A ‘carta ao mundo’ do presidente da COP30 e a venda de íris no país
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Bom dia, gente!
Nesta semana, lançamos a terceira edição da pesquisa da Brasis – um questionário simples, com duração de cerca de quatro minutos, e muito importante pra gente. O objetivo é conhecer um pouco mais vocês, leitores, e aprimorar nossa curadoria de notícias.
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Obrigada e boa leitura!
🔸 O embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30, lançou uma “carta ao mundo” convocando um mutirão global para enfrentar a crise climática – o “inimigo comum a ser vencido”. “Ao colocar o clima como vilão, a diplomacia da COP30 se omite em apontar os verdadeiros responsáveis pela multicrise que vivemos – a minoria humana que lucra nas grandes corporações de fósseis e também de carne, soja, palma, minérios, agrotóxicos e ultraprocessados à custa da destruição de biomas como a Amazônia”, avalia Claudia Antunes, em artigo na Sumaúma. A jornalista afirma que, apesar do tom incisivo, o texto evita abordar temas centrais como a eliminação do petróleo e o financiamento climático para países mais vulneráveis. É uma praxe que os presidentes das Conferências do Clima das Nações Unidas publiquem cartas com seu olhar sobre o evento. No texto que antecede a COP de Belém, marcada para novembro, o embaixador alerta que a mudança será “por escolha ou por catástrofe” e defende a mobilização da sociedade para pressionar governos e empresas.
🔸 O ano de 2025 traz desafios ambientais ao Brasil para além da COP30. Um exemplo é a exploração de petróleo na Foz do Amazonas, que segue como ponto de tensão entre governo, Petrobras e ambientalistas. “Há grande contradição na proposta de o Brasil se tornar um líder climático. Não dá para fazer o que eles estão fazendo em petróleo e querer ser líder climático. Não faz sentido”, afirma Suely Araújo, coordenadora de Políticas Públicas do Observatório do Clima. O Eco conversou com especialistas para listar assuntos de relevância ligados direta ou indiretamente à pauta ambiental.
🔸 Os eventos climáticos extremos destruíram 1.578 escolas na Amazônia Legal entre 1991 e 2024. Nesse período, outras 7.853 foram danificadas, e o prejuízo estimado à educação foi de R$ 1,6 bilhão. A InfoAmazonia analisou dados de desastres e seu impacto na rede municipal de ensino da região. O Amazonas é o estado que mais perdeu dinheiro na educação pública por causa da crise climática: R$ 1,04 bilhão. Em 2024, a situação se agravou com a intensificação dos fenômenos climáticos, especialmente a seca causada pelo El Niño. “Muitos municípios e estados têm uma grande capacidade de trabalhar com inundações, que são os principais desastres, mas percebemos que há um desconhecimento quanto à atuação durante o período seco, especialmente em relação à estiagem. Esse período também traz a questão dos incêndios florestais, da baixa qualidade do ar e do impacto na saúde da população”, explica Tiago Schnorr, coordenador-geral de Gerenciamento de Desastres da Secretaria Nacional de Defesa Civil.
🔸 A propósito: 65% dos municípios brasileiros possuem baixa ou baixíssima capacidade de adaptação a desastres naturais, como ondas de calor, secas e chuvas intensas, segundo o Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação. Entre 2014 e 2023, eventos climáticos extremos causaram prejuízos de R$ 421 bilhões e impactaram diretamente 5 milhões de pessoas. “Não existe nenhum município brasileiro que esteja com toda uma agenda de adaptação, sem nenhuma vulnerabilidade socioambiental”, afirma ao Colabora Inamara Santos Mélo, coordenadora geral de Adaptação na Secretaria Nacional de Mudança do Clima do Ministério do Meio Ambiente. Ela lembra que o governo lançou no mês passado o Programa AdaptaCidades, para ajudar estados e municípios na elaboração de planos de adaptação à mudança do clima. A adesão é voluntária e, até agora, 18 estados se inscreveram.
📮 Outras histórias
“Quem você lembra que saiu de Guaianases e venceu na vida? MC Kekel? Quem mais?” A pergunta é feita por Rafael Santos, conhecido como Rafael Tchê. Ele próprio venceu na vida e contrariou a estatística segundo a qual só 1,5% das crianças que sonham jogar futebol profissionalmente realizam o feito: aos 25 anos, o jovem de Guaianases, periferia de São Paulo, atua como meia-atacante em Portugal. A Emerge Mag resgata a trajetória do jovem atleta que sonhava em ser jogador de futebol desde os 8 anos e, depois de passar por Flamengo de Guarulhos, União Mogi, Portuguesa e Esporte Clube Vitória, almeja agora uma vaga no Real Madrid. Quando volta ao Brasil e visita a família em Guaianases, Rafael Tchê é visto como um símbolo de esperança: “Eles querem conversar comigo, ser como eu. Eu os inspiro. Isso me faz acreditar que tudo valeu a pena”.
📌 Investigação
Apesar das proibições judiciais, ao menos 400 mil brasileiros já venderam suas íris para a empresa Tools for Humanity, que gerencia o projeto World ID no Brasil, a fim de receber criptomoedas. O escaneamento da íris acontece em uma loja discreta, sem logos ou qualquer outro de identificação clara. Ao contrário das digitais, que podem apresentar falhas e até serem copiadas, a íris é a mais fiel e segura forma de identificação de uma pessoa. Por isso, é um dado pessoal extremamente sensível. A Agência Mural destaca que a compensação financeira é o principal motivo que leva pessoas – sobretudo das periferias – a disponibilizar essa informação para as empresas. “Ela disse que havia ido até lá unicamente para receber o pagamento prometido, mas que não fazia ideia do que a empresa realmente fazia, muito menos o que era uma inteligência artificial. Sua única preocupação era ter uma renda extra”, conta a jornalista Isabela do Carmo sobre uma senhora de Heliópolis, maior favela de São Paulo, que conheceu no local de coleta.
🍂 Meio ambiente
As empresas FS e Fiagril, que afirmam “liderar o setor de biocombustíveis zero carbono” no Brasil, acessaram ao menos R$ 6,4 bilhões em títulos de dívida desde 2020. Segundo O Joio e O Trigo, apesar de alguns desses investimentos terem sido rotulados como “verdes”, parte de seus fornecedores de grãos e clientes de insumos acumulam casos de desmatamento e declaram fazendas em áreas protegidas na Amazônia, como os fazendeiros que invadiram a Terra Indígena Batelão, no noroeste do Mato Grosso. Entre eles, está o próprio sócio da FS e da Fiagril e prefeito reeleito de Lucas do Rio Verde (MT), Miguel Vaz Ribeiro (Republicanos), cuja produção sai de lavouras plantadas na área do território indígena.
📙 Cultura
Artistas usam diversas manifestações para chamar a atenção para a violência de gênero e sensibilizar para além dos números em estatísticas – entre elas, a de que um estupro acontece, em média, a cada seis minutos no país. O Nonada reúne dez trabalhos artísticos que têm como tema a violência contra meninas e mulheres. Entre eles, está o “Hv” (sigla para “histórias de vida”), da artista visual Ilana Bar. O projeto fotografou mulheres de diversas localidades que foram pessoas atravessadas pela violência. Com um enquadramento parecido nas 12 fotografias, as vítimas retratadas seguram um celular à frente do rosto com o flash ligado, como um recurso para garantir o anonimato. “Ao mesmo tempo em que protege a identidade, também é importante para que olhemos para a questão da violência como um problema social. É um problema enorme e de todos. Não só de um indivíduo”, explica a fotógrafa.
🎧 Podcast
“Os alunos sempre perguntam muito sobre o Supremo. ‘Poxa, professor, mas é possível fazer isso?’”, afirma Miguel Godoy, professor de Direito Constitucional da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e da Universidade de Brasília (UnB). No “Sem Precedentes”, produção do Jota, Godoy explica as principais diferenças entre quando era estudante de Direito, em meados dos anos 2000, para a atualidade: o STF assumiu uma centralidade jurídica e política, com ministros se manifestando na televisão, nas rádios e nas redes sociais. Nesse contexto, o principal desafio no ensino sobre a Corte, segundo o professor, é “mostrar o erro das decisões no mérito, o equívoco na condução do processo, sem deslegitimar a instituição e sem retirar a autoridade dos ministros”.
✊🏽 Direitos humanos
Cerca de 12 mil presas trabalham no sistema prisional brasileiro, para entidades públicas e privadas, sem direitos trabalhistas básicos. A Repórter Brasil mostra que, além de serem comuns os relatos de atrasos de salário ou mesmo a falta de pagamentos, elas contam que não recebem treinamento específico para as máquinas que operam e trabalham sem equipamentos de segurança ou uniformes adequados. Em casos de acidente, não recebem auxílios como os demais trabalhadores. “A gente fazia tudo correndo, sem nenhum cuidado. Machucava o dedo, ficava com solda na pele, mas não parava. Tinha um paninho sujo do lado que a gente usava para limpar o ferimento e seguir trabalhando. Tenho marcas nas mãos até hoje”, afirma a egressa Helen Baum, que trabalhou para a Facobrás, em sua passagem pelo Centro de Progressão de Pena do Butantã.