O cerco bolsonarista ao STF e a resistência da onça no Pantanal
Uma curadoria do melhor do jornalismo digital, produzido pelas associadas à Ajor. Novos ângulos para assuntos do dia
🔸 Depois de Hamilton Mourão, recém-eleito senador, afirmar que pretende discutir “reformas” no Supremo Tribunal Federal, Jair Bolsonaro disse que pode aumentar o número de ministros do Supremo Tribunal Federal, uma manobra que lhe daria mais controle sobre a Corte. Com um Senado alinhado ideologicamente ao atual presidente, teme-se a ampliação dos poderes do chefe do Executivo a partir do controle da cúpula do Judiciário, num processo de “venezuelização” do Brasil. A manipulação dos tribunais, diga-se, também ocorreu em autocracias de direita, como Polônia e Hungria, além da própria ditadura militar brasileira. O Nexo discute o teor das propostas e o risco que representam para a democracia.
🔸 Em meio à guerrilha digital do segundo turno, a campanha de Lula puxou uma entrevista que Bolsonaro deu ao jornal “The New York Times” em 2016, em que o então deputado afirmou quase ter “comido um índio”, que teria sido “cozido” pelos indígenas. O Tribunal Superior Eleitoral, como lembra O Antagonista, determinou que o PT retire do ar o vídeo que associa o candidato do PL ao canibalismo.
🔸 A propósito: na Agência Pública, Rubens Valente explica que, na tal entrevista, Bolsonaro mentiu ao afirmar que os indígenas comiam carne humana em Surucucu, uma das principais comunidades da Terra Indígena Yanomami. “Nós, Yanomami do Surucucu, não somos canibais, nunca tivemos isso. Esse presidente não tem respeito com o ser humano”, afirmou ao jornalista Junior Hekurari, presidente do Condisi (Conselho do Distrito Sanitário Indígena) Yanomami.
🔸 Com um surto de meningite em São Paulo e a suspeita de um caso de poliomielite no Pará, cabe perguntar: o que pensam os candidatos à Presidência sobre as baixas taxas de cobertura vacinal? Qual o plano de Lula e Bolsonaro para reverter esse cenário? O Metrópoles mostra que os dois candidatos não têm propostas claras sobre o assunto. No documento apresentado ao TSE, Lula critica a gestão de Bolsonaro e, embora chegue a citar o Plano Nacional de Imunização, não indica o que faria para retomar as boas coberturas vacinais de outrora. Já o programa de Bolsonaro tece autoelogios à vacinação durante a pandemia de Covid-19, mas também não vai além disso.
📮 Outras histórias
Pernambuco terá sua primeira governadora. A disputa para o segundo turno ficou entre Marília Arraes (Solidariedade) e Raquel Lyra (PSDB). O Alma Preta faz um levantamento baseado nos planos de governo das duas candidatas – brancas – para avaliar propostas e projetos de inclusão voltados para mulheres pretas, população negra e LGBTQIA+. A saber: nenhuma sai da superficialidade nas questões raciais.
Alimento no prato e dinheiro no bolso. As hortas urbanas são uma alternativa, frequentemente ignorada pelo governo brasileiro, para gerar emprego, renda e segurança alimentar. O Joio e O Trigo narra a história de iniciativas agroecológicas em Belo Horizonte, São Paulo e Florianópolis.
📌 Investigação
A tortura era uma prática da ditadura – e não só com presos políticos. Os próprios militares eram alvos de colegas torturadores. Em 1971, quinze militares foram espancados e receberam choques elétricos em Barra Mansa, no estado do Rio de Janeiro. Ao contrário do que ocorria com presos políticos, a ação foi investigada, e os militares, condenados. O caso, porém, correu em sigilo, para que a opinião pública não o considerasse uma prova da existência de tortura no país. A partir de uma parceria entre o Instituto Vladimir Herzog e a agência de dados Fiquem Sabendo, a cientista política Glenda Mezarobba teve acesso ao processo e escreve para a revista piauí uma reportagem que indica como a tortura era, sim, uma prática sistemática do regime militar.
🍂 Meio ambiente
“Se há onça, há natureza preservada. Terra de onça é terra de esperança e de desafio de conservar a riqueza viva.” A afirmação é de Fernando Tortato, um dos maiores especialistas em onças do país. Na primeira reportagem de uma série especial feita em parceria com “O Globo”, O Eco publica texto de Ana Lúcia Azevedo sobre um símbolo oficial da biodiversidade, a onça-pintada, espécie que já perdeu 51% de seu território e é um indicador do estado de conservação de cada um dos biomas brasileiros. Ela ainda resiste na Amazônia e no Pantanal, é rara no Cerrado, está quase extinta na Mata Atlântica e na Caatinga, e já não existe no Pampa.
Com o vazamento de óleo na costa do Nordeste em 2019, dez ecossistemas foram atingidos, e populações tradicionais e locais, severamente impactadas, com a forte queda das vendas de pescado. O Meus Sertões ouve a epidemiologista e professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia (UFBA) Rita de Cássia Franco Rêgo, que coordenou a pesquisa “Avaliação dos impactos do derramamento do óleo petróleo na costa da Bahia: ações de saúde e proteção ambiental”.
📙 Cultura
O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) tem vivido anos críticos no governo Bolsonaro. Pastores já foram indicados para cargos de alto escalão, e a própria presidente do órgão, Larissa Peixoto, foi acusada de atuar pelo desmonte do órgão e de perseguir funcionários. O Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, responsável por regular a proteção do acervo cultural do país, ficou quase dois anos sem se reunir. O Escotilha explica que, agora, Bolsonaro excluiu do conselho nomes críticos à sua gestão.
O rapper Owerá é tido como o mais representativo artista de difusão das causas indígenas no país. Em seu novo disco, “Mbaraeté” (que significa resistência), o jovem de 21 anos retoma a luta dos povos originários e a defesa da floresta, como descreve a CartaCapital.
🎧 Podcast
O Manual do Usuário lançou o zine “Outros Jeitos de Pensar a Tecnologia”, com textos selecionados publicados no site entre 2021 e 2022. No podcast Guia Prático, Jacqueline Lafloufa e Rodrigo Ghedin detalham a publicação, aproveitam para discutir o consumo de informações nos âmbitos digital e físico e propõem a pergunta: o e-book não acabaria com o papel?
🙋🏾♀️ Raça e gênero
A laqueadura já foi usada para a esterilização em massa das brasileiras: em 1986, 44% das mulheres em idade fértil tinham passado pelo procedimento como método de contracepção, segundo o IBGE. Até hoje, é preciso autorização do parceiro para passar pela cirurgia. Isso vai mudar em março de 2023, quando passam a valer alterações na chamada Lei de Planejamento Familiar. A mulher brasileira com mais de 21 anos, então, poderá decidir sozinha sobre a laqueadura. A revista AzMina conta, em vídeo, a (amarga) história da laqueadura no Brasil.