O avanço do fogo no Pantanal e o boicote à redução de agrotóxicos
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🔸 Mais de 7 mil focos de incêndio tingem o céu do Pantanal nos últimos dias. O tráfego na BR-262 chegou a ser interditado pela Polícia Rodoviária Federal por causa do avanço das chamas nas duas laterais da pista. O Conexão Planeta explica que a velocidade do vento, que chega a 60 km por hora, agrava a situação e faz os incêndios de agora ainda mais devastadores do que os de 2020, quando um terço do bioma foi destruído. A origem de um dos maiores focos atuais estaria relacionada a um incidente com um caminhão que atolou no Pantanal da Nhecolândia, em Aquidauana (MS). A tentativa de desatolar o veículo gerou faíscas que incendiaram o capim seco. Apesar dos esforços iniciais, o fogo se espalhou rapidamente. Moradores da comunidade da Barra do Rio São Lourenço veem as labaredas de mais de 3 metros de altura na outra margem do rio. “As comunidades do Pantanal estão sendo brutalmente atingidas pelo fogo. Lugares que já tinham queimado estão ‘requeimando’, e é assustador saber que está se aproximando da casa da gente”, diz Dona Leonilda Reis de Souza.
🔸 Também no Mato Grosso do Sul, é dramática a situação dos Guarani Kaiowá na Terra Indígena Panambi - Lagoa Rica. O Intercept Brasil revela que pelo menos 30 crianças estão sem comer desde os ataques que os indígenas vêm sofrendo de jagunços na região. Com o processo de demarcação travado por uma ordem judicial e pelo debate do Marco Temporal, os Guarani Kaiowá têm recuperado trechos de seu território. Nas três retomadas mais recentes, estão envolvidas 126 famílias, incluindo 18 idosos, 70 crianças e 50 jovens. No último sábado, 11 indígenas foram feridos num ataque armado. A fome também é uma estratégia dos ruralistas. “Aqui é a nossa terra. Já estamos há muito tempo esperando pela demarcação. Cansamos disso. E quando decidimos lutar somos tratados como bichos. Somos desprezados em Douradina. Se recusam a nos vender comida, combustível, qualquer coisa. Cospem em nós. E nós só estamos pedindo que nos tratem como gente, que garantam nossos direitos”, afirma E. Kaiowá.
🔸 “Um conflito dessa forma não interessa a vocês [produtores rurais], não interessa aos indígenas e não interessa ao governo [federal]. Não interessa a ninguém”, disse a ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, que esteve em Douradina (MS) na terça-feira. O Correio do Estado informa que o ministério propôs a demarcação de 12,1 mil hectares no território Panambi- Lagoa Rica. A Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul) alega que as áreas declaradas como de usufruto exclusivo indígena no estado já somam mais de 283 mil hectares, espalhados em 903 propriedades rurais do estado, o que gera “insegurança jurídica no campo”.
🔸 Nas Olimpíadas, um esporte tem estreia marcada para amanhã: o breaking dance, estilo de dança urbana que reflete a luta do movimento negro. Sua origem remonta anos anos 1970, no Bronx, em Nova York, onde surgiu como forma de apaziguar as disputas territoriais de gangues de rua. Logo, as batalhas de dançarinos se popularizaram e se fundiram à cultura hip hop. A Alma Preta narra a história da nova modalidade olímpica e como ela chegou ao Brasil – a saber: nos anos 1980, na estação São Bento do Metrô de São Paulo, onde grupos se reuniam para treinar os passos. Embora tenha nomes relevantes no esporte, como Drika, Toquinha, Kapu e Dinho, o país ficou de fora dos Jogos de Paris.
🔸 Com mais uma medalha ontem, o Brasil se consolida no skate nos jogos olímpicos. Depois de garantir três atletas na final do skate park, o país chegou ao pódio com Augusto Akio, o Japinha, que faturou a medalha de bronze. Na modalidade street, Rayssa Leal também conquistou o bronze. O Portal Terra resume a trajetória de Japinha, que começou a andar de skate aos 7 anos e, ainda na adolescência, levou o bronze no Mundial de Skate Vert, em Barcelona.
📮 Outras histórias
Vestindo um collant brilhante, tal qual uma ginasta, Priscilla Tawanny tem 50 segundos para se apresentar. É o tempo que o sinal das ruas Conde de Irajá e Real da Torre, no bairro da Torre, em Recife, leva para abrir. Há três anos, a artista de rua e baliza de bandas marciais faz suas acrobacias por ali. A paixão pela ginástica rítmica vem da adolescência. “Acho que tinha uns 12, 13 anos de idade e comecei a ver as competições pelo YouTube e achava tudo muito bonito”, conta. À Marco Zero Priscilla diz ainda que, se tivesse tido acesso às aulas de ginástica rítmica na infância, poderia ter outra vida. “Falta um investimento, falta o governo olhar para esse esporte como ele merece ser visto, é uma categoria tão linda”, afirma, mas não se ressente. Em 2021, Priscilla foi a primeira campeã da categoria baliza trans da Copa Pernambucana de Bandas e Fanfarras.
📌 Investigação
Há dez anos, o Brasil tem um programa para diminuir o uso de agrotóxicos, o Programa Nacional de Redução de Agrotóxicos (Pronara), mas ele nunca foi posto em prática. E tem um motivo: lobby. Em parceria com a Fiquem Sabendo, O Joio e O Trigo mostra que dez fabricantes de agrotóxicos – Bayer, Basf, Syngenta, Corteva, Sumitomo, Dow Brasil, Rhodia, Ourofino, Adama e Iharabras – somaram ao menos 205 reuniões na Esplanada dos Ministérios apenas entre 2022 e 2024. As pautas, em sua maioria, foram descritas como “apresentação institucional”, “reunião com representantes da empresa”, sem detalhar o assunto. As visitas de associações de produtores e indústrias químicas foram ainda mais frequentes: só a Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim) teve 122 compromissos junto ao Executivo. A CropLife, associação que reúne empresas de biotecnologia, agrotóxicos e bioinsumos, esteve em 37 ocasiões com autoridades do governo federal no período.
🍂 Meio ambiente
A substituição de vegetação nativa por monoculturas de eucaliptos provoca mudanças na estrutura do solo, que impactam o ambiente e a fauna de nascentes de rios próximas. A conclusão é de um estudo da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) publicado na revista científica “Acta Limnologica Brasiliensia”. Segundo a Agência Bori, a pesquisa aponta que as plantações de eucalipto reduziram em quase 30% o número de espécies de organismos aquáticos, incluindo insetos, encontrados em nascentes da Mata Atlântica. Organismos aquáticos de seis grupos são indicadores de condições ecológicas favoráveis e não foram encontrados nas amostras em áreas de plantações de eucalipto.
📙 Cultura
“Misturamos elementos como brega, capoeira, frevo, funk e samba no pé, entre outras manifestações culturais tipicamente brasileiras”, afirma Ákira Avalanx, artista, produtora e uma das pioneiras da cultura ballroom no Brasil. Em São Paulo, ela oferece aulas gratuitas de voguing, estilo de dança tradicional do movimento. O Colabora mostra como a cena ballroom – essencialmente negra, periférica e LGBTQIA+ – tem se espalhado pelo país, de Norte a Sul, e incorporado elementos da cultura nacional. “O brasileiro, por mais que respeite todos os conceitos e normas dessa cultura, que chega neste território por meio da transnacionalização, adiciona elementos importantes que destacam e transformam esta cena, mostrando toda a riqueza cultural e popular que o país tem em sua natureza”, explica jornalista Dante Alves, autor de “Cultura Ballroom – O Processo de Emancipação da Ballroom Brasileira”.
🎧 Podcast
A xenofobia e o racismo foram usados como ferramentas durante e após o deslocamento do eixo político e econômico do Nordeste para o Centro-Sul do país ao longo da colonização. Ainda hoje, permanecem. O último episódio da série “Nordestinidades”, produção da Eco Nordeste, conversa com o jornalista Octávio Santiago, que pesquisa o preconceito contra nordestinos pela Universidade do Minho, em Portugal. Natural de Natal (RN), ele traz os principais elementos do sotaque potiguar e mostra como essa também é uma das características frequentemente atacada em casos de xenofobia.
🙋🏾♀️ Raça e gênero
Estabelecidas pela Lei Maria da Penha, as Medidas Protetivas de Urgência são ferramentas que oferecem uma resposta imediata e estruturada para proteger a vítima e assegurar que o agressor seja afastado. “Com a medida, minha segurança e bem-estar melhoraram significativamente, principalmente porque estávamos morando longe, ele em Alagoas, e eu em Pernambuco. Pude voltar ao trabalho e me senti mais segura”, relata uma mulher, que sofreu ameaças, agressões psicológicas e violência patrimonial durante o processo de divórcio do ex-marido. A Eufêmea destrincha como é possível conseguir uma medida protetiva e quais as situações em que ela se encaixa.