O Censo dos quilombolas e um podcast sobre o impeachment de Collor
Uma curadoria do melhor do jornalismo digital, produzido pelas associadas à Ajor. Novos ângulos para assuntos do dia
🔸 Contada pela primeira vez no Censo, a população quilombola no Brasil é de mais de 1,3 milhão de pessoas, o que corresponde a 0,65% do total da população residente no país. A maior parte (68,19%) está concentrada na região Nordeste, seguida pelas regiões Sudeste e Norte do país. Com o recenseamento inédito, o IBGE reúne informações básicas, até então desconhecidas, sobre esse grupo étnico. O Projeto Colabora detalha os dados e destaca que, entre os estados, a Bahia é o que reúne a maior parcela de quilombolas no Brasil. Em seguida, estão Maranhão e Minas Gerais. Senhor do Bonfim, no sertão da Bahia, é o município com a maior quantidade absoluta de quilombolas recenseados (15.999), seguido por Salvador (15.897).
🔸 Apenas 147 territórios quilombolas completaram o complexo processo de titulação no país. Com isso, quase 90% dessa população ainda vive em comunidades que não foram oficialmente tituladas. Quase 500 territórios estão em alguma fase da delimitação formal, informa a Repórter Brasil, que visitou o Quilombo da Família Silva, em Porto Alegre, considerado o primeiro quilombo urbano reconhecido. Lá, em 2021, viviam 63 habitantes. As mulheres, em sua maioria, trabalham como empregadas domésticas, enquanto os homens trabalham na construção civil, como vigias, jardineiros, entre outras funções. A reportagem lembra o critério do IBGE para a denominação: quilombolas são grupos étnicos “com presunção de ancestralidade negra relacionada com a resistência à opressão historicamente sofrida”.
🔸 A propósito: “Vivíamos, e ainda vivemos, de forma apagada neste país. Quando chega algo para nós, chega atrasado. Não somos prioridade. O que a gente espera, com a contagem do Censo, é que não haja mais desculpas de que não sabem que existimos e onde existimos”, diz o líder do território quilombola Lagoas, Cláudio Teófilo. A revista piauí destaca que os dados do Censo devem nortear União, estados e municípios em ações mais específicas para a população quilombola, ainda que respeitando a realidade cultural de cada comunidade. Mas ainda é difícil saber se as estatísticas trarão mudanças concretas.
🔸 A investigação sobre a morte do homem que teria feito a ponte entre o mandante e o executor do assassinato de Marielle Franco seria crucial para a investigação do caso. O Ministério Público do Rio de Janeiro, porém, demorou 16 meses para devolver à Polícia Civil o inquérito sobre quem matou Edimilson Oliveira da Silva, conhecido como Macalé, que teria encomendado o crime contra a vereadora a Ronnie Lessa. A informação é de Guilherme Amado, colunista do Metrópoles. Macalé foi morto em 2021, em plena luz do dia, na zona oeste do Rio de Janeiro. Como o assassinato dele não foi investigado, a Polícia Federal não tem elementos nem para definir se a execução teve ligação com o caso Marielle ou se foi queima de arquivo por outros motivos.
🔸 Em imagens: “Marielle, presente! Estamos perto de descobrir o mandante do assassinato”. As palavras ecoavam na 8ª edição da Marcha das Mulheres Negras de São Paulo, na terça-feira, Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha. Ialorixás, artistas, ativistas, representantes de movimentos sociais e políticos se concentraram na Praça da República, no centro da cidade. A Agência Pública apresenta um ensaio fotográfico do encontro.
🔸 O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) recebeu R$ 17,2 milhões via Pix somente no primeiro semestre deste ano. O Antagonista informa que foram 769 mil transações entre 1º de janeiro e 4 de julho. De acordo com o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), as movimentações "atípicas" podem ter relação com a vaquinha feita para pagar multas eleitorais referentes à campanha do ano passado.
📮 Outras histórias
Das 50 cidades mais violentas do Brasil, cinco estão em Pernambuco. O estado, porém, ainda não conhece o programa de segurança pública do governo de Raquel Lyra (PSDB). Ela prometeu apresentar um plano à população até o final de julho. O nome, Juntos pela Segurança, foi lançado ainda na campanha eleitoral, e as viaturas da Polícia Militar já foram adesivadas com o título. “Vai ser a construção, coletiva, do nosso plano de segurança pública estadual, envolvendo a todos”, descreveu Lyra. Mas o Marco Zero conta que a sociedade civil não foi convidada para fazer parte do processo de construção do programa.
📌 Investigação
Rede social de memes popular entre adolescentes, o iFunny se tornou um antro de publicações racistas e machistas, além da presença de neonazistas que disseminam discurso de ódio e divulgam links para uma comunidade no Telegram, em que são postados vídeos enaltecendo Adolf Hitler. Segundo o Ministério Público Federal, existe atualmente ao menos um processo aberto no país, em São Paulo, que envolve a plataforma e racismo. O Aos Fatos identificou também conteúdo contra pessoas LGBTQIA+ e mulheres, inclusive um vídeo no qual uma jovem é agredida por um homem. Na segunda semana de julho, usuários do iFunny recorreram às redes para denunciar que o aplicativo estaria passando por uma explosão de pornografia infantil.
🍂 Meio ambiente
Depois de décadas em debate, a Câmara aprovou a reforma tributária, mas as mudanças climáticas não foram incluídas na negociação em que poderiam entrar oportunidades de mitigação por vias fiscais, como impostos para auxiliar o processo de descarbonização da economia, já que, a partir de outubro, a União Europeia passará a taxar produtos como aço, ferro e alumínio. O podcast “Economia do Futuro”, da Rádio Guarda-Chuva, conversa com Tatiana Falcão, especialista em tributação ambiental que presta consultoria para o Banco Mundial e as Nações Unidas. Ela aponta que a legislação aprovada agora não menciona o tema, mas deixa margem para essa possibilidade no futuro.
A catadora e cofundadora da Cooperativa Vera Cruz, Elenita Rodrigues, e a pesquisadora socioambiental com recorte para raça, Ana Sanches, compartilham saberes e conhecimentos ancestrais para as pautas ambientais no “Cena Rápida”, podcast do Desenrola E Não Me Enrola. “Visitei aterros, vi a quantidade de materiais que são enterrados e quantos anos demoram para se decompor no meio ambiente. Hoje eu vejo o meu material como menos dez quilos que não foi para o aterro. A gente dá conta de fazer muita coisa que o governo não dá conta”, diz Elenita.
📙 Cultura
Mudança na Lei de Incentivo à Cultura (LIC) do Rio Grande do Sul pode minguar a tradicional Feira do Livro de Porto Alegre neste ano. A alteração, adotada em março, prevê que sejam priorizados projetos realizados em municípios com menos valores aprovados nos últimos 12 meses. É a primeira vez que o evento não tem acesso à LIC, desde que ela foi instituída em 1996. “Não imaginei que isso pudesse acontecer com um patrimônio cultural imaterial que não é só da cidade, mas também do estado e do país”, relata ao Matinal o livreiro Maximiliano Ledur, presidente da Câmara Rio-grandense do Livro, que organiza o evento.
“Se não conseguirmos negociar, seremos obrigados a sair da cidade e deixar desassistida toda uma comunidade que acessa bens culturais através do nosso espaço”, afirma Daniele Santana, presidente do Teatro dos Contadores de Mentira, local que atua há 28 anos, em Suzano, na Grande São Paulo, a partir de um decreto de uso de área de prédio da prefeitura. Segundo a Agência Mural, o grupo recebeu um documento dizendo que deveria desocupar o espaço até o próximo dia 1º de agosto. Depois de contestação, receberam mais seis meses – o que deixa em aberto o futuro dos Contadores de Mentira, que necessitam de segurança quanto ao espaço para desenvolver os projetos e fazer parcerias.
🎧 Podcast
O impeachment de Fernando Collor de Mello, em 1992, foi motivado por uma briga familiar. O afastamento do primeiro presidente eleito de forma direta após a ditadura veio em meio a denúncias de um enorme esquema de corrupção, cujo principal denunciante foi seu irmão, o empresário Pedro Collor de Mello. O “Collor versus Collor”, podcast do Globoplay com produção da Rádio Novelo, traz fitas de áudios inéditas com depoimentos de Pedro que revelam os detalhes dos acontecimentos que levaram ao impeachment de Collor.
💆🏽♀️ Para ler no fim de semana
“Mulheres tinham sucesso jogando dentro e fora do Brasil.” Aira Bonfim é historiadora e se dedica há anos a investigar o futebol feminino antes da proibição decretada por Getúlio Vargas, em 1941, e que permaneceu até 1983. O resultado está no livro “Futebol Feminino no Brasil: entre Festas, Circos e Subúrbios, uma História Social (1915-1941)”, que será lançado neste sábado em São Paulo, após o jogo da seleção brasileira na Copa do Mundo Feminina. Em entrevista ao Catarinas, Bonfim explica que a proibição não está atrelada apenas ao machismo, como também ao racismo e à classe social. “Um ponto de virada é quando a equipe do Primavera vai receber convites para itinerar pela América do Sul. Percebemos um desconforto desses dirigentes e autoridades em revelar que essas mulheres pobres, pretas e adolescentes poderiam chegar a esse lugar de destaque”, conta.