O 'braço político' da indústria do tabaco e os ataques de tubarões em Recife
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🔸 Cinco anos após a execução de Marielle Franco, as redes sociais mantêm posts com desinformação sobre a vereadora. As falsas narrativas que surgiram na sequência do assassinato estão no Facebook, Instagram, Twitter, YouTube e TikTok em ao menos 90 postagens, segundo levantamento feito pela Lupa. A desinformação mais frequente é aquela que associa Marielle ao tráfico de drogas, desmentida ainda em 2018. Por mais que as plataformas tenham filtros para frear discursos de ódio nas redes, na prática, os resultados são pouco efetivos. “Uma solução viável seria a produção de um algoritmo que reconheça esse discurso de ódio e faça o bloqueio instantaneamente. Só que, para as plataformas, isso não é viável em termos de questão mercadológica”, afirma Natália Giarola, doutora em Linguística pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
🔸 “São cinco anos de luta, cinco anos cobrando que o Estado brasileiro responda quem mandou matar Marielle e por quê. São cinco anos de saudades e é um luto que não consegue se concluir porque a gente não consegue ter essa resposta.” Viúva de Marielle, Monica Benício, eleita vereadora pelo PSOL carioca em 2020, cobra diariamente respostas para o crime brutal que também tirou a vida do motorista Anderson Gomes. No final de fevereiro, o ministro Flávio Dino determinou a abertura de inquérito pela Polícia Federal (PF) para colaborar com as investigações da Polícia Civil e do MPRJ. A Ponte explica o que significa a federalização do caso, detalha os critérios e cita outros crimes cujas apurações foram federalizadas.
🔸 Para coibir a disseminação de fake news onde há relação de consumo, a Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), vinculada ao Ministério da Justiça, prepara uma série de ações contra desinformação nas plataformas digitais. Em entrevista ao Jota, o secretário Wadih Damous afirma que o órgão entende que as redes sociais devem moderar conteúdo ao menos no que diz respeito às relações de consumo. Um exemplo recente é uma propaganda falsa segundo a qual os bancos iriam devolver dinheiro gasto com cartão de crédito. Circulava ao lado de uma foto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e pedia os dados do consumidor para que ele recebesse o suposto crédito liberado por decreto. “As plataformas são obrigadas a não publicar, não monetizar e não impulsionar conteúdos que disseminem ódio, que disseminem desinformação porque tudo isso traz insegurança e põe em risco a saúde do consumidor”, completa o secretário.
🔸 Arquivamento sumário. Este foi o desfecho dado pela Comissão de Ética Pública (CEP) à maior parte das representações feitas entre 2020 e 2021 contra ministros e nomes do primeiro escalão do mandato de Jair Bolsonaro (PL). O CEP é ligado à Presidência da República e tem a prerrogativa de impor sanções éticas aos altos cargos do governo federal. A Agência Pública apurou que a Comissão de Ética arquivou 36 dos 55 casos analisados no período, quase todos na fase de admissibilidade. A reportagem detalha algumas das representações arquivadas e os alvos “poupados”, como os ex-ministros Paulo Guedes, Damares Alves e Eduardo Pazuello.
🔸 De volta ao caso das joias sauditas. Bolsonaro não devolveu ao Tribunal de Contas da União (TCU) os presentes que recebeu da Arábia Saudita em 2021 e incorporou a seu acervo pessoal. Trata-se de um relógio de pulso, um par de abotoaduras, uma caneta, um anel e uma espécie de terço (uma masbaha), todos da da marca de luxo Chopard, da Suíça. A defesa do ex-presidente afirmou que devolveria, mas voltou atrás, como informa a CartaCapital. A tendência é que Bolsonaro, que segue nos Estados Unidos, aguarde o desfecho do processo no TCU.
📮 Outras histórias
Uma vereadora na Bahia se tornou alvo de perseguição política depois de denunciar problemas na gestão da prefeitura. Única mulher, negra e de oposição da Câmara Municipal de Muritiba (BA), município do Recôncavo da Bahia, Perla Conceição Santana (Avante), de 40 anos, é alvo até mesmo de um pedido de cassação. “Não vou em momento algum debandar com a situação, pois não compactuo com a forma que o atual grupo dirige a cidade de Muritiba”, disse em entrevista à Revista Afirmativa. A vereadora fez 31 denúncias contra a gestão municipal sobre a contratação de funcionários fantasmas, o mau uso do dinheiro público e a existência de licitações fraudadas.
Primeira travesti a colar grau na Faculdade de Direito da USP, no mês passado, Victória Dandara Amorim, de 24 anos, começou o processo de transição ainda no Ensino Médio. Ela conta que há muitas barreiras para corpos trans e travestis que desejam ocupar espaços na universidade. “É mais fácil alguém esconder quem é ou esperar se formar para transicionar (...). São 195 anos de uma faculdade muito tradicional, a própria arquitetura passa a mensagem de que não é para uma travesti estar ali. Demorou um tempo até eu mesma me enxergar nesse lugar”, afirma. A Agência Mural narra a trajetória da recém-formada que já atua em pautas sobre diversidade e inclusão.
📌 Investigação
“Braço político” da indústria do tabaco, a Associação dos Municípios Produtores de Tabaco (Amprotabaco) agrupa prefeitos contrários às políticas antitabagismo. A maioria é de municípios do Sul do país, onde atualmente estão concentrados 95% do cultivo de fumo. A entidade nasceu em 2013, pouco antes da sexta edição da Conferência das Partes – evento que reúne os países signatários, como o Brasil, da Convenção-Quadro para Controle do Tabaco. O tratado estabelece, por exemplo, que as nações devem promover alternativas para os trabalhadores do setor, especialmente os agricultores. Além de receberem doações de empresários ligados à indústria, segundo O Joio e O Trigo, esses prefeitos afirmam que as gestões precisam da arrecadação da produção de fumo.
🍂 Meio ambiente
O projeto “Guardiãs das Matas” reúne 125 mulheres que vivem em comunidades do Rio de Janeiro com áreas verdes. Líderes comunitárias, elas são encarregadas de mapear, acompanhar, fiscalizar e encaminhar as demandas de suas localidades em relação ao meio ambiente, além de ajudar a preservar a Mata Atlântica. O Voz das Comunidades conta que o programa começa com 25 territórios. Moradora e guardiã das matas do Morro do Vidigal, favela da Zona Sul, Maria Custódia Ferreira enxerga o projeto com otimismo: “Fiquei muito feliz em ser convidada porque é algo que eu almejo: ajudar minha comunidade no tema do meio ambiente. Temos a questão do lixo e do desmatamento. Temos uma trilha muito visitada por turistas, então faremos um trabalho de conscientização”, afirma.
As mudanças climáticas podem se somar aos problemas relacionados aos ataques de tubarões em Recife (PE). Foram pelo menos 67 incidentes na Região Metropolitana desde que passaram a ser catalogados, em 1992. As causas são multifatoriais, como o desequilíbrio ambiental provocado pelo Complexo de Suape e o despejo de esgoto no mar. O Marco Zero conversa com especialistas que apontam que o aquecimento dos oceanos causado pela crise climática pode passar a entrar na equação com as alterações das correntes marítimas e reprodução excessiva de algumas algas e microrganismos, que deixam a água mais turva.
📙 Cultura
Fundado dentro da Casa de Detenção do Carandiru na década de 90, o grupo de rap Comunidade Carcerária atua até hoje na periferia de São Paulo. Foi criado por amigos, entre eles Washington Pereira Paz, conhecido como W.O, e Flaviano Souza, o F.W, com a intenção de ajudá-los a sobreviver ao sistema prisional. O Desenrola E Não Me Enrola mostra que atualmente eles gerem um espaço chamado GR2C (sigla para Grupo de Rap Comunidade Carcerária), localizado no distrito de Cidade Ademar, zona sul da capital paulista, onde são realizadas atividades como vivências de MCs, aulas de break, grafite, trança, fotografia e encontros de batalhas de rima. Um dos maiores focos da iniciativa são jovens que já passaram pela Fundação Casa. A proposta é oferecer possibilidades para que não voltem a ter contato com o encarceramento.
O mês de março marca os dez anos da morte de Vicente Salles, um dos maiores pesquisadores da Amazônia. Nascido na vila de Caripi, em Igarapé Açu, no nordeste do Pará, cresceu entre os livros até que se tornou ele próprio uma enciclopédia sobre a cultura amazônica. Sua obra aborda do erudito ao popular, da imprensa ao teatro, do folclore ao artesanato, da cachaça à pajelança. Misto de pesquisador, professor e militante da cultura, Vicente esteve à frente das campanhas de defesa do folclore brasileiro, participou de projetos culturais que resultaram na publicação do “Atlas Cultural do Brasil” e iniciou a produção de discos da coleção “Documentário Sonoro do Folclore Brasileiro”, como detalha a Amazônia Latitude.
🎧 Podcast
A preparação dos alimentos é cercada de significados culturais e afetos. A culinária é uma marca registrada para todos que vivem e visitam o Nordeste brasileiro. A nova série do “EcoCast Nordeste”, produção do Eco Nordeste, intitulada “Baião de Tudo”, narra histórias e curiosidades da gastronomia regional. O primeiro episódio se debruça pelos sabores do Rio Grande do Norte e conversa com Adriana Lucena, cozinheira autodidata, chef, advogada e mestre em Políticas Agrícolas. Além das receitas tradicionais, ela reflete sobre a importância da saúde pessoal e do planeta ao pensar em todo o processo da produção de um prato antes mesmo de chegar à cozinha.
🧑🏽🏫 Educação
A comunicação entre escola e família é fundamental para que a educação inclusiva aconteça, defendem especialistas no tema. O Porvir traz o caso de Gabriel Dantas, que tem paralisia cerebral em decorrência de complicações na hora do nascimento. De seus 12 anos de idade, dez foram vividos na mesma escola, onde construiu laços de amizades, influenciou e foi influenciado pelo ambiente. A longevidade da relação se deu justamente pela transparência do contato entre a instituição e a família de Gabriel. “Embora possa parecer desafiador, é fundamental que escola e família estabeleçam uma relação de confiança mútua para garantir o sucesso escolar do estudante da educação inclusiva”, diz Ana Paula Patente, especialista na área.