A medida do CFM que dificulta o aborto e um raio-x das escolas
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🔸 Depois de 50 dias de buscas, a polícia prendeu os fugitivos da penitenciária federal de Mossoró (RN). Rogério Mendonça e Deibson Nascimento foram localizados em Marabá, no Pará, a mais de 1.500 km de distância de onde fugiram. A Saiba Mais lembra que os dois integram a facção criminosa Comando Vermelho e estavam presos em Mossoró desde setembro de 2023. Segundo os investigadores, eles ficaram ao menos 30 dias sem receber revistas nas celas, procedimento que deveria acontecer diariamente, e deixaram a penitenciária pelo teto, no dia 14 de fevereiro. Foi a primeira fuga registrada no sistema federal desde sua criação, em 2006. Oito pessoas foram detidas ao longo das buscas e dez servidores do presídio estão sob investigação na corregedoria da Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen).
🔸 Aumenta a temperatura da fritura do presidente da Petrobras, Jean Paul Prates. O chefe da estatal foi questionado abertamente ontem pelo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira. O Jota apurou que, nos bastidores, já surgem nomes de possíveis alternativas a Prates. Ele, por sua vez, não teria conseguido construir uma ponte direta com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O próprio chefe do Planalto estaria irritado com Prates. Segundo a reportagem, “temas como o ritmo de crescimento dos investimentos da empresa estariam na lista de reclamações, além de uma postura de isolamento das decisões executivas da empresa em relação a Lula”.
🔸 O Conselho Federal de Medicina (CFM) publicou resolução que dificulta o aborto legal, proibindo médicos de realizar um procedimento que provoca a morte do feto em casos de interrupção de gestação acima de 22 semanas. Aprovado em março, o texto entrou em vigor nesta semana. É assinado pelo presidente do CFM, José Hiran da Silva Gallo, e cita a Constituição, a Declaração Universal dos Direitos Humanos e outras convenções sobre direito à vida para justificar a medida. A CartaCapital informa que a Procuradoria da República em São Paulo já solicitou explicações ao conselho, que tem até cinco dias para apresentar argumentos técnicos para a resolução.
🔸 Vale a pena ver de novo: o aborto legal, previsto no Código Penal desde 1940, ainda é alvo de moralismo e desconhecimento. Na série documental “Meu Corpo É Meu”, a revista AzMina reúne relatos de quatro mulheres que fizeram o procedimento em diferentes momentos da vida. Há ainda entrevistas com advogadas, ginecologistas, psicólogas e antropólogas, que explicam os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres no Brasil.
🔸 Menos de 40% das escolas municipais brasileiras têm biblioteca ou um cômodo destinado à leitura. A situação nas escolas particulares é melhor, mas piorou nos últimos anos: em 2014, 72% tinham biblioteca ou sala de leitura; em 2023, o percentual caiu para 66%. Na seção =igualdades, a revista piauí explora os dados do Censo Escolar, que forma um retrato da educação básica no Brasil. Além da falta de biblioteca, as escolas públicas também carecem de psicólogos – só 12% delas contam com a presença desses profissionais.
📮 Outras histórias
O currículo acadêmico de Josimar Araújo de Medeiros é extenso, mas é fora da academia que ele constrói uma atuação robusta em defesa do meio ambiente. Com formação em Bioecologia, Engenharia Sanitária, Desenvolvimento e Meio Ambiente e pós-doutorado em Geografia, ele dedica a vida ao ensino de crianças e adolescentes com foco em preservação ambiental em São José do Seridó (RN). “Minha geração cresceu achando que açudes não secavam. As crianças de hoje estão crescendo achando que os açudes nunca enchem”, conta. A Marco Zero detalha seu trabalho para o reflorestamento da caatinga e explica por que ele escolheu a espécie conhecida como “faveleira” para o plantio.
📌 Investigação
A siderúrgica mineira Mannesmann se aliou à ditadura para reprimir funcionários nos anos 1960. Com a intensificação do movimento grevista em todo o país, os trabalhadores de lá também reivindicavam melhores condições – e a reação da empresa revelou contato direto com os agentes de repressão, além de envolvimento do diretor com a ideologia nazista na Europa. A Agência Pública mostra como a Mannesmann esteve à frente da prisão de mais de 50 grevistas, além de tortura e outros abusos nas celas. A reportagem teve acesso a pesquisas e inquéritos civis que indicam o envolvimento de outras empresas mineiras com violações de direitos humanos durante o período.
🍂 Meio ambiente
Choques de redes elétricas estão matando a arara-azul-de-lear, espécie exclusiva da Caatinga. Com o objetivo de frear estes acidentes, cientistas, Ministério Público Estadual e distribuidores buscam mudar os padrões de licenciamento e instalação de redes. O Eco revela que cerca de cem aves ameaçadas de extinção morrem anualmente eletrocutadas. A arara-azul-de-lear viaja até 80 km por dia em busca de comida em mais de 30 espécies vegetais, pousando em árvores, arbustos, postes e fios. Para evitar acidentes, as modificações em discussão envolvem a inversão e o reposicionamento de isoladores elétricos e o aumento da distância entre os fios para evitar os choques.
📙 Cultura
Em 1974, Sebastião Salgado consolidou sua carreira na fotografia ao ser enviado para cobrir a Revolução dos Cravos, em Lisboa. A revista Quatro Cinco Um resgata as memórias do fotógrafo durante o golpe militar que derrubou a ditadura salazarista em Portugal. Na época, ele documentou quase dois anos do período conturbado da história portuguesa, sua primeira cobertura de reconhecimento internacional. A reportagem destrincha os caminhos do profissional após este período ao contar a passagem e a atuação de Salgado por França, Angola e Moçambique, onde vivenciou a cobertura em campo de guerra.
🎧 Podcast
Apesar do barulho assustador que fazem nas matas, os bugios-pretos não são conhecidos como temíveis predadores. O ronco característico, no entanto, chamou a atenção de pesquisadores do Rio Grande do Sul. Segundo eles, a proximidade dos animais com os seres humanos está mudando os hábitos da espécie. O “Rádio Novelo Apresenta”, produção da Rádio Novelo, conta como os bugios têm alterado seus costumes alimentares. Hoje, chegam a comer até churrasco. O segundo ato do episódio narra como o fascínio dos franceses pela música brasileira colaborou para a difusão de danças regionais e tipicamente brasileiras, como o maxixe.
💆🏽♀️ Para ler no fim de semana
Arenas de times paulistas têm dificultado o acesso a ingressos, afastando torcedores periféricos. A Periferia em Movimento conversa com moradores sobre o alto preço para ser sócio-torcedor, além dos obstáculos para garantir o próprio ingresso para os jogos. O sistema de reconhecimento facial no Allianz Parque, por exemplo, ou até mesmo um “cerco”, com um bloqueio para impedir pessoas sem ingressos de acessar a rua Palestra Itália são alguns dos fatores que têm causado a insatisfação dos torcedores. “Não, não é para vocês virem aqui. É para você ficar na sua periferia. Vai ver o jogo daí do bar do seu Paulo”, desabafa o entrevistado Wanderlei Laurino, morador da Brasilândia, zona norte de São Paulo.