústria, além de foco em tecnologia para evitar desperdícios. A pesquisa aponta que essa mudança poderia diminuir a exploração ilegal de madeira.
A criação amadora de aves silvestres não contribui para a conservação de espécies nativas. Ao contrário, facilita o tráfico no país. A conclusão está no relatório feito pelo Ibama, que analisou os dados sobre a manutenção amadora de pássaros, entre 2004 e 2020. De acordo com O Eco, criadores inserem informações falsas na base de dados, já que declarar morte, fuga ou roubo de aves abre vagas nos viveiros para animais vindos de criações ilegais ou da natureza. “Caso o alto índice de fugas declaradas fosse verdadeiro [1,9 milhão de 2004 a 2020], haveria o risco de bioinvasões [ocupações de ambientes por espécie estranhas ao mesmo]”, relata Raquel Sabaini, coordenadora-geral de Gestão e Monitoramento do Uso da Fauna e da Biodiversidade Aquática do órgão.
📙 Cultura
Como qualquer outra língua, o português falado no Brasil está constantemente mudando. A formação do idioma brasileiro tem enorme influência do iorubá e do quimbundo, línguas africanas trazidas pelos escravizados, e das línguas dos povos originários. O professor e tradutor Caetano Galindo destaca essa vivacidade no livro “Latim em Pó”. O Nonada conversa com o autor sobre a história de nossa língua e reflete sobre a possibilidade do uso do gênero neutro, uma vez que as mudanças fazem parte dos idiomas.
Personagem de reality show. Programas como o Big Brother Brasil recompensam as personalidades consideradas mais marcantes pelo público, que tentam ser imitadas pelos participantes posteriores. Por exemplo, já são duas edições em que muitos tentam seguir o “arquétipo Juliette”. Na Escotilha, a jornalista Maura Martins discorre sobre tais personagens e defende que ninguém tem exatamente o controle de como ser interessante. Segundo ela, a edição deste ano chama atenção para novos modelos com Fred Nicácio, Fred dos Desimpedidos e Amanda.
🎧 Podcast
O melão brasileiro conquistou os chineses. Embora a Europa seja o maior consumidor das frutas brasileiras, a China entrou na jogada e foi um dos grandes compradores do setor nos dois primeiros anos de pandemia. Em 2021, a fruticultura de exportação bateu recorde de faturamento, que chegou a US$ 1 bilhão. Mas, como é de se esperar, a produção agroexportadora não favorece a qualidade de vida das comunidades e a preservação dos recursos hídricos e culturais de seus territórios. Os repórteres do podcast “Prato Cheio”, produção d’O Joio e O Trigo, contam essa história.
👩🏽💻 Tecnologia
Duas das maiores empresas do mundo, a Meta (dona do Facebook, Instagram e WhatsApp) e a Alphabet (Google e YouTube) juntas devem mais de R$100 milhões ao Estado brasileiro. O Núcleo mostra que a primeira tem 11 pendências, e a segunda, oito débitos. Os dados considerados são referentes ao terceiro trimestre de 2022, ano em que as duas companhias faturaram, em conjunto, cerca de US$ 400 bilhões (quase R$2 trilhões). Quase todas as dívidas estão relacionadas a multas.