O Brasil nos Jogos Paralímpicos e as músicas geradas por IA
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🔸 O Brasil começou a disputa dos Jogos Paralímpicos de Paris 2024 com a maior delegação de sua história, formada por 280 atletas. Destes, 255 são pessoas com deficiência – há ainda 19 atletas guia, três calheiros da bocha, dois goleiros do futebol de cegos e um timoneiro do remo. O Colabora conta que o país está a 27 pódios de alcançar a marca histórica de 400 medalhas em Jogos Paralímpicos e destaca que os brasileiros chegam a Paris em um dos melhores momentos em diversas modalidades. O atletismo, por exemplo, é o esporte em que o Brasil mais conquistou medalhas, seguido pela natação. As mulheres têm papel de destaque: representam 45,88% dos atletas com deficiência, o maior percentual na história do país nos Jogos Paralímpicos.
🔸 O país chega aos jogos como uma potência – e muitos atletas das periferias de São Paulo contribuem para isso. Alessandro Rodrigo da Silva, de Santo André, na Grande São Paulo, é recordista mundial, especializado em arremesso de disco. Ele é destaque ao lado de Esthefany Rodrigues (natação), da zona leste, e Cláudia Cícero Santos (remo), de Carapicuíba. A Periferia em Movimento lista atletas periféricos para ficar de olho nos Jogos Paralímpicos e traz o calendário das disputas por modalidade. O Nós, Mulheres da Periferia apresenta oito atletas negras para acompanhar nesta edição.
🔸 Indígenas se retiraram da audiência de conciliação sobre o marco temporal, no Supremo Tribunal Federal (STF). Convocadas pelo ministro Gilmar Mendes, as audiências respondem a ações do PL, do PP e do Republicanos para manter a validade da lei que reconheceu o marco temporal como requisito para a demarcação de terras indígenas. Em carta, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) explicou por que não participará mais: “Diante de condições inaceitáveis – e até humilhantes – impostas aos povos indígenas na audiência de conciliação, o juiz conciliador disse que uma saída dos povos indígenas os tornaria responsáveis pela ‘espiral de conflitos’. Isso é de uma violência atroz”. A InfoAmazonia detalha as audiências e explica por que os indígenas têm apontado racismo institucional na forma como são conduzidas.
🔸 Qual o papel dos municípios na alimentação das pessoas? A resposta é longa. A administração municipal, além de implementar um plano de segurança alimentar, pode criar leis para fortalecer a agricultura familiar ou ainda para limitar o consumo de ultraprocessados. O Joio e O Trigo destrincha as formas como o poder municipal pode incidir na promoção de uma alimentação saudável. Um dos caminhos básicos, por exemplo, é aderir ao Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (SISAN), que garante recursos para políticas de aquisição de alimentos ou cozinhas solidárias. O problema é que, até agora, apenas 20% dos municípios aderiram ao sistema. As eleições, aliás, são uma boa oportunidade para avaliar o que os candidatos propõem como políticas de alimentação.
🔸 Falando em eleições… o caminho das urnas eletrônicas até o dia do pleito é envolto em processos de segurança e começa muito antes do pleito. O rigor tem resultados: desde que as urnas eletrônicas foram adotadas, em 1996, não há registros de fraudes eleitorais envolvendo a captação ou totalização de votos. Mesmo assim, são as suspeitas de fraude que movimentam a desinformação nas redes em períodos de eleição. Na segunda de uma série de reportagens especiais sobre o tema, a Lupa percorre o trajeto das urnas desde o teste de integridade até o anúncio do vencedor pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
📮 Outras histórias
Depois do desastre climático no Rio Grande do Sul, a pauta das enchentes entrou para os planos de governo dos candidatos à prefeitura de Porto Alegre. Nas eleições de 2020, o assunto passou batido, mas, agora, dos oito postulantes à vaga, seis têm propostas de prevenção e redução de danos de enchentes, segundo o Sul21. Alvo de críticas pelo desempenho em meio à tragédia, o atual prefeito Sebastião Melo (MDB), candidato à reeleição, tenta mostrar o oposto ao incluir, no plano de ações, o que foi feito durante a enchente histórica. Sua principal adversária, Maria do Rosário (PT), também foca em propostas ambientais e de proteção contra enchentes, com atenção especial ao bairro Sarandi.
📌 Investigação
Desdém e racismo permearam o atendimento médico aos Guarani Kaiowá após o ataque que sofreram no início de agosto em Douradina (MT). Na ocasião, 11 indígenas ficaram feridos por disparos feitos por jagunços da região. O Intercept Brasil ouviu relatos da hostilização que sofreram no Hospital da Vida, em Dourados, a cerca de 40 km do local do ataque. “O médico ficava dizendo que nós indígenas só roubamos a terra das pessoas. Eu estava com dor e fiquei quieto. Só queria ir embora de lá”, afirma G. Kaiowá, de 23 anos, que levou um tiro de borracha no peito e em um dos dedos. Apesar de ainda ter dores, o jovem optou por não procurar mais atendimento médico. Já E. Kaiowá, de 20 anos, estava com uma bala alojada na cabeça e ouviu de um policial no local que o tiro deveria ter sido para matar: “Ele disse que o tiro foi errado. Que deveria ter atingido no meio do peito. ‘Que assim matava logo o vagabundo’”.
🍂 Meio ambiente
Formado por 16 ilhas, o bairro do Arquipélago, em Porto Alegre (RS), é habitado por pescadores artesanais, que veem seu sustento e futuro em risco após as enchentes que atingiram o estado em maio. O Arquipélago foi o terceiro bairro mais afetado da capital gaúcha, segundo o Painel Informativo da Prefeitura de Porto Alegre. O Nonada explica que a correnteza, os detritos que a enchente trouxe e a perda do material de trabalho impossibilitam o retorno à pesca e os deixam em estado de vulnerabilidade. “Muitos não retornaram à Ilha. O impacto foi total. Eles não conseguiram pescar, perderam o material de pesca, as embarcações, as casas. Tem pescador aí que não tem nenhuma condição”, conta Gilmar Coelho, presidente da Colônia de Pescadores Z-5, na ilha da Pintada, e da Federação das Colônias de Pescadores e Aquicultores do Rio Grande do Sul.
📙 Cultura
“Meu trabalho é dar visibilidade à vida pela perspectiva das mulheres, para que as nossas vozes fortaleçam nossas identidades culturais, ao invés de ter nossas histórias contadas por curiosos com experiências superficiais”, afirma a quadrinista paraense Mandy Modesto. A artista foi uma das incluídas na pesquisa “Representações de Mulheres Gordas em Quadrinhos de Autoria Feminina da/na Amazônia”, de Fabiana Gillet, que mapeou 55 ilustradoras e uma pessoa não-binária atuando como quadrinistas na Região Amazônica em 2023. A Amazônia Latitude mostra como as mulheres amazônidas reforçam suas identidades culturais por meio de histórias em quadrinhos diante de um mercado editorial ainda centralizado no Sudeste.
🎧 Podcast
“Errada e desajustada.” Assim a jornalista, escritora e professora Bianca Santana enxergava sua família na infância por não ter a configuração de “tradicional”, formada por mãe, pai e filhos. Apesar do sentimento de desajuste, a autora – criada pela avó, o tio e a mãe – adorava essa diferença e não acreditava que fosse um peso. Apresentado pela psicanalista Vera Iaconelli, “O Estranho Familiar”, produção da Trovão Mídia, mergulha na diversidade das famílias brasileiras e conversa com a escritora para revisitar sua formação familiar. “A minha sensação é de que as pessoas viviam em um mundo – e que eu conhecia vários”, relata Bianca, biógrafa de Sueli Carneiro e autora de livros como “Quando me Descobri Negra”.
👩🏽💻 Tecnologia
A produção musical já sente o efeito da avalanche de conteúdo criados por inteligência artificial, com desafios em determinar a autenticidade e qualidade das produções. Conhecida como AI slop ou slop digital, a disseminação de conteúdos de baixo padrão gerados por IA já começou a dominar o espaço digital. Segundo a Fast Company Brasil, as músicas já estão no cotidiano das pessoas de modo quase imperceptível. A canção “BBL Drizzy”, por exemplo, foi gerada por IA e foi incluída em playlists populares do Spotify sem nenhuma identificação de se tratar de conteúdo sintético, além da letra fazer alusão à supremacia branca em uma melodia de soul, gênero musical com origem na resistência negra nos Estados Unidos.