A carteira de vacinação de Bolsonaro e as reservas legais do país
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🔸 “A delação premiada de Ronnie Lessa] traz elementos importantíssimos que nos levam a crer que, brevemente, nós teremos a solução do assassinato da vereadora Marielle Franco”. A afirmação é do ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, ao anunciar que a colaboração de Lessa foi homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) ontem. O Metrópoles lembra que o caso foi para a Corte depois de suposto envolvimento de autoridade com foro privilegiado. Não se sabe qual é a figura envolvida no inquérito, mas sabe-se que o foro é aplicável para presidente, vice-presidente, ministros, senadores, deputados federais, membros dos tribunais superiores, do Tribunal de Contas da União e embaixadores.
🔸 Falando em delação premiada: Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), confirmou que o ex-presidente pediu certificados falsos de vacina para si próprio e sua filha, Laura Bolsonaro. A delação de Cid permanece em sigilo, mas trechos dela foram usados pela Polícia Federal no relatório que indiciou Bolsonaro e mais 16 pessoas por suposta fraude na carteira de vacinação. A CartaCapital detalha o relato do ex-ajudante de ordens. Segundo ele, os documentos foram impressos no Palácio da Alvorada e entregues em mãos ao ex-presidente.
🔸 As fraudes nas vacinas reiteram a conexão de Bolsonaro com a milícia do Rio de Janeiro. Entre os indiciados pela PF, está o deputado federal Gutemberg Reis (MDB-RJ) – da família Reis, proeminente na política de Duque de Caxias e com conexões históricas com as milícias na Baixada Fluminense. O Intercept Brasil mostra que, segundo a PF, além de usufruir pessoalmente da fraude, Reis usou de sua influência política para obter falsificações. Entre os beneficiados no esquema, está Bolsonaro. A reportagem conta ainda que a relação entre ele e os Reis data de antes de seu mandato, com encontros e apoios mútuos.
🔸 A propósito: durante o mandato, Bolsonaro mentiu 575 vezes sobre o tema. Segundo o contador de declarações falsas do ex-presidente, atualizado pelo Aos Fatos entre 2019 e 2022, é como se o ele tivesse contado uma mentira a cada dois dias, do início da pandemia (quando foi decretada pela ONU) até o fim de sua gestão. Quanto às mentiras mais frequentes, no topo da lista estão aquelas relacionadas à negociação para a compra da vacina indiana Covaxin, mas foram recorrentes também as informações falsas sobre a segurança e a eficácia dos imunizantes.
🔸 Em meio à escalada da dengue no país, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, tornou-se alvo fácil de parlamentares, que, antes, já a criticavam pela demora no repasse de emendas. Duas exonerações recentes na pasta podem até aliviar a pressão sobre ela, mas fragilizam a pasta. Em artigo no Jota, Lígia Formenti conta que a ministra “tem se esforçado para mostrar a atuação da equipe diante da epidemia de dengue, mas a percepção é de que não é de seu feitio participar destas atividades”. Outro problema grave é a crise nos hospitais federais do Rio de Janeiro. “A situação dos hospitais do Rio não é nova. (...) Mesmo que a situação tenha sido herdada, o que se destaca, agora, é que nada foi feito em um ano e três meses de governo. A inércia é, sim, um problema”, escreve Formenti.
📮 Outras histórias
Espaço de saúde e desenvolvimento cultural para jovens, o Adolescentro Paulo Freire, em São Conrado, na zona sul do Rio de Janeiro, oferece terapia, oficinas de teatro, balé e desenho. O Fala Roça conta que o projeto ambiciona combater a vulnerabilidade social com arte, cultura e educação física. “Queremos empoderar esses jovens e transformar suas vidas”, afirma Mônica Alegre, médica e atual coordenadora do projeto. Um exemplo dessa transformação é Manuel Gomes, que chegou ao Rio de Janeiro aos 11 anos. “Eu era tímido, não falava em público e hoje não consigo mais ficar calado. O projeto foi meu barco de partida para a vida”, diz ele, que hoje é o professor de teatro do Adolescentro.
📌 Investigação
Território mais afetado por garimpos ilegais de ouro nos últimos cinco anos, a Terra Indígena Kayapó, no Pará, tem uma linha imaginária que separa aldeias em que as lideranças aceitam a atividade e as que resistem a ela. O documentário “A Floresta Kayapó em Pé: Bá Kájmã Ãm”, produção da Repórter Brasil, revela o contexto dessa divisão interna, que envolve suborno de garimpeiros a algumas famílias, e mostra ainda como o garimpo ilegal afetou a fauna e flora local. “Não somos todos nós que estamos mexendo com garimpo, é minoria que mexe com garimpo. A maioria da comunidade quer tirar os garimpeiros todos. Pro rio ficar limpo de novo, pra gente banhar e pescar”, diz Tussan Kayapó, um dos cinco caciques da aldeia Gorotire, na qual a floresta foi substituída por barrancos de lama.
🍂 Meio ambiente
Mais de uma década depois da publicação do Código Florestal, proprietários rurais ainda falham na implementação da lei – que afirma que todo imóvel rural deve manter uma área com cobertura de vegetação nativa, a Reserva Legal, com uso econômico de modo sustentável. Segundo a nova versão do Termômetro do Código Florestal, lançada no final de fevereiro, o déficit de Reserva Legal chega a 16,3 milhões de hectares. O Eco informa que a maior parte (57%) está na Amazônia, onde a cota de Reserva Legal é de 80% da propriedade.
📙 Cultura
Morador da favela Nova Holanda, uma das 16 favelas do conjunto da Maré, na zona norte do Rio de Janeiro, o DJ Renan Valle, de 29 anos, conquistou o Disco de Platina com a música “Sarra nos Menor”. Sua trajetória no funk começou aos 13 anos. O artista já lançou mais de 16 hits ao redor do mundo e atingiu mais de 100 milhões de streams nas plataformas digitais. Ao Maré de Notícias Renan afirma que deseja passar o conhecimento para outros artistas independentes. “Quero ensinar para eles sobre direitos autorais, dar uma aula também sobre história da periferia, de construção, de como tudo aconteceu, e de referências negras, né? Porque tudo isso foi tirado da gente. E como é que alguns jovens da favela vão querer ser um escritor? Se os escritores e referências foram apagadas e embranquecidas? Então, eu tô querendo resgatar isso, esse é o meu projeto.”
🎧 Podcast
Como na maioria dos estados do Nordeste, o sotaque do Piauí carrega as especificidades da mistura de diversas etnias indígenas, africanos escravizados e colonizadores que habitaram a região. O dialeto piauiense, o “piauiês”, é patrimônio cultural imaterial do estado desde 2013. O “Nordestinidades”, produção da Eco Nordeste, conversa com o jornalista Paulo José Cunha, que reuniu linguagens e expressões únicas do Piauí na publicação “Grande Enciclopédia Internacional de Piauiês”, que já vai para a sexta edição.
🧑🏽⚕️ Saúde
O Distrito Federal (DF) lidera o número de casos de dengue no país. Foram 4,2 mil registros por 100 mil habitantes nas primeiras nove semanas de 2024. Levantamento da Gênero e Número com base nos dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) revela que duas em cada três mortes por dengue no DF são de pessoas negras, o que representa 66% do total. E 59% da população da capital federal é negra. A sobrecarga de atendimento nos serviços de saúde ainda impacta o preenchimento dos dados dos pacientes. Em 26% dos casos suspeitos de dengue, não havia a informação de raça. Nas primeiras nove semanas de 2023, o percentual foi de 19%.