O candidato padre e o direito de resposta no último debate antes das eleições
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🔸 Um duelo de pedidos de resposta, o candidato padre, mentiras e bate-boca. O último debate entre os candidatos à Presidência, exibido ontem, na TV Globo, começou quente, ficou tumultuado e acabou morno. O Portal Terra conta que, no primeiro bloco, Lula (PT) e Bolsonaro (PL) entraram em confronto pedindo seguidos direitos de resposta. Ambos, no entanto, não fizeram perguntas diretamente um ao outro. Em seguida, foi a vez de Padre Kelmon (PTB) criar tumulto e cair até em bate-boca com Lula, que o chamou de “candidato laranja” e “impostor”, algo que, segundo o Metrópoles, será usado pela campanha de Bolsonaro para tentar desgastar a imagem do petista com o eleitorado cristão. Simone Tebet (MDB), por sua vez, apontou “falta de coragem” de Bolsonaro ao fazer a ela pergunta que se referia a Lula. Ciro Gomes, por fim, começou gaguejando e terminou apagado. O Nexo analisa a performance de cada um ao longo do debate e lembra que, horas antes do encontro dos candidatos, o Datafolha divulgou sua pesquisa, que segue indicando estabilidade: Lula tem 50% dos votos válidos, e Bolsonaro, 36%.
🔸 “O senhor é um padre de festa junina.” A afirmação de Soraya Thronicke (União Brasil) deu a ela o posto de frasista da noite. Referia-se a Padre Kelmon, a quem chamou de “Padre Kelson”, “Padre Kelvin” e, por fim, “candidato padre”. Também perguntou a ele se “não tinha medo de ir para o inferno”, como lembra a CartaCapital. Fato é que o candidato padre conturbou o debate e interrompeu seus interlocutores – menos Bolsonaro, a quem serviu como linha de apoio.
🔸 Depois de lançar um relatório em que questiona a segurança das urnas, o PL, partido de Bolsonaro, terá de prestar informações ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Segundo o Metrópoles, a Corte deu 24 horas para o presidente do partido, Valdemar da Costa Neto, explicar a destinação de recursos do Fundo Partidário ao Instituto Voto Legal, que recebeu R$ 225 mil para produzir o relatório. O texto foi classificado pelo TSE como uma tentativa de tumultuar o pleito no domingo.
🔸 O que é boca de urna? Vai ter Lei Seca nas eleições? Pode votar com camiseta de candidato? O Jota explica ponto a ponto o que pode e o que não pode no domingo de votação.
🔸 O poder do voto feminino. O Datafolha indica que, entre as mulheres, há 19% indecisas quanto ao voto para presidente. Entre os homens, os indecisos são 9%. As mulheres são a maioria da população (52,6%). Mas, para além da matemática, é a forma como elas votam que pode ser decisiva nas eleições. O Meio conversou com cientistas políticas para analisar como a mulher brasileira vai às urnas.
📋 Checagem
Bolsonaro começou o debate mentindo, ao dizer que, no Bolsa Família, criado por seu adversário petista, os beneficiários perdiam o direito ao auxílio assim que conseguiam emprego. Aos Fatos e Lupa fizeram a checagem das falas dos candidatos no debate na Globo.
📮 Outras histórias
A violência das milícias. Entre 2006 e 2021, a taxa de homicídios em bairros dominados pelas milícias foi de 218,3 mortos a cada cem mil habitantes. Já em bairros onde o tráfico domina, a taxa ficou em 210,5. Ou seja, não existe um mal menor, e o método de atuação dos milicianos não deixa as regiões mais seguras. A conclusão é de um levantamento inédito feito a partir do cruzamento de dados do Instituto de Segurança Pública (ISP) com o Mapa Histórico dos Grupos Armados do Rio de Janeiro, produzido pelo Instituto Fogo Cruzado em parceria com o Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense).
Em vídeo: as ofensas verbais de Bolsonaro a jornalistas (em especial, mulheres) parecem seguir inspirando ataques pelo Brasil. No Amazonas, no debate do SBT com candidatos a governador, Eduardo Braga (MDB) agrediu a jornalista Márcia Dantas, da afiliada do canal em Brasília. O Congresso em Foco mostra que Braga pediu aos gritos que ela lhe desse direito de resposta a outro candidato. “O senhor está gritando comigo porque eu sou mulher? O senhor me respeite!”, disse a jornalista.
📌 Investigação
Empresários do setor da alimentação, como Rubens Ometto, da Cosan, Abílio Diniz, do Carrefour, Ricardo Faria, da Granja Faria, e Junior Durski, do Madero, estão entre os grandes doadores de campanhas eleitorais, em grande parte, da direita. O Joio e O Trigo aponta que Rubens Ometto, que tem negócios no ramo do açúcar, etanol, logística e gás encanado, já distribuiu R$ 8,8 milhões neste pleito. Entre os beneficiários, estão ex-ministros de Bolsonaro.
🍂 Meio ambiente
Priorizar os interesses do agronegócio dá dinheiro. Nos últimos quatro anos, os 20 deputados que mais votaram contra o meio ambiente e povos tradicionais declararam um crescimento patrimonial sete vezes maior que aquele dos 20 mais favoráveis à agenda socioambiental. Apenas na atual legislatura, esses parlamentares ruralistas viram seus bens aumentarem R$ 10,6 milhões, segundo os dados da Justiça Eleitoral. A Repórter Brasil detalha quem são os que mais enriqueceram e os valores.
Na Bahia, a proteção do Cerrado em pauta. O Eco analisa como o meio ambiente está mencionado nos planos de governo dos candidatos a governador. Para o Cerrado baiano, vítima do impacto crescente do agronegócio nos últimos 40 anos, apenas Jerônimo (PT) e Kleber (Psol) têm propostas com potencial para conter a degradação. Dos dois, apenas o petista tem possibilidade de se eleger, já que segundo as pesquisas é provável um segundo turno entre ele e ACM Neto (União Brasil). O fantasma de Jerônimo é a herança que seus antecessores de partido – Jacques Wagner e Rui Costa – deixaram ao não combater os problemas socioambientais.
📙 Cultura
Primeira universidade brasileira fechada pela ditadura militar, a Universidade de Brasília (UnB) nunca mais foi a mesma desde a intervenção do regime. Inspirado em suas memórias afetivas, o cineasta e fotógrafo Jorge Bodanzky produziu o documentário “Utopia Distopia”, que narra a história de uma instituição inovadora proposta pelos educadores Anísio Teixeira e Darcy Ribeiro e destruída pelos militares, como conta a Ponte Jornalismo.
Estímulo ao Plano Nacional do Livro e da Leitura, preservação da imunidade tributária do livro e apoio a projetos de lei que fortaleçam o livro e a leitura são algumas das reivindicações da carta aberta da Associação Brasileira de Livros e Conteúdos Educacionais, da Câmara Brasileira do Livro e do Sindicato Nacional dos Editores de Livros aos presidenciáveis. O Nonada lista as principais demandas do setor presentes no documento.
🎧 Podcast
A ciência é imprescindível para explicar os mecanismos da emergência climática e para apontar caminhos para o futuro. Para falar sobre isso, o jornalista Bernardo Esteves foi a Campinas, onde visitou o Sirius, o equipamento mais caro e mais sofisticado que a ciência brasileira já teve. Lá, um experimento usa o acelerador de partículas para ajudar a desvendar a física da atmosfera por trás do aquecimento global. Ele narra essa história no episódio final da segunda temporada do podcast A Terra é Redonda (Mesmo), da revista piauí, com produção da Trovão Mídia.
🚨 Eleições em tempo real
A partir das 17h, no domingo, tem início a apuração dos votos – e a cobertura em tempo real por veículos associados à Ajor. Aos Fatos, Agência Pública e Núcleo Jornalismo vão unir forças num monitoramento conjunto sobre desinformação em redes sociais. Uma equipe ficará focada apenas na investigação de desinformação e disseminação de discursos de ódio. Também há um esforço da Pública para investigar violência nas eleições, com um formulário para denúncias no próprio site da agência.
No MyNews, as jornalistas Cristina Fibe e Mara Luquet recebem convidados numa live a partir das 17h para discutir os resultados do pleito. O Meio também vai de live no mesmo horário. Pedro Doria, Mariliz Pereira Jorge, Flávia Tavares e Christian Lynch comentam ao vivo os resultados no canal do Meio no Youtube. O Portal Boca no Trombone fará a cobertura ao longo de todo dia, com lives, boletins especiais, entrevistas e análises.
A propósito: no site da Ajor, Tainah Ramos conversa com associadas e conta como o jornalismo digital local vai acompanhar a apuração dos votos.