A falta de brasileiros para o Mais Médicos e a monetização de "redpills"
Uma curadoria do melhor do jornalismo digital, produzido pelas associadas à Ajor. Novos ângulos para assuntos do dia
🔸 Muito discurso de combate à fome no novo governo, pouco orçamento para a reforma agrária. Embora programas de agricultura familiar como o de Alimentação Escolar (PNAE) e o de Aquisição de Alimentos (PAA) tenham sido retomados, a distribuição das terras quase não é mencionada, além de ser lida com um orçamento estrangulado deixado pelo governo Bolsonaro. O Joio e O Trigo detalha que a “aquisição de terras para reforma agrária” terá apenas R$ 2,4 milhões no orçamento em 2023. Já a concessão de crédito e assistência às famílias, R$ 48 milhões. Valores muito aquém do R$ 1 bilhão requisitado pelo Grupo de Trabalho de Desenvolvimento Agrário do Governo de Transição para cada uma das ações. “Dá pra comer, dá pra aplicar medidas paliativas”, diz a assentada Ceres Hadich, que integra a Coordenação Nacional do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra). “Erradicar a fome passa por repensar tanto a estrutura fundiária no campo quanto na cidade”, completa.
🔸 A política de dividendos da Petrobras está na mira da nova gestão. O presidente da petroleira, Jean Paul Prates, realizou sua primeira teleconferência com analistas e investidores, desde que assumiu o comando da empresa. A distribuição de dividendos chegou a R$ 215,7 bilhões em 2022, um número recorde criticado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), seus ministros e aliados. Ao longo da reunião, Prates defendeu equilíbrio entre a remuneração aos acionistas e os investimentos no país, além de questionar a venda de refinarias. Segundo a epbr, ele afirmou, ainda, que vai explorar atividades que preparem a Petrobras para uma transição energética a longo prazo.
🔸 A cada dois minutos, uma mulher é estuprada no Brasil, estima estudo publicado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). Baseada em dados da Pesquisa Nacional da Saúde do IBGE e do Sistema de Informação de Agravos de Notificação, do Ministério da Saúde, utilizando 2019 como ano de referência, a pesquisa chegou ao número de 822 mil estupros por ano, como informa a Paraíba Feminina. O estudo indica que, dessa estimativa de casos, apenas 8,5% chegam ao conhecimento da polícia e 4,2% são identificados pelo sistema de saúde.
🔸 Acusado de ocultação de patrimônio e de uso de avião da FAB para fins privados, o ministro das Comunicações, Juscelino Filho (União Brasil), voltou atrás sobre dar entrevistas e adotou um silêncio conivente. O Headline recorda que ele já estava enfrentando dificuldades para responder às acusações sobre o “orçamento secreto”, em que teria direcionado cerca de R$ 50 milhões em emendas parlamentares para a região onde reside sua família, em Vitorino Freire (MA), incluindo recursos destinados a asfaltar uma estrada que passa entre as propriedades familiares. O Congresso em Foco conta que dois deputados bolsonaristas Nikolas Ferreira (PL-MG) e Sanderson (PL-RS) pediram à PGR (Procuradoria-Geral da República) que o ministro seja investigado, e relata que o União Brasil se tornou a principal dor de cabeça de Lula (PT) entre os partidos que integram os ministérios.
🔸 “Atualmente, cerca de 4.000 equipes de saúde não dispõem de médicos para fazer o atendimento. Promessa de campanha, o governo quer fortalecer o Mais Médicos, programa de provimento de profissionais lançado em 2013”, escreve a jornalista de saúde, Lígia Formenti, em coluna ao Jota. Levantamento feito pelo Ministério da Saúde aponta que mais de 56 mil pedidos para credenciamento de equipes e de serviços de atenção primária à saúde não foram analisados nos últimos anos. São solicitações para ampliação de equipes de saúde da família, ações de saúde bucal ou informatização das unidades de atendimento. Diante da grande rotatividade de médicos brasileiros na atenção primária, o governo tem o desafio de criar atrativos que ampliem a permanência de profissionais do país no Mais Médicos.
📮 Outras histórias
Nova operação policial no Complexo da Maré, formada por 16 favelas na zona norte do Rio de Janeiro, aterroriza crianças e professores. A ação começou ontem por volta das 10h da manhã, com uma intensa troca de tiros e voos rasantes de helicóptero que sobrevoava e disparava em partes do território, deixando educadores de cerca de 20 escolas em estado de terror ao tentar manter as crianças seguras. O Maré de Notícias lembra que o uso de helicópteros blindados para atirar está proibido, segundo as normas estabelecidas pela “ADPF das Favelas”, julgada pelo Supremo Tribunal Federal, que também prevê o distanciamento de ações em áreas com unidades escolares e a presença de socorro às vítimas.
📌 Investigação
Comunidades da “machosfera” e termos como “redpill” vieram à tona após o “coach de masculinidade” Thiago Schutz ameaçar uma humorista que ridicularizou um de seus vídeos. Suas publicações, porém, são apenas uma parte desse ecossistema. O Aos Fatos analisou conteúdos de 80 canais no YouTube e 20 perfis no TikTok masculinistas, que juntos somam quase 8 milhões de seguidores e mais de meio bilhão de visualizações. Entre os códigos utilizados pelos homens está uma série de sinônimos pejorativos para a palavra “mulher”, além de outros adjetivos ofensivos. Embora as duas plataformas afirmem possuir políticas contra discurso de ódio, os usuários não só estão ativos, como têm sua misoginia monetizada por meio de anúncios, programas de assinaturas, vendas de cursos e de ebooks.
🍂 Meio ambiente
Falta de água, desmatamento da Caatinga e contaminação. O agronegócio chegou em Tabuleiro do Norte, no Ceará, encurralando as comunidades locais. O drama começou no início de 2020, quando a Nova Agro Agropecuária Ltda, produtora de algodão e soja, chegou à região. Desde então, os agricultores familiares da Chapada do Apodi, onde o município está localizado, veem seus poços secando. O cerco se fecha também em forma de intoxicação por agrotóxicos: se as cidades vizinhas já sofriam com o uso de pesticidas por parte de grandes empresas produtoras de frutas irrigadas, os moradores de Tabuleiro do Norte têm motivos de sobra para se preocupar com o excesso dos produtos usados pela Nova Agro. Na série “Falta Água, Sobra Veneno”, o Marco Zero narra a situação enfrentada pelas comunidades da região.
Em fotos: comitiva do governo federal esteve em Atalaia do Norte, no Vale do Javari, no Amazonas, onde o indigenista Bruno Pereira e o jornalista Dom Phillips foram assassinados, em junho de 2022. A Amazônia Latitude registrou o evento, promovido pela Univaja (União dos Povos Indígenas do Vale do Javari), e que reuniu da ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, à embaixadora do Reino Unido no Brasil, Stephanie Al-Qaq. A organização pede que o poder público se comprometa com a proteção aos povos indígenas e demais defensores da Amazônia contra o avanço do garimpo.
📙 Cultura
Desde o século 19, os cubanos vivem com um “bisavô” dos audiolivros. Leitores profissionais narram romances para os enroladores de charutos enquanto estes trabalham. Embora o início da atividade tenha versões diferentes, seu marco inaugural data de 21 de dezembro de 1865, quando o jornal “La Aurora” publicou que cerca de 300 operários mantinham a prática da leitura na fábrica El Fígaro. À revista Quatro Cinco Um, a professora e pesquisadora que já dirigiu o Museu do Tabaco de Havana, Zoe Nocedo Primo, relata que a moda se espalhou por toda a ilha rapidamente. “Posso afirmar que em 1866 já se lia em quase todas as manufaturas de tabaco torcido de Havana, e logo por todo o país”. Uma das marcas mais famosas de charutos, a Montecristo, teria recebido este nome por causa do romance de Alexandre Dumas, “O Conde de Montecristo”.
Cria do Complexo da Maré, o autor Renato Cafuzo lança seu primeiro livro infantil. A obra “Moleque Piranha” se passa em uma favela e aborda a infância e a arte de rua. O Voz das Comunidades descreve que há apenas dois adultos na história, além de todas as personagens serem negras. “Não acho que seja fantasioso contar uma história bonita na favela, mas quando faço é na esperança que tenhamos mais dias assim. E demonstrar que isso é possível pras nossas crianças é importante”, diz Renato, que é desenhista desde a infância e trouxe influências do cartoon para o livro.
🎧 Podcast
O noticiário de economia costuma falar sobre a alta dos preços de produtos e serviços, mas raramente divulga que esse também é um dos efeitos da crise climática. O novo episódio do “Tamo em Crise”, produção da Agência Mural, traça a relação entre o aumento de preço das contas básicas da casa, como alimentos, luz e água, e os impactos ambientais. Para além das tragédias como enchentes e deslizamentos de terra, a questão do clima também afeta o bolso das famílias, principalmente das que vivem nas periferias. As secas, por exemplo, deixam a energia elétrica e os alimentos mais caros.
💆🏽♀️ Para ler no fim de semana
Sensação nas redes sociais, cabelo comprido com mechas loiras e dancinhas malemolentes. Esse é Gabriel Luiz de Souza Andrade, de 17 anos, mais conhecido como Xurrasco 021, cria do Sapo de Camará, favela do bairro Senador Camará, na Zona Oeste da Rio de Janeiro. A revista piauí traz o perfil do adolescente que ganhou o coração dos internautas. Suas danças e seu cabelo já foram motivo de chacota na escola, para onde ele deve voltar neste mês para cursar o último ano do ensino médio, mas agora como rei da internet. Seus objetivos, porém, são semelhantes aos da maioria dos meninos com sua idade e origem: “Por enquanto, só penso em dar uma casa para minha mãe”.