Os candidatos indígenas e a repatriação de obras de arte para a Bahia
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🔸 O número de candidaturas indígenas aumentou nestas eleições. Foram 2.479 registros em 2024, ou 14% a mais do que em 2020. Os desafios para os candidatos, no entanto, parecem se repetir. Eles enfrentam do preconceito à falta de recursos para as campanhas. A Repórter Brasil conversa com seis candidatos indígenas (dois a prefeito e quatro a vereador) em municípios do Norte, Nordeste e Sudeste do país e resgata a história da participação dos povos originários na política brasileira. Foi uma mulher, em 1962, a primeira pessoa indígena eleita – Carmelita Cruz, do povo Tuxá, agente de saúde e professora na comunidade de Rodelas (BA). Hoje, candidatas como Vanda Witoto, que pleiteia o cargo de vereadora em Manaus, contam que políticos distribuem cestas básicas, receita do remédio e botijão de gás em troca de votos. Já Marivelton Baré, candidato a prefeito em São Gabriel da Cachoeira (AM), diz que o principal desafio é a falta de recursos para percorrer os vastos territórios do município na campanha. Com altos custos de transporte pelos rios, o financiamento limitado dificulta o alcance de eleitores.
🔸 A propósito: candidatos autodeclarados indígenas receberam apenas 0,37% dos R$ 5 bilhões declarados pelas candidaturas à Justiça Eleitoral. É o que mostra levantamento do Congresso em Foco em parceria com a plataforma 72horas. Neste ano, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) definiu que os partidos devem destinar os recursos dos fundos partidário e eleitoral de forma proporcional ao número de candidaturas indígenas. Mas a regra, em fase de regulamentação, não vale para as eleições de 2024. A deputada federal Célia Xakriabá (Psol-MG) resume o cenário: “Ainda que tenhamos conquistado espaço no processo democrático, as condições nunca foram equânimes, sobretudo nos recursos financeiros e no tempo de propaganda em rádio e TV. Existem muitos indígenas prontos para se eleger, para ocupar prefeituras, câmaras legislativas, mas faltam condições para que essas candidaturas sigam adiante”.
🔸 Em tempo: plataformas online apresentam candidatos diversos, um caminho para mudar o cenário de 2020, quando, das 58 mil candidaturas que venceram o pleito, 84% eram homens e apenas 16% mulheres. A Marco Zero lista três iniciativas que mostram aos eleitores os perfis de candidatos negros, LGBTQIA+, feministas e indígenas. É o caso do Vote LGBT que existe desde 2014 e desenvolve ações com o objetivo de construir uma política LGBTQIA+.
🔸 Quando o assunto são as propostas dos candidatos, a crise climática não parece uma pauta urgente – a julgar pelos planos de governo dos postulantes ao cargo de prefeito nas capitais brasileiras. O Climômetro, iniciativa da Agência Pública para analisar o posicionamento dos candidatos em relação às mudanças climáticas, mostra que, embora digam que vão priorizar a questão climática, o discurso não se reflete nos projetos. Até ontem, 52 candidatos de 21 capitais haviam respondido a um formulário com cinco perguntas sobre o compromisso com a agenda climática – a maioria (94%) diz estar plenamente comprometida em priorizar ações de combate às mudanças climáticas nas gestões municipais. Mas… entre os 52 planos analisados, seis não mencionam o tema, e outros seis tratam a questão de forma superficial, sem propostas concretas.
📮 Outras histórias
Mototaxista e entregadora, Letícia Dumont criou um coletivo de motogirls em João Pessoa (PA). “Comecei vendo as meninas na rua, ia parando elas, elas corriam, eu corria atrás. Ia aos estabelecimentos onde motogirls trabalhavam pra conseguir contato. E assim eu fui juntando, e a gente foi evoluindo, até chegar nesse ponto em que estamos hoje”, lembra a fundadora do MotoGirls JP, criado em 2021. O Paraíba Feminina conta que hoje o grupo já conta com mais de cem mulheres. Elas relatam desafios numa profissão majoritariamente masculina. “Existe muito preconceito em relação a mulheres em cima de uma moto, e alguns homens também acabam se incomodando por a gente trabalhar do mesmo jeito que eles”, diz Josy Santos. Mas há também alegrias, como afirma Dannielly Paula: “O que eu mais gosto é a liberdade, eu amo moto e trabalhar na moto, pra mim, é um grande prazer”.
📌 Investigação
Sem controle etário eficaz, o Zé Delivery, app de entregas de bebidas da Ambev, usava um servidor no Discord para “gamificar” a comunidade e dar moedas virtuais por interação, como responder a pesquisas de consumo e participar de desafios. As “Mozédas”, como eram chamadas, podiam ser trocadas por cupons de descontos de 10% a 30% e frete grátis no aplicativo. O Núcleo apurou que, além de impulsionar o consumo abusivo de álcool, a verificação etária para participar da comunidade era autodeclarada. O servidor reunia 18 mil usuários. Foi desativado pelo Discord após o contato da reportagem.
🍂 Meio ambiente
Na divisa entre Amazonas e Acre, onde o agronegócio abre novas fronteiras para a expansão da monocultura da soja na Amazônia, estão concentradas as maiores áreas de incêndios florestais. Segundo o Varadouro, apenas a porção leste do Acre tem ao menos oito mil hectares de floresta fechada queimando nos últimos dias. Outros 10 mil hectares foram registrados por imagens de satélite no município de Boca do Acre (AM). “Se as pessoas tivessem entendido a fragilidade do momento, quando os rios começaram a secar, a gente poderia passar a seca sem essa catástrofe. Mas as pessoas ainda não entenderam que o clima mudou”, afirma Sonaira Silva, coordenadora do Laboratório de Geoprocessamento Aplicado ao Meio Ambiente (Labgama), da Universidade Federal do Acre.
📙 Cultura
Cerca de 750 peças de dezenas de artistas negros da Bahia, Pernambuco e Ceará serão repatriadas a partir do próximo ano. As obras serão doadas para o Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira (MUNCAB), sediado em Salvador, por duas colecionadoras estadunidenses que adquiriram o acervo legalmente ao longo das últimas décadas. São pinturas, esculturas, trajes, arte sacra e ritualização do sagrado que datam da década de 1960 ao início dos anos 2000. A Alma Preta destaca que a intenção do museu é também emprestar parte do material repatriado a instituições do Brasil e de outros países para que as peças sejam divulgadas e estudadas.
🎧 Podcast
Trinta dias foram o suficiente para Lia Varela fazer história: tornou-se a primeira mulher negra a assumir a prefeitura de uma capital brasileira. Em 1978, o prefeito de São Luís (MA) Ivar Saldanha teve que se afastar por problemas de saúde, e Lia, enquanto presidente da Câmara Municipal, assumiu o cargo. Mas a eleição de uma mulher negra para uma prefeitura só aconteceu em 2010, quando Tânia Terezinha venceu o pleito em Dois Irmãos (RS). A série “Nós, Prefeitas”, do “Conversa de Portão”, podcast do Nós, Mulheres da Periferia, narra as trajetórias dessas duas mulheres negras históricas e debate o impacto das desigualdades estruturais nas eleições.
🏃🏾♀️Esporte
Para as Olimpíadas de Paris, o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) levou a maior delegação especializada em saúde mental da sua história: dez psicólogos e um psiquiatra. “A pandemia e o fato de atletas de renome terem vindo a público falar sobre saúde mental foram importantes para consolidar as ações do COB e das confederações. Não que o problema com atletas seja exatamente uma novidade, mas aquela situação expôs tudo e, quando fica exposto, as entidades entendem que precisam cuidar de verdade”, afirma Eduardo Cillo, coordenador de psicologia esportiva da entidade. A revista piauí mergulha na mudança de abordagem da saúde mental de atletas de alto rendimento.