A chegada de Boulos ao governo Lula e as lajes de sucesso em Paraisópolis
Uma curadoria do melhor do jornalismo digital, produzido pelas associadas à Ajor. Novos ângulos para assuntos do dia
🔸 A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) formou maioria para condenar todos os réus do núcleo da desinformação da trama golpista. Eles são acusados de disseminar ataques digitais às urnas eletrônicas e propagar notícias falsas que culminaram nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023. Votaram pela condenação os ministros Alexandre de Moraes (relator), Cristiano Zanin, Cármen Lúcia e Flávio Dino. Assim como no julgamento do núcleo principal, o ministro Luiz Fux foi o único a divergir e defendeu que os réus deveriam ser absolvidos. O Jota conta que, isolado após os votos divergentes, ele pediu ao presidente do STF, Edson Fachin, para deixar a Primeira Turma e migrar para a segunda. Se o pedido for aceito, Fux pode deixar o julgamento dos outros núcleos sobre a tentativa de golpe. A troca o colocaria ao lado de Nunes Marques e André Mendonça, ministros indicados por Bolsonaro.
🔸 “Há mais uma vaga para ministro do STF aberta. Entre os distintos membros do clã da branquitude judicial, já há lobby para que o presidente Lula escolha mais um homem branco para compor a Corte que defende a ‘Constituição Cidadã’. Uma Corte que, à primeira vista, poderia facilmente ser da Suíça ou da Noruega – embora seja do segundo país com a maior população negra do mundo, atrás somente da Nigéria”, escreve Jessica Santos, em artigo na Ponte. Ela lembra que as mulheres negras formam a maioria da população do país, mas são ignoradas para cargos de decisão. Os números do Judiciário confirmam: dos 1.563 desembargadores do Brasil, só 45 são mulheres negras. Num universo de 3.265 juízas titulares, apenas 365 se declaram como negras. A jornalista destaca que os movimentos da sociedade civil já elaboraram listas de candidatas ao cargo no STF. Ela defende “uma justiça que fale menos latim e se pareça mais com quem julga, que seja antirracista e antissexista, que proteja direitos e não corrobore com a violência de Estado, com o genocídio de populações pretas, periféricas, quilombolas e indígenas, entre outras constantes violações de direitos humanos”.
🔸 Em tempo: em seu último dia na Corte, Barroso votou pela descriminalização do aborto até a 12ª semana de gestação. O Correio Sabiá detalha o voto do ministro recém-aposentado. “A interrupção da gestação deve ser tratada como uma questão de saúde pública, não de direito penal”, afirmou Barroso, para em seguida ressaltar que a criminalização penaliza especialmente mulheres pobres, que não podem recorrer ao sistema público de saúde para obter informações, medicação ou procedimentos adequados. “As pessoas com melhores condições financeiras podem atravessar a fronteira com o Uruguai ou a Colômbia, ir para a Europa ou valer-se de outros meios aos quais as classes média e alta têm acesso”, completou. O ministro disse ainda que as mulheres têm o direito fundamental à liberdade sexual e reprodutiva e reforçou que direitos fundamentais não podem depender da vontade das maiorias políticas.
🔸 Lula anunciou Guilherme Boulos (PSOL-SP) como novo ministro da Secretaria-Geral da Presidência, no lugar de Márcio Macêdo. A pasta, criada em 1990 e reconfigurada em 2023, assiste o presidente e articula governo e movimentos sociais, historicamente “esfriando a fervura” de conflitos, como explica a cientista política Luciana Tatagiba. O Nexo analisa a escolha de Lula e destrincha a história da Secretaria da Presidência. Nos governos petistas, de Lula e Dilma, a pasta foi pensada como uma “ponte institucional” do governo com os movimentos sociais, sindicatos e organizações populares. Já Michel Temer a extinguiu e depois recriou com outro perfil. Jair Bolsonaro (PL), por sua vez, deslocou o foco para tarefas internas e suspendeu conselhos. Boulos – ex-líder do MTST, com quatro disputas eleitorais desde 2018 e 1 milhão de votos para deputado federal (em 2022) – é um sinal de reaproximação da base social do governo. Agora, na opinião de Tatagiba, a pasta talvez assuma outro papel: “construir um governo mais mobilizador para fazer a disputa com o Congresso”.
📮 Outras histórias
Em Paraisópolis, na zona sul de São Paulo, moradores transformam lajes em espaços de eventos para gerar renda extra. É o caso da Laje Glamour, de Vanaildes de Jesus, que surgiu depois que ela adaptou o espaço para os filhos com uma piscina de alvenaria. Com vista panorâmica, sua laje atende de batizados até gravações de videoclipes de MC’s famosos, como MC Hariel. “Coloquei o nome simbólico, Laje Glamour, porque Paraisópolis é um glamour”, afirma a empreendedora Vanaildes, que também é cabeleireira. A Agência Mural mostra outros casos de lajes de sucesso em Paraisópolis, como a JC Laje. Ativo há sete anos, o espaço de Aline e Leonardo Silva também comporta até 60 pessoas, com mesas, cadeiras e decoração para aniversários, chás e casamentos. “Hoje conseguimos lotar agenda, ter fila de espera, clientes fiéis. Para o futuro, que ele seja próspero, assim como tem sido. Deus está cuidando”, diz Aline.
📌 Investigação
Facções criminosas e grupos armados estão presentes em pelo menos 662 dos 987 municípios amazônicos em seis países – Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela –, o que equivale a 67% dos municípios da Amazônia. Dos que têm presença de grupos armados, 32% já têm mais de um deles em seus territórios, e sete grupos operam já em mais de um país. Levantamento do “Amazon Underworld”, projeto transnacional do qual a InfoAmazonia faz parte, revela que a chegada e a expansão de facções e grupos armados representam um ponto de crítico para as comunidades locais, que veem seu ambiente natural ser destruído, a violência atingir níveis recordes e seus jovens serem atraídos pelo fascínio econômico de atividades como o garimpo e o tráfico de drogas. As duas principais organizações criminosas brasileiras, o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV), estão presentes em ao menos 473 municípios mapeados. Além do Brasil, o CV no Peru e na Bolívia, e o PCC, na Bolívia.
🍂 Meio ambiente
Pioneiro no estudo da glaciologia no Brasil, o professor Jefferson Cardia Simões, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, foi eleito membro da Academia Mundial de Ciências, vinculada à Unesco, na área de Ciências da Terra, do Clima e do Meio Ambiente na semana passada. Em entrevista ao Sul21, o pesquisador explica que, diante da emergência climática, compreender e estudar as regiões polares, sobretudo a Antártica, é tão importante quanto investigar as florestas tropicais. “Nós tendemos, até por ter grande parte da Amazônia no Brasil, a achar que é uma parte à parte, mas o sistema climático é único e indivisível”, afirma. “É essencial que visualizemos o globo como um todo. Então, nós temos esse problema da crise climática e, pior ainda, a crise ambiental global, que só vai ser resolvida com a ciência, colaborando, discutindo de maneira racional e independente de qualquer ideologia.”
📙 Cultura
“A arte apareceu para salvar mesmo a minha vida. Porque eu nunca tive essa comunicação em casa. A minha tia que me criou, essa mulher guerreira, que cuidava de toda a família e que nem sequer estudou, não me levava pra fazermos um passeio cultural. Ela nem tinha esse tempo. Na escola onde eu passei a infância, o que a gente aprendia não era arte, eram atividades para subsistência”, afirma a artista visual Eliane Brasil, do Coletivo Ero Ere Mulheres Artistas. O Plural conversa com a artista para revisitar sua trajetória, da difícil infância em Belo Horizonte (MG) à sua “construção” em Curitiba (PR). Para Eliane, o fazer manual – inicialmente aprendido como ofício – tornou-se uma ferramenta central em sua arte como símbolo de resistência e ancestralidade. Durante a graduação em Artes Visuais na Universidade Federal do Paraná passou a questionar o apagamento das mulheres negras na arte. Foi a partir desse movimento que ajudou a criar o coletivo do qual faz parte.
🎧 Podcast
“É importante que se diga que nunca tivemos de fato uma educação sexual no Brasil. O que tivemos e chamamos de educação sexual era ensinar a não engravidar e a não pegar doença, portanto, usar camisinha. Isso não é educação sexual. Isso é uma questão de saúde pública”, afirma a advogada Luciana Temer, fundadora do Instituto Liberta, organização que atua para enfrentar a violência sexual contra crianças e adolescentes. O “Fio da Meada”, produção da Rádio Novelo, recebe a pesquisadora e ex-delegada de polícia para falar sobre a proteção de crianças e adolescentes. Ela explica que a prevenção à violência sexual necessita de uma conversa permanente com a criança e adaptada a cada faixa etária, com uma abordagem que explique o consentimento e a consciência e respeito ao corpo.
✊🏾 Direitos humanos
Para excluir identidades de gênero do debate, a chamada LGB Internacional ganhou apoio de apoio de feministas radicais e influenciadores digitais no Brasil. O país é o único na América do Sul com grupo filiado à rede, sob o nome de Aliança LGB. Segundo a Agência Diadorim, a dissidência do grupo com movimentos LGTBQIA+ atrai bolsonaristas, como o influenciador Dom Lancellotti, fundador do grupo Gays com Bolsonaro, e grupos ligados ao feminismo radical, como a Matria – Associação de Mulheres, Mães e Trabalhadoras do Brasil. Esta última é acusada pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) de atuar como um “lobby antitrans”, que, com base em dados levantados ao longo de dois anos, indica que a movimentação política da Matria tem como desdobramento o retrocesso nos direitos das pessoas trans.