O cinema brasileiro em alta e a adaptação às cheias no Acre
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🔸 “Se depender de mim, nunca vou parar de fotografar.” Sebastião Salgado não pretendia se aposentar. No ano passado, quando deu entrevista à revista piauí, ele estava com 80 anos e afirmou que não deixaria de exercer a profissão que o acompanhou por mais de 50 anos. Iria apenas abdicar dos projetos extensos – “aqueles que requerem seis ou sete anos de dedicação”. O fotógrafo explicou que, ao lado da companheira Lélia Wanick Salgado, com quem vivia e trabalhava havia mais de 50 anos em Paris, iria se dedicar à curadoria de seu vasto acervo. Não é pouca coisa. O fotógrafo percorreu mais de 130 países e produziu mais de 500 mil imagens desde a década de 1970. Cobriu a guerra civil angolana, os conflitos anticoloniais em Moçambique, o movimento nacionalista dos curdos na Turquia, os fluxos migratórios no fim do século 20, entre tantas outras histórias. Filho de um fazendeiro de Aimorés (MG), Salgado contou que suas imagens eram guiadas por lembranças da infância no interior mineiro, do barroco à luz das sombras. O fotógrafo morreu na última sexta-feira, aos 81 anos.
🔸 “Sua lente revelou o mundo e suas contradições; sua vida, o poder da ação transformadora”, publicou o Instituto Terra, organização não governamental fundada por Sebastião Salgado e Lélia Wanick. A obra do fotógrafo foi marcada por imagens em preto e branco, com fortes usos de contraste e sombra. O Nexo apresenta seis trabalhos emblemáticos do brasileiro considerado um dos mais importantes nomes da fotografia na história. Entre as obras, está “Serra Pelada”, de 1987, que mostra milhares de homens trabalhando no maior garimpo a céu aberto do mundo, localizado na Serra dos Carajás, no Pará.
🔸 A trajetória de Salgado foi marcada pela defesa do meio ambiente e o combate às explorações do planeta – não só a partir do trabalho fotográfico. Dedicado à restauração de ambientes naturais, o instituto que fundou com sua companheira acumula feitos. O Eco destaca a recuperação de 600 hectares de Mata Atlântica em regiões como a Bacia do Rio Doce. As medidas de reflorestamento são acompanhadas de ações que promovem educação ambiental e desenvolvimento rural sustentável. Sobre a Amazônia, tema de seu último livro, publicado em 2021, ele afirmou que a destruição da floresta é fruto da “sociedade de consumo, por uma terrível necessidade de consumo que temos, de ganância”. E completou: “Se conseguirmos conscientizar as pessoas de que, juntos, poderíamos fazer as coisas de outra maneira, poderíamos salvar essa grande floresta da qual dependemos para a biodiversidade e também para esta grande reserva cultural que são os povos indígenas.”
🔸 Falando em Amazônia… Para dar “segurança jurídica” a petroleiras que atuam na região, a Agência Nacional do Petróleo (ANP) aprovou uma regra nova que delimita uma faixa de 10 km ao redor de terras indígenas, quilombolas e unidades de conservação onde não devem ser ofertados blocos de petróleo e gás. Segundo a agência, o objetivo é reduzir ações judiciais por falta de consulta prévia a povos tradicionais. A InfoAmazonia explica que a norma tenta blindar leilões de petróleo e gás da consulta obrigatória a essas comunidades. “Não existe uma distância mágica que possa ser aplicada em todos os casos. Esses limites não estão previstos em lei, e em muitas situações não será possível justificar que a questão indígena deva ser considerada a 9 quilômetros, mas não a 11”, alerta Suely Araújo, do Observatório do Clima e ex-presidenta Ibama. As comunidades continuam cercadas por blocos ofertados em leilões, incluindo o que vai oferecer 68 blocos na Amazônia Legal, marcado para 17 de junho.
🔸 O longa brasileiro “O Agente Secreto” venceu dois prêmios no Festival de Cannes: melhor diretor para Kleber Mendonça Filho e melhor ator para Wagner Moura. As vitórias coroam um semestre excepcional para o cinema brasileiro, escreve Ana Paula Sousa, em artigo na CartaCapital. Além dos prêmios, o thriller político fechou acordos com a Neon (Estados Unidos) e a Mubi (Reino Unido, Índia e América Latina), reforçando sua força no mercado internacional e o posicionamento como possível indicado ao Oscar. A conquista se soma a uma sequência inédita de premiações: “O Último Azul”, em Berlim, e “Ainda Estou Aqui”, no Oscar. “Neste ano, de acordo com a Ancine, 8,5 milhões de pessoas foram aos cinemas ver um filme brasileiro – número que corresponde a 20% de todos os ingressos vendidos no país. É também esse contexto que torna este primeiro semestre de 2025 marcante. Ao reconhecimento internacional soma-se, neste momento, um reencontro com o público”, afirma.
📮 Outras histórias
Sete em cada dez moradores das áreas urbanas do Nordeste vivem em ruas sem rampas de acessibilidade. Isso representa mais de 29 milhões de pessoas, ou 70,5% da população urbana da região. Segundo a Agência Tatu, o Nordeste tem o segundo pior índice do país, e o Ceará lidera o ranking nacional da falta de acessibilidade: 77,8% da população urbana cearense vive em ruas sem rampas. Outros cinco estados nordestinos também aparecem entre os piores do país: Paraíba, Piauí, Alagoas, Sergipe e Rio Grande do Norte. “As cidades cresceram com calçadas estreitas, especialmente em bairros populares ou antigos, o que dificulta o cumprimento das exigências atuais de acessibilidade. A maior precariedade está nas periferias, onde sequer há calçadas em muitos trechos”, explica a arquiteta e urbanista Zilsa Maria Pinto, professora da Universidade Federal do Ceará (UFC).
📌 Investigação
Negligência médica e violação à identidade de gênero atravessam os atendimentos ginecológicos a homens trans e transmasculinos, desde as gestações desejadas e abortos espontâneos até a interrupção da gravidez em casos garantidos pela lei. O primeiro obstáculo já acontece no próprio cadastro, que mistura sexo, gênero e orientação sexual – na maioria das vezes, a única opção é aceitar ser atendido no feminino ou desistir do procedimento. O Catarinas revela que essa população muitas vezes nem chega ao sistema de saúde por medo da violência e recorre a métodos caseiros, sem segurança e sem acompanhamento. Como consequência, há uma ausência de dados oficiais, o que dificulta a formulação de políticas públicas e evidencia o descaso institucional.
🍂 Meio ambiente
Para lidar com as cheias do rio Juruá, os ribeirinhos de Cruzeiro do Sul (AC) se valem de uma adaptabilidade arquitetônica enraizada na história e na cultura da região, com palafitas elevadas, que permitem que as casas acompanhem a elevação do nível do rio, minimizando os danos e garantindo a segurança das famílias e seus pertences. Em artigo n’O Varadouro, o engenheiro civil cruzeirense Irlan Moura analisa como a população da capital do Vale do Juruá consegue mitigar os efeitos de eventos climáticos extremos, como inundações e secas: “Essa experiência de convívio próximo com a natureza e seus ritmos, impôs um aprendizado contínuo sobre como construir e viver em harmonia com o ciclo das águas na Amazônia. A madeira, material relativamente abundante e acessível, tornou-se a escolha natural para edificações que precisam ser resilientes às alagações”.
📙 Cultura
Patrimônio tombado pelo governo de Pernambuco desde 1983, o Cinema Glória foi atingido por um incêndio de grandes proporções no dia 16 de maio. Localizado no bairro de São José, área central do Recife, o prédio é reconhecido por seu valor arquitetônico – com elementos do estilo art nouveau – e por sua importância simbólica na história urbana e cultural da cidade, acessível à população trabalhadora da região. A revista O Grito! destaca que o incêndio reacende o debate sobre o abandono de edifícios históricos e a vulnerabilidade de bens culturais em áreas centrais da capital pernambucana. Responsabilidade da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), ainda não há cronograma definido para o início das obras de recuperação do Cine Glória.
🎧 Podcast
Porto Alegre já foi um modelo de democracia participativa. Nos últimos anos, no entanto, a sociedade civil tem sido cada vez mais afastada das decisões políticas – realidade que as enchentes de 2024 expôs e que precisa ser revertida. O “Fim do Futuro”, produção do Matinal, em parceria com o Vós Social, reflete sobre o colapso climático e a forma de fazer política. “O Estado está preparando obras, mas desistiu de elaborar, induzir e incentivar núcleos pensantes na sociedade sobre estratégias para realizar essas obras. Não houve uma capacidade de resposta na tragédia. Não teve infraestrutura, não teve inteligência, não teve nada. Acho que parte da sociedade percebeu isso. Nós temos que nos mover enquanto sociedade civil, enquanto sociedade”, afirma o geólogo Rualdo Menegat, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e coordenador do Atlas Ambiental de Porto Alegre.
👩🏽💻 Tecnologia
Aumento de menções a data centers nos noticiários e das buscas sobre o tema no Google revela aquecimento do interesse por inteligência artificial no Brasil. Data centers são infraestruturas físicas enormes com megacomputadores para processar o uso de internet e são necessárias para treinar grandes modelos de linguagem de IA e fornecer serviços para empresas e indivíduos. O Núcleo analisa que, em 2025, houve um pico de pesquisas sobre data centers no Google, aliado à cobertura da imprensa sobre o tema. O Brasil tem pelo menos 170 data centers – 139 operacionais, 22 em construção e nove planejados. É mais do que o dobro de qualquer outro país da América Latina: Chile é o segundo, com 62 dessas estruturas, e o México em terceiro, com 56.