O Brasil sem plano de metas na COP16 e a direita no Nordeste
Uma curadoria do melhor do jornalismo digital, produzido pelas associadas à Ajor. Novos ângulos para assuntos do dia
🔸 Depois de um acidente doméstico, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) cancelou a ida à Rússia, onde participaria da reunião da Cúpula dos Brics. Ele escorregou no banheiro do Palácio da Alvorada, em Brasília, na noite de sábado. Embora o caso não seja grave, o médico do presidente, o cardiologista Roberto Kalil Filho, recomendou que ele não fizesse viagens longas. A CartaCapital informa que Lula participará do evento por videoconferência. Será a primeira reunião da Cúpula dos Brics desde que o bloco se expandiu. Além de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, no início do ano quatro novos países entraram para o grupo: Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Egito e Irã.
🔸 Começa hoje a COP16 da Biodiversidade, em Cali, na Colômbia. A conferência marca o primeiro balanço global dos compromissos do Marco Global de Biodiversidade Kunming-Montreal (GBF, na sigla em inglês), pacto firmado em 2022. O Brasil está entre as nações que não apresentaram um conjunto de diretrizes que indica as prioridades nacionais para as metas do GBF, mas, segundo o Colabora, o país levará à COP16 um portfólio de cerca de 250 iniciativas, incluindo metas como desmatamento zero até 2030 e a restauração de 12 milhões de hectares de vegetação nativa. “A COP16 é a primeira conferência na qual os negociadores não estarão mais negociando um acordo, mas sim tratando de sua implementação”, afirma Mauricio Voivodic, diretor-executivo do WWF-Brasil.
🔸 Policiais invadiram o velório de um jovem morto pelo Batalhão de Ações Especiais da Polícia (BAEP), em Bauru (SP), na última sexta-feira. Ao lado do caixão de Guilherme Alves Marques de Oliveira, de 18 anos, familiares foram agredidos, e o irmão dele, preso por desacato. A Alma Preta teve acesso a imagens do momento em que os policiais agem com truculência no velório e arrastam o irmão do jovem pelo pescoço. Na operação do Batalhão, além de Guilherme, Luís Silvestre da Silva Neto, de 21 anos, também foi morto, com um tiro na cabeça. Segundo o boletim de ocorrência, que só traz a versão dos policiais, os jovens teriam drogas – e os três agentes na ação fizeram 27 disparos de fuzil contra eles.
🔸 A propósito: o Brasil precisa de uma política nacional para regular as polícias. É a conclusão de um grupo de especialistas da Organização das Nações Unidas (ONU) que visitou o país e identificou o uso excessivo da força policial e o encarceramento desproporcional da população negra. A Ponte detalha o relatório da delegação que esteve em cinco capitais do país (Brasília, Fortaleza, Salvador, São Paulo e Rio de Janeiro), no final do ano passado. Além de encontros com autoridades e visitas a centros de detenção, o grupo ouviu 117 vítimas e familiares para compor os 41 relatos do texto final. A ONU afirma que as políticas de segurança pública do país são marcadas pela repressão e pela “hipermasculinidade tóxica”. Nesse cenário, as pessoas negras são frequentemente associadas de forma injusta à criminalidade ou vistas como “danos colaterais” em operações policiais.
📮 Outras histórias
Em Novo Horizonte, antiga favela do Japão, em Natal (RN), o Balé da Ralé vai além das aulas de dança para crianças e adolescentes. O projeto idealizado pela bailarina Saryne Fernandes também oferece alfabetização para adultos, cursos profissionalizantes, dança para as mães – e ainda serve mais de 600 refeições por semana para os alunos. A Saiba Mais conversa com a professora e conta que o projeto tem hoje 120 estudantes e oito professores voluntários. “O Balé da Ralé nasceu em 2021 em meio à pandemia. Tinha muitas crianças na rua, sem escola e sem apoio. Porém, desde de 2008, quando conheci a favela do Japão através do meu marido, percebi que a realidade era muito mais dura do que eu imaginava”, conta Saryne, que mantém o projeto com doações de pessoas físicas, nem sempre suficientes para bancar o que ela considera prioritário: a alimentação. “Sem dúvidas, a entrega de refeições é a maior dificuldade hoje. Sabemos que muitas das crianças têm como principal e, talvez única refeição, a oferecida pelo projeto.”
📌 Investigação
No Nordeste, 47% dos vereadores eleitos nas capitais são de direita, 37% de esquerda e 16% de centro. Levantamento da Agência Tatu mostra como será a participação dos partidos nos poderes Legislativo e Executivo nas capitais da região. Em Maceió (AL), João Henrique Caldas, o JHC, se reelegeu como prefeito pelo Partido Liberal (PL) com 83,25% dos votos, o maior percentual entre as capitais do Nordeste – e o segundo do Brasil. Apenas Recife (PE) teve o prefeito eleito por um partido de esquerda: João Campos (PSB) com 78% dos votos. A divisão de partidos por linhas ideológicas foi organizada sob análise da cientista política Luciana Santana. “Temos observado uma ampliação de força dos partidos que estão no aspecto da centro-direita, que já faziam parte do legislativo federal, mas que estão ganhando força agora nos municípios também. Isso tem a ver com a força do centrão, que tem crescido de forma expressiva desde 2018, sob influência das emendas impositivas”, avalia. E a disputa pelo poder entre direita e esquerda seguirá no segundo turno em três capitais nordestinas: Natal (RN), Aracaju (SE) e Fortaleza (CE).
🍂 Meio ambiente
“Falar do Piroceno é uma forma de trazer atenção para ecossistemas do mundo inteiro que estão passando por mudanças fundamentais. Mas este não é um fenômeno incontrolável”, afirma Erika Berenguer, cientista sênior da Universidade de Oxford e da Rede Amazônia Sustentável. O Correio Sabiá explica que o conceito de Piroceno – termo cunhado há cinco anos para se referir a uma nova era da Terra, marcada por mega incêndios que fogem ao controle do homem – desperta controvérsias no meio científico. Para Ane Alencar, diretora de Ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), se nenhuma medida for tomada, há chances de o cenário atual ser digno do termo: “O Piroceno é cada vez mais uma realidade, talvez dentro do antropoceno, uma época, também sendo discutida por acadêmicos, em que o ser humano está mudando muito a forma de lidar com o ambiente e esse ambiente está reagindo de volta. Nesse sentido, o fogo estaria mais presente, seja porque as pessoas estão usando mais ou porque as condições ambientais fazem com que ocorra de forma mais frequente e violenta”.
📙 Cultura
Charge, caricatura, cartum e grafite foram reconhecidos por lei como manifestações culturais brasileiras. “Aprovamos aqui a questão dos grafites, do cartum, que poderia ser uma lei tranquilamente homenageando o nosso querido Henfil, homenageando o nosso querido Ziraldo, que já se foi, e tantos outros cartunistas e companheiros que tiveram um trabalho extraordinário”, disse Lula ao sancionar a lei, na semana passada. A revista O Grito! conta que o objetivo é valorizar as formas de expressão artística, além de garantir a preservação e a livre manifestação. De acordo com o texto, a charge, a caricatura e o cartum são formas legítimas do gênero jornalístico, que promovem reflexão por meio de sátira e crítica visuais. Já o grafite, segundo o texto da nova lei, é uma expressão artística urbana que frequentemente aborda questões sociais.
🎧 Podcast
A maior venda de crédito de carbono feita no Brasil. O governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), anunciou a venda de R$ 1 bilhão em créditos de carbono, durante a Semana do Clima de Nova York, em setembro passado. O “Bom dia Fim do Mundo”, produção da Agência Pública, aponta quais são os possíveis impactos do mercado de créditos de carbono em terras indígenas. A partir da perspectiva da emergência climática, o episódio também destrincha o saldo das eleições na Amazônia. “A gente vê que foi tudo mais ou menos como o esperado, e isso não é uma boa notícia”, afirma a jornalista Marina Amaral. “As quatro capitais que já elegeram seus prefeitos – São Luís (MA), Macapá (AM), Rio Branco (AC) e Boa Vista (RR) – reelegeram esses mandatários que não têm compromisso com a emergência climática”, destaca.
🧑🏽🏫 Educação
Quando decidiu ensinar Libras (Língua Brasileira de Sinais) aos alunos ouvintes, a professora Vanessa de Oliveira Santos disse que comprovou na prática a afirmação que um dia leu num livro de Paulo Freire: “Às vezes, mal se imagina o que pode passar a representar na vida de um aluno um simples gesto do professor.” O projeto “Falando com as Mãos”, que ela desenvolve na Escola Municipal de Ensino Infantil Gabriel Prestes, na região central de São Paulo (SP), prevê o ensino de Libras de forma concomitante com o ensino de língua portuguesa. Em artigo no Porvir, a professora resgata os primeiros momentos do projeto (“Comecei inserindo elementos para que, meninos e meninas, mesmo tão pequenos, pudessem descobrir outra forma de falar que não só verbalizando”) e defende que “ensinar Libras como segunda língua para as crianças ouvintes é uma maneira de decolonizar, ou seja, quebrar padrões do currículo”.