O bloqueio do X e a política de transição energética no país
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🔸 A 1ª turma do STF se reúne hoje para decidir se o X seguirá bloqueado no Brasil. Os ministros do Supremo Tribunal Federal vão analisar a decisão de Alexandre de Moraes que suspendeu, na última sexta-feira, a rede social no país. A votação é feita eletronicamente, sem discussões, explica o Congresso em Foco. O bloqueio ocorreu depois de a empresa ter se recusado a cumprir a decisão de Moraes para designar um representante legal em território nacional. O Núcleo destaca que as multas do STF ao X já passam dos R$ 18 milhões.
🔸 Em 20 anos, o Brasil perdeu 40,5 milhões de hectares de vegetação nativa. A área desmatada entre 2003 e 2024 equivale a quatro vezes a extensão território de Portugal e foi destinada à agropecuária, como mostra O Eco. Embora o Pampa também esteja entre os biomas afetados, a devastação se concentrou na Amazônia, no Cerrado e no Pantanal. “Essa realidade é preocupante por potencializar impactos causados pelos efeitos das mudanças climáticas”, afirma Júlia Shimbo, coordenadora Científica do Mapbiomas, projeto que monitora a perda de florestas do país nas últimas quatro décadas.
🔸 Se o governo Lula conseguiu, desde 2023, reduzir o desmatamento na Amazônia, pouco fez pelo Cerrado. É o que afirmam cientistas em carta publicada na revista científica “BioScience”. A Agência Bori detalha o documento assinado por pesquisadores do Centro de Conhecimento em Biodiversidade da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e da Universidade Internacional da Flórida (EUA). Eles destacam que a Amazônia tem o dobro do tamanho do Cerrado e perdeu 9 mil quilômetros quadrados de floresta em 2023. No mesmo período, o Cerrado perdeu 11 mil quilômetros quadrados de vegetação. “O menor esforço de proteção é, em parte, devido à aparência menos imponente da vegetação do Cerrado, com estatura muito inferior à da floresta amazônica”, afirma Philip Fearnside, pesquisador do Inpa. Para além do apelo estético, completa, os interesses econômicos prejudicam a preservação do bioma.
🔸 A falta de árvores em Manaus cria ilhas de calor, com temperaturas de até 42°C. Num espaço de 500 metros, a diferença de temperatura pode chegar a sete graus, segundo Marcos Castro, doutor em Geografia Humana que faz medições periódicas na cidade. Ao Amazonas Atual o pesquisador explica o que são as ilhas de calor e o impacto da falta de árvores na capital do estado: “Manaus é precariamente arborizada. Nós temos apenas 22% de arborização na cidade. Somos rodeados pela maior floresta tropical do mundo, mas negamos o verde, somos uma cidade cinza, com poucas árvores”.
📮 Outras histórias
“Eu vou ser a próxima Rebecca Andrade.” Aos 8 anos, Valentina Peruzzi diz a frase com os olhos brilhando. O sonho dela é compartilhado por outras crianças que integram o projeto de ginástica rítmica Rio em Forma, na Vila Olímpica do Salgueiro, zona norte do Rio de Janeiro. Desenvolvida por Viviane Andrade, campeã brasileira e sul-americana de ginástica, a iniciativa quer democratizar o acesso à ginástica rítmica ao oferecer aulas para crianças dentro das quadras das escolas de samba, como explica o Voz das Comunidades. “Além de ser a minha escola, era um sonho oferecer esse esporte de elite para crianças que não tinham condições financeiras”, conta a treinadora. O projeto tem atualmente 70 alunos com idade entre 5 e 17 anos. “Desde as Olimpíadas, estamos tendo uma procura muito grande. Já tínhamos lista de espera para as aulas. Agora ela triplicou”, completa.
📌 Investigação
A CIA monitorou as dinâmicas raciais no Brasil durante a ditadura militar. A agência de inteligência dos Estados Unidos fez em 1981 o relatório “Brasil: Raça e suas Implicações para a Estabilidade Política”, que mergulhou sobretudo na criação do Movimento Negro Unificado (MNU) no país, em 1978. A partir do projeto “Opening the Archives”, da Universidade Brown, em Rhode Island (EUA), a Agência Pública localizou o documento, que deixou um alerta aos futuros observadores das agências de espionagem estadunidenses sobre o racismo no Brasil: “Os centros de cultos afro-brasileiros, as escolas de samba ou outras associações negras, hoje apolíticas, estão se tornando centros de agitação política e propaganda?”. Assim como os militares brasileiros, os espiões dos EUA tinham receio de manifestações antirracistas e seu potencial de levantes sociais.
🍂 Meio ambiente
Lançada na última semana, a Política Nacional de Transição Energética do governo federal é um “pastel de vento”, segundo diferentes especialistas do setor de energia e da área ambiental ouvidos pelo Reset. O documento traz linhas gerais do que será feito, mas sem prazos para o desenvolvimento de um plano nacional e orientações concretas para a descarbonização do setor. Paralelamente, o governo tem fomentado a indústria do gás natural e avançado na licitação de novos blocos para exploração de petróleo. O texto menciona o conceito de transição energética justa em prol das comunidades, mas não explica como será aplicado. “Se você olhar para a história do Brasil recente, em nome da transição energética justa, o governo Bolsonaro deu sobrevida à exploração de carvão”, afirma Marta Salomon, analista do Instituto Talanoa.
📙 Cultura
Saraus, artesanatos, fotos, instrumentos musicais, livros de receitas quilombolas e consciência ambiental. Estes são os elementos que marcam a Coletiva Mulheres de Pedra, iniciativa que reúne mulheres pretas e caiçaras com o objetivo de valorizar a cultura popular de Pedra de Guaratiba, uma antiga colônia de pescadores que preserva viva suas tradições e cultura caiçara. Segundo o Nonada, Pedra de Guaratiba, na zona oeste do Rio de Janeiro, está às margens da Baía de Sepetiba, uma área degradada pela poluição causada por grandes empresas. A comunidade busca criar conexões que integrem o ativismo à educação socioambiental e decolonial no território. “A gente viveu, vive e vai continuar vivendo por muito tempo na arte e cultura”, conta Leila de Souza Netto, fundadora e integrante do Mulheres de Pedra.
🎧 Podcast
Herói da democracia para alguns, vilão para outros, o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes é nome recorrente nas manchetes de jornais. Dividido em seis partes, o podcast “Alexandre”, produção da Trovão Mídia e da revista piauí, reúne o que se sabe sobre a trajetória do magistrado e sua atuação nas eleições presidenciais de 2022 e ao longo de 2023 com investidas contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A jornalista Thais Bilenky entrevista aliados e adversários do ministro para explicar como ele se articula.
🙋🏾♀️ Raça e gênero
Os casos de feminicídios indígenas no Brasil tiveram um aumento de 500% entre 2003 e 2022. Ao todo, 394 feminicídios de mulheres indígenas foram registrados no período. Os dados são do “Relatório Técnico sobre Homicídios contra Mulheres e Adolescentes Indígenas”, elaborado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) em parceria com o Ministério dos Povos Indígenas. A Revista Afirmativa reúne alguns desses casos e mostra a invisibilização da situação e a falta de políticas públicas eficazes voltadas para as especificidades dessa população. Os episódios de violência sexual contra mulheres indígenas têm relação direta com invasão dos terrirtórios.