Os brasileiros em situação de rua e os canais online de caçadores
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🔸 Um em cada mil brasileiros vivia em situação de rua no país em 2022. São ao todo mais de 236 mil pessoas, a maioria homens (87%) e negros (68%). Os dados integram relatório do Ministério dos Direitos Humanos a partir de decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que recomendou a elaboração de um diagnóstico e as ações a serem desenvolvidas pelo Política Nacional para a População em Situação de Rua. O Notícia Preta detalha os achados do documento, segundo o qual é primordial fortalecer a atuação dos Centros de Referência de Assistência Social (Cras) e de outros equipamentos, serviços e projetos para prevenir situações de vulnerabilidade.
🔸 O impacto da fome na saúde mental dos brasileiros. Segundo relatório da ONU lançado em julho, 21 milhões de pessoas – cerca de 10% da população do país – não têm o que comer todos os dias. O Joio e o Trigo traça paralelos entre dados sobre insegurança alimentar e pesquisas sobre saúde. Em agosto, o Datafolha mostrou que um terço dos brasileiros relata ansiedade, por exemplo, sempre ou frequentemente. O impacto é maior nas classes D e E, em que 37% declaram ter problemas com sono com grande frequência, ante 25% das classes A e B. No Distrito Federal, o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) de Taguatinga é representativo da situação da capital. Cláudia Sousa, psicóloga do serviço, conta que não é raro que pessoas usem medicações prescritas para dormir a fim de “burlar a fome”.
🔸 Ao menos três câmeras que vigiavam a casa de Mãe Bernardete não estavam funcionando e não foram trocadas por falta de verba, conta Wagner Moreira, coordenador do IDEAS – Assessoria Popular, organização responsável por gerir o Programa de Proteção aos Defensores dos Direitos Humanos na Bahia. A líder quilombola e espiritual foi morta a tiros dentro de casa, em agosto, no Quilombo Pitanga de Palmares, em Simões Filho (BA). A revista Afirmativa informa que, das sete câmeras que monitoravam a casa, uma estava quebrada e duas filmavam o chão no dia da execução.
🔸 O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) faz amanhã o tradicional discurso de abertura na 78ª Assembleia Geral da ONU. De acordo com informações antecipadas pelo UOL, ele deve defender que organismos internacionais tenham mais espaço para vozes de países emergentes. A CartaCapital lembra que a fala de Lula é tida como uma oportunidade de resgatar o prestígio do Brasil no encontro, depois do isolamento causado pela fala de Jair Bolsonaro (PL) na edição interior. O petista também deve tratar de temas como desigualdade social e o compromisso com a pauta ambiental.
📮 Outras histórias
A deputada estadual Laura Sito (PT) foi agredida pela Guarda Municipal com spray de pimenta e tiro de borracha quando entregava marmitas para membros do Movimento Nacional de Luta pela Moradia (MNLM), numa ocupação em Porto Alegre. “Se fazem isso comigo, uma deputada, imagino como seria uma ação de reintegração de posso com os ocupantes que não são parlamentares”, afirma a parlamentar. O Sul21 destrincha o caso da ocupação ReXistência POA, no centro da capital gaúcha, que teve início na manhã do último sábado. Horas depois, o prefeito Sebastião Melo (MDB) anunciou que deve desistir da venda do imóvel.
📌 Investigação
Cursos para montagem de armas de fogo, além de peças e guias para fabricação, tornaram-se comuns no YouTube por meio de canais de caçadores. O Núcleo identificou cinco deles na plataforma, com centenas de vídeos e até 40 mil inscritos. A reportagem ainda apurou que o conteúdo – potencialmente ilegal e que viola as políticas de uso do Youtube – circulou entre conversas em fóruns online utilizados para assédio direcionado contra pessoas e instituições. Um deles contava com usuários que planejavam ataques coordenados em reuniões do Judiciário brasileiro no Zoom.
🍂 Meio ambiente
As espécies invasoras geram anualmente prejuízo global de US$ 423 bilhões e já influenciaram em 60% a extinção de animais e plantas. A informação é resultado de uma análise inédita feita pela Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES, na sigla em Inglês). Segundo O Eco, as espécies invasoras competem por espaço e alimentos com as demais, encolhendo a biodiversidade, provocando extinções e transmitindo doenças. Elas se dispersam pelo território a partir do comércio, de criações diretas e pelos meios de transporte em nível global. O Brasil costuma computar com mais frequência os danos causados por essas espécies para a produção agrícola, mas não para as perdas ecossistêmicas.
Resíduos sólidos, especialmente plásticos, estão presentes em áreas habitadas pelo peixe-boi-marinho, ameaçado de extinção no país. É o que mostra pesquisa feita pela Universidade Federal da Paraíba, em parceria com a Fundação Mamíferos Aquáticos e o Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá. A Agência Bori explica que o estudo buscou a reinserção de seis peixes-bois-marinhos – reabilitados após encalhe – na Bahia, na Paraíba e em Sergipe, e analisou seus locais preferidos dentro de 82 mil metros quadrados. A presença de resíduos sólidos foi observada em 44% das áreas utilizadas pelos mamíferos.
📙 Cultura
Em áudio: com a polarização entre a Rússia e os países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) mais acirrada pela Guerra da Ucrânia, o escritor e economista Paulo Gurgel Valente decidiu trazer à tona um episódio da Guerra Fria. No romance histórico “A Morte do Embaixador Russo: Um Relato de Espionagem no Brasil”, ele recria a misteriosa morte por afogamento do então embaixador russo Ilya Tchernyschov, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, em 1962, na véspera do pronunciamento do presidente dos Estados Unidos John F. Kennedy sobre a crise dos mísseis em Cuba. O “451 MHz”, produção da Quatro Cinco Um, conversa com Gurgel e com o diplomata Rubens Ricupero, que prefacia o livro.
Com música, teatro e humor, a banda Joelho de Porco foi uma das pioneiras no rock brasileiro e revolucionou a cena nas décadas de 1970 e 1980. A trajetória do grupo pode ser revivida no documentário “Meu Tio e o Joelho de Porco”, dirigido por Rafael Terpins. “Acredito que eles eram tão fora da curva que a ditadura militar não conseguia decifrar ou entender aquilo. Não havia um discurso, mas sim atitudes porque tudo era anárquico”, conta o diretor. A Ponte aponta que a produção, tal como a banda, não é convencional e se vale de recursos, para além de imagens de época e de entrevistas, como animações e desenhos.
🎧 Podcast
Da Lei Carolina Dieckmann à Lei de Violência Política, a advogada e pesquisadora Mariana Valente reúne dez anos de pesquisa sobre violência de gênero e debates sobre feminismo no universo digital no livro “Misoginia na Internet – Uma Década de Disputa por Direitos”. No “Guilhotina”, podcast do Le Monde Diplomatique Brasil, Valente, que também é diretora do InternetLab, detalha como o direito digital avançou no país, principalmente em relação a comportamentos violentos contra as mulheres, as pessoas negras e a população LGBTQIA+.
✊🏽 Direitos humanos
Há mais de dez anos, o grupo Emergir busca dar apoio emocional para mulheres enlutadas na região do Campo Limpo, zona sul de São Paulo. A Agência Mural narra a origem do projeto, que surgiu em 2011, depois de duas amigas passarem por perdas de entes queridos com poucos meses de diferença. O Emergir se tornou um espaço de acolhimento e escuta entre moradores. “As pessoas que participam do grupo são pobres. Aqui no bairro tem enchente, tem gente que perde a casa inteira e o Estado não olha isso. Isso também gera um sentimento de luto”, afirma a integrante do grupo Minervina Alves.