O estado da casa de saúde Yanomami e o primeiro Mapa Drag do Brasil
Uma curadoria do melhor do jornalismo digital, produzido pelas associadas à Ajor. Novos ângulos para assuntos do dia
Oi, pessoal. Aqui é a Audrey, editora da Brasis.
Hoje é o penúltimo dia da pesquisa sobre a newsletter que, em fevereiro, completa seis meses no ar. Para afinar o trabalho de curadoria, queremos ouvir de vocês, nossos leitores, como avaliam este primeiro semestre da Brasis. O questionário é curtinho, com perguntas simples e diretas, e o objetivo é melhorar a seleção de histórias que fazemos todos os dias. Para responder, é só clicar aqui. Contamos com vocês!
Obrigada e boa leitura.
🔸 Na terra indígena Yanomami, os garimpeiros persistem. Apesar das imagens dos criminosos em fuga da região, a realidade encontrada por fiscais do Ibama numa operação nesta semana é outra. Como apurou a Agência Pública, mais barcos estavam subindo em direção aos garimpos, carregando combustíveis e alimentos, do que partindo no sentido oposto. O Estado vem reocupando bases tomadas pelos garimpeiros, entre elas, uma no rio Uraricoera, por onde seguiam barcos com combustível e suprimentos para os garimpos. Um vídeo mostra a apreensão de três barcos com alimentos, geradores e antenas de internet. Na operação, os fiscais ainda destruíram um helicóptero, um avião e um trator de esteira usado para abrir estradas na mata.
🔸 Quem banca a cara logística aérea para os garimpos em Roraima? Empresário bolsonarista e ex-candidato a deputado federal pelo PL, Rodrigo Cataratas mantém um dos principais esquemas de transporte aéreo na região e está sob investigação da Polícia Federal. O InfoAmazonia revela que ele é dono de uma frota milionária de aviões e helicópteros e de uma pista de pouso que seria usada como base de apoio ao garimpo ilegal. Nos últimos dois anos, o bolsonarista, líder do movimento “Garimpo É Legal”, movimentou cerca de R$ 425 milhões. Numa fazenda dele em Mucajaí, a apenas 7km da terra Yanomami, foram apreendidos, entre outros insumos para o garimpo, dois quilos de mercúrio, substância tóxica usada para depurar o ouro, e mais de 40 mil litros de combustível.
🔸 Enquanto o negócio do ouro ilegal movimenta milhões, são insalubres as condições das unidades de saúde na terra Yanomami. Na Casa de Saúde Indígena (Casai) de Boa Vista (RR), que faz o apoio e assistência aos indígenas, há sanitários quebrados, canos enferrujados, proliferação de fezes nas malocas, esgoto a céu aberto e lixo espalhado. O Congresso em Foco conta que a Casai tem capacidade para receber cerca de 200 indígenas, mas a equipe encontrou o local com um total de 717 indígenas, entre pacientes e acompanhantes. Há também 148 indígenas que já receberam alta médica, mas não conseguiram transporte para retornar às suas aldeias.
🔸 No encontro com o presidente dos Estados Unidos amanhã, Lula deve pedir apoio às ações de proteção ambiental, em especial na Amazônia. Será o primeiro encontro do petista com Joe Biden, um dos primeiros mandatários a manifestar repúdio aos ataques criminosos em Brasília, no dia 8 de janeiro. Não à toa, como informa o Metrópoles, os ataques à democracia também estão na pauta.
🔸 A propósito: movimentos negros e periféricos enviaram uma carta a Lula e Biden. Pedem a retomada do Plano de Ação Conjunta Brasil-Estados Unidos para a Eliminação da Discriminação Étnico-Racial e a Promoção da Igualdade, que ficou conhecido como JAPER. O Notícia Preta explica que o acordo foi firmado entre os países em 2008, mas não chegou a ser executado por “falta de interesse de administrações passadas”, segundo o documento. O texto diz ainda que os dois países estão longe de eliminar a discriminação racial: “Pessoas negras continuam sendo privadas do exercício pleno de seus direitos políticos, econômicos, sociais e culturais. Além disso, a violência ainda ceifa as vidas de homens, mulheres e crianças negras”.
📮 Outras histórias
Aos 65 anos, o repórter fotográfico Severino Silva voltou a Pirpirituba, cidade do Brejo Paraibano onde nasceu, 54 anos depois da partida. Empreendeu a viagem no ano passado da seguinte forma: 69 horas no ônibus entre o Rio de Janeiro e a Paraíba; duas horas no trajeto de João Pessoa, capital do estado nordestino, e Guarabira, cidade polo do Brejo Paraibano; e de lá, mais 15 minutos de moto até o destino final. O Meus Sertões narra o périplo num especial. Severino visitou a igreja onde foi batizado, o cemitério onde jazem o pai e o irmão e o açude onde costumava lavar os pés. Alegrou-se com as poucas mudanças em Pirpirituba: “Pior seria se a cidade estivesse repleta de edifícios”, refletiu ao saborear uma pamonha. A reportagem traz ainda as fotos do reencontro de Severino com sua terra.
No Rio de Janeiro, o verão é a estação de “um sol para cada um”. As temperaturas passam (e muito) dos 30 graus, e as praias ficam lotadas. Nas 16 favelas que compõem o Complexo da Maré, na zona norte da capital, os moradores sofrem ainda mais com o calor, por causa da falta de verde e pelo aterro da região feito à base de concreto. O Maré de Notícias mostra como os mareenses se refrescam na favela. Na Nova Holanda, por exemplo, Claudiana Rodrigues, de 41 anos, inventou um clube para os filhos num canto de casa, com uma piscininha que encaixa perfeitamente debaixo da torneira. E, claro, os cariocas sempre terão o chuveirão.
📌 Investigação
“A maior gestora de criptoativos da América Latina” não passou de um grande projeto que tinha a oferecer lucro baseado em investimentos de altíssimo risco e numa linha muito tênue com a ilegalidade. É o que se conclui do relato exclusivo de um ex-funcionário da Braiscompany à Paraíba Feminina. O escândalo se deu com os clientes não recebendo os rendimentos. Na entrevista, o jovem diz que atuava no setor de desenvolvimento, mas quase não havia trabalho de fato: “A gente fazia de conta que trabalhava, não tinha muito o que fazer”. Os trabalhadores também eram orientados a exibir, nas telas dos computadores, imagens de gráficos simulados e também simulavam reuniões.
🍂 Meio ambiente
Para os macacos brasileiros, a perda da floresta é uma sentença de extinção. É desse habitat que dependem para sobreviver. O primata caiarara, espécie amazônica que vive entre Pará e Maranhão – onde estão os maiores níveis de desmatamento e degradação de habitat da Amazônia no país –, viu 32,8% das suas florestas irem abaixo apenas nos últimos 35 anos e é classificado como Criticamente Em Perigo de ser extinto. O Eco detalha os dados levantados pelos centros de pesquisa do ICMBio, que analisou a perda de habitat para 190 espécies de mamíferos terrestres no país.
Com o fenômeno La Niña, a estiagem no Sul do Brasil durou por três anos. Sem chuvas, agricultores familiares perderam safras inteiras e não têm suporte do governo. O Sul21 descreve o drama vivido por produtores rurais e conversa com especialistas para entender como o problema pode ser solucionado nos próximos anos, já que o fenômeno está cada vez mais recorrente e deve voltar a acontecer entre três e cinco anos. Coordenador da Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar (Fetraf), Douglas Cenci enumera as demandas, como programas de armazenamento de água, de irrigação, perfuração de poços artesianos e construção de uma rede de abastecimento.
📙 Cultura
Para ampliar a visibilidade de artistas, surgiu o Mapa Drag do Brasil, uma plataforma elaborada pelo Coletivo Acuenda. A proposta é resultado do Programa de Fomento à Cultura da Periferia da Cidade de São Paulo e é o primeiro mapeamento de Drag Queens/Kings e artistas transformistas do Brasil. A Revista Afirmativa lembra que o projeto entrou no ar com cerca de 80 artistas cadastradas, das regiões Leste e Sul da capital paulista, além da região do Alto Tietê. “A contribuição do Mapa Drag é justamente nos ajudar a fazer pontos e conexões. Ter a possibilidade de, numa plataforma, acessar outras drags de forma mais direcionada”, afirma Mackaylla Maria, que atua há dez anos como drag e pesquisa arte transformista.
Com 191 obras, algumas delas raras, a mostra “Marc Chagall – Sonho de Amor” chega ao Centro Cultural Banco do Brasil em São Paulo, após percorrer outras unidades do CCBB no país, como no Rio de Janeiro, Brasília e Belo Horizonte. Segundo o Farofafá, trata-se da maior exposição do Marc Chagall (1887-1985) já realizada na América Latina. Na capital paulista, a mostra ganhou outras 12 obras que não estavam expostas nas outras cidades e foram emprestadas por instituições brasileiras. “São parte do empenho da organização em enriquecer a exposição, ampliando o diálogo entre obras do exterior com obras presentes em coleções museológicas brasileiras”, aponta a museóloga do projeto Cynthia Taboada.
🎧 Podcast
Por que é tão difícil preservar os mamíferos aquáticos da Amazônia? É essa questão que o “Silvestres”, produção do Fauna News, busca responder em conversa com a bióloga e pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Vera Maria Ferreira da Silva, uma das maiores especialistas no tema. A cientista lembra que não há como salvá-los sem combater o desmatamento e a mineração. “O garimpo do ouro utiliza dragas que sugam o fundo dos rios. O minério vem misturado em pequenas partículas e, para juntá-las, é utilizado o mercúrio, uma substância tóxica para todos os organismos vivos e que se acumula nos tecidos de toda a cadeia”, explica.
🧑🏽🏫 Educação
Havia seis mil jovens entre 15 a 19 anos na comunidade da Rocinha, no Rio de Janeiro, no Censo de 2010. Há 20 anos, existe apenas um colégio público de Ensino Médio que atende a região: o CIEP Ayrton Senna da Silva, em São Conrado. Ao Fala Roça, o diretor João Timbó revela que a unidade tem capacidade de ter 54 turmas, mas apenas 42 são abertas anualmente devido à falta de liberação de verba. Para driblar o descaso público, o Projeto de Ensino Cultural e Educação Popular ajuda estudantes da Rocinha. A aprovação em universidades já chega a 85% no terceiro ano cursado pelos alunos.