O caminho do ouro ilegal e os quatro anos da tragédia de Brumadinho
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🔸 A experiência em saúde com o povo Zo’é, situado no noroeste do estado do Pará, é um exemplo para o atendimento na terra Yanomami: “Em poucas palavras, trata-se de resolver os problemas dentro do território e montar um sistema de saúde baseado na diversidade de culturas e comunidades e em variáveis sociais e epidemiológicas. Isso significa abandonar o modelo baseado em um indivíduo, um caso clínico ou uma determinada patologia. A ferramenta central desse modelo não seriam os grandes hospitais e cidades, e sim pequenos centros de saúde nas vilas e aldeias”, escrevem Marcos Colón e Erik Jennings. Em artigo na piauí, os dois detalham o modelo que valoriza o conhecimento médico tradicional dos indígenas, evita tirar pacientes do território onde vivem e prepara agentes para trabalhar em equipes multidisciplinares.
🔸 Diante da omissão do último mandato, que ignorou dezenas de pedidos de ajuda dos Yanomami, representantes da gestão bolsonarista como Damares Alves, ex-ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, negam as acusações. O Aos Fatos lista quais as atribuições de cada órgão do governo na seara da assistência aos indígenas. No decreto que regulamentou a pasta comandada por Damares, por exemplo, constava o desenvolvimento de políticas públicas em favor das comunidades indígenas. Agora, embora o decreto do atual Ministério dos Direitos Humanos não tenha essa informação, o ministro Silvio Almeida anunciou nesta semana uma série de ações para atender aos Yanomami.
🔸 “A desnutrição entre os Yanomami é uma das mais graves do mundo”, afirma o médico Paulo Cesar Basta, doutor em Saúde Pública, um dos mais experientes em saúde Yanomami no Brasil. Na Agência Pública, Rubens Valente esmiúça os dados de desnutrição coletados pelo Ministério da Saúde na terra indígena em Roraima. Os números indicam déficits de peso para idade em torno de 50% e déficits de estatura para a idade em torno de 80%. A causa da desnutrição do povo Yanomami está vinculada à explosão da invasão dos garimpeiros no território durante o governo de Jair Bolsonaro (PL).
🔸 Falando em garimpo: qual é o caminho do ouro da extração ilegal até as joalherias? O esquema é amplamente documentado. O Instituto Escolhas revelou que 47% da produção de ouro no Brasil em 2021 foi registrada sob títulos “fantasmas” (sem indícios de extração) ou sob títulos referentes a áreas onde há indícios de garimpo além dos limites territoriais permitidos. Nestes casos, o garimpeiro declara que o ouro obtido ilegalmente foi retirado da área regularizada. O Nexo conversa com especialistas em mineração para explicar a lavagem de ouro vindo de terras indígenas. Segundo eles, as fraudes sobre a cadeia de rastreabilidade do ouro são tão grosseiras atualmente que medidas simples já mudariam o cenário.
🔸 O ministro da Justiça, Flávio Dino, afirmou que a pasta vai buscar o “sufocamento” financeiro das empresas que praticam a extração ilegal. Ele mencionou uma Ação Direta de Inconstitucionalidade apresentada ao Supremo Tribunal Federal no ano passado. Como informa a CartaCapital, o texto questiona uma norma que permite a comercialização de ouro com base na “presunção da boa-fé” das informações prestadas pelos vendedores sobre a origem da mercadoria. Segundo ele, caso a norma seja eliminada pela Corte será possível cortar um dos canais pelos quais essas organizações criminosas operam.
📮 Outras histórias
Parado desde 2016, o Teleférico da Providência, na primeira favela do Brasil, está em reforma. A promessa é de que volte a operar no segundo semestre deste ano, para atender os 5 mil moradores do Morro da Providência, na zona portuária do Rio de Janeiro. O Voz das Comunidades conta que o teleférico foi inaugurado em 2014 e funcionou só por dois anos. Daí a desconfiança de moradores como Dona Jura, de 67 anos, proprietária do Bar da Jura: “Eu acho que agora vai, estou acreditando. A gente achava que não ia voltar, porque o governo passado não fez nada nem falou sobre. Pra mim, vai ser tudo de bom. Vai favorecer o morador, como também vai circular mais pessoas”.
Depois de contestar o direito de indenização ao pai adotivo de uma vítima da tragédia de Brumadinho (MG), a Vale terá de indenizá-lo, por decisão da Justiça. A empresa se recusava a pagar porque o pai, embora tenha criado o jovem desde os seis meses de idade, não havia formalizado a adoção. O BHAZ lembra que um acordo firmado em 2019 entre a Vale e o Ministério Público do Trabalho determinou que a mineradora pagasse uma indenização por danos morais de R$ 500 mil a familiares das vítimas do rompimento da barragem.
📌 Investigação
Sem saneamento básico, as doenças e enchentes são parte da rotina dos moradores do Canal da Vovozinha, comunidade formada por casebres de taipa, no bairro de Santo Amaro, área central de Recife. Já são dois anos desde que foi sancionado o Marco Legal do Saneamento, mas quase 35 milhões de pessoas ainda vivem em situação similar ao da comunidade recifense. “Chikungunya, eu já tive; a maioria dos vizinhos aqui também. Dengue e zika também. Foi horrível: o corpo parece que levamos uma pisa, porque dói os ossos, as mãos ficam inchadas”, afirma Raquel Maria da Silva, de 52 anos. O Projeto Colabora trata dos problemas cotidianos enfrentados por quem vive em áreas onde o tratamento de água e esgoto ainda não chegou.
🍂 Meio ambiente
Já se passaram quatro anos desde que a barragem da Vale rompeu em Brumadinho (MG) e lançou 12 milhões de metros cúbicos de rejeitos de mineração no rio Paraopeba, deixou cerca de 272 mortos e destruiu 297 hectares de Mata Atlântica. O rastro que ficou nas águas nem sequer tem data para recuperação, mesmo diante da relevância da bacia do Paraopeba – responsável pelo abastecimento de 48 municípios e um dos mais importantes afluentes do rio São Francisco. Com pouca transparência, a empresa destinou mais dinheiro de indenização a projetos de infraestrutura e de fortalecimento do serviço público mineiro do que na recuperação ambiental da bacia hidrográfica. O próprio governador Romeu Zema teria usado a verba da indenização socioambiental para obras públicas. O Eco mostra como a lama da mineração continua a assombrar o estado de Minas Gerais.
Primeiro bioma a ser destruído ao longo da colonização, a Mata Atlântica possui uma biodiversidade que permanece nos menos de 10% de sua cobertura remanescente. Em coluna para o Fauna News, o biólogo, doutor em Zoologia pelo Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro e pesquisador, Thiago Mariani, traz as hipóteses científicas estudadas sobre a razão para a enorme biodiversidade encontrada na Mata Atlântica, entre as teorias do refúgio, dos efeitos de relevo e da convergência de rios.
📙 Cultura
“Milhares de casas amontoadas, ruas de terra /Esse é o morro, a minha área me espera.” Esse é o trecho da música “Fim de Semana no Parque”, dos Racionais MC’s. A origem das periferias como são conhecidas hoje está atrelada à expansão da cidade de São Paulo, mas nem sempre foi assim, já que, até 1900, quase toda a população vivia no triângulo entre os rios Tietê e Pinheiros. Foi ao longo do século 20 que a população preta e pobre passou a ser empurrada para as margens, também ocupada por migrantes de todas as regiões do país. Em especial da Agência Mural, o jornalista Matheus Souza investigou a urbanização da capital paulista, a ocupação das periferias e a criação de suas identidades a partir da discografia do grupo de rap mais conhecido do Brasil.
Mais uma vez, o Oscar não indicou nenhuma mulher à categoria de melhor direção. Embora os dois últimos troféus tenham sido levados por diretoras, apenas sete mulheres foram indicadas em 95 anos de premiação. Logo após a divulgação dos indicados, a associação Women In Film publicou nota criticando a Academia. No último ano, pelo menos quatro mulheres tiveram destaque da crítica e do público, com potencial de serem elegíveis à estatueta. A revista O Grito lembra que a falta de mulheres é um problema que vai além do Oscar e se estende por toda a cadeia de produção da indústria cinematográfica.
🎧 Podcast
“Duas histórias de certezas que são abaladas de forma abrupta e definitiva.” Assim Branca Vianna, apresentadora do Rádio Novelo Apresenta, sintetiza o episódio de hoje da produção da Rádio Novelo. O primeiro ato parte de uma história de Marcos Tibiriçá, que, aos 17 anos, foi intérprete dos Harlem Globetrotters, equipe de basquete dos Estados Unidos que viaja o mundo fazendo apresentações performáticas. Numa ponte aérea entre Rio e São Paulo, tudo ficou estranho. No segundo ato, histórias de traição e espionagem derrubaram a imagem da Varig para o historiador Alexandre Fortes, cuja família girava em torno da maior companhia de aviação brasileira do século 20.
🏃🏾♂️ Esporte
“O skate me fez sentir autossuficiente, para terminar uma relação que não era boa e me dedicar a minha carreira, na psicologia.” A afirmação é de Camila Alves, fundadora do Skate Mania, um coletivo de skate feminino da Zona Sul de São Paulo, que hoje conta com 235 skatistas e virou até marca de roupas e acessórios associados à prática do esporte. A Emerge Mag narra a história do grupo, que busca conectar mulheres no skate e levar as relações para muito além das pistas.