As mentiras de Bolsonaro sobre os Yanomami e a morte de pessoas trans no Brasil
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🔸 Para além de omissão com a situação do povo Yanomami em Roraima, há indícios de que o governo de Jair Bolsonaro (PL) descumpriu ordens do Supremo Tribunal Federal (STF) e enviou à Corte informações adulteradas sobre o cenário na terra indígena. A informação vem do gabinete do ministro Luís Roberto Barroso, relator de ações sobre a proteção dos indígenas no STF. A CartaCapital explica que a Corte ordenou, em 2020, o envio de alimentos e medicamentos ao território Yanomami, além do uso de força policial para proteger a população dos criminosos na região. Segundo o STF, as ações não seguiram o planejamento e ocorreram “com deficiências”. Suspeita-se ainda que informações tenham sido vazadas a garimpeiros para que fugissem antes de fiscalizações.
🔸 Os povos indígenas querem que o ex-presidente e seus aliados sejam responsabilizados criminalmente pelo genocídio dos Yanomami. A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) protocolou ontem, na Procuradoria-Geral da República, uma representação criminal contra Bolsonaro, como informa o Congresso em Foco. No documento, mencionam o incentivo ao garimpo ilegal por agentes públicos e apontam que, de 2019 a 2022, os Yanomami foram afetados pelo aumento de casos de desnutrição, malária, assassinatos e estupros.
🔸 Um “pacote antigolpe” deve chegar ao Congresso Nacional já no mês que vem. O texto foi entregue ontem pelo ministro Flávio Dino (Justiça) ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e traz propostas para a segurança e a defesa do Estado democrático de direito. O Metrópoles lista os principais projetos, como a criação de uma guarda nacional para proteger a Esplanada e a praça dos Três Poderes ou ainda a regulamentação das redes sociais, para evitar que mensagens antidemocráticas sejam disseminadas.
🔸 “Todos os dias estamos enterrando crianças no nosso estado. Parem de normalizar o uso de armas. Parem de achar que é normal crianças morrerem todos os dias. Não é normal.” Elza Alaíde Menezes fez o apelo enxugando as lágrimas pela morte da afilhada, uma menina negra de 10 anos, vítima de um tiro de fuzil disparado na rua onde brincava, em São João de Meriti, no Rio de Janeiro. O Notícia Preta detalha o caso que ocorre em meio a um cenário de guerra – além da violência na Baixada Fluminense, há 11 dias, há confrontos entre tráfico e milícia na zona oeste da capital, enquanto facções rivais disputam territórios na zona norte. No Twitter, o Instituto Fogo Cruzado conta que foram registrados 216 tiroteios nos primeiros 25 dias de 2023.
🔸 “Toda vez que eu olho para uma mãe, uma menina, uma jovem negra, eu sempre penso no quanto essa pessoa sonha em chegar a lugares que podem ser, e tem sido, negado historicamente para a gente.” Assim a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, abre a entrevista ao Maré de Notícias. Como cria da Maré, complexo que abrange 16 comunidades no Rio, ela afirma que estar conectada às favelas “é uma questão de honra”, conta que terá uma assessoria especial focada no tema e diz que pretende fazer uma posse simbólica na favela onde nasceu. A ministra antecipa algumas das ações prioritárias para os cem primeiros dias de governo, como o enfrentamento ao genocídio da população negra.
📮 Outras histórias
Cem pessoas trans foram assassinadas no Brasil em 2022. No ranking de estados que mais mataram, Pernambuco está em segundo lugar, atrás do Ceará. Os dados integram um dossiê nacional realizado pela Rede Trans Brasil, que será lançado no domingo, Dia Nacional da Visibilidade Trans. O Marco Zero explora os números que indicam maior concentração de mortes violentas na região Nordeste, com 43% do total, seguido da região Sudeste (27%).
📌 Investigação
Cristãos passaram a ser as principais vítimas de intolerância religiosa no país a partir do segundo semestre de 2020. Antes disso, a maioria dos denunciantes do Disque 100, serviço do Ministério dos Direitos Humanos, eram fiéis de religiões africanas. Para a antropóloga e pesquisadora do Instituto de Estudos da Religião (Iser), Lívia Reis, o governo Bolsonaro “aparelhou” o canal para justificar a intolerância contra cristãos. O data_labe lembra que, durante a pandemia, a ex-ministra Damares Alves publicou um vídeo no Youtube da pasta com um apelo para que a população denunciasse violações de direitos. Ela então dizia que vinha recebendo milhares de denúncias de pessoas supostamente impedidas de professarem sua fé porque governadores determinavam o fechamento de estabelecimentos – incluindo igrejas – a fim de evitar aglomerações.
📋 Checagem
Bolsonaro mentiu ao menos 19 vezes sobre o território Yanomami. As ocasiões em que professou informações falsas sobre os indígenas e sua terra foram diversas, de entrevistas à imprensa até a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), quando o ex-presidente defendeu projetos de exploração econômica em terras indígenas. O Aos Fatos relembra algumas das mentiras contadas ao longo dos quatro anos de mandato.
🍂 Meio ambiente
Desmatamento, incêndios florestais, erosão do solo e represamento de rios estão entre as ações humanas de degradação da Amazônia. São mudanças que acontecem milhares de vezes mais rápido em comparação aos processos climáticos e geológicos naturais. Este raciocínio embasa o artigo publicado na revista “Science” por cientistas de instituições nacionais e internacionais. A Agência Bori explica que, segundo os pesquisadores, as políticas públicas devem ter o objetivo de frear completamente o desmatamento e parar o investimento em setores aliados à destruição da floresta.
Por falar em desmatamento da Amazônia: a prática aumentou 94% em áreas protegidas durante o governo Bolsonaro em relação aos quatro anos anteriores, segundo estudo do Instituto Socioambiental (ISA), com dados fornecidos pelo sistema PRODES, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). As terras indígenas estão entre os locais mais atingidos – com aumento de 157%, dos quais quase metade está em apenas 20 dos 261 territórios na bacia do rio Xingu. O Eco analisa os índices que, diga-se, estão diretamente relacionados ao enfraquecimento dos órgãos de fiscalização no período.
📙 Cultura
Do Pampa gaúcho, passando pelas comunidades tradicionais do Rio de Janeiro, pelo Sertão, Pantanal até a Amazônia, os pontos de cultura levaram teatro, oficinas de grafite, de reisado e outros projetos para a valorização das memórias das comunidades rurais do país. Foi um trabalho possível a partir dos incentivos públicos do início dos anos 2000, mas que perdeu recursos nos últimos anos. Sem investimentos e reconhecimento, diversos pontos de cultura mantiveram as atividades e hoje tentam fazer parte do “reflorestamento cultural” após o governo Bolsonaro. O Nonada descreve a movimentação de retorno a essa política.
Do Maracatu Rural e da literatura de cordel, nasceu o multiverso da cantora pernambucana Luna Vitrolira. Na obra “Aquenda”, ela reúne poesia, música, teatro e audiovisual para expandir todos os significados, releituras e interpretações que deseja passar. O projeto mescla intimidade com coletividade a partir dos traumas da artista, que se assemelha ao de outras mulheres negras – desde criança, Luna foi vítima do racismo e da gordofobia. “Tudo isso começa quando eu passo a me entender no mundo através da palavra, eu conversando comigo mesma. A poesia vem nisso“, conta. A revista O Grito conversa com a cantora sobre sua trajetória.
🎧 Podcast
Garimpo, dragas, doenças e massacres. Esse é o resultado da corrida por ouro para as comunidades indígenas ao longo do rio Tapajós, em Santarém, no oeste do Pará. Narrado por Priscila Tapajowara, o podcast “Um rio que mudou de cor”, produção da Trovão Mídia, conta em oito episódios como a atividade atracou na Amazônia e tem sugado as entranhas da floresta, a partir dos depoimentos de indígenas, procuradores, garimpeiros, ativistas e especialistas.
✊🏽 Direitos humanos
Enquanto nem 30% da meta de investimentos para a saúde da mulher foi aplicada entre 2017 e 2021, há mulheres que se organizaram contra a precarização dos serviços e políticas de saúde. A revista AzMina acompanhou três iniciativas dedicadas a garantir o acesso de mulheres cis, trans e outras pessoas com útero a atendimento psicológico, protocolos de identificação precoce do câncer de colo de útero e proteção das que vivem em situação de vulnerabilidade social. “Minha luta é pelo aumento da expectativa de vida das pessoas trans, que é de 35 anos, contra 74 da população cisgênera”, afirma Matuzza Sankofa, diretora da Casa Chama e presidenta do Centro É de Lei.
Olá,
Primeiro quero agradecer a compilação de reportagens e a qualidade do conteúdo divulgado. O paywall tem dificultado muito a aquisição de bons conteúdos e este projeto tem sido uma luz no fim do túnel.
Gostaria de destacar, que na área de "Investigação", quando destacado o ponto de intolerância religiosa é dito que Bolsonaro aparelhou o disque100 para justificar a intolerância contra cristãos, mas no próprio levantamento, o que é posto como material é o fato de se direcionar os cristãos a denunciarem certos cercamentos como intolerância religiosa. Este processo está mais ligado a distorção do que seria intolerância religiosa do que aparelhamento do canal, pois o que temos é o canal sendo utilizado exatamente para o que ele foi feito, já que na definição formal do próprio canal a proibição do direito de liberdade é um dos pontos a serem denunciados.
Me perdoem por parecer chato com um detalhe que pode parecer muito pequeno, mas assim com a academia errou em ter um discurso que mais afasta os leigos do que aproxima, resultando em cidadão que tem até aversão a ciência, já que grupos mal intencionado criam narrativas muito mais chamativas e de fácil compreensão (mesmo sendo mentiras), os movimentos mais ligados a esquerda não tem se preocupado em ajustar os termos para que seus conteúdos também sejam atrativos para cristãos.
Acredito que mesmo sendo uma referência ao que a Lívia Reis destacou, a curadoria poderia ter considerado o fato do termo utilizado está mais relacionado a criação/remoção/altearção formal dos dispositivos do canal do que a criação de um conceito para instigar um viés na interpretação do cidadão. Não sou da comunicação... por isso perdoem a forma prolixa de me expressar, mas gostaria muito, que conteúdos com a riqueza de dados que essa newsletter expoem fosse de alguma forma, também palatável para leitores de espectros mais conservadores/cristãos ou até liberais.
O governo Bolsonaro conseguiu radicalizar uma parcela considerável da população (principalmente os cristãos), por isso entendo que deveria existir um esforço ainda maior para fazer essas informações chegarem a esses ouvidos que terão ainda muita dificuldade com muitos termos. Caso contrário, correremos o risco de reforçar as bolhas e esse é um dos meus maiores medos.
Novamente, obrigado pelo serviço prestado a sociedade!