O aumento dos casamentos entre mulheres e as comidas instagramáveis
Uma curadoria do melhor do jornalismo digital, produzido pelas associadas à Ajor. Novos ângulos para assuntos do dia
🔸 O Congresso fez uma ofensiva contra a população LGBTQIA+. Em 2023, o Legislativo apresentou 51 projetos de lei sobre identidade de gênero ou orientação sexual – mais de 66% deles nocivos a esses grupos. Levantamento do projeto Elas no Congresso, do Instituto AzMina, mostra que o principal alvo dos parlamentares são os direitos das pessoas trans. PL, Republicanos e União Brasil são os partidos que mais as atacam, com autoria de 31 das 34 propostas consideradas desfavoráveis a pessoas trans. Os projetos antidireitos, ou seja, que tentam banir avanços já conquistados, são uma tendência no Legislativo, segundo Caio Klein, diretor da ONG Somos, o que fragiliza ainda mais a população LGBTQIA+, já que alguns dos direitos “não são garantidos por lei, e sim por normas infralegais, como as resoluções”. A sub-representação também contribuiu para a ofensiva. Se a Câmara tem cinco parlamentares declaradamente gays, lésbicas e trans, o Senado tem apenas um.
🔸 “A gente precisa sempre entender que ser sapatona não é universal, ser mulher não é universal.” A afirmação é de Kim Freitas, 29 anos, influenciadora lésbica conhecida por acolher, nas redes sociais, mulheres lésbicas desfeminilizadas como ela. O Colabora narra a história da jovem que nasceu em Salvador e cresceu sendo “apenas uma criança”. “Se eu queria brincar de Barbie, ou se eu queria jogar bola, minha mãe entendia que eu era só uma criança, que o que escolhi brincar não ditaria o meu sexo”, conta. Na adolescência, porém, ela sofreu “toneladas de bullying”. “Havia poucas mulheres lésbicas não-femininas no meio LGBT+ digital falando sobre a gente”, lembra. Ela própria decidiu se tornar essa voz e hoje, como diz, é parte do mundo de “ativismo digital caminhão”.
🔸 O casamento entre mulheres cresceu 244% entre 2013 e 2022. Dois anos atrás, três em cada cinco casamentos entre pessoas do mesmo gênero foi entre mulheres. E como elas dividem o trabalho doméstico e de cuidados? “Eu e Lu conversamos muito sobre sermos um casal de duas mulheres e, ainda assim, esse modelo patriarcal resvalar também em uma relação homoafetiva.” Quem conta a história é Carolina, casada com Luciana há 17 anos com quem tem um filho, Benjamin, de 10 anos. A Gênero e Número traz o relato de Carolina e números sobre o casamento entre mulheres no país. “Uma coisa que a gente pensa muito é em relação a Benjamin. Ele tem duas mulheres que servem ele o tempo todo. No almoço, no jantar e no café da manhã a mesa está posta, a comida está pronta. Como fazer com que ele entenda que esse trabalho não é nosso, das mulheres, que ele também tem que cuidar desse setor da casa, da alimentação, da limpeza?”
🔸 O governo deve garantir direitos de pessoas trans no SUS, segundo decisão do Supremo Tribunal Federal. A Corte formou maioria para determinar que o Ministério da Saúde tome todas as providências para que pessoas transexuais e travestis tenham acesso aos serviços públicos de saúde, informa o Notícia Preta. Para isso, todos os sistemas de marcação de consultas e exames, por exemplo, devem ser alterados de forma que os serviços sejam acessíveis “independentemente do registro do sexo biológico”. A ação, apresentada pelo PT, data de 2021, mas o julgamento começou apenas na semana passada.
🔸 Sobre a decisão do STF que descriminalizou a maconha para uso pessoal: “O testemunho policial e as provas a ele associadas continuam sendo decisivos para a classificação do tráfico. O racismo estrutural, denunciado por muitos ministros, em especial o Alexandre de Moraes, vai continuar existindo sem nenhuma dificuldade nesse modelo”, diz Cristiano Maronna, diretor do Justa, organização que atua no campo da economia política da justiça. Em entrevista à CartaCapital, ele afirma que a decisão da Corte é um “avanço tímido”, defende que o critério para diferenciar traficante e usuário “continua aberto demais” e explica que a decisão pouco muda na prática a condução do caso de uma pessoa flagrada com maconha.
📮 Outras histórias
No Paraná, um hospital foi denunciado por ter medicamentos vencidos, além de operar sem licença. A denúncia partiu do Ministério Público e disparou uma perícia no Hospital Municipal de Ipiranga, nos Campos Gerais. O Portal Boca no Trombone teve acesso exclusivo ao relatório de irregularidades, confirmadas pela Secretaria de Saúde do estado. A reportagem também revela um boletim de ocorrência que relata o furto de remédios controlados do hospital. Tanto o alvará de licença quando a licença
sanitária da instituição estão vencidos. “Diante da apuração, a Secretaria de Saúde avalia eventuais consequências de funcionamento da unidade, podendo adotar medidas de controle a fim de eliminar, reduzir ou atenuar os eventuais riscos sanitários”, informou em nota o órgão estadual.
📌 Investigação
Com a sanção da Lei 14.876/2024, o país se aproxima da “privatização da água”. Ao excluir a silvicultura do rol de atividades potencialmente poluidoras, a legislação simplifica o processo de licenciamento ambiental para o plantio de pinus, eucalipto e mognos para fins comerciais, como a fabricação de carvão vegetal, celulose e madeira. Na região do Alto Jequitinhonha, em Minas Gerais – o estado que mais produz eucalipto no país –, a escassez de água é uma realidade há décadas. A Ambiental Media destrincha como essas monoculturas possibilitaram a “privatização dos recursos naturais” para descrever a captura de recursos hídricos por grandes empresas no estado. Pequenos agricultores do Jequitinhonha, por exemplo, já conviveram com a fartura de água mesmo em períodos de seca, mas passaram a depender de cisternas e da água sem tratamento de caminhões-pipa.
🍂 Meio ambiente
As famílias da comunidade quilombola de São Bento do Juvenal, no Maranhão, contrapõem a destruição do Cerrado causada pelo agronegócio com cultivos de commodities. Na comunidade, localizada na área de expansão agrícola no Matopiba, prosperam agroflorestas, com roças e criações de aves e gado em meio a espécies nativas que também geram possibilidades de alimento e renda, como mostra a Eco Nordeste. Os quilombolas da região dão um exemplo de prática da agroecologia, forma sustentável de produzir alimentos e, ao mesmo tempo, conservar o meio ambiente.
📙 Cultura
A Feira do Livro começa amanhã e vai até 7 de julho, na praça Charles Miller, em São Paulo. Em sua terceira e maior edição, o evento passou de cinco para nove dias de duração, com mais de 150 expositores – editoras, livrarias, instituições ligadas ao livro e à leitura –, além de oficinas e uma ação de estímulo à doação de obras para bibliotecas escolares e comunitárias atingidas pelas enchentes no Rio Grande do Sul. Organizadora do festival literário, a Quatro Cinco Um destaca a presença de mesas especiais voltadas a educadores, com debates sobre leitura, bibliotecas e o ensino de literatura na sala de aula. A Feira oferece isenção da taxa de participação para editoras periféricas, de proprietários negros, quilombolas, indígenas, ou sem fins lucrativos.
🎧 Podcast
“A história da música popular está bem ligada à formação do próprio país. Percebi com 23, 24 anos, que a Amazônia, a música popular da Amazônia, não tinha entrado no radar dos intelectuais, dos poetas, dos pensadores, da academia, dos políticos, da mídia, etc.” A afirmação é do músico Felipe Cordeiro, no “LatitudeCast”, produção da Amazônia Latitude. Nascido em Belém (PA), o artista se destaca na música contemporânea brasileira com sua sonoridade pop tropical, que mistura influências da guitarrada, carimbó, cúmbia, música eletrônica e brega. “Minha luta é para que, no século 21, a gente consiga descentralizar o pensamento ao ponto de assimilar essas informações da música popular, que não entraram no mapa, no radar, nas ideias, nas estéticas do século 20”, diz.
💆🏽♀️ Para ler no fim de semana
“A pequena descarga de dopamina que senti ao gravar a revelação da comida foi mais gratificante do que comê-la”, relata a jornalista Marie Declercq, ao narrar sua experiência com a “lasanha mais instagramável de São Paulo”. Em artigo n’O Joio e O Trigo, Declercq mergulha em restaurantes e cafeterias que vendem a “experiência do consumidor” para retratar o impacto das redes sociais – e das imagens que elas passam aos usuários – no consumo de alimentos. “Sem nenhuma vergonha, visto que todo mundo ao meu redor estava fazendo a mesma coisa, saquei o celular e fotografei minha bandeja e postei no Instagram sem dizer uma palavra. Só que, mais uma vez, me senti mais recompensada recebendo os likes e as mensagens dos meus amigos sobre a beleza dos doces do que comendo de fato”, descreve.