O cerco à ‘Abin paralela’ e as línguas indígenas no país
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🔸 O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes decretou a prisão preventiva de cinco investigados pela Polícia Federal (PF) no caso da “Abin paralela”, articulação de espionagem ilegal dentro da Agência Brasileira de Inteligência de 2019 a 2022. Entre os alvos do monitoramento estavam os ministros do STF Dias Toffoli, Luis Roberto Barroso, Luiz Fux e Moraes, além de deputados, senadores e jornalistas, como conta o Jota. Segundo a investigação, o grupo atuava para elaborar dossiês contra essas pessoas com objetivo de divulgar narrativas falsas e incitar uma tentativa de golpe de estado e enfraquecimento das instituições democráticas. A PF prendeu ontem agentes que trabalhavam diretamente para o ex-diretor da agência Alexandre Ramagem, atual deputado federal, pré-candidato do PL à Prefeitura do Rio de Janeiro e ligado ao vereador Carlos Bolsonaro.
🔸 Entre os presos pela PF, estão o policial federal Marcelo Bormevet, assessor de Ramagem na Abin, e o subtenente Giancarlo Rodrigues. Eles foram responsáveis por monitorar os auditores da Receita Federal Christiano José Paes Leme Botelho, Cléber Home da Silva e José Pereira de Barros Neto que produziram o relatório cujo conteúdo deflagrou as investigações sobre o esquema de rachadinha de Flávio Bolsonaro. Em sua coluna no Metrópoles, o jornalista Guilherme Amado relembra essas informações – obtidas e publicadas por ele em 2020 – que foram confirmadas pela investigação da PF.
🔸 Desde 2015, a Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência (CCAI) do Congresso Nacional, responsável por supervisionar o Sistema Brasileiro de Inteligência (Sisbin), destinou mais de R$ 1,7 bilhão em emendas parlamentares para a Abin e para militares. Cerca de 70% do valor foi direcionado para projetos de cibersegurança, defesa de fronteiras e apoio a eventos, além de ações de caráter sigiloso. A Agência Pública revela que, em 2022, último ano do governo Bolsonaro, o Exército recebeu R$ 424 milhões da CCAI, o maior valor já enviado pela comissão para um único órgão. Para a Abin, foram R$ 40 milhões. Embora o colegiado tenha sido criado para fiscalizar atividades de inteligência, as emendas têm sido usadas para aumentar a verba de ações sem transparência pública.
📮 Outras histórias
Sem licitação, a gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB), em São Paulo, renovou o contrato com a Loga e a Ecourbis, gigantes do setor de gestão do lixo, e vai destinar R$ 80 bilhões para as empresas pelo período de 20 anos, enquanto catadores de materiais recicláveis são escanteados pelas políticas públicas. Segundo a Periferia em Movimento, ao menos 20 mil pessoas no município têm a reciclagem como principal fonte de renda, mas menos de mil (5%) estão integradas às 30 cooperativas de reciclagem habilitadas pela prefeitura. Outras 15 entidades estão formalizadas, mas não têm convênio com a administração municipal; e pelo menos 107 atuam na informalidade, aponta mapeamento do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR).
📌 Investigação
Revendedoras de marcas como Hyundai, John Deere e Caterpillar continuam vendendo escavadeiras em Itaituba (PA), a “cidade pepita”, um dos epicentros do garimpo ilegal na Amazônia, mesmo após o aumento da apreensão e destruição dos maquinários frequentemente encontrados em terras indígenas e unidades de conservação. A Repórter Brasil detalha como se movimenta a cadeia do garimpo ilegal no município por meio de lojas de máquinas e peças e oficinas mecânicas que se espalham pela rodovia Transamazônica, a BR-230. Além dos mecânicos, é possível encontrar serviço de manutenção oferecido pelas próprias revendedoras dos equipamentos. Funcionários de duas lojas visitadas pela reportagem, a Sotreq e a Deltamaq, que revendem produtos da Caterpillar e John Deere respectivamente, disseram sob anonimato oferecer o atendimento aos clientes diretamente nas áreas de garimpo.
🍂 Meio ambiente
Entre 1º de janeiro a 7 de julho deste ano, o Pantanal perdeu 762.875 hectares para o fogo – 5% de sua área total – com 3.919 focos de queimada identificados. O número é maior do que o registrado em 2020 – ano em que um terço do bioma foi destruído pelo fogo – no mesmo período. O Eco ressalta que o município de Corumbá (MS) é o mais afetado, concentrando 68,2% dos focos de incêndio. Na última quarta, o governo federal publicou uma medida provisória que permite que, em casos de calamidade pública ou situações de emergência ambiental, o serviço de combate a incêndios seja realizado por aeronaves e tripulação de outras nacionalidades. Em todo Pantanal, há 830 profissionais envolvidos na operação de combate ao fogo.
📙 Cultura
A atriz Ayomi Domenica deu vida à Sofia, protagonista do filme “Levante”, lançado no ano passado. Dirigido por Lillah Halla, que também assina a roteirização ao lado de Maria Elena Móran, o longa narra a história de jovem atleta de 17 anos que decide interromper a gravidez clandestinamente. Em entrevista à Alma Preta, Ayomi fala sobre sua relação com a obra e o tabu sobre o aborto. “Desde que comecei a trabalhar no audiovisual desejo trabalhos assim. Ainda quero mais trabalhos assim, trabalhos de arte, que sejam políticos e que me deem espaço para trabalhar também com protagonismo, que é muito bem-vindo – e que desejo mais, inclusive”, afirma a atriz. “Por onde a gente passa, as pessoas se sentem muito à vontade de compartilhar histórias pessoais. Isso revela que ainda há muito tabu e muito medo em volta do assunto.”
🎧 Podcast
Astrônomos amadores de Minas Gerais descobriram um asteroide próximo à Terra e, enquanto descobridores, eles ficaram empolgados para poder batizar o corpo celeste. Cansados de apenas nomes de mitos gregos e romanos, os astrônomos desejavam nomear o astro descoberto com uma figura do folclore brasileiro – e ao fim, a escolhida foi a Mula-sem-cabeça. O “Rádio Novelo Apresenta”, produção da Rádio Novelo, narra a decepção e revolta do grupo ao ter o nome negado pela União Astronômica Internacional devido à história ter ligação ao celibato de um padre.
💆🏽♀️ Para ler no fim de semana
“Os povos indígenas brasileiros e suas línguas e culturas são desconhecidos da maioria da população, que pouco sabe sobre a diversidade linguística desses povos, donos de uma riqueza imensa de línguas (inclusive línguas indígenas de sinais)”, escreve Cristina Martins Fargetti, professora do Departamento de Linguística, Literatura e Letras Clássicas, Universidade Estadual Paulista (Unesp). Em artigo no Conversation Brasil, Fargetti traz sua experiência na pesquisa da língua Juruna, da família Juruna, Tronco Tupi, do povo Juruna, cuja maioria está no Território Indígena do Xingu, em Mato Grosso. “Fui aos poucos entendendo conteúdos relacionados a conhecimentos de astronomia, botânica, música, entre outros. Esse diálogo me levou a entender questões como a cosmovisão do povo Juruna e seus costumes”, detalha.