Os bolsonaristas em apoio a Trump e a 1ª universidade indígena do país
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🔸 “Tenho um limite de briga com o governo americano. Não posso falar tudo o que acho que devo falar, eu tenho que falar o que é possível falar”, afirmou ontem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), no evento nacional do partido em Brasília. A CartaCapital lembra que, na sexta-feira, Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, disse à imprensa que Lula pode ligar para ele “quando quiser”, mas os dois ainda não se falaram. “Nós vamos ajudar as nossas empresas, nós vamos defender os nossos trabalhadores e vamos dizer o seguinte, quando quiser negociar, as propostas estão na mesa”, completou Lula.
🔸 “O Brasil tem todo o direito de afirmar a sua soberania perante uma intervenção – que nós nunca tivemos, assim, tão aberta.” A avaliação é da socióloga e cientista política Maria Hermínia Tavares de Almeida, professora emérita da USP. Em entrevista ao Nexo, ela afirma que Trump age com autoritarismo, sem uma estratégia clara, e tenta enfraquecer instituições democráticas – tanto nos EUA quanto em outros países. Para ela, o republicano busca dar fôlego à extrema direita brasileira e influenciar as eleições de 2026, mas a resistência institucional e o isolamento do bolsonarismo dificultam esse movimento. Quanto a uma eventual intervenção de Trump nas eleições de 2026 no Brasil, ela diz que o presidente dos EUA não pode fazer nada: “Ele poderia apenas dar gás para aqueles que tratarem outra vez de construir um discurso de desconfiança do processo eleitoral – que foi o que Bolsonaro tentou fazer”.
🔸 Falando em eleições…líderes de partidos articulam uma reforma política para aprovar o voto distrital misto ainda em 2025. O Jota destaca que, numa reunião fechada há cerca de dois meses, os presidentes Gilberto Kassab (PSD), Edinho Silva (PT), Marcos Pereira (Republicanos) e Antônio Rueda (União Brasil) discutiram a necessidade de pautar uma reforma que dê mais representatividade partidária por meio de um maior vínculo entre eleitor e parlamentar. O novo modelo funcionaria assim: o eleitor vota duas vezes, uma no candidato de seu distrito (voto majoritário) e outra em uma lista partidária (voto proporcional). Um dos principais argumentos dos líderes é que a eleição, da forma como ocorre hoje, favorece influenciadores e coaches.
🔸 Apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) foram às ruas ontem em 62 cidades para pedir anistia aos envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, atacar o Supremo Tribunal Federal e exaltar Trump. O Congresso em Foco conta que Bolsonaro – com tornozeleira eletrônica e proibido de sair de casa aos fins de semana – participou por videochamada em ao menos dois atos, na Avenida Paulista, a convite de Nikolas Ferreira, e em Copacabana, durante discurso do senador Flávio Bolsonaro. Mas o ex-presidente e réu no STF ficou em silêncio e apenas acenou enquanto seus apoiadores gritavam palavras de ordem contra o Supremo. Cartazes com frases como “Obrigado, Trump”, “BolsoTrump” e “TrumNaro” foram exibidos em diversas capitais.
🔸 A maioria dos brasileiros apoia a tornozeleira imposta pelo STF a Bolsonaro. Segundo pesquisa Datafolha, 55% dos brasileiros aprovam as medidas cautelares impostas ao ex-presidente. O mesmo percentual acredita que ele poderia tentar deixar o país antes de ser julgado pela tentativa de golpe. O Canal MyNews ressalta que, quando se trata da prisão de Bolsonaro, a população se divide: 48% defendem que ele seja preso, 46% acham que deve continuar livre. Para 51%, ele não será condenado.
📮 Outras histórias
Em vídeo: as “cadeiras de macarrão” estão nas varandas e quintais de casas em todo o país. Em Pedreiras, no Maranhão, elas são feitas à mão, em todas as cores, pelo artesão Benedito Torres dos Anjos, 79 anos – mais conhecido pelo apelido que ganhou ainda na juventude, quando iniciou as vendas de cadeiras pelas ruas da cidade: Cadeirinha Maravilhosa. É ele quem narra a própria história no episódio “Pode Sentar”, do “História, Nossas Histórias”, produção d’O Pedreirense. Entre fios coloridos e estruturas de ferro, Benedito fez da calçada da rua da Prainha sua oficina. Lá, com calma e precisão, tece as cadeiras e transforma cada nó em memória.
📌 Investigação
No interior do Pará, no município de Marabá, a taxa de mortes neonatais em 2024 foi 45% maior que a do estado. Em dez anos, foram 484 óbitos evitáveis de recém-nascidos com até 28 dias de vida. São mortes que poderiam ter sido evitadas por meio de ações efetivas do sistema de saúde, como melhorias no pré-natal, acesso adequado a serviços médicos e intervenções durante a gravidez, parto e primeiros dias de vida. A revista AzMina revela que, no epicentro desses óbitos, está o Hospital Materno Infantil, único serviço público especializado da região, que acumula denúncias de mães e famílias por violência obstétrica e neonatal e silêncio institucional. “Eu não estava sangrando quando fui [ao hospital], mas, quando ele [médico] fez o toque, já veio sangue na roupa dele”, conta Adrielle Silva Escandeia, que foi mandada para casa com a promessa de que estava tudo bem. O sangramento, porém, aumentou, e ela precisou retornar ao hospital – seu filho foi retirado sem vida.
🍂 Meio ambiente
O ciclone extratropical que atingiu estados do Sul do país nos últimos dias tem relação direta com a Antártica, com o encontro entre massas de ar quente e frio na região subtropical. Embora os ciclones extratropicais desempenhem papéis para o equilíbrio climático no planeta, esses eventos podem se tornar cada vez mais frequentes e intensos devido às mudanças do clima. O Matinal explica que o Rio Grande do Sul está na rota dos ciclones: o mais recente, no fim de julho, gerou rajadas de vento superiores a 120 km/h que provocaram danos materiais em mais de 20 cidades. “Nenhum lugar do mundo – Austrália, Nova Zelândia ou África do Sul – é tão perto da Antártica como o Sul da América. Porto Alegre está mais próxima do continente antártico que do Acre ou do Amapá, por exemplo. E assim como a Amazônia influencia nosso clima, a circulação atmosférica da Antártica também acaba influenciando diretamente o sul do Brasil”, afirma a climatologista Venisse Schossler, pesquisadora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
📙 Cultura
“O afrobeat personifica a nossa essência. É música, protesto e espiritualidade”, diz Stela Nesrine, cofundadora da Funmilayo Afrobeat Orquestra. Fundado em 2019, o nome do grupo remete à ativista nigeriana Funmilayo Kuti (1900-1978), que participou do movimento anticolonial das mulheres egbas (grupo étnico iorubá) contra os impostos cobrados pela Inglaterra. Composta por 12 integrantes – 11 musicistas e uma dançarina –, a orquestra tem apenas mulheres negras e pessoas LGBTQIA+. A Emerge Mag ressalta que, com reinterpretação da história do afrobeat – gênero musical criado por Fela Kuti, filho da ativista –, o grupo mostra repertório eclético que combina ritmos da música africana, como o highlife, com elementos de jazz, soul music, rap e ritmos brasileiros, como o maracatu.
🎧 Podcast
Do escritório de administração da fazenda Santa Helena, no interior de São Paulo, em 1984, Paulo Vannuchi fazia os ajustes para condensar 6 mil páginas de documentos com detalhes de violações de direitos humanos, torturas, mortes e desaparecimentos da ditadura nas 300 páginas de um livro. O “Nunca Mais”, produção da NAV Reportagens, narra o processo de transformar os processos judiciais retirados do Superior Tribunal Militar na obra “Brasil: Nunca Mais” e a luta dos jornalistas Ricardo Kotscho e Frei Betto para encontrar uma editora disposta a publicá-la, com estratégia de publicação descentralizada para evitar a censura. O livro enfim foi publicado pela editora Vozes e teve Dom Paulo Evaristo Arns, arcebispo de São Paulo, como patrono do projeto e autor do prefácio.
👩🏽🏫 Educação
Povos originários se articulam pela criação de uma universidade indígena no país desde 2006, com iniciativas dos povos Suruí, da Terra Indígena (TI) 7 de Setembro, dos Guajajara, da TI Arariboia, e da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) firmando parcerias, escutando comunidades e planejando a instituição. Segundo a InfoAmazonia, após a eleição de Lula e a criação do Ministério dos Povos Indígenas (MPI), lideranças retomaram a demanda, aprovada na Primeira Conferência Nacional de Educação Escolar Indígena em 2009. O MPI prevê que a proposta definitiva saia ainda neste ano. O diretor do Departamento de Línguas e Memórias Indígenas da pasta, Eliel Benitez, explica que a ideia é “a universidade seja em rede, conectada internamente, com uma centralidade de gestão e unidades regionais que correspondem aos territórios onde os povos estão estabelecidos”. As unidades serão incubadas em universidades públicas federais que já têm experiência com populações indígenas.