As chuvas no Sul e a constante destruição do Cerrado
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🔸 Além do fenômeno El Niño, o desmatamento e o avanço da urbanização tiveram papel central no desastre do Vale do Taquari, no Rio Grande do Sul. É o que afirmam especialistas ao Projeto Colabora. Segundo eles, a própria configuração geológica da região já contribui para a ocorrência de inundações. William Hope lembra que cheias são eventos normais, o que muda é a forma como se dá a ocupação humana da região: “Torna-se cada vez mais importante a implementação de políticas públicas de urbanização e parcelamento adequado do solo. Além, é claro, da conscientização das pessoas com relação à preservação ambiental como um todo”, afirma o professor, Mestre em Ambiente e Desenvolvimento pela Universidade do Vale do Taquari.
🔸 Enquanto isso, no Amazonas, cerca de 180 pessoas estão desalojadas no município de Juruá, a 672 quilômetros de Manaus, depois de um temporal que atingiu a cidade na semana passada, com ventos de até 100 km/h. A revista Cenarium Amazônia conta que, além de 203 casos, um centro cultural, um centro esportivo, a Secretaria de Assistência Social e uma escola estadual foram atingidos pela destruição causada pela chuva.
🔸 “Uma mulher a menos.” Assim a jornalista Natalia Viana lembra a saída de Ana Moser do Ministério do Esporte na última semana. Na newsletter Xeque na Democracia, da Agência Pública, ela destaca que a atleta foi substituída pelo deputado André Fufuca, “cujo portfolio no esporte é absolutamente nulo, mas que carrega o apelido herdado do pai, prefeito em Alto Alegre do Pindaré, cidade do interior do Maranhão”. A jornalista associa a saída de Moser “à imagem de outra esportista que há apenas algumas semanas teve seu ápice profissional roubado pela ganância e luxúria masculina, a jogadora de futebol Jenni Hermoso, da Espanha, que mal começou a celebrar o ouro da Copa do Mundo, título máximo do esporte ao qual dedicou a sua vida, foi violentada na frente de todo o mundo, ao ser beijada à força pelo então presidente da Federação espanhola, Luis Rubiales”.
📮 Outras histórias
“É um bar, uma vendinha ou uma mercearia?” A pergunta feita pelo Voz das Comunidades é também uma tentativa de definir o que vem a ser uma birosca. “Cerveja, sabão em pó, biscoito e, até mesmo, xuxinha de cabelo são alguns dos itens que se pode encontrar neste empreendimento tão comum na favela”, descreve a reportagem, que ouviu moradores do Complexo do Alemão, na zona norte do Rio de Janeiro, sobre esse comércio que vende de tudo um pouco. Por lá, uma das mais famosas biroscas é o Bar do Sininho, inaugurado no comecinho do morro há 43 anos, quando Seu Sininho e sua esposa chegaram ao Rio vindos de outros estados. Hoje, quem toma conta do negócio é a neta deles, Ana Carolina Freitas, de 34 anos, que transformou parte da birosca numa estação de manicure.
📌 Investigação
O governo Bolsonaro chegou a pagar R$ 5 mil numa passagem aérea entre Brasília e São Paulo. Mas não só. Alegando urgência, o ex-presidente demonstrou pouco zelo com os cofres públicos ao comprar bilhetes caros, emitidos às vésperas das viagens. A partir de dados obtidos pelo Portal Transparência, o Intercept Brasil apurou que a categoria “urgente”, que deveria ser considerada um caso excepcional, foi adotada em todas as 12 viagens feitas por Bolsonaro desde janeiro de 2023. Há uma decisão do Tribunal de Contas da União para que a reserva de passagens seja informada com pelo menos dez dias de antecedência da data do voo. O objetivo é garantir que a gestão pública gaste o menor valor possível com os deslocamentos. Bolsonaro, além de driblar a regra já fora do cargo, ampliou os gastos viajando em comitiva.
🍂 Meio ambiente
“Dia do Cerrado é como um aniversário em um quarto de UTI, festejando o paciente desenganado, entubado e em coma induzido. Misto de hipocrisia e ingenuidade excruciante em meio a baboseiras coloridas.” Professor de Manejo de Fauna e de Áreas Silvestres na Universidade de Brasília, Reuber Brandão escreve em coluna n’O Eco sobre a data criada para lembrar o bioma, celebrada ontem. Ele lembra que a “savana mais quente e úmida do planeta”, conhecida como o “berço das águas do Brasil”, está desaparecendo: “O que acontece hoje no Cerrado com a soja, com o algodão, com o milho, com o boi e com a cana-de-açúcar reflete a história recente da Mata Atlântica, o bioma mais devastado do Brasil, com o café, a cana-de-açúcar e com o boi”. Hoje, explica Brandão, o Cerrado tem menos de 50% de sua área nativa, e a destruição só vem aumentando – as taxas recentes de desmatamento chegam a 2% do bioma ao ano.
📙 Cultura
A execução da Lei Paulo Gustavo tem gerado dúvidas entre trabalhadores do setor cultural. Uma das principais questões é em relação aos limites fiscais dos Microempreendedores Individuais (MEIs), nos casos de editais que superam o teto de faturamento de R$ 81 mil determinado para essa modalidade de empresa. Outra queixa é em relação à necessidade de apresentar certidão negativa de débitos fiscais em alguns estados e municípios para aplicar para algum recurso. O Nonada conversa com agentes culturais para explicar os principais impasses e traz as respostas dadas pelo Ministério da Cultura.
🎧 Podcast
Ainda para lembrar o Dia do Cerrado: o bioma abriga 216 terras indígenas com 83 diferentes etnias. São cerca de 100 mil indígenas distribuídos entre Maranhão, Tocantins, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Episódio especial do podcast “Rádio Metamorfose”, produção do Jornal Metamorfose, mergulha nas histórias desses povos pelo olhar da museóloga Jé Hãmãgãy, da etnia Tikmu'un. Segundo ela, “o desmatamento no bioma é grave não só pela extração de madeira ilegal, mas principalmente pela agropecuária, o plantio de soja e a criação de gado”. Para os povos originários que vivem no Cerrado, a destruição tem impacto que vai além do cotidiano e das formas de sobrevivência e afeta também sua espiritualidade.
🧑🏽⚕️ Saúde
As novas regras de rotulagem de alimentos no Brasil entram em vigor em outubro. Até então, só produtos novos obedeciam ao sistema de rótulos frontais, com as lupas pretas nas embalagens para indicar quando há alto teor de açúcar adicionado, gordura saturada e sódio, além de tabelas nutricionais padronizadas. No mês que vem, todos os produtos no mercado terão de se adaptar, sob pena de multa, apreensão e até proibição de propaganda. O Joio e O Trigo lista três tópicos importantes sobre o tema: as novas regras, as brechas da lei e o modus operandi da indústria de ultraprocessados, que, é claro, vem em campanha para tirar o foco da lupa e, por exemplo, dar destaque às mudanças na tabela nutricional.