Os brasileiros no conclave e a queda na produção de castanha-do-pará
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🔸 O Supremo Tribunal Federal (STF) tornou réus mais sete envolvidos na tentativa de golpe de Estado para manter Jair Bolsonaro no poder depois das eleições de 2022. Segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR), os acusados integravam o núcleo de desinformação, responsável por disseminar fake news sobre as urnas eletrônicas e atacar opositores do plano golpista. O ministro Flávio Dino defendeu que notícias falsas podem ser tão letais quanto explosivos, e Cármen Lúcia afirmou que a mentira foi usada como “commodity para comprar a antidemocracia”. O Jota lembra que, até agora, o STF já tornou réus 21 dos 34 denunciados pela PGR, entre eles o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O próximo julgamento do caso ocorrerá em 20 de maio e tratará do núcleo militar da trama.
🔸 Uma missa na Basílica de São Pedro nesta manhã marcou o início do conclave. No Brasil, páginas e perfis da direita católica nas redes sociais têm demonstrado preferência por cardeais conservadores como Robert Sarah, Raymond Burke e Gerhard Müller. Em artigo no Le Monde Diplomatique Brasil, Renan Baptistin Dantas, pesquisador do Laboratório de Antropologia da Religião da Unicamp, mostra quem são os favoritos da ala conservadora no conclave. O guineense Sarah é o mais celebrado nas redes, com frases que reforçam seu compromisso com a doutrina e a liturgia tradicional, em oposição ao que os conservadores veem como politização da fé. Burke, conhecido por confrontos públicos com o papa Francisco, e Müller, que participou de evento ligado a ex-integrantes do governo Bolsonaro, também ocupam espaço simbólico importante para os grupos que se opõem à linha reformista de Francisco.
🔸 “O futuro pontífice poderá se tornar um aliado estratégico ou representar um desafio às pautas sociais e ambientais do governo de Luiz Inácio Lula da Silva”, escreve o professor da Universidade Internacional de La Rioja Armando Alvares Garcia Júnior, em análise no Conversation Brasil. Peter Turkson (Gana), Fridolin Ambongo (Congo) e Luis Antonio Tagle (Filipinas) seriam aliados por suas posturas em defesa da justiça climática, dos direitos humanos e de valores progressistas, com potencial de aproximação com a diplomacia brasileira, especialmente em temas como a COP30, a Conferência do Clima das Nações Unidas. Entre os brasileiros, Jaime Spengler é visto como pastoral e engajado com movimentos sociais, enquanto Odilo Scherer tem perfil institucional, mas sem projeção internacional.
🔸 A propósito: cinco dos sete cardeais brasileiros com direito a voto no conclave foram nomeados por Francisco. A Agência Pública detalha o posicionamento deles na eleição para o próximo papa. Destacam-se Dom Leonardo Steiner (Manaus), próximo de Francisco e crítico de Jair Bolsonaro, e Dom Jaime Spengler, defensor dos direitos humanos. Dom Sérgio da Rocha (Salvador) é visto como o mais bem posicionado entre os brasileiros, por seu papel estratégico no Vaticano e perfil diplomático. Outros cardeais brasileiros, como Dom Odilo Scherer (São Paulo) e Dom Orani Tempesta (Rio de Janeiro), são mais conservadores, mas ainda vistos como conciliadores. Scherer, embora crítico da Teologia da Libertação, mantém relação próxima com o padre Júlio Lancellotti, enquanto Tempesta, que já recebeu Bolsonaro em 2018, atua de forma mais discreta e pastoral nas periferias.
📮 Outras histórias
“Aos 18 anos, precisei parar de estudar para sustentar meus filhos. Eles moravam com os meus pais, e eu precisava trabalhar para mandar dinheiro todo mês”, lembra a servidora pública Maria Quitéria. Ela voltou a estudar aos 57 anos. Como trabalhava em tempo integral, precisou organizar a rotina para encaixar as aulas no período da noite. Na formatura, no final de 2024, ela entrou de mãos dadas com o neto. O Eufêmea reúne histórias de mulheres que retomaram os estudos na Educação de Jovens e Adultos (EJA). Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD Contínua), a principal causa de evasão escolar entre as mulheres é a necessidade de trabalhar. Em seguida, aparecem a gravidez (23,1%) e os afazeres domésticos ou cuidados com outra pessoa (9,5%).
📌 Investigação
O governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos) vendeu uma propriedade por R$ 17,1 milhões à empresa do agronegócio SFA Agro Empreendimentos e Participações, que tem como um dos sócios o empresário e político Paulo Skaf. O valor de mercado da fazenda, no entanto, varia entre R$ 35 milhões e R$ 45,5 milhões. O documento de vistoria e o laudo de avaliação do preço do terreno não foram divulgados publicamente. Segundo o Intercept Brasil, o local era parte da Unidade Regional de Pesquisa e Desenvolvimento de Pindamonhangaba, dedicada para pesquisas científicas de bovinocultura de leite e de corte, aquacultura com piscicultura, melhoramento genético de arroz e estudos sobre agroecologia, plantas alimentícias e medicinais. Ao contrário do que prevê a legislação estadual, o governo também não realizou uma audiência pública com a comunidade científica sobre a venda do imóvel.
🍂 Meio ambiente
O aumento da temperatura na Amazônia impactou a produção da castanha-do-pará neste ano, prejudicando as famílias da Reserva Extrativista do Rio Cajari, no município de Laranjal do Jari, no Amapá, que têm os castanhais como principal fonte de renda. A safra é anual, e os ouriços (casca dura que protege as sementes, chamadas de castanhas), começam a cair em meados de janeiro. Quando a safra é boa, a coleta pode se estender até o mês de junho, mas não foi o que aconteceu neste ano: em abril, a comunidade já não encontrava mais ouriços, conta a Amazônia Vox. “Neste ano a gente conseguiu coletar somente 30 hectolitros (equivalente a 100 litros) de castanha, mas quando ela carrega mesmo dá entre 60 e 70 hectolitros”, afirma a agroextrativista Maria Furtado. Segundo os pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a frequência cada vez maior e a intensidade dos eventos climáticos têm preocupado a sustentabilidade da cadeia de castanhais.
📙 Cultura
“Hoje em dia, o radicalismo no funk e no rap não tá nas grandes mídias, nem no topo das paradas. Tá na base, tá nos corres independentes, nas quebradas, nos slams, nas batalhas de rima, nas mulheres que estão rimando com o microfone numa mão e o sistema no alvo da outra”, afirma a rapper Luana Hansen, em atividade desde os anos 2000. A Periferia em Movimento resgata o papel político do funk e do rap, gêneros conectados aos territórios periféricos, e as tentativas de criminalização da arte feita pelas periferias, como a Lei Anti-Oruam. “A cada nova lei que mira o funk, o rap, o trap, o que o sistema tá dizendo é: ‘vocês não podem contar a própria história’. Mas a arte da periferia nunca pediu permissão. Ela nasceu do grito sufocado, da batida que rasga o silêncio, da palavra que incomoda”, diz a artista.
🎧 Podcast
Planta alucinógena presente no Sertão nordestino, a jurema carrega a substância N, N-dimetiltriptamina, conhecida como DMT, que há indícios de ser uma das responsáveis pelos sonhos. Com potencial de revolucionar o tratamento de depressão, a planta é protagonista de uma religião ancestral, a Jurema Sagrada, inicialmente conhecida como Catimbó. A “Rádio Escafandro”, produção da Rádio Guarda-Chuva, mergulha em como essa substância psicodélica deu origem ao conjunto de crenças e rituais que combina a religiosidade indígena e afrobrasileira. Os primeiros registros da religião são do século 17 – há indícios de que as cerimônias com jurema já eram realizadas pelos nativos –, quando iniciou também a perseguição pelos colonizadores.
👩🏽🏫 Educação
Apesar do Atendimento Educacional Especializado (AEE) ser um direito, a falta de professores dificulta a inclusão escolar de estudantes diagnosticados com Transtorno do Espectro Autista (TEA) – número que passou de pouco mais de 41 mil matrículas em 2015 para 884.403 em 2023. O Porvir destaca que, em 2023, havia cerca de 59 mil docentes de AEE no país, enquanto 140 mil escolas de educação básica registraram matrículas na educação especial. “Vivemos uma crise generalizada na carreira docente. A escassez de profissionais não atinge apenas a área da educação especial voltada a estudantes com deficiência, transtorno do espectro autista, superdotação ou altas habilidades, mas afeta todas as áreas do conhecimento”, afirma Cleuza Repulho, coordenadora do programa Juntos pela Educação em Pernambuco.