O Brasil na aliança contra a fome e a transfobia nas eleições de 2024
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🔸 Força-tarefa liderada pelo Brasil, a Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza foi lançada oficialmente ontem durante a Cúpula de Líderes do G20 no Rio de Janeiro. Segundo a Alma Preta, o objetivo da iniciativa é erradicar a fome e a pobreza até 2030, alinhando-se às metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável por meio de três pilares: nacional, financeiro e de conhecimento. A aliança, construída ao longo de um ano de colaboração entre governos, organizações internacionais e instituições financeiras, reúne 147 membros fundadores. O Ministro de Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Wellington Dias, ressaltou que não será “mais um fórum de discussão”, mas um mecanismo prático para canalizar conhecimento e financiamento. O Brasil se comprometeu a financiar metade dos custos do Mecanismo de Apoio da Aliança até 2030.
🔸 Na contramão do pilar de sustentabilidade desta edição do G20, o ministro de Minas e Energia (MME), Alexandre Silveira, defendeu que o Brasil adote a prática de fraturamento hidráulico do solo (fracking) para exploração de gás natural. O país já importa o gás resultante dessa técnica dos Estados Unidos e agora vai importar da Argentina, conforme firmado nas reuniões de ontem. A Agência Nossa lembra que o fracking foi banido em países como Alemanha, França e Reino Unido e em diversos municípios do Brasil devido às evidências de que gera compostos químicos tóxicos e cancerígenos, com riscos para populações no entorno, além da contaminação de lençóis freáticos.
🔸 Em áudio: enquanto o G20 ganha os holofotes, as discussões climáticas, sobretudo quanto a financiamento, seguem intensas na COP29, em Baku, Azerbaijão. Apesar da relevância do G20, negociadores reafirmaram que as decisões tomadas em Baku não aguardam o desfecho da Cúpula. O “Entrando no Clima”, produção d’O Eco, debate a liderança brasileira para ajudar a destravar as agendas na Conferência do Clima. O país lidera o bloco de países com as maiores porções de floresta tropical que tem objetivo de tirar do papel um novo fundo de financiamento até a próxima COP, que acontecerá em Belém (PA), em 2025.
🔸 Ao menos dois terços dos trabalhadores formais no país estão submetidos à escala de trabalho 6X1. Na maioria dos casos, os salários não ultrapassam dois mínimos mensais. Essa é a realidade de 82% dos empregados do comércio e serviços que trabalham nessa jornada. Entre mulheres pretas e pardas, o índice chega a 90%, como mostra levantamento da Lagom Data para a CartaCapital. Enquanto apenas 27% dos homens brancos que recebem até dois salários mínimos trabalham seis dias por semana, esse percentual salta para 60% entre mulheres pretas. Santa Catarina é o estado em que mais se trabalha nessas condições, representando 80% dos contratos formais.
🔸 As políticas públicas de inclusão, como a reserva de vagas, que ampliaram a presença de estudantes negros no ensino superior, não se refletem no corpo docente. Apenas um em cada cinco professores universitários em exercício se declara preto ou pardo (21%), uma proporção muito baixa quando comparada aos 55,5% de brasileiros que se declaram dessa forma, segundo o Censo 2022, realizado pelo IBGE. A “Don't LAI to Me”, newsletter da Fiquem Sabendo, explora os dados que revelam a sub-representação da população negra no magistério superior, o que gera a ausência de representatividade em posições de liderança acadêmica, afetando o senso de pertencimento de alunos negros ao dificultar que se identifiquem nesses espaços.
📮 Outras histórias
Sobremesa típica de Alcântara, no Maranhão, o doce de espécie está ligado à Festa do Divino, que anualmente começa a ser preparada no Sábado de Aleluia e é realizada por 12 dias até o Dia de Pentecostes. De origem dos Açores, arquipélago da região autônoma portuguesa, o doce seria a guloseima preferida do imperador Pedro II e era recheada com outras frutas, como o pêssego. Pela falta desses frutos na região, africanos escravizados mudaram o ingrediente para o coco. O Meus Sertões narra o nascimento do doce de espécie, feito para uma visita de Dom Pedro II que nunca aconteceu e mostra como é preparada essa iguaria típica.
📌 Investigação
Entre janeiro de 2019 e outubro de 2024, parlamentares brasileiros apresentaram 1.012 projetos de lei relacionados à população LGBTQIA+ nas assembleias estaduais e no Congresso Nacional. Desse total, 575 são favoráveis aos direitos LGBTQIA+, enquanto 437 visam restringi-los. Os dados inéditos são da Observatória, plataforma da Agência Diadorim, que monitora proposições legislativas voltadas a essa população. A maior parte dos projetos pró-LGBTQIA+ trata do enfrentamento à discriminação, com 121 propostas apresentadas tanto nas assembleias estaduais quanto no Congresso. Já os projetos de lei anti-LGBTQIA+ se concentram na proibição do uso de linguagem neutra, na censura de conteúdos educativos nas escolas e na restrição do uso de banheiros conforme a identidade de gênero.
🍂 Meio ambiente
Os rios ensinam jovens amazônidas a se engajarem na educação climática. Organizações não governamentais da região metropolitana de Belém (PA) levam o projeto “Escolas Climáticas” – parceria entre Mandí e Laboratório da Cidade – a escolas públicas periféricas. A Carta Amazônia conta que a iniciativa capacita alunos e professores para discutir urbanização e resiliência ambiental, promovendo a conscientização e a adoção de soluções sustentáveis. O projeto utiliza a metodologia das bacias escolas, na qual os alunos têm uma abordagem prática e local sobre problemas climáticos em expedições aos rios. “Neste projeto, conseguimos aproximar os alunos de uma percepção que eles já têm, porque vivem nesses locais [da expedição]. Tentamos fornecer as ferramentas práticas para que consigam expressar seus questionamentos e indignações”, afirma Alan Batista, assessor de educação da Mandí.
📙 Cultura
A rica biodiversidade de Cuiabá (MT) transparece em sua gastronomia. O Mato Grosso é o único estado brasileiro que reúne os biomas Amazônia, Cerrado e Pantanal, impulsionando uma gastronomia única, que combina tradição e inovação. Ao Colabora a chef Ariani Malouf, proprietária do restaurante Mahalo, que mistura ingredientes locais com técnicas francesas aprendidas na École Cordon Bleu, em Paris. Seus pratos, como o pintado grelhado sob crosta de castanha e o doce de leite cuiabano, são um exemplo dessa fusão. “A inspiração é sempre afetiva, com foco no sustentável, e vem das viagens, dos estudos e aprendizados ao longo desses quase 18 anos”, explica Malouf. “A gastronomia criativa do Mahalo, nada mais é do que uma cozinha contemporânea que reflete o que vi pelo mundo, adaptado ao meu estado, mas sem perder as minhas raízes”, completa.
🎧 Podcast
“Cada criança que nasce no Brasil é um filho do país”, afirma a jornalista Aline Midlej, que é movida pelo ideal de que a filha, Celeste, possa viver em um país com menos carros blindados, muros e condomínios fechados. “Eu gostaria de dizer que a minha aldeia familiar é o mundo: cada esquina que a Celeste vai cruzar, cada cuidado que ela vai receber, cada momento difícil que ela vai enfrentar. Mas que ela vai saber que nunca vai estar sozinha, que vai poder andar na rua sem medo de ser violentada. Eu sonho que a Celeste vai chegar em um momento em que ela vai existir como quiser”, completa. O “Estranho Familiar”, produção da Trovão Mídia, mergulha nas concepções de família de Midlej e suas referências de parceria, presença e amor.
✊🏽 Direitos humanos
Marcadas por discursos transfóbicos, as eleições municipais deste ano tiveram campanhas que atacaram os direitos da população trans, sobretudo de crianças. Slogans como “crianças trans não existem” e “isso é um crime contra a infância” foram amplamente divulgados nas redes sociais e até mesmo em outdoors. O Nonada destaca que, apesar de ser crime no Brasil desde 2019, e de as regras eleitorais proibirem discursos discriminatórios, a legislação não impediu a disseminação de casos de transfobia. Eleita para vereança de São Paulo em 2022 e ativista dos direitos LGBTQIA+, Carolina Iara (PSOL) denunciou o vereador Lucas Pavanato (PL) por propaganda transfóbica no pleito deste ano, mas o Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo considerou a prática liberdade de expressão. “Faz parte da agenda internacional de institucionalização da LGBTFobia, mas principalmente da transfobia, que tem se utilizado dessa pauta [...] para atrair não somente os votos dos conservadores de extrema-direita, mas também dos religiosos que não são, necessariamente, de extrema-direita”, explica Iara.