As campeãs do Carnaval e o papel do futebol de várzea
Uma curadoria do melhor do jornalismo digital, produzido pelas associadas à Ajor. Novos ângulos para assuntos do dia
🔸 Com um enredo sobre o culto vodum às serpentes, a Unidos do Viradouro venceu o Carnaval carioca. A escola de Niterói levou à Sapucaí a crença de povos africanos que viviam na Costa da Mina e a força das mulheres negras. O A Seguir Niterói explica que vodum era o nome usado para representar as forças invisíveis do mundo espiritual. Na tradição, as mulheres eram escolhidas e iniciadas em ritos de louvor à serpente sagrada conhecida como Dangbé, uma cobra que engole a própria cauda para dar equilíbrio. Logo no início do desfile, na comissão de frente, uma serpente fluorescente abria caminho para a passagem da escola. Em São Paulo, a escola campeã foi a Mocidade Alegre, com um enredo sobre as viagens do escritor modernista Mário de Andrade pelo Brasil no início do século 20.
🔸 “Carnaval é uma festa pagã, que não é originária do Brasil, mas é neste país, nos séculos 20 e 21 que o Carnaval deixa de ser só uma festa e passa a ser escola, educação, uma forma grande de resistência, de resiliência das comunidades, da população negra, pobre e periférica”, escreve Regina Lucia dos Santos, coordenadora de formação do Movimento Negro Unificado (MNU). Em artigo na Alma Preta, ela discorre sobre o poder educador do Carnaval e lembra os sambas-enredo deste ano, em São Paulo e no Rio de Janeiro, que deram “aulas da nossa história”.
🔸 A propósito: enredo da Portela, a obra “Um Defeito de Cor”, de Ana Maria Gonçalves, passou a ocupar a posição de livro mais vendido na Amazon logo após o desfile da escola. Lançado em 2006, o tomo de quase mil páginas narra oito décadas da formação da sociedade brasileira, a partir da história de Kehinde, escravizada e trazida para o Brasil, onde foi batizada como Luísa. A personagem é inspirada em Luísa Mahin, que participou da Revolta dos Malês, mãe do abolicionista Luís Gama. O Metrópoles resgata entrevista recente com a autora, que discorre sobre a obra e sua adaptação para a Sapucaí.
🔸 Dois detentos fugiram de um presídio federal de segurança máxima ontem. Trata-se da primeira fuga registrada numa unidade administrada pelo Ministério da Justiça. Os dois fugitivos são ligados ao Comando Vermelho e teriam escapado por uma abertura no teto da cela. O Nexo lembra que existem cinco presídios federais no Brasil. Foram inaugurados a partir de 2006, no primeiro mandato de Lula, para isolar lideranças do crime organizado e presos de alta periculosidade.
📮 Outras histórias
“Para o folião, o carnaval termina na quarta de cinzas. Para nós, ele já começa na dispersão, quando recolhemos as fantasias utilizadas durante o desfile, os ferros e armações, pois tudo será reutilizado.” Patrícia Costa é representante da Unidos de Manguinhos, uma escola de samba da zona norte do Rio de Janeiro, longe dos holofotes (e dos recursos milionários) da Sapucaí. Ao Maré de Notícias ela conta nunca ter recebido patrocínio algum, mas consegue apoios – neste ano, da Unidos da Tijuca e, em 2025, da Mangueira. Sobre a alegria de ver sua escola desfilar, ela afirma: “Sempre sinto como se fosse a primeira vez. Poder bater no peito e falar: eu sou Manguinhos. É o Quilombo Manguinhos. Preciso falar dos artistas anônimos que trabalham arduamente o ano inteiro, com pouco recurso e conseguem fazer história”.
📌 Investigação
A produtora Minussi Filmes, que prestou serviços para a campanha de Bolsonaro, é comandada por Ricardo Minussi, pai do advogado Ricardo Wright. Este, por sua vez, é apontado pela Polícia Federal como responsável pela elaboração do documento que tentou associar ministros do STF, incluindo Alexandre de Moraes, e parlamentares, com a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC). A Agência Pública revela que a produtora recebeu R$ 36,8 mil “para eventos de promoção da candidatura” no dia 27 de outubro de 2022.
🍂 Meio ambiente
“O Brasil teve o seu primeiro Plano Clima em 2016. Ele deveria ter sido revisto há 4 anos, [mas] não foi. Estamos fazendo tudo junto e ao mesmo tempo, também trazendo os objetivos do novo Plano Clima revisado.” Ana Amelia Campos Toni assumiu a Secretaria Nacional de Mudanças do Clima, do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), há um ano e detalha o processo de renovação do Plano Nacional de Adaptação à Mudança do Clima. À InfoAmazonia Ana Toni explica que são oito planos setoriais de mitigação e 15 de adaptação. Entre eles, há um planejamento liderado pelo Ministério dos Povos Indígenas para os territórios. “Será a primeira vez que vão fazer um plano de adaptação específico para a população indígena”, diz.
📙 Cultura
Um dos maiores artistas vivos da música pernambucana, Alceu Valença carrega em sua obra a diversidade das cidades de Pernambuco onde viveu. Aos 77 anos, considera São Bento do Uno, sua terra natal, Olinda e Recife suas principais “musas inspiradoras”. “São Bento do Uno é a cidade de um Agreste Meridional pernambucano, cuja cultura é, sobretudo, a cultura do sertão profundo. Lá, é a terra onde vi, pela primeira vez, com quatro ou cinco anos de idade, a banda de pífano, ouvia os cantadores, cego de feira, o berimbau de feira”, conta. Em entrevista à revista O Grito!, ele fala sobre seu recém-lançado álbum com sucessos carnavalescos e os bastidores da carreira.
🎧 Podcast
A experiência de quase morte do cirurgião gaúcho Oscar Espellet Soares o levou a se tornar um “médico nômade” que circula pela Amazônia brasileira. Na região, ele se dedicou à sorologia para curar picadas de cobras letais em humanos. A “Rádio Escafandro”, produção de Rádio Guarda-Chuva, mergulha na história de Oscar e sua atuação médica e científica em um território distante de sua origem e onde a saúde pública enfrenta grande precariedade.
🏃🏾♂️ Esporte
O futebol de várzea é um elemento importante da cultura das periferias, mobiliza a economia local e atua como resistência nos territórios. O time Morro da Paz, da Favela da Paz, localizada no Bairro do Limão, na zona norte de São Paulo, é um exemplo dessa dinâmica, como narra a Periferia em Movimento. Em atividade desde 2005, além de carregar o nome da comunidade, entre os jogos e treinos, o time movimenta o território diariamente com projetos sociais, geração de renda e desenvolvimento local. “A várzea é muito além do futebol, ela consegue suprir toda essa falta de políticas públicas que o Estado deixa a desejar”, afirma Alex Borges Barcellos, ex-varzeano que integra o coletivo socioeducativo Resenha Poética da Várzea.
Um reparo a fazer: a cidade natal de Alceu Valença é São Bento do UnA, com A, não São Bento do UnO. Na matéria d'O Grito! aparecem as duas formas, mas a primeira é que está certa. Fora isso, obrigado por mais esse giro informativo!