Os brasileiros deportados pelos EUA e o descarte de vapes no país
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🔸 Brasileiros deportados dos Estados Unidos chegaram ao Brasil algemados e acorrentados. O voo com migrantes irregulares pousou no país na noite de sábado. O Ministério das Relações Exteriores confirmou a chegada de 88 brasileiros e informou que pedirá explicações ao governo de Donald Trump sobre o que chamou de “desrespeito aos direitos fundamentais” dos cidadãos. O Metrópoles traz o relato de deportados que denunciam abusos e maus-tratos durante o voo rumo ao Brasil. Carlos Vinícius de Jesus conta que “a hélice não estava funcionando, o ar-condicionado não ligava, tiveram que abrir as portas, tinha criança passando mal, tinha senhoras de idade”. Também entre os brasileiros deportados, Aeliton Cândido, morador de Divinópolis (MG), afirma que ficaram sem água, sem alimentação e que foram impedidos de usar o banheiro durante o voo. O avião saiu dos EUA e parou no Panamá por algumas horas para, em seguida, ir até Manaus e, depois, Belo Horizonte, destino final.
🔸 Em gráficos: 11 milhões de pessoas vivem sem autorização no território dos EUA. Levantamento de 2022 apontou que, desse total, 230 mil são brasileiros. O Nexo detalha os números do Pew Research Center e mostra de onde são os imigrantes que vivem no país e estão agora sob ameaça de Trump. O republicano prometeu fazer a maior deportação em massa da história dos EUA.
🔸 A propósito: a política migratória de Trump já sofreu sua primeira derrota. No final da semana passada, a Justiça suspendeu a ordem executiva do presidente que revogava a cidadania automática para filhos de imigrantes indocumentados. O Migra Mundo explica que, em resposta a uma ação movida pelos estados de Washington, Arizona, Illinois e Oregon, o juíz John C. Coughenour considerou a medida uma violação à Constituição de 1868, segundo a qual qualquer pessoa nascida nos EUA é cidadã do país. De acordo com o New York Times, se aplicada, a medida de Trump negaria direitos a cerca de 150 mil crianças nascidas no território estadunidense.
🔸 O Brasil não tem um protocolo para o descarte de cigarros eletrônicos apreendidos pela Receita Federal. Os dispositivos são proibidos no país desde 2019. Em 2024, a Operação Fronteira RFB apreendeu 167 mil unidades de vapes, avaliadas em R$ 4,9 milhões. O Joio e o Trigo conta que a Receita incinera os aparelhos sem reaproveitamento de componentes, como baterias, plásticos e líquidos tóxicos, o que gera impactos ambientais. O próprio órgão reconhece, em nota, que a incineração é a saída “enquanto não vislumbramos uma solução sustentável (total ou parcial) para os cigarros eletrônicos apreendidos”. A reportagem lembra ainda que o Brasil ratificou o Protocolo para Eliminação do Comércio Ilícito de Produtos de Tabaco em 2018, mas os desafios para implementá-lo permanecem.
📮 Outras histórias
A gestão do prefeito Sebastião Melo (MDB) em Porto Alegre gastou R$ 21 milhões em contratos de consultoria desde 2021. O mais caro deles, de R$ 4,4 milhões, prevê estudos para a despoluição do Arroio Dilúvio e a viabilização de novas construções na avenida Ipiranga. A prefeitura, porém, não detalhou sua implementação. O Sul21 apurou que só a São Paulo Parcerias S/A, envolvida em privatizações na cidade, recebeu R$ 8,8 milhões – e também não há detalhes sobre todos os projetos da consultoria. Especialistas vêm questionando a eficiência prática desses contratos. Um exemplo é a Parceria Público-Privada (PPP) que pretende repassar por 35 anos a gestão do lixo da capital para uma empresa. “Há todo um greenwashing de apresentar planos, dizer que está preocupado, que está ouvindo cientistas ou organizações, mas na verdade é um pouco do tradicional ‘para inglês ver’”, afirma Marcelo Kunrath, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
📌 Investigação
A Prefeitura de São Paulo pagou R$ 837 mil ao site de Leo Dias para a produção de conteúdo e publicidade da gestão de Ricardo Nunes (MDB). O valor foi repassado entre 2023 e 2024 e não houve sinalização de que se tratava de material patrocinado, revela a revista piauí. Os pagamentos incluíram R$ 192,5 mil pela cobertura do Réveillon de 2023 na avenida Paulista e R$ 220 mil pelo aniversário da cidade no ano passado. A prática suscita questões sobre transparência na comunicação institucional – em especial porque Nunes fez altos investimentos em publicidade para melhorar sua imagem, depois que pesquisas de aprovação indicaram sua baixa popularidade antes da eleição municipal de 2024.
🍂 Meio ambiente
Cinquenta projetos de turbinas eólicas offshore em tramitação no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) aguardam para sair do papel depois de a Lei Federal 15.097 ser publicada neste mês. São 26 no Ceará, 14 no Rio Grande do Norte, sete no Maranhão e três no Piauí. Segundo a Eco Nordeste, organizações da sociedade civil alertam para o risco da repetição, no mar, dos impactos ambientais e sociais provocados pelas turbinas eólicas no continente, desde o transtorno às espécies marinhas até a perda de saberes e conhecimentos tradicionais das comunidades pesqueiras.
📙 Cultura
“Assim como muitos outros movimentos culturais ligados à nossa ancestralidade, o hip hop carrega o peso de ser associado a estigmas e estereótipos. Isso é reflexo de uma população que prefere marginalizar do que entender”, afirma o artista Lucas Malcone, um dos fomentadores da cena underground de Maceió (AL). A Revista Alagoana mostra a trajetória de Malcone como um artista LGBTQIA+ no rap e o poder desse movimento. “Quando comecei, o que mais me afetava era ver muito preconceito, muitas atitudes que me faziam sentir ainda pior comigo mesmo. Eu já estava muito confuso, com muitas questões internas sobre minha identidade e esse ambiente só piorava a minha perceção sobre mim. Com o passar do tempo, descobri o poder da minha voz, que eu poderia falar a respeito do que acreditava e que iria ser respeitado através disso, independente de qualquer coisa.”
🎧 Podcast
Os anabolizantes saíram das academias para as clínicas de luxo e para as redes sociais. Os médicos que os prescrevem afirmam que são substâncias “hormonologistas”, uma especialidade que não existe. O “Ciência Suja”, produção da NAV Reportagens, revela como atuam os profissionais e as empresas que lucram com essa repaginação dos anabolizantes, que ganharam outros nomes, como “modulação hormonal”, “chip da beleza” e “hormonologia”. Os hormônios podem ser usados em alguns contextos médicos específicos, mas, com essa articulação, eles passaram a ser prescritos para quem não precisa, em doses muito acima das fisiológicas.
✊🏽 Direitos humanos
Nos últimos cinco anos, 39,6% dos projetos de lei anti LGBTQIA+ apresentados no Brasil tiveram pessoas trans como alvo direto. As propostas incluem restrições ao uso de banheiros, participação de atletas em competições, acesso ao processo de transição e debates sobre a definição de gênero, como revelam dados da Observatória, plataforma da Agência Diadorim. As assembleias legislativas estaduais juntas foram os espaços nos quais mais projetos de lei contra a população LGBTQIA+ surgiram: foram 325, dos quais 127 direcionados a pessoas trans. Quase metade dos textos (53) abordam o uso do banheiro.