O aval para a Petrobras na Foz do Amazonas e o espaço do agro na COP30
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🔸 A 21 dias da COP30, o Ibama autorizou a Petrobras a perfurar um poço na Foz do Amazonas, região de extrema sensibilidade ambiental e riquíssima em biodiversidade. A licença abre uma nova frente de exploração de petróleo no Brasil – além do bloco 59 que a Petrobras vai perfurar, mais 27 blocos aguardam licenciamento na Bacia do Foz do Amazonas. O processo de licenciamento da petroleira se arrastava desde 2014 e foi finalizado sob forte pressão do governo Lula. A Sumaúma apurou que a decisão da emissão da licença antes da COP30 foi tomada na Casa Civil, comandada pelo petista Rui Costa. A Petrobras informou que vai começar imediatamente a perfuração, que tem duração prevista de cinco meses. O movimento contrasta com o maior desafio da Conferência do Clima marcada para novembro, em Belém: acelerar o compromisso, assinado por 27 países na COP28, de “transitar para longe” dos combustíveis fósseis. O Observatório do Clima, rede de mais de 130 organizações socioambientais, anunciou que irá aos tribunais para anular a licença.
🔸 “Lula acaba de enterrar sua pretensão de ser líder climático no fundo do oceano na Foz do Amazonas. O governo será devidamente processado por isso nos próximos dias”, afirma Suely Araújo, coordenadora de Políticas Públicas do Observatório do Clima. Ela classifica a emissão da licença para a Petrobras como uma “dupla sabotagem”: “Por um lado, o governo brasileiro atua contra a humanidade, ao estimular mais expansão fóssil contrariando à ciência e apostando em mais aquecimento global. Por outro, atrapalha a própria COP30, cuja entrega mais importante precisa ser a implementação da determinação de eliminar gradualmente os combustíveis fósseis”. O Colabora ouve especialistas sobre a licença e lembra que a medida contraria decisões legais de tribunais internacionais, como a Corte Interamericana de Direitos Humanos e da Corte Internacional de Justiça. “Às vésperas da COP30, o Brasil se veste de verde no palco internacional, mas se mancha de óleo na própria casa”, diz a coordenadora da Frente de Oceanos do Greenpeace Brasil, Mariana Andrade.
🔸 Falando em COP30… o agronegócio terá um lugar para chamar de seu na conferência. Trata-se da Agrizone, um espaço a cargo da Embrapa, um órgão federal, e patrocinado por gigantes do setor e entidades de classe como a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), que investiu R$ 2,5 milhões na iniciativa. Já Nestlé e Bayer desembolsaram R$ 1 milhão cada. A Repórter Brasil explica que a Agrizone, instalada a 2km do pavilhão oficial da cúpula das Nações Unidas, integra a estratégia de disputar a narrativa sobre a crise climática. Nas palavras do senador Zequinha Marinho (PL-PA), “a gente precisa sair na frente falando, porque senão a conversa que vem de lá para cá, junto com órgãos governamentais, vão tomar conta e dominar o discurso da COP”. A CNA venderá a imagem de “potência agroambiental” e a “agricultura tropical”, mantendo ainda estande na zona oficial e visitas a fazendas na Amazônia.
🔸 Na esteira de contradições, a Prefeitura de Belém propôs atendimento de saúde “diferenciado” para turistas da COP30. A capital paraense enfrenta riscos de colapso no sistema de saúde pública. Segundo a Alma Preta, o Ministério Público Federal denunciou a medida, que fere princípios constitucionais ao criar uma “segregação” no acesso ao Sistema Único de Saúde (SUS). A prefeitura planeja criar duas filas de regulação de leitos – uma para participantes do evento e outra para a população local. O MPF também alerta para o risco de colapso: não houve pedidos de reforço ao Ministério da Saúde, nem previsão orçamentária específica no pacote da COP. Do orçamento de cerca de R$ 4,7 bilhões da conferência, não há qualquer destinação para a saúde pública. Com unidades de pronto-atendimento e prontos-socorros lotados, falta de medicamentos e equipes sobrecarregadas, o atendimento da demanda extra dependeria da rede existente.
📮 Outras histórias
Políticos e empresários de Alagoas intensificam um levante anti-indígena com desinformação e pânico entre trabalhadores rurais. O movimento acompanha o avanço da demarcação da Terra Indígena Xukuru-Kariri, em Palmeira dos Índios, no agreste do estado. A Mídia Caeté detalha as campanhas que incitam a população local contra os povos originários. A crise se acentuou nas últimas semanas, e servidores da Funai agora precisam de escolta da Polícia Militar para avaliar ações na área, parte do processo de demarcação. Vereadores chegaram a realizar uma audiência que resultou no “Fórum Permanente de Resistência à Demarcação”. O documento, registrado na Câmara de Palmeira dos Índios, atribuiu a políticas indigenistas a “fuga” de empresários da região. Em vídeos, o ex-deputado Edval Gaia Filho sugeriu retirar “Índios” do nome da cidade. “São posseiros com mandato, ou que atuam como mandatários, que falam em nome do povo mas estão em causa própria”, afirma Cícero Albuquerque, coordenador regional da Funai.
📌 Investigação
Mais de 471 mil trabalhadores foram afastados de suas atividades por questões de saúde mental no ano passado no Brasil. O número supera 2020, ano de início da pandemia da Covid-19, quando houve 289.697 afastamentos. De lá para cá, o crescimento foi de 62%. A maioria dos casos está ligada a reações graves ao estresse, transtornos de ansiedade e episódios depressivos. A Agência Tatu analisou os dados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), disponibilizados pelo Observatório da Segurança e Saúde do Trabalho, iniciativa coordenada pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) e pelo Ministério Público do Trabalho (MPT). O Sudeste lidera com o maior número de benefícios concedidos pelo órgão federal por afastamento, com cerca de metade dos casos (242.733). Já Santa Catarina foi o estado com maior número proporcional de afastamentos por saúde mental, concedidos pelo INSS em 2024, com 454 a cada 100 mil habitantes.
🍂 Meio ambiente
O desmonte da política ambiental pelo governo do Acre na gestão de Gladson Cameli (PP) tem levado seringueiros a abandonar o corte da seringa. Como consequência, abre-se mais espaço para a pecuária, geralmente ligada ao desmatamento da Amazônia. Cameli acabou com a autarquia estadual responsável por gerenciar um programa em parceria com o governo da Alemanha que repassava recursos ao Acre por suas ações de combate ao desmatamento, como o apoio a extrativistas. Segundo o Varadouro, as cooperativas, que atuavam como intermediárias entre governo e produtores, relatam que, desde 2019, há atrasos nos pagamentos do subsídio. Em apenas uma cooperativa – com mais de 2 mil famílias –, as pendências ultrapassam a marca de R$ 500 mil. Em gestões anteriores, as cooperativas chegavam até a fazer pagamentos antecipados do subsídio estadual aos produtores.
📙 Cultura
“Existe um medo enorme de se colocar o pênis na tela, de filmar o sexo, como se isso desqualificasse a obra. Para mim, explorar a sexualidade é muito importante, sobretudo dentro da nossa comunidade queer, que hoje é tolerada pela sociedade desde que não se lembre que a gente transa, deseja, fantasia”, afirma o cineasta pernambucano Fábio Leal, diretor de “O Faz-Tudo”, vencedor de melhor curta na mostra principal do Festival do Rio, uma das mais importantes premiações do cinema nacional. Com cinco minutos, a obra nasceu da vontade de Leal de experimentar e se mistura entre videoclipe, documentário e ficção, além de dialogar diretamente com a tradição da pornochanchada, gênero popular nos anos 1970 e 1980. Em entrevista à revista O Grito!, o cineasta fala sobre o curta premiado e sobre o preconceito que envolve a pornochanchada. “Acho que o Brasil criou um gênero cinematográfico por excelência e depois renegou.”
🎧 Podcast
“Eu tenho 23 discos. Nos primeiros 15, a gente compunha sem parar. Tudo era desculpa e motivo para encontrar, conversar, se abrir, beber, sair, dançar. Uma loucura”, conta a cantora Marina Lima, irmã e parceira musical de Antonio Cícero, morto há quase um ano. Foi dessa parceria entre irmãos que surgiram grandes obras da música e da poesia brasileira. No “451 MHz”, produção da Quatro Cinco Um, a artista se juntou ao compositor Arthur Nogueira, à poeta Alice Sant’Anna e à colunista do podcast Bruna Beber para ler poemas de Cicero incluídos na coletânea “Fullgás: Poesia Reunida”. Marina lembra também os bastidores do nascimento de um dos maiores sucessos de sua carreira, a canção “Fullgás”: “Eu tinha acabado de compor com bateria eletrônica a música de ‘Fullgás’. A gente estava sentado num tapete branco, num estudiozinho. Os dois no chão fumando, bebendo uísque. Eu cantarolando a música, e ele começando a botar letra”.
👩🏽🏫 Educação
Dez anos depois da epidemia do vírus Zika, as crianças afetadas durante a gestação enfrentam dificuldades para ter suas demandas educacionais atendidas. A maioria delas nasceu com microcefalia e outras manifestações da Síndrome Congênita do Vírus Zika (SCZ ) e precisa de cuidados que vão além das áreas disciplinares. “As escolas possuem dificuldades em promover estratégias para a participação efetiva das crianças com SCZ nas atividades e nas relações de ensino ali estabelecidas. Sobretudo, pela falta apropriada de formação das(os) professoras(es)”, afirma Márcia Denise Pletsch, pesquisadora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFFRJ), em artigo no Conversation Brasil. Ao lado de uma equipe multidisciplinar, ela estudou como as redes de ensino e as escolas fluminenses estão estruturadas para receber essa população. “Dentre os achados da pesquisa também destacamos a necessidade de elaboração de programas e políticas intersetoriais que envolvam educação, saúde e assistência social, a fim de contribuir para o desenvolvimento integral dessas crianças e melhorar sua qualidade de vida e bem-estar.”
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