Os brasileiros na Faixa de Gaza e o destino da Chapada dos Guimarães
Uma curadoria do melhor do jornalismo digital, produzido pelas associadas à Ajor. Novos ângulos para assuntos do dia
🔸 Trinta e dois brasileiros aguardam autorização para cruzar a fronteira com o Egito e deixar a Faixa de Gaza, em meio aos intensos ataques de Israel. A operação de repatriação já trouxe ao Brasil 916 pessoas, informa o Metrópoles. Para a volta dos 32 cidadãos, a maioria crianças, há um esforço diplomático em curso. No fim de semana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) conversou com os presidentes de Israel, Isaac Herzog, e do Egito, Abdul Fatah, e o líder da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas. A CartaCapital detalha a conversa a partir de comunicado divulgado pelo Palácio do Planalto. Segundo a nota, Lula reforçou o pedido de instalação de um corredor humanitário entre Gaza e o Egito, a fim de que os civis sejam retirados da zona de confronto entre Hamas e Israel. O texto do governo, no entanto, não faz menção à resposta de Abdul Fatah nem informa se o Egito liberou o acesso dos brasileiros ao Aeroporto Internacional de Cairo.
🔸 Depois de demitir os funcionários do setor de moderação, o X (ex-Twitter) virou terreno fértil para informações falsas sobre o conflito entre Israel e Hamas. O próprio dono da plataforma, o bilionário Elon Musk, indicou perfis que teriam informações confiáveis sobre o confronto. Em seguida, precisou apagar o post: os perfis já haviam disseminado desinformação na rede. O Aos Fatos analisou as 500 publicações mais recomendadas que usaram quatro hashtags relacionadas ao conflito publicadas no Brasil desde o início dos ataques, no dia 7, até a última quarta-feira. Do total, 5% traziam conteúdos já desmentidos e 17% estavam acompanhadas de mídias ou dados que não são passíveis de checagem. A Lupa traz um compilado de informações já verificadas.
🔸 “Não é que a desinformação digital tenha surgido agora nem seja exclusividade do X. É que, ali, ela está fora de controle de maneira quase institucionalizada.” Em artigo no Núcleo, Rodrigo Ghedin mostra como, ao longo de um ano, “incentivos errados e decisões desastrosas” de Elon Musk “transformaram a rede em um dos piores lugares para se obter informações confiáveis”.
🔸 As chuvas em Santa Catarina levaram a um conflito entre indígenas e o governo estadual. O povo Xokleng, que ocupa terras tradicionais na região do Vale do Itajaí, teve seu território alagado depois que autoridades do governo de Jorginho Mello (PL) fecharam as comportas da chamada Barragem Norte, na cidade de José Boiteux. O objetivo era proteger das enchentes cidades como Blumenau, uma das mais ricas do estado. O Nexo explica como funciona a barragem e conta que os indígenas assinaram um acordo segundo o qual receberiam uma série de contrapartidas – não cumpridas pelo governo. A reportagem também resgata a história dos Xokleng, quase dizimados pela colonização no início do século 20. Em tempo: a etnia é autora da ação que levou ao Supremo Tribunal Federal o julgamento sobre o marco temporal.
📮 Outras histórias
Em novembro, o aterro sanitário de Marituba, que recebe o lixo de Belém (PA), vai suspender as atividades por decisão judicial. Todos os dias, chegam lá cerca de 1,5 tonelada de resíduos da capital, da própria Marituba e de Ananindeua. As três prefeituras ainda não apresentaram uma solução para o problema, mas, como revela a Alma Preta, quilombolas das cidades de Bujaru e Acará, no nordeste do Pará, denunciam que empresas querem construir um novo aterro próximo às terras tradicionais. Moradores de 17 comunidades quilombolas da região vêm protestando. Segundo lideranças locais, a área cotada pelas empresas para o aterro abrange uma população de 8 mil habitantes.
📌 Investigação
Em áudio: primeira Reserva Marinha do Brasil, a Reserva do Pirajubaé tornou-se um caso simbólico de injustiça ambiental. Localizado em Florianópolis, em Santa Catarina, o local abriga uma comunidade tradicional de pescadores artesanais que têm perdido seu sustento e suas casas em nome de um suposto desenvolvimento urbano com a construção da rodovia Via Expressa Sul. O segundo episódio de “Ilha Invisível”, produção do Portal Catarinas, destrincha os impactos socioambientais causados pelo empreendimento para famílias de pescadores e para o ecossistema marinho. O podcast é resultado da Bolsa de Reportagem de Justiça Climática, promovida pela Ajor e pelo iCS (Instituto Clima e Sociedade).
🍂 Meio ambiente
O governo do Mato Grosso tenta estadualizar o Parque Nacional da Chapada dos Guimarães, hoje uma reserva federal, que necessita de cuidados especiais pela frágil composição do solo. Em entrevista a’O Eco, o pesquisador Prudêncio Rodrigues de Castro Júnior, professor da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), explica as condições geomórficas do local e analisa a situação política envolvida: “Não sei se o estado do Mato Grosso tem a mesma capacidade que o ICMBio para administrar um parque nacional com essas características”. Para ele, “são necessários mais funcionários, pois os atuais e eventuais voluntários não dão conta da gestão da área, prevenção e controle de incêndios” e fortalecimento das unidades de conservação.
Desde 23 de setembro, pesquisadores tentam entender por que os botos que viviam no Lago Tefé, no Amazonas, estão morrendo. Já foram recolhidas 141 carcaças desses animais nas últimas semanas. Segundo a InfoAmazonia, existem três hipóteses principais: a primeira é sobre a temperatura da água, que chegou nas últimas semanas a 39ºC. A segunda se refere à formação de algas encontradas durante as buscas e que nunca antes tinham sido vistas no lago. A terceira seria a combinação desses dois fatores, ou seja, a alta temperatura e a possível contaminação da água. Há uma corrida contra o tempo para descobrir. Sem as explicações, torna-se difícil determinar as medidas de prevenção e controle para a sobrevivência dos botos.
📙 Cultura
“A música tem o poder de transformar as relações, porque é uma língua que atravessa qualquer tempo e qualquer idade”, relata a musicista Elisa Gatti, conhecida nas redes sociais por “Mãe Musical”. Conforme sua filha crescia, ela começou a compor músicas sobre brincar e explorar, a partir de memórias e de histórias que lhe contavam, além de usar rimas para facilitar a compreensão de temas difíceis pelas crianças, como o divórcio ou o desfralde. O Lunetas conta como a música cria vínculos desde a gestação e acompanha o desenvolvimento físico, social e emocional infantil.
Morador da Tekoá Yvy Porã, na Terra Indígena Jaraguá, em São Paulo, Lucas Kuaray é um jovem de 18 anos que se dedica a manter vivos os grafismos dos Guarani Mbya. Ao Desenrola E Não Me Enrola Lucas conta que a técnica vai além de desenhos ou símbolos artísticos e se relaciona também com a segurança dos povos. “Para a gente, ela serve para proteção da floresta, para o nosso espírito. São espíritos maus e não queremos que eles fiquem de olho na gente. A pintura é feita quando o menino ou a menina muda de criança para adolescente. É uma coisa especial”, diz.
🎧 Podcast
“A gente nunca teve talvez uma experiência Estado democrático na Amazônia, desde as guerras justas até Belo Monte”, avalia o geógrafo Bruno Malheiro, professor da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará. No “Guilhotina”, podcast do Le Monde Diplomatique Brasil, Malheiro aborda seu novo livro “Geografias do Bolsonarismo: Entre a Expansão das Commodities, do Negacionismo e da Fé Evangélica no Brasil”, resultado de dois anos de pesquisas sobre o autoritarismo brasileiro, especialmente na região amazônica.
🏃🏾♂️Esporte
Mais de 40% dos profissionais de futebol que atuam no Brasil afirmam que já sofreram racismo no exercício de suas atividades. É o que mostra pesquisa da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), em parceria com o Observatório da Discriminação Racial no Futebol e a Nike. Os dados foram coletados entre julho e agosto deste ano com profissionais atuantes nas séries A e B do Campeonato Brasileiro masculino e nas séries A1 e A2 do feminino. A Revista Afirmativa reúne as informações e analisa se os casos passaram a ser mais denunciados nos últimos anos. “Estamos falando mais sobre isso, logo, estão denunciando mais. Às vezes um comentário, ‘piada’, imitação, que alguns anos atrás o jogador ou a torcida deixaria passar, hoje não. Está sendo denunciado ao vivo”, afirma José Rezende, psicólogo clínico e esportivo.