A bonificação à polícia de SP e a volta das araras-canindés ao RJ
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🔸 Mais da metade das trabalhadoras domésticas no Brasil vivem na informalidade. É o que mostra um estudo inédito realizado por meio de parceria entre o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), a Federação Internacional das Trabalhadoras Domésticas (FITH) e a Organização Internacional do Trabalho (OIT). A Alma Preta detalha a pesquisa: das quase 6 milhões de trabalhadoras domésticas remuneradas no Brasil, 75% estão na informalidade e 66% são mulheres negras. Dessas, 64,5% recebem menos de um salário mínimo, embora formem 25% da força de trabalho de cuidados no país. Segundo o relatório, sete em cada dez trabalhadoras domésticas relatam sensação crônica de cansaço. Entre as entrevistadas, 57,1% são chefes de família. Em 34% dos casos, são mães solo.
🔸 Outro estudo da Organização Internacional do Trabalho revela um número desolador: 138 milhões de crianças no mundo estavam em situação de trabalho infantil em 2024, e 54 milhões delas em atividades perigosas. O relatório produzido em parceria com a Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) lembra que, em 2015, os países assumiram como meta a erradicação do trabalho infantil até 2025, ou seja, fracassaram. A Repórter Brasil destaca que agora, para atingir o objetivo até 2030, seria necessário acelerar os esforços em 11 vezes. A África Subsaariana concentra o maior número de casos. Já na América Latina e no Caribe, houve uma redução de 6% para 5,5% no mesmo período, passando de 8,2 para 7,3 milhões crianças em trabalho infantil. Em todo o mundo, o setor agrícola é o que mais emprega mão de obra infantil, respondendo por 61% dos casos, seguido pelo de serviços (27%), como trabalho doméstico e venda de produtos.
🔸 Seis anos após o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho (MG), moradores seguem expostos a metais pesados, mas sem um protocolo público que reconheça essa contaminação como parte do desastre. No Tejuco, um vilarejo na zona rural do município, perto de onde se rompeu a barragem em 2019, o pequeno Davi, de 3 anos, tem um índice arsênio no corpo que é quase o triplo do que é considerado seguro para um adulto. A revista piauí mostra que este não é um caso isolado: exames conduzidos pela Fiocruz desde 2021 mostram níveis elevados de arsênio no organismo dos moradores, especialmente em crianças. Entre as de até 6 anos, 57% apresentam índices acima do tolerado para adultos. A exposição prolongada ao arsênio está ligada a doenças respiratórias, de pele, digestivas, neurológicas e até malformações fetais. Segundo moradores de Tejuco, os sintomas são tratados como viroses ou doenças genéricas, ignorando a contaminação ambiental.
🔸 O povo Kichwa de Sarayaku conseguiu expulsar uma petroleira que tentava invadir seu território na Amazônia Equatoriana. Patricia Gualinga é herdeira dessa história. Liderança de seu povo, ela lembra que, ao lado de yachaks (sábios da floresta), usaram táticas jurídicas, territoriais e espirituais para impedir a exploração. “Até a natureza lutou conosco”, afirmou em entrevista concedida à Eliane Brum em 2024, agora publicada na revista Sumaúma. Gualinga confronta o patriarcado em territórios indígenas e critica o uso da cultura como justificativa para a violência contra mulheres. Também destaca que o extrativismo é defendido tanto pela direita quanto pela esquerda: “Não confio nos governos, nem no que eles possam fazer, e sim nessa sociedade organizada que faz valer o que está aprovado nas leis. Confio na sociedade organizada.”
📮 Outras histórias
Arqueólogos descobriram urnas de cerâmica feitas com argila rara no Amazonas. As peças, que contêm fragmentos de ossos humanos, peixes e quelônios, foram encontradas no município de Fonte Boa (AM), a pouco mais de mil quilômetros de Manaus. O Amazonas Atual conta que as urnas funerárias foram feitas com argila esverdeada rara e enterradas sob antigas casas em uma área alagada, estavam a 40 cm de profundidade. A descoberta feita por arqueólogos do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá ajudará a compreender como viviam os povos originários no Médio Solimões. O local do achado abriga ilhas artificiais erguidas por essas populações para resistir às cheias. “É uma técnica de engenharia indígena muito sofisticada, que mostra um manejo de território e uma densidade populacional expressiva no passado”, afirma o arqueólogo Márcio Amaral.
📌 Investigação
Embora representem apenas 15,8% dos servidores públicos do estado de São Paulo, policiais militares receberam 30,5% – o equivalente a R$ 827 milhões – da “bonificação por resultados” paga pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), que tem não só privilegiado a corporação no volume de dinheiro gasto, mas também na rapidez para fazê-lo, quando comparado às demais pastas e funcionários. A Ponte revela que o governo estadual tem pago as bonificações com base em metas que foram definidas depois de ter passado o período no qual deveriam ser cumpridas. A transparência do pagamento também é frágil: não é divulgado quem recebeu ou quanto foi pago a cada policial.
🍂 Meio ambiente
Depois de mais de 200 anos, as araras-canindés foram reintroduzidas no Rio de Janeiro, com a chegada de quatro aves ao Parque Nacional da Tijuca na semana passada. Os pássaros passarão de quatro a seis meses em treinamento e adaptação para vida na floresta até estarem aptos à soltura. A iniciativa é do Refauna, que também já levou de volta à floresta fluminense cutias, jabutis e bugios. Segundo O Eco, as araras-canindés foram incluídas como uma das espécies prioritárias para reintrodução na unidade de conservação desde 2018 devido ao seu papel ecológico, sobretudo na relação com frutos grandes e palmeiras, para dispersão das sementes em grandes distâncias.
📙 Cultura
“O artístico anda sempre de mãos dadas com o político, porque arte afinal também é discurso. E foi com esse senso de responsabilidade que nós nos dedicamos durante seis anos à pesquisa e ao desenvolvimento do roteiro”, afirma Milena Times, diretora do longa brasileiro “Ainda Não é Amanhã”, que estreou nos cinemas ontem. A obra debate o direito ao aborto no país a partir da perspectiva de uma jovem negra e periférica de 18 anos. Em entrevista à revista O Grito!, a cineasta fala sobre as diferentes fases da produção, que começou a ser desenvolvida em 2016, com apoio do Fundo Setorial do Audiovisual, e foi concluída em 2022. “Fora do país, tem gerado muita curiosidade e interesse sobre o contexto sociopolítico no Brasil. Para pessoas que vivem em lugares onde é legalizado, é surpreendente perceber como aqui ainda há um tabu tão grande.”
🎧 Podcast
Apelidada de “Dubai brasileira”, Balneário Camboriú tem o metro quadrado mais caro do Brasil. Com forte presença de milionários, é um dos destinos mais procurados por turistas do Centro-Oeste. Na “Rádio Escafandro”, produção da Rádio Guarda-Chuva, a jornalista Marie Declerq mergulha no convívio social da cidade, em meio aos edifícios de mais de 200 metros de altura que encobrem a luz do sol na praia, contrastando com uma desigualdade profunda. Enquanto Balneário Camboriú ocupa o segundo lugar no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de Santa Catarina, Camboriú, município vizinho onde vive a maioria dos trabalhadores, está no 169º lugar.
💆🏽♀️ Para ler no fim de semana
“A livraria nasceu do nosso amor compartilhado pela literatura e pelo desejo de transformar nossa realidade”, diz Érika, que ao lado de seu companheiro, Richard, fundou a livraria independente Novo Jardim, na parte alta de Maceió (AL). Para além de um ponto de venda de livros, o espaço surgiu da vontade do casal em criar o que sentiram falta ao longo de suas vidas no bairro onde moram, transformando-se em um gesto de resistência cultural, uma extensão da história de amor que os uniu e um território afetivo. A Revista Alagoana narra a história de casais que fizeram do amor uma parceria para projetos culturais. Além de Érika e Richard, Natasha e Fábio se tornaram parceiros de palco à frente da banda alagoana Fita K7. “Esse ano celebramos dez anos de banda e dez de namoro”, conta Natasha. “Eu o admiro muito como músico, e sei que é recíproco. A gente se entende no olhar, no som. Funciona.”