A candidatura de Flávio Bolsonaro e os terreiros em área de risco no AM
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🔸 Dois dias depois de se lançar candidato à Presidência, Flávio Bolsonaro (PL-RJ) afirmou ontem que pode desistir da disputa, mas, para isso, disse ter um “preço”, citando a votação da anistia para os presos do 8 de Janeiro. O Metrópoles mostra em vídeo as falas do senador. “Olha, tem uma possibilidade de eu não ir até o fim. Eu tenho preço para isso. Eu vou negociar. Eu tenho preço para não ir até o fim”. Ele minimizou as reações negativas à sua candidatura, disse que irá se reunir com lideranças partidárias hoje e afirmou ainda que terá a chance de mostrar um “Bolsonaro diferente”, “mais centrado” e que “realmente quer a pacificação do país”. Flávio foi escolhido pelo pai, Jair Bolsonaro (PL), semanas após a prisão do ex-presidente. Seu nome frustrou caciques do partido que preferiam Tarcísio de Freitas (Republicanos) e animou o governo Lula, que vê a manutenção do confronto direto com o bolsonarismo.
🔸 O anúncio de Flávio Bolsonaro redesenha a estratégia do Centrão para 2026. Contrariadas, lideranças que já discutiam alternativas desde a condenação de Bolsonaro agora avaliam lançar uma chapa “puro sangue” em 2026, apenas com partidos do bloco, para isolar PL e PT. O plano, portanto, é se apoiar em uma “terceira via” do Centrão, informa a CartaCapital. Os nomes mais consolidados para montar essa chapa seriam os dos governadores do Paraná, Ratinho Jr. (PSD), e de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil). Antes favorito do grupo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) deve tentar a reeleição em São Paulo.
🔸 A pobreza e a extrema pobreza no Brasil caíram pelo terceiro ano seguido e chegaram, em 2024, ao menor nível desde 2012, segundo a Síntese de Indicadores Sociais do IBGE. De 2023 para 2024, a taxa de extrema pobreza caiu de 4,4% para 3,5%, e a de pobreza, de 27,3% para 23,1%. O Nexo detalha os dados e explica as mudanças. “A queda histórica da pobreza no Brasil está diretamente ligada ao aquecimento do mercado de trabalho”, afirma João Gabriel Araújo, consultor macro do Banco Mundial. Segundo ele, o país se aproxima de um quadro de pleno emprego, com geração de renda para quem antes estava desempregado ou dependia de programas sociais, elevando sua renda acima da linha da pobreza. Mas o país segue entre os mais desiguais do mundo, com os 20% mais ricos ganhando 11 vezes mais que os 20% mais pobres.
🔸 Quinto país em feminicídios no mundo, o Brasil vê crescer no Congresso uma frente antifeminista, capitaneada por parlamentares de extrema direita – muitas delas mulheres. Segundo a revista AzMina, das 812 proposições analisadas pelo monitoramento Elas no Congresso, 22,3% prejudicam agendas de gênero, com forte presença de deputadas como Júlia Zanatta (PL-SC), Clarissa Tércio (PP-PE), Chris Tonietto (PL-RJ) e da senadora Damares Alves (Republicanos-DF). Elas atuam em projetos “antigênero” focados na defesa da família cis-heteronormativa, que incluem proibição de linguagem neutra, ataques à educação sexual e ofensiva contra direitos reprodutivos e de pessoas LGBTQIAPN+. Doutora em ciência política, Camilla Tavares explica que a estratégia é criar um “inimigo feminista” e se apoiar em imagens idealizadas da maternidade para legitimar discursos conservadores. “Elas percebem que esse rótulo vai ajudar a posicioná-las em um determinado espaço, e elas usam isso”, explica.
📮 Outras histórias
A notícia de que Curitiba (PR) iria receber um parque da Disney veio em novembro acompanhada de euforia na imprensa e nas redes sociais. Com a inauguração, na última quinta-feira, ficou difícil esconder a realidade: a Disney não abriu um parque em Curitiba, avalia o Plural. O que existe no Parque Barigui, onde a estrutura foi montada, é um circuito de luzes, telas com filmes da marca, estruturas “instagramáveis” e ativações publicitárias de empresas parceiras, sem brinquedos típicos dos parques Disney e com uso dos mesmos equipamentos do parque de diversões que já funciona ali o ano todo. Financiado via Lei Rouanet, o projeto foi autorizado a captar R$ 9 milhões e prevê um espetáculo pago em espaço fechado e só duas ações gratuitas: cinema ao ar livre e instalações temáticas.
📌 Investigação
Em Heliópolis, uma das maiores favelas de São Paulo, a precariedade das moradias e da estrutura urbana afeta o desenvolvimento das crianças. “Era tudo muito abafado. O quarto onde a gente dormia não tinha janela, e a poeira se acumulava. Só a cozinha e o banheiro deixavam o ar entrar. Tinha muita infiltração”, relata Suzana Teixeira da Silva, cujos filhos gêmeos, Valentina e Davi, de 4 anos, convivem com problemas respiratórios desde que eram bebês. A Agência Mural reúne relatos e evidências dos problemas urbanos e do descaso do poder público nas infâncias nas periferias, como a falta de saneamento básico, a coleta de lixo insuficiente e a escassez de espaços para brincar.
🍂 Meio ambiente
Terreiros em Manaus (AM) estão em áreas de alto risco de deslizamentos, erosões e inundações. O levantamento, feito por pesquisadores da Universidade Federal do Amazonas, em parceria com o Instituto Ganga Zumba, mostra como o racismo ambiental se manifesta não apenas na vida física, mas também espiritual das populações que vivem em áreas vulneráveis, como ressalta o Le Monde Diplomatique Brasil. Na zona norte,14 templos estão a menos de 100 metros de locais de desastre. O número aumenta para 22 quando o raio é ampliado para 200 metros. Há ainda dez terreiros próximos a pontos que já registraram deslizamentos e erosões. “Em Manaus, muitos terreiros, especialmente na periferia, foram erguidos onde havia acesso possível, não onde havia segurança. Isso é resultado direto da vulnerabilidade social, do racismo ambiental e da ausência histórica de políticas públicas para nossas comunidades”, afirma a sacerdotisa Agonjaí Nochê Flor de Navê, do Templo de Tambores de Mina Jejê-Nagô Xwê Ná Sin Fifá.
📙 Cultura
“Meu objetivo é não deixar a cultura morrer. Eu já sou um homem sexagenário. O que eu mais quero agora é formar mais mestres, mais garotos que deem continuidade. Para que, quando eu for para o andar de cima, a brincadeira siga”, afirma José Dário, que realiza teatro de mamulengos – composto por bonecos manipulados pelas mãos de um artista que lhe dá voz e movimento atrás de um pequeno palco. José Dário é um dos milhares de Josés que vivem em Alagoas, o estado que mais registra o nome no país, equivalente a 7,14% da população estadual. A Revista Alagoana reúne histórias de Josés artistas que moram em Alagoas e suas contribuições para a cultura local em diferentes manifestações artísticas, do teatro à literatura.
🎧 Podcast
O maior e mais desconhecido ecossistema do planeta, o oceano é um dos dilemas ambientais para o Brasil e a Austrália. O “Vozes do Sul”, produção do Conversation Brasil, mergulha nos problemas compartilhados entre dois dos maiores países do Hemisfério Sul, como o aquecimento e a acidificação das águas. Enquanto a Grande Barreira de Corais australiana, maior estrutura do mundo composta unicamente por organismos vivos, enfrenta o branqueamento, a exploração de petróleo na Margem Equatorial brasileira ameaça o mais extenso e bem preservado cinturão de manguezais do planeta.
✊🏾 Direitos humanos
O Estado falhou em proteger as crianças da favela, segundo a psicanalista Ilana Katz. Diante da megaoperação policial nos complexos do Alemão e da Penha, no Rio de Janeiro, ela explica como a política de segurança pública de conflito impacta o cuidado das crianças e o acesso a direitos básicos em territórios marcados por violência armada. “Não há proteção possível enquanto o ciclo da violência continuar. Nenhum cuidado substitui a negligência estatal”, afirma. O Lunetas detalha que, nas violações ocorridas durante as operações, os conselheiros tutelares são responsáveis por fazer encaminhamentos à rede de proteção, como serviços de assistência social, saúde, educação e proteção psicossocial.




