As câmeras dos policiais de SP e a licença de Belo Monte
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🔸Quase um mês se passou desde a primeira chuva forte no Rio Grande do Sul – e há previsão de mais um início de semana chuvoso no estado. Desde o início do mês, já foram registradas 166 mortes e, na sexta-feira, Porto Alegre enfrentou alagamentos em novos bairros. Em denúncia recente, engenheiros do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) afirmaram ter feito um um pedido de reparos urgentes em quatro casas de bombas de Porto Alegre, ainda em novembro do ano passado. Depois de uma semana dando respostas evasivas para a denúncia, a gestão do prefeito Sebastião Melo (MDB), enfim, se manifestou, conta o Sul21. Melo afirmou que vai investigar por que os reparos não foram feitos. O diretor-geral do Dmae, Maurício Loss, alega que não houve tempo hábil para os reparos. Com previsão de um ciclone extratropical que vai causar chuvas, ventania e temporais isolados em parte do estado, como informa o Agora no RS, as aulas nas escolas gaúchas estão mais uma vez suspensas.
🔸 Principal produtor de arroz do país, o estado já perdeu 22 mil hectares de lavouras do grão, e outros 18 mil estão parcialmente submersos. O preço do alimento já aumentou em supermercados pelo país, mas não vai faltar arroz. Isso porque a maior parte da safra deste ano já foi colhida, e o governo vai incentivar a importação de grãos de outros países. A Agência Lupa responde às principais dúvidas sobre o abastecimento de arroz, lista os principais estados produtores do Brasil e de onde vem o produto que importamos.
🔸 O laboratório de pesquisas de desinformação digital da UFRJ está sob ataque de bolsonaristas. O NetLab virou alvo depois de publicar pesquisas e relatórios acerca das mentiras espalhadas sobre a atuação do poder público em meio às enchentes no Rio Grande do Sul. O Núcleo revela que influenciadores bolsonaristas e políticos da oposição, em especial o deputado Marcel van Hattem (Novo-RS), vem se valendo da política de transparência do NetLab para associar as pesquisas feitas aos financiamentos recebidos via entidades federais. O grupo de pesquisa explica que é um laboratório independente e ressalta que não sofre interferência de governos ou financiadores.
🔸 Os policiais de São Paulo agora poderão decidir a hora de gravar (ou não) ocorrências que ocorrem durante operações. A característica dos 12 mil equipamentos que o governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) vai comprar foi considerada um “retrocesso inominável” pelo ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida. Hoje, as mais de 10 mil câmeras usadas pela PM têm gravação ininterrupta. O Notícia Preta destaca que várias entidades, como o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), o Núcleo de Estudos da Violência da USP, o Fogo Cruzado e o Instituto Vladimir Herzog, lançaram nota conjunta mostrando preocupação com as novas câmaras. “Ao extinguir a funcionalidade de gravação ininterrupta, a PM deixa a cargo dos próprios policiais a escolha sobre o acionamento das câmeras, o que pode diminuir os efeitos positivos do programa. Diferentes estudos no Brasil e no exterior indicam que, em média, os policiais não acionam a câmera corporal em 70% das ocorrências atendidas”, diz a nota.
🔸 A propósito: a Muralha Paulista, outra “novidade” do governo de SP para a segurança pública, tem megaestrutura de espionagem da população e custo elevado, com esquema de vigilância integrada, captação de dados, imagens e compartilhamento das informações. É desenvolvido em parceria com a empresa árabe Edge Group, representada no Brasil por Marcos Degaut, ex-secretário do Ministério da Defesa no governo de Jair Bolsonaro. Em artigo no Outras Palavras, Mariana Braghini, que estuda a privatização da guerra e empresas militares privadas no mundo pós-guerra, explica que se trata de uma tecnologia criada para contextos de conflito armado internacional. “O que está sendo feito é uma transposição dessa concepção para uma política de segurança pública. Guerra e segurança pública são campos diferentes, que têm raízes diferentes e não podem contar com as mesmas soluções. Quem pensa segurança pública como guerra não pensa em soluções de longo prazo, pensa em violação de direitos civis como emergência em tempos de exceção.”
📮 Outras histórias
Um dos mais antigos do Brasil, o Quilombo Quingoma, na região metropolitana de Salvador, enfrenta violência, racismo e injustiças ambientais. Embora certificado como território quilombola desde 2013, o processo de regularização fundiária está paralisado, deixando a área vulnerável à especulação imobiliária e grilagem. A Marco Zero relata que projetos como a Via Metropolitana e empreendimentos imobiliários têm invadido o território, resultando em perda de áreas de Mata Atlântica. Já a comunidade recebe ameaças de morte e violência, e há lideranças vivendo sob proteção. “O capitalismo nos ataca com uma proposta de progresso, e ser quilombola é acolher e partilhar, essa é uma das nossas principais características como coletivo”, diz Rejane Rodrigues, liderança no Quingoma que atualmente vive reclusa sob medida protetiva.
📌 Investigação
Em áudio: laudos questionáveis, conflitos de interesse e maquiagem nos dados são alguns dos problemas envolvendo as barragens de rejeitos em Minas Gerais, onde estão as estruturas com mais risco de rompimento e palco das tragédias socioambientais em Brumadinho e Mariana. A mineração altera a paisagem, deixando buracos enormes em serras, e a vida das pessoas que vivem nos arredores – com medo constante. O “Ciência Suja”, produção da NAV Reportagens, revela como a ciência também é “dobrada” pelas mineradoras, com documentos fraudulentos e até influência em universidades, com o objetivo de avançar com os empreendimentos.
🍂 Meio ambiente
Pesquisadores de dez instituições defendem mudanças na governança e operação das barragens da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, ao renovar a licença de empreendimento, vencida em 2021. A partir de dados da literatura científica de ações do Ministério Público Federal, os especialistas contextualizam o impacto da hidrelétrica em artigo publicado na revista científica “Perspectives in Ecology and Conservation”. A Agência Bori ressalta que, desde a inauguração da última das 18 turbinas, em 2019, a usina desvia água do rio Xingu em uma área conhecida como Volta Grande. As consequências são o declínio da reprodução dos peixes e quelônios da região, perda de vegetação adaptada às cheias, aumento do risco de extinção de espécies endêmicas e mudanças nos padrões de sedimentação do rio, o que afeta a qualidade da água.
📙 Cultura
Todos os anos no dia 6 de janeiro em Potengi, no Ceará, é possível ver o tradicional Reisado de Caretas comandado pelo Mestre Antônio Luiz desde 1986. O grupo é um dos mais antigos reisados cearenses e um dos poucos que preserva o estilo com máscaras de madeira decoradas com couro de bode, como conta a Cajueira, na série “Tamborim”. A apresentação carrega elementos culturais e simbólicos. Ao todo, são 12 caretas vestidos com camisas azuis, calças vermelhas e máscaras feitas com pau de mulungu. Em 2022, o Reisado de Caretas foi reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial do Estado do Ceará e Patrimônio Cultural Imaterial do Município de Potengi.
🎧 Podcast
Com mais de 50 anos de estudos dedicados à Amazônia, a antropóloga, pesquisadora e professora do Centro Latino-Americano da Universidade da Flórida, nos Estados Unidos, Marianne Schmink relata as principais transformações de pequenos povoados na região em cidades, como São Félix do Xingu (PA), onde há também uma grande concentração de gado. O “LatitudeCast”, produção da Amazônia Latitude, conversa com Schmink sobre as dinâmicas socioeconômicas e ambientais da Amazônia. “Os indígenas estão numa luta pela vida. E não pela vida somente deles, mas da região como um todo. A região amazônica é um dos locais críticos para a mudança climática. Algo que hoje está começando a ser entendido é como a questão da água afeta a agricultura no continente com as secas”, afirma.
🙋🏾♀️ Raça e gênero
“No mestrado, a orientação foi a etapa mais difícil para mim, em uma universidade que não foi pensada para as mulheres pretas e para mães pretas”, afirma a pesquisadora Márcia Tavares, moradora do bairro de Periperi, no Subúrbio Ferroviário de Salvador. Ela pesquisa a violência doméstica contra mulheres na região pelo Instituto de Geografia da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Segundo o Entre Becos, com três filhos, Márcia é uma de muitas universitárias que enfrenta dificuldades para conciliar a rotina acadêmica e a maternidade. “Nos eventos acadêmicos, por exemplo, poucos oferecem espaços onde as mães possam deixar seus filhos com pessoas preparadas”, explica.