A carta de Lula na reta final da eleição e a reativação do Fundo Amazônia
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🔸 A dois dias do segundo turno, a estabilidade se confirma na pesquisa do Datafolha: o candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) segue à frente de Jair Bolsonaro (PL) nas intenções de voto. O petista tem 49%, ante 44% do candidato à reeleição. O Saiba Mais destaca que, nos votos válidos, a distância entre os dois aumentou: Lula tem 53%, e Bolsonaro, 47%. Há oito dias, os números eram 52% e 48%, respectivamente.
🔸 Nem fome, nem pobreza, nem corrupção aparecem no plano que Bolsonaro e aliados militares preparam para os próximos 36 anos – e que está longe dos olhos da sociedade e da imprensa. A revista piauí teve acesso ao documento com 65 páginas, concebido pela Secretaria Especial de Assuntos Estratégicos (Seae), chefiada pelo almirante Flávio Augusto Viana Rocha, para orientar as ações do Estado pelo período equivalente a nove mandatos presidenciais, até 2059. O plano é enviar o texto ao Congresso para que seja votado e convertido em lei ainda neste ano. No projeto, há poucas menções à desigualdade social e sugestões como “universalizar o acesso à educação básica”, em contraste com ações do atual governo que sistematicamente corta verbas para o setor.
🔸 Na reta final, enfim, a campanha de Lula divulgou um documento com 13 itens de compromissos de seu governo, caso vença no domingo. A CartaCapital resume cada um dos pontos, como Cultura e Esportes, Segurança, Agricultura sustentável, entre outros. Segundo o texto da chamada “Carta para o Brasil do Amanhã”, num eventual governo, a primeira medida será “resgatar da fome 33 milhões de pessoas e da pobreza mais de 100 milhões de brasileiros”. Segundo O Antagonista, uma lista de nomes de prováveis ministros de Lula já circula em Brasília. O ex-governador Rui Costa seria figura-chave da área econômica, cotado para a Fazenda, enquanto o economista André Lara Rezende assumiria o Planejamento.
🔸 Não só um empate técnico nas pesquisas com o adversário Fernando Haddad (PT) pesa sobre os ombros de Tarcísio de Freitas (Republicanos), candidato ao governo de São Paulo. Há a suspeita de que o tiroteio durante sua visita à Paraisópolis, no último dia 17, tenha sido armado. O Congresso em Foco detalha o caso e conta que o cinegrafista Marcos Andrade pediu ontem a rescisão de seu contrato com a Jovem Pan – ele fez imagens do tiroteio e foi pressionado pela campanha do candidato bolsonarista a apagá-las. Andrade afirma que gravou um agente da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e policiais à paisana, da equipe de Tarcísio, disparando tiros na ação que culminou na morte de um homem que estava desarmado. O tema esquentou na noite de ontem, quando quatro testemunhas confirmaram o relato do cinegrafista ao “The Intercept Brasil”.
🔸 E no debate entre os candidatos a governador, realizado pela TV Globo, Haddad puxou o tema: “Se você tem uma imagem que você acha que pode colocar em risco a vida de alguém, para quem você leva? Você apaga ou leva para a autoridade policial?”. O Metrópoles mostra a resposta de Tarcísio, que acusou o adversário de “fazer sensacionalismo com uma coisa séria”. O Nexo aponta as pontas soltas do caso e as versões sobre ele.
🔸 Num grupo de Telegram criado logo após o primeiro turno para reverter uma eventual vitória de Lula, Jackson Villar da Silva propõe uma espécie de “eleição paralela”: “Só não pode falar que vai provar a fraude. Se falar isso aí os caras vão derrubar o canal. Tem que ser uma coisa sutil, com sabedoria, entendeu?”, afirma. Villar é evangélico e se apresenta como radialista, comerciante e organizador da motociata que Bolsonaro realizou em 2021 entre São Paulo e Americana, no interior do estado. A Agência Pública analisou gravações de parte das conversas realizadas em chats do Telegram, entre os dias 3 e 23. Villar se destaca não só pelas falas, mas também por insinuar a necessidade de “quebrar esquerdistas no cacete”, ou ainda “quebrar a urna eletrônica no pau”.
🔸 Em tempo: depois da publicação da reportagem, a Pública e seu diretor e editor Thiago Domenici passaram a sofrer ataques. Jackson Villar da Silva postou ameaças contra o veículo e o profissional. A Ajor repudia a ofensiva e lembra: ameaçar um jornalista, além de crime, é também um atentado ao direito fundamental à informação.
📮 Outras histórias
“Os profissionais estão em queda de braço com o governo federal. Precisamos garantir a reforma psiquiátrica: é a grande batalha da luta antimanicomial”, denuncia a assistente social e integrante da Associação Papo de Mulher, Tânia Nogueira, sobre o desmonte dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), ligados ao Sistema Único de Saúde (SUS). Com quase 30 anos de atuação em sua profissão, com experiência na Secretaria de Saúde de Salvador (BA), órgãos de proteção à mulher e em CAPS, Tânia conta à Revista Afirmativa que mulheres negras e periféricas são a maioria das usuárias desses serviços.
Já faz 40 anos que os moradores de Guaíra, no Paraná, e Salto del Guairá, no Paraguai, não ouvem o som das águas das Sete Quedas do Rio Paraná, maior conjunto de cachoeiras do planeta em volume de água, com nove saltos de até 40 metros de altura, reunidos em sete grupos. O motivo foi o represamento do rio para a formação do Lago de Itaipu na construção da Usina Hidrelétrica de Itaipu. O H2FOZ resgata a história dos saltos de águas perdidos para a obra binacional.
📌 Investigação
De agricultora familiar à consumidora de ultraprocessados. Trata-se da trajetória de Ariana Pereira, que vem de uma família de pessoas que cultivaram cana-de-açúcar, fava, mandioca, frutas e verduras por séculos na área rural de Correntina, no Vale do Arrojado, no Cerrado baiano. Há três anos, os córregos que passavam por sua fazenda começaram a secar. O Joio e o Trigo revela que o avanço das monoculturas, como a soja, para a região leva também o desmatamento, agrotóxicos e esgotamento de recursos hídricos.
🍂 Meio ambiente
O Supremo Tribunal Federal (STF) formou maioria para determinar a reativação do Fundo Amazônia e invalidar dispositivos do governo federal que o alteravam. Os ministros consideraram o governo federal “negligente” ao deixar mais de R$ 3 bilhões paralisados no fundo, que capta doações para projetos de preservação e fiscalização no bioma. Segundo o Jota, ao votar pela reativação, o ministro Luís Roberto Barroso afirmou: “O risco que nós corremos é de perder a Amazônia para o crime organizado”. O único ministro a divergir até agora foi Nunes Marques, indicado por Bolsonaro.
Uma lista de 14 ações para os 100 primeiros dias de governo com foco na Amazônia. A rede Uma Concertação pela Amazônia, que reúne centenas de pesquisadores, ONGs, movimentos sociais e representantes de empresas e governos, apresentou os tópicos que incluem medidas provisórias e decretos sobre 11 temas como emergência climática, segurança alimentar, combate ao crime e ao desmatamento. O Projeto Colabora descreve as ações propostas.
📙 Cultura
“Se não puder ter filtro, nós privatizaremos ou extinguiremos a Ancine”, afirmou Jair Bolsonaro em 2019. O caminho para isso tem sido traçado: a queda de editais de fomento para produções nacionais em seu governo foi maior que 85%. Nos anos de 2015 e 2016, a média anual de editais publicados era 14 – atualmente a média é dois. O Nonada aponta os impactos para o setor, em que foram boicotados filmes como “Marighella” e “Penal cordillera”, uma coprodução com o Chile, sobre torturadores na ditadura de Pinochet.
De volta às origens, a banda de rap carioca Planet Hemp lança sua primeira produção inédita em 22 anos. O álbum “Jardineiros” saiu uma semana antes do segundo turno das eleições e vem como uma declaração contra o aparato repressivo do Estado com características sonoras que retoma estilo punk rap do primeiro disco, “Usuário” (1995). O Farofafá analisou faixa a faixa da obra.
🎧 Podcast
Novo episódio do podcast “De Quinta”, do Sul21, gira ao redor de perguntas como o impacto do ataque de Roberto Jefferson a policiais federais, a acusação de Bolsonaro sobre rádios não terem inserido sua propaganda eleitoral e as últimas pesquisas de intenção de voto para “O domingo das nossas vidas”.
✊🏽 Direitos humanos
O número de atiradores em escolas no Brasil vem aumentando. Entre 2002 e 2019, o número de episódios foi de oito. Nos últimos cinco anos, cinco. Mas, apenas neste último semestre, em menos de 10 dias, foram duas ocorrências. Os dados são de levantamento do Instituto Sou da Paz. Com base no cenário alarmante de aumento de casos de tiros em centros educacionais, o Portal Lunetas debate as razões pelas quais o Brasil vive a exposição de crianças e adolescentes a esse tipo de violência armada, tão conhecida nos Estados Unidos.
💆🏽♀️ Para ler no fim de semana
“Eu lembro do Rodrygo quando ainda era pequeno. O avô dele gostava de trocar ideia comigo. Teve uma vez que eu estava pegando um limão pra servir com a cachaça. O limão caiu, o Rodrygo pegou e começou a fazer embaixadinha.” Essa é a memória que Antonio Donizete Mendes, de 65 anos, tem do jogador de futebol Rodrygo, criado no bairro de Presidente Altino, em Osasco (SP), e que saiu do Santos diretamente para o Real Madrid, da Espanha. O município da Grande São Paulo na verdade é um celeiro de craques do futebol brasileiro masculino e feminino, como mostra reportagem da Ponte, publicada pelo Portal Terra.