O avanço da Petrobras na Foz do Amazonas e a fumaça em Rondônia
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Nesta semana, lançamos a terceira edição da pesquisa da Brasis para conhecer um pouco mais vocês, leitores, e aprimorar nossa curadoria de notícias. Para participar, é só clicar aqui.
Obrigada e boa leitura!
🔸 O Ibama aprovou a preparação de uma sonda da Petrobras para explorar petróleo na Foz do Amazonas. Ontem, os técnicos do órgão ambiental deram parecer favorável para o plano de limpeza do equipamento, um processo de rotina no licenciamento. A sonda foi enviada à Margem Equatorial no início de 2023, na expectativa de que fosse autorizada a perfuração do poço naquela área. A Eixos explica que a remoção dos corais do casco da sonda dura cerca de 60 dias, mas a Petrobras quer reduzir esse tempo. O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), comemorou a decisão, que considera “um passo fundamental” para que a companhia obtenha a licença ambiental e avance com a atividade exploratória. A Petrobras ainda aguarda a reanálise do licenciamento, após exigências do Ibama ligadas à proteção da fauna e impactos às comunidades tradicionais.
🔸 No sertão da Bahia, famílias de agricultores denunciam multinacionais do setor eólico, como a Engie e a Enel, que teriam obtido terras de posseiros sob pretextos enganosos. O Meus Sertões conta que cerca de 300 pessoas caminharam em protesto pelas ruas de Umburanas até chegar diante do canteiro de obras da Engie, grupo franco-belga que atua em 30 países. Em Umburanas, empresas ligadas à multinacional alegaram ser donas de terras pertencentes à família de Serafim Joaquim da Silva. Um contrato de cessão de direitos hereditários foi assinado sem a anuência de todos os herdeiros, e idosos analfabetos teriam sido enganados. A Justiça determinou a reintegração da posse à família e, mesmo assim, as empresas continuam recebendo 1,6% do faturamento bruto da energia gerada pelos aerogeradores instalados na área.
🔸 No Acre, as chuvas intensas já fazem transbordar rios e alagam áreas residenciais. Na capital Rio Branco, ao menos 300 famílias precisaram deixar as suas casas por causa da enchente no rio Acre. O Varadouro informa que o manancial estava 20 cm acima da cota de transbordo na segunda-feira. É o terceiro ano consecutivo que o rio Acre transborda, um reflexo do impacto crescente de eventos climáticos extremos. A situação também é preocupante no Vale do Juruá, onde o rio subiu 10 cm em apenas um dia, e em Plácido de Castro, onde o rio Abunã também transbordou.
🔸 As big techs e a extrema direita no Brasil formaram uma aliança para barrar a regulação das redes sociais e fortalecer a retórica de suposta censura. O Aos Fatos detalha os principais marcos da aliança que ganhou força em 2023, com a derrubada do Projeto de Lei 2.630/2020, conhecido como PL das Fake News. Na ocasião, as plataformas mudaram sua estratégia de lobby e passaram a atuar diretamente com parlamentares e influenciadores extremistas. A campanha contra a regulação envolveu desinformação, como a alegação de que a lei proibiria, por exemplo, trechos da Bíblia. De lá para cá, o discurso contra o Supremo Tribunal Federal (STF) se intensificou, com Elon Musk e a Meta adotando posições mais radicais. No mês passado, a investida ganhou mais força contra Alexandre de Moraes: o Partido Liberal e a Rumble reforçaram os ataques ao ministro, em alinhamento com a extrema direita dos EUA.
🔸 A propósito: a extrema direita quer conquistar mais cadeiras no Senado em 2026, quando estarão em disputa 54 das 81 vagas de senador. O objetivo é ter maioria na Casa para avançar em pautas como o impeachment de ministros do STF. Segundo o Intercept Brasil, o plano, defendido por aliados de Bolsonaro como Ciro Nogueira e Gustavo Gayer, busca eleger 16 novos senadores e reeleger 11. “Dependendo do número de senadores que elegermos em 2026, não será apenas o Alexandre de Moraes que vai sair da Suprema Corte”, disse Gustavo Gayer, deputado federal pelo PL de Goiás. A eleição para o Senado é considerada prioridade porque oferece maior chance de vitória com um percentual menor de votos, além do longo mandato de oito anos.
📮 Outras histórias
A construção de um condomínio de luxo em Ponta Grossa (PR) pode levar à remoção de mais de 5 mil árvores em uma área de preservação ambiental no bairro Olarias. O empreendimento da construtora CR Almeida ocupará mais de 68 mil m², com 36 unidades residenciais, áreas comuns e lazer. O Portal Boca no Trombone mostra que, segundo o Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV), cerca de 70% da vegetação nativa da área será suprimida. Apesar da promessa da construtora de preservar 18,2 mil m² de área verde, o Instituto de Água e Terra recusou inicialmente o licenciamento ambiental. A empresa recorreu e aguarda análise do órgão.
📌 Investigação
“Eu acordava tentando respirar, mas só tinha o fumaceiro. Não tinha para onde ir. Não tinha médico nenhum. Como a gente iria para Porto Velho? Não tinha como”, diz a aposentada Maria Nilza, moradora de Demarcação, distrito de Porto Velho (RO), onde só é possível chegar após 12 horas de viagem de barco. O “Invisíveis da Fumaça”, série da InfoAmazonia, em parceria com Carta Amazônia, Vocativo, Tapajós de Fato e Voz da Terra, revela como pequenos povoados e comunidades da Amazônia foram afetados pela poluição do ar decorrentes das queimadas históricas que ocorreram entre julho e dezembro de 2024. Apesar do problema, poucas localidades rurais possuem estações fixas de monitoramento da qualidade do ar. A reportagem analisou informações globais de concentração de material particulado fino (PM2.5) com os dados censitários do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em Demarcação, a média de PM2.5 na atmosfera chegou a um valor 906% superior ao limite considerado seguro pela Organização Mundial da Saúde.
🍂 Meio ambiente
“Garantir o acesso aos seguros em um ‘mundo em chamas’, em que os eventos climáticos se tornam cada dia mais extremos, é mais do que uma forma de socialização de perdas e preservação de bens e interesses. Trata-se de uma necessidade para que cidadãos e cidadãs, assim como empresas, possam ter protegidos os meios pelos quais exerçam os seus direitos fundamentais”, escreve o advogado Vitor Boaventura. Em artigo no Reset, ele debate o termo “segurança” como direito constitucional frente aos desastres crescentes causados pela crise climática e destaca a iniciativa da Superintendência de Seguros Privados para elaborar um relatório que poderá subsidiar o Conselho Diretor da instituição na criação da Política Nacional de Acesso ao Seguro.
📙 Cultura
Em um cenário em que a indústria audiovisual brasileira é historicamente branca e elitista, a EGBÉ – Mostra de Cinema Negro tem o papel de ser “um dos mais importantes territórios de aquilombamento cinematográfico em Sergipe”, como define a jornalista e pesquisadora de audiovisual Ayalla Anjos, em artigo na Mangue. A edição deste ano – que acontece de 29 de março a 5 de abril em Aracaju – é baseada no conceito de “Sankofa”, ensinamento africano que propõe um olhar para o passado para construir o futuro. “Essa perspectiva é essencial, pois o cinema negro brasileiro não é um fenômeno recente, mas parte de uma tradição de resistência que remonta ao teatro negro. O desafio é garantir que esse legado continue e que o cinema negro não seja tratado como uma ‘tendência’, mas sim como parte integral da cultura brasileira.”
🎧 Podcast
Jornalistas precisam tomar decisões éticas e editoriais a todo momento que podem ter impactos em toda a sociedade. A série interativa “Escolha”, do “Vida de Jornalista”, produção da Rádio Guarda-Chuva, reúne 25 episódios, que são, na verdade, decisões para o ouvinte sobre qual caminho seguir – sem uma ordem definida de qual é o próximo episódio. Grandes nomes da profissão comentam cada novo passo nesse caminho, com dilemas que envolvem, por exemplo, a proteção das fontes. É o caso do jornalista Fábio Gusmão, que garantiu a segurança de Vitória (nome fictício), uma senhora de 80 anos que filmou a ação de traficantes na Ladeira dos Tabajaras, favela na zona sul do Rio de Janeiro. O caso se transformou em livro e ganhou um filme – “Vitória” estreia amanhã nos cinemas, com a atriz Fernanda Montenegro.
👩🏾⚕️ Saúde
Os cuidados de atenção primária e as visitas domiciliares de profissionais de saúde aos pacientes são as principais estratégias para tratar e interromper a transmissão de tuberculose. É o que revela um estudo publicado nos “Cadernos de Saúde Pública”. A pesquisa foi feita no município do Rio de Janeiro, terceira capital com maior incidência de tuberculose no Brasil, atrás apenas de Manaus e Recife. Segundo a Agência Bori, o trabalho analisou dados de casos de tuberculose entre 2014, quando foram implementados os testes rápidos para detecção da doença, e 2022. Os pesquisadores explicam que houve uma associação direta entre as visitas domiciliares e o diagnóstico de casos, o que demonstra a necessidade de ampliar os serviços oferecidos pelo SUS para prevenção, detecção e tratamento por meio da atenção primária.