As campanhas eleitorais com IA e uma farmacêutica de opioides no país
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🔸 Desde o assassinato de Mãe Bernadete há mais de um ano, outros 12 quilombolas foram mortos. Os dados são do relatório “Assassinatos de Quilombolas – ameaças a quilombolas defensores de direitos humanos 2019-2024”, da Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (Conaq). No período do levantamento, 46 quilombolas foram assassinados em 13 estados do Brasil. A Revista Afirmativa explora os dados do documento, que destaca os anos de 2021 e 2023, com números de vítimas superiores à média, com 10 e 9 execuções, respectivamente. A publicação denuncia que, enquanto as mortes violentas de quilombolas aumentam, os processos de titulação dos territórios permanecem parados.
🔸 Projeto de lei que dispensa a licitação para contratação de serviços emergenciais por estados e pela União em situações de calamidade pública foi aprovado ontem pela Câmara dos Deputados. O PL 3117/2024 foi apresentado pelo governo inicialmente na forma de medida provisória diante das enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul em maio. O Congresso em Foco destaca que a votação foi convocada pelo presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), após reunião com autoridades dos Três Poderes sobre enfrentamento aos incêndios pelo país. A proposta prevê também medidas de flexibilização de outras operações econômicas nos estados atingidos, como a permissão para utilizar até R$ 20 bilhões do superávit do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) em ações de adaptação às mudanças climáticas.
🔸 Por que Brasília queima todos os anos? Diante do incêndio que atingiu o Parque Nacional de Brasília no início desta semana, os pesquisadores Maria Tereza Jorge Pádua e Alexandre Jorge Pádua explicam a recorrência das queimadas em áreas protegidas no Distrito Federal. “Tanto a ação como a inação humana queimam Brasília todos os anos”, afirmam em coluna n’O Eco. “A ação humana é representada por incêndios criminosos, acidentais ou não, cujos focos de origem estão próximos aos fragmentos de vegetação seca. Já a inação parte, principalmente, do poder público, tanto na esfera federal quanto distrital, que devem contar com maior efetivo para controle, auditoria, fiscalização e educação ambiental.” Os pesquisadores ainda apontam o controle, a fiscalização e a educação ambientais como os eixos de prevenção de incêndios.
🔸 De jingles a figurinhas de WhatsApp, 85 candidatos a vereador declararam gasto com três empresas que fornecem conteúdos gerados por inteligência artificial. O Aos Fatos revela que ao menos 38 deles publicaram os conteúdos sem avisar ao eleitor sobre o uso da tecnologia – o que contraria a resolução do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) publicada em fevereiro. Segundo a norma, o candidato tem “o dever de informar, de modo explícito, destacado e acessível que o conteúdo foi fabricado ou manipulado e a tecnologia utilizada”. A Video AI Inteligência Artificial Ltda., que oferece pacotes para produção de artes para materiais gráficos, redes sociais e figurinhas de WhatsApp, foi a principal contratada. Ao todo, a empresa recebeu até o dia 17 de setembro mais de R$ 15 mil, pagos por 52 candidatos.
📮 Outras histórias
Morador do Vidigal, zona sul do Rio de Janeiro, desde os 4 anos, o professor de futebol Paulo Cesar Bento, o Cypa, dedica mais de 30 anos a treinar crianças e adolescentes da comunidade, unindo o amor pelo futebol e o acolhimento. “O futebol é um cimento que une. Fazemos futebol para formar caráter, para que essas crianças cresçam com dignidade e respeito. O futebol constrói isso”, afirma Cypa ao Voz das Comunidades. Para o educador, seu papel vai além do esporte: ao lidar com crianças que convivem com as desigualdades sociais no cotidiano, é necessário fazer também um trabalho de sensibilidade abordando temas como respeito às diferenças, diversidade e antirracismo. “O campo de futebol é como uma ilha cercada por vários problemas e aqui é o lugar do acolhimento. Essa criança precisa de acolhimento, precisa ser entendida e orientada”, diz.
📌 Investigação
No centro da crise de opioides nos Estados Unidos, a farmacêutica Mundipharma repete táticas de venda no Brasil, com a recrutação de médicos para prescrever seus remédios. O especial “Mundo da Dor”, investigação do Metrópoles em colaboração com outros 10 veículos de diferentes países, mostra que o presidente da Sociedade Brasileira de Estudo da Dor (Sbed), Carlos Marcelo de Barros, deu uma aula para a farmacêutica em 2023 sobre casos clínicos oncológicos. O profissional recebeu US$ 900 pela aula – cerca de R$ 4,9 mil – e relata que 80% do conteúdo apresentado foi de sua autoria e 20% foi orientação da empresa. Já a Sbed recebeu, entre 2019 e 2023, US$ 39 mil – cerca de R$ 214,8 mil – em investimentos da Mundipharma.
🍂 Meio ambiente
Maior desmatador do Pantanal, o pecuarista Claudecy Oliveira Lemes forneceu gado para gigantes do setor de carne bovina, como JBS, Marfrig e Minerva. As informações estão em um relatório publicado pela organização Mighty Earth. Em parceria com a Repórter Brasil e a organização holandesa AidEnvironment, o estudo ainda mostra que duas unidades dos frigoríficos abastecidos por Lemes vendem carne para os principais grupos varejistas em operação no Brasil, incluindo Carrefour, Grupo Pão de Açúcar, Grupo Mateus e Sendas (proprietário do Assaí Atacadista). De acordo com investigação de autoridades policiais e ambientais, Lemes foi responsável pela devastação de uma área de 81,2 mil hectares no Mato Grosso.
📙 Cultura
Patrimônio cultural e imaterial de Sergipe, as tototós podem desaparecer devido à falta de incentivo do poder público para sua preservação. As tototós são barcos de madeira motorizados utilizados para fazer a travessia entre os municípios de Aracaju e Barra dos Coqueiros, mas foram esquecidas desde a inauguração da ponte que ligou as duas cidades em dezembro de 2006. Antes da ponte, alguns barqueiros relataram carregar mais de 500 pessoas por dia. Segundo a Mangue, não há sequer divulgação ou inclusão das tototós nos roteiros turísticos. “Não vem muito turista, só alguns gatos pingados, um casal ou dois. Não tem nada para ver aqui né? Não tem lugar de embarque e desembarque decente, não tem nenhum atrativo. O governo e a prefeitura nunca tiveram interesse em fazer nada para o canoeiro,” diz o barqueiro Pedro dos Santos.
🎧 Podcast
Embora o número de eleitores tenha aumentado 14% no último ano, com um crescimento de mais de 2 milhões de mulheres, segundo os dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ainda é um desafio envolver jovens na política. No mesacast “Substantivo Feminino”, produção da Gênero e Número, em parceria com a Rede Mulher Empreendedora, Internet Lab, Casé Fala e Dia Estúdio, a jornalista Nath Braga, a psicóloga e diretora executiva da Girls Up Brasil, Letícia Bahia, e a ativista pela educação e candidata a vereadora em São Paulo, Jady Verissimo, debatem como desmistificar a política e torná-la mais acessível a essa população, sobretudo abrindo espaço para mulheres jovens.
👩🏾⚕️ Saúde
Câncer, depressão e redução da fertilidade são alguns dos conteúdos desinformativos associados ao aborto que circulam pelas redes sociais. Em parceria com a Agência Lupa, o Catarinas analisou os conteúdos mais comuns sobre o tema nas plataformas e que são também disseminados em narrativas supostamente “pró-vida”. Embora existam evidências científicas de que o procedimento de saúde é seguro quando feito de maneira legal e por profissionais capacitados, a maioria das publicações com desinformação é voltada a esse tema. A reportagem também identificou discursos distorcidos sobre a legislação brasileira em relação ao aborto, principalmente sobre a idade fetal em que o procedimento pode ser realizado.