O avanço da direita no país e a guerra em Gaza segundo escritores
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🔸 As eleições municipais confirmaram o perfil majoritariamente branco e masculino da política brasileira: 57% dos prefeitos eleitos são homens cis brancos. Do total de 5.457 eleitos, 29% são homens negros e apenas 4% são mulheres cis negras, como mostra a Gênero e Número em reportagem visual com dados do primeiro turno no país. O cenário se repete entre os candidatos que vão ao segundo turno: são 89 homens cis (dos quais 69 brancos) e 15 mulheres cis (das quais cinco são negras).
🔸 O pleito municipal também aponta o fortalecimento da extrema direita no país. “PL, Republicanos, essas legendas de direita, estão muito mais articuladas para atuar no país, fazer base social e conquistar prefeituras. Elas têm feito o trabalho de formiguinha, de ir nos municípios, buscar nomes e tentar colocar candidaturas competitivas, com um discurso pragmático e com um discurso ideológico apenas quando convém”, afirma a cientista política Márcia Ribeiro Dias, em entrevista ao Nexo. Para ela, a vitória de Carlos Bolsonaro como o vereador mais votado do Rio de Janeiro e a eleição de Jair Renan para seu primeiro mandato em Balneário Camboriú (SC) indicam “resiliência do bolsonarismo no Brasil”. Em paralelo, houve o aumento de 57 prefeituras para o PT – “um avanço, mas um número ainda pequeno para quem tem nas mãos a Presidência da República”.
🔸 PL e Podemos ganharam força também na região metropolitana de São Paulo. Partidos de esquerda se elegeram em apenas uma cidade (em Cotia, com a vitória do PDT) e ainda disputam em quatro municípios no segundo turno, informa a Agência Mural. O PT não elegeu nenhum prefeito de forma direta, e partidos históricos como o MDB e PSDB conquistaram, respectivamente, quatro e duas prefeituras em toda Grande SP.
🔸 O vereador mais votado do Brasil tem 26 anos e 1,2 milhão de seguidores no Instagram. Lucas Pavanato, do PL, partido de Jair Bolsonaro, recebeu 161.386 votos válidos em São Paulo e teve a campanha impulsionada pelo deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG). O Congresso em Foco conta que ele foi estagiário no gabinete de Fernando Holiday em 2018 e já havia tentando um cargo público – em 2022, concorreu a deputado estadual, mas, com 36 mil votos, não se elegeu.
🔸 Se a direita se alastra, há também o avanço de representantes de comunidades historicamente invisibilizadas. É o caso Eliete Paraguassu (PSOL), primeira mulher quilombola eleita vereadora em Salvador. A Alma Preta resgata sua história: marisqueira e pescadora, começou sua atuação política depois de sua filha ter sido contaminada por metais pesados, como cádmio e mercúrio, nas águas da Ilha de Maré. “A gente vai fazer história nessa cidade. A campanha chega para dizer que existe pescador, quilombola, ilhas”, afirma a vereadora.
🔸 Dias antes da eleição, o Rio de Janeiro registrou o centésimo ataque a tiros contra políticos em oito anos. A vereadora Tainá de Paula (PT) teve o carro atingido por tiros em Vila Isabel, quando voltava de um dia de campanha. Ninguém se feriu, mas o Fogo Cruzado mostra que a violência contra políticos é frequente em toda região metropolitana do Rio. O atentado contra Tainá de Paula foi o 15º apenas em 2024. “De novo vereadora, uma mulher negra, é vítima de um ataque brutal que poderia ter acabado como Marielle [Franco], se não fosse pelo carro blindado. Já vimos esse filme e o desfecho foi trágico. Esses casos precisam de investigação exemplar”, afirma Cecília Olliveira, diretora executiva do Instituto Fogo Cruzado. Em tempo: Tainá de Paula foi reeleita com 49.986 votos.
📮 Outras histórias
“Eu sempre fui política, mesmo sem saber. Lembro quando eu tinha uns 13 anos, eu era corintiana, e o Corinthians não ganhava, e eu chorava. Mas eu continuava torcendo. Então eu digo que nasci partidária.” Maria Izolina Pinheiro, a dona Lina, tem 77 anos e vive em um acampamento a 70 quilômetros de Londrina (PR). A cidade, aliás, nunca teve uma vereadora negra – barreira que foi quase superada por dona Lina em 1988. Na época, ela recebeu a segunda maior votação do PT na cidade. Com 882 votos, terminou como vereadora suplente. A Rede Lume perfila a militante que, em 1985, participou do 1º Congresso do Movimento Sem Terra, em Curitiba, e, ao longo da vida, enfrentou de frente diversas formas de opressão.
📌 Investigação
Apesar dos riscos relacionados à compulsão por jogos de azar, o Ministério da Saúde só participou de dois dos 209 encontros do governo federal sobre a regulamentação das bets no país. O Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome também foi escanteado, embora uma análise preliminar do Banco Central tenha apontado o uso de CPFs cadastrados no Bolsa Família para a realização de apostas. A “Don’t LAI to me”, newsletter da Fiquem Sabendo, revela que quase todas as agendas de autoridades federais sobre o tema foram do Ministério da Fazenda. As instituições privadas – bancos, empresas de análise de crédito, entidades defensoras do direito às apostas, representantes de diversas casas de apostas, escritórios de advocacia e big techs – foram as que mais se encontraram com os servidores da pasta. Polícia Federal e Anatel, órgãos importantes para discutir relações entre jogos e mercados ilícitos, só participaram de um evento cada.
🍂 Meio ambiente
No fim deste mês, representantes de 196 países vão se reunir em Cali, na Colômbia, para a 16ª edição da Conferência das Partes da ONU sobre Biodiversidade, a COP16 da Biodiversidade. Uma das prioridades do evento é encontrar uma solução para a lacuna de US$ 200 bilhões anuais para proteger e restaurar os ecossistemas no mundo. O Reset explica o que é a conferência e quais são as resoluções esperadas. Esta será a primeira reunião desde a aprovação do Marco Global da Biodiversidade, na COP15, há dois anos. O documento estabelece 23 metas a serem cumpridas até 2030 para reduzir a perda da biodiversidade e incentivar sua restauração. Durante o evento, os países signatários – entre eles, o Brasil – devem apresentar seu progresso em relação às metas.
📙 Cultura
Em sua 14ª edição, o Festival Internacional de Animação de Pernambuco, o Animage, consolidou a Mostra Erótica, com 12 anos de história no evento, como uma de suas exibições mais populares. A revista O Grito! acompanhou a lotação das sessões de animações eróticas no último final de semana e explica por que o nicho se tornou um sucesso no Animage: “Faltam espaços para explorar artisticamente a sexualidade e o erotismo de forma lúdica e saudável através da fruição artística de qualidade”, afirma a produtora audiovisual Nara Aragão, curadora da Mostra Erótica. “Existe uma demanda por conteúdo de animação adulto. A animação vai muito mais além do público infantil. É um erro fazer essa associação redundante. A programação do Animage tem provado isso a cada edição.”
🎧 Podcast
“A propaganda sionista sempre quis apagar o nome da Palestina, os palestinos e a representação dos palestinos. Há uma tentativa de apagamento total da existência do povo palestino”, afirma o escritor Milton Hatoum, referência da ficção nacional e disseminador da cultura árabe. No “451 MHz”, produção da Quatro Cinco Um, Hatoum e o Benjamin Moser, ambos autores participantes da recém lançada antologia “Gaza no Coração: História, Resistência e Solidariedade Palestina”, analisam o conflito no Oriente Médio, que completou um ano ontem, e debatem a resistência palestina diante dos ataques desproporcionais de Israel.
🧑🏽🏫 Educação
Por meio de brincadeiras africanas e oficinas de formação para professores, o projeto Xirê de Quintal contribui com o estudo da história e cultura indígena e afro-brasileira. O Nonada conta que a iniciativa nasceu na pandemia, a partir de uma página de Instagram, em que a pedagoga Tamis Ferreira começou a reunir reflexões e escritos que tinha com os aprendizados e vivências em comunidade. “A partir da brincadeira, eu estou ensinando sobre filosofia, geografia, território, história, práticas ancestrais, música, ritmo, movimento e várias outras coisas com as quais fisicamente o corpo precisa se relacionar que só pela brincadeira é possível de ser acessado”, destaca Tamis. Uma das atividades desenvolvidas pelo Xirê de Quintal é a oficina de confecção de Jogo da Memória Adinkras, composto por um conjunto de símbolos ancestrais do povo Ashanti, onde atualmente ficam Gana, Burkina Faso e Togo.