As cidades sob risco de desastre e as mulheres trans em situação de rua
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🔸 Ministro extraordinário de Apoio à Reconstrução do Rio Grande do Sul, Paulo Pimenta apresentou ontem para veículos de imprensa independentes o plano de resposta às enchentes. Será em três etapas: a primeira diz respeito ao envio imediato de recursos ao estado e aos municípios; a segunda trata do restabelecimento das cidades, com limpeza, recuperação de pontes, bueiros, entre outras ações, e a terceira, por fim, refere-se à reconstrução. O Sul21 traz, em vídeo, a íntegra da conversa com o ministro. Segundo ele, “o aspecto socioambiental é absolutamente imprescindível” nos debates. “Tanto do ponto de vista econômico, tanto da compreensão da vida das pessoas e como é que elas se enxergam dentro desse processo de mudanças que vão acontecer daqui para frente”, afirmou.
🔸 Usar mergulhadores para reparar as estações de bombeamento de água pluvial. Esta é uma das recomendações emergenciais feitas por um grupo de 48 especialistas ao prefeito de Porto Alegre. “O que acontece atualmente: por furos no sistema, a água entrou. É preciso romper esse círculo vicioso, com mergulhadores e técnicas adequadas para consertar as comportas e tirar a água de dentro das casas de bombas”, explica ao Matinal o ex-diretor do Departamento de Esgotos Pluviais (DEP), Vicente Rauber, um dos signatários do manifesto enviado à administração municipal. A prefeitura, porém, recebeu as propostas com descaso. Segundo os especialistas, o prefeito fez afirmações falsas sobre o sistema de proteção de enchentes. “O assessor dele continuou com o negacionismo e nós fomos obrigados a dizer: ‘A prefeitura tem duas opções – ou ela continua praticando atos de imperícia e deixa cidade debaixo d’água, ou ela olha as nossas propostas, trata de implementá-las e acaba o quanto antes com esse sofrimento, com esses prejuízos”, conta Rauber.
🔸 Doações, resgates e alarmismo. São os três eixos principais da desinformação sobre o desastre climático no Rio Grande do Sul. Pesquisadores ouvidos pela Agência Lupa avaliam que os conteúdos falsos sobre as enchentes são diferentes daqueles disseminados no contexto eleitoral e têm mais influência sobre a opinião pública. “Por ser um campo ainda desconhecido, assim como foi durante a pandemia da Covid-19, as informações sobre o assunto, sejam elas verdadeiras ou falsas, têm um impacto maior porque estamos ainda formando opinião sobre o tema”, alerta Nara Pavão, professora de ciência política da Universidade Federal de Pernambuco (PE). A reportagem apresenta um panorama sobre cada um dos três eixos desinformativos.
🔸 Mais de 70% dos brasileiros vivem em municípios com alto risco de alagamento, inundação, enxurrada ou deslizamento de terra. E, em 2023, houve mais de um desastre por dia no país. Os dados, obtidos pela Agência Pública, são parte de um levantamento do governo federal feito em outubro do ano passado. O Rio Grande do Sul aparecia como o quarto estado com mais municípios listados (142), atrás de de Minas Gerais (283), Santa Catarina (207) e São Paulo (172). Oito milhões de brasileiros já ficaram desalojados em decorrências de desastres desse tipo. O Ministério do Meio Ambiente prepara um plano de prevenção e enfrentamento de eventos climáticos extremos a partir da lista de municípios mais vulneráveis.
📮 Outras histórias
Em vídeo: era 1993 quando Francisco Alves Oliveira conheceu o crochê. Estava em depressão e decidido a tirar a própria vida quando sua companheira lhe apresentou a arte. O homem, que já havia trabalhado como oleiro, policial e segurança, prestou atenção. “Me sentei ao lado dela, ela me deu um bolinho de linha e agulha e comecei a fazer correntinha. A partir desse dia, entrou no sangue, esqueci o suicídio e estou até hoje”, conta o crocheteiro, que vive em em São Gonçalo do Amarante, no Rio Grande do Norte. Parceiros do Meus Sertões, Helenita Monte de Hollanda e Biaggio Talento, do canal Cultura Popular Brasileira, conversam com Francisco, que conta como foi salvo pelo crochê.
📌 Investigação
Golpistas estão se aproveitando do alto número de buscas pela tragédia no Rio Grande do Sul no Google para redirecionar o usuário ao cassino online conhecido como Jogo do Tigrinho. O Aos Fatos mostra que eles invadem sites de prefeituras e câmaras municipais e configuram páginas para serem acessadas pelo robô de indexação de conteúdo do Google com o conteúdo jornalístico plagiado de portais de notícias sobre o desastre climático. Para a plataforma, o conteúdo parece idêntico ao de sites de jornalismo, mas ao clicar no link, o usuário é direcionado ao cassino. O objetivo dessa estratégia é subir o ranqueamento de buscas e atrair mais cliques para os sites de jogos de azar.
🍂 Meio ambiente
No mundo todo, mulheres são as principais vítimas fatais de eventos climáticos extremos. No Brasil, o perfil é outro, com maior mortalidade entre homens, segundo os dados de 1979 a 2019 do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde. A pesquisadora Gabriela Couto buscou relatos dos sobreviventes da tragédia da Região Serrana do Rio de Janeiro em 2011, com mais de 900 mortos, para entender o motivo. À Gênero e Número Couto explica que as mulheres normalmente estão mais atentas ao princípio do evento e à cooperação comunitária e, por isso, precisam ser mais incluídas na gestão do processo de resposta aos fenômenos climáticos. “As redes foram um elemento chave durante o desastre. Mulheres que foram buscar outras mulheres. Uma delas disse que duas amigas entraram em sua casa gritando, porque ela já tinha sofrido com os deslizamentos de 2003.”
📙 Cultura
“Têm surgido alguns quadrinistas alagoanos, que, aos trancos e barrancos, estão fazendo o seu trabalho, mesmo que muitas pessoas não vejam. Mas a gente está aqui fazendo”, afirma o quadrinista independente José Ramiro. Nascido em Viçosa (AL), Ramiro entrou em contato com esse tipo de arte na década de 1980 e cria seus quadrinhos de forma autônoma desde a juventude. “O que me motivou, inicialmente, foi a acessibilidade e a diversidade de personagens que os quadrinhos oferecem”, diz. A Revista Alagoana conta que muitas das histórias criadas por Ramiro trazem elementos e cenários da história de Alagoas e do Nordeste.
🎧 Podcast
Em um dia no início da década de 1990, Abel saiu para trabalhar e desapareceu. Sua mãe, Pureza, desconfiou que o filho poderia ser vítima de trabalho escravo. Ela passou três anos de fazenda em fazenda, entre o Maranhão e o Pará, enfrentando jagunços e políticos, até encontrá-lo. O “No Labirinto”, produção da Repórter Brasil, narra a jornada de Pureza, que chegou a ir pessoalmente a Brasília para cobrar do poder público o combate ao trabalho escravo.
🙋🏾♀️ Raça e gênero
O relatório do Ministério dos Direitos Humanos sobre a população de rua no país ignora a identidade de gênero. A falta de dados e políticas públicas deixa mulheres trans e travestis ainda mais vulneráveis às violações de direitos, como revela a série especial “Com Nome, Mas Sem Endereço”, produzida pelo Colabora. Sem acesso ao direito básico da moradia, elas sofrem com violências verbais, físicas e sexuais. Embora os fatores que levam essa população às ruas sejam múltiplos, a não aceitação da família sobre a identidade de gênero costuma ser um motivo crucial: “A humilhação e o sofrimento mental que causam ao não entender a transexualidade é um dos principais pontos que faz as pessoas saírem de casa, o que eu, na verdade, não considero como ‘sair de casa’, mas sim como sendo expulsas”, afirma Wescla Vasconcelos, pesquisadora e diretora do Fórum Estadual de Travestis e Transexuais do Rio de Janeiro.