Os áudios do hacker e um fóssil raro no Rio Grande do Sul
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🔸 Longe das câmeras e do depoimento na CPMI, o hacker Walter Delgatti narrou para conhecidos a trama sobre o suposto plano para gerar desconfiança em torno das urnas eletrônicas. O Metrópoles teve acesso a informações ainda desconhecidas pela Polícia Federal e pela comissão parlamentar. Num áudio gravado um dia antes de seu encontro com Jair Bolsonaro (PL), Delgatti afirmou: “Eles vão configurar o código-fonte para dar o resultado que eles querem”. Já dez dias antes do segundo turno, ele deu a entender que ele e o então presidente se encontraram várias vezes: “O Bolsonaro, ele tá fazendo questão que eu vá lá. Aí, teve alguém da equipe que falou: ‘Irmão, é bom ele não vir aqui porque pode queimar’. Ele (Bolsonaro) falou: ‘Quem manda aqui sou eu, e ele vai vir’”.
🔸 Ele, o hacker, foi condenado a 20 anos de prisão pela invasão de celulares e o vazamento de informações que deram origem à série de reportagens conhecida como Vaza Jato. Os textos revelaram a relação extraoficial de integrantes do Ministério Público Federal, liderados por Deltan Dallagnol, e magistrados responsáveis por julgar os processos da Operação Lava Jato, especialmente Sergio Moro. A CartaCapital lembra que Delgatti já está preso, desde agosto do ano passado, por causa de outro processo – uma ação contra os responsáveis por invadir o sistema informatizado do Poder Judiciário.
🔸 Ameaças de morte e “estupro corretivo” rondam três parlamentares do PSOL em Minas Gerais. As vereadoras Iza Lourença e Cida Falabella e a deputada estadual Bella Gonçalves receberam e-mails com frases como: “Seremos breves: você é lésbica e por isso sua presença não será mais tolerada”. Nas mensagens, o autor também afirma que irá até as residências das parlamentares para testar o “estupro corretivo” como uma “terapia cognitiva para curar a lesbianidade”, como informa o Paraíba Feminina. No Rio de Janeiro, a vereadora Monica Benício, também do PSOL, denunciou às autoridades as mesmas ameaças.
🔸 Depois de comunicar que as passagens promocionais com embarque previsto para setembro a dezembro não seriam emitidas, a agência 123milhas viu sua reputação derreter nas redes sociais. O anúncio de que a devolução dos valores será feita em vouchers que só poderão ser usados no próprio site da empresa só fez piorar a situação. O Núcleo reúne queixas e ameaças de processos que pipocam na internet. Lembra ainda que o governo e o Procon já afirmaram que, além dos tais vouchers, a empresa terá de fazer a devolução em dinheiro.
📮 Outras histórias
Um fóssil descoberto no Rio Grande do Sul traz novas perspectivas ao estudo do desenvolvimento dos dinossauros. O esqueleto do Venetoraptor gassenae foi encontrado no Geoparque Quarta Colônia, na cidade de São João do Polêsine, na região central do estado. Ele é considerado precursor dos pterossauros, grupo de répteis voadores que, embora tenha vivido na era dos dinossauros, é considerado de outra espécie. O Sul21 conta que a pesquisa, assinada por nove cientistas (quatro deles brasileiros), foi publicada na revista Nature. Mais de 50 fragmentos do animal foram encontrados na escavação. “O grande ponto é que os dinossauros a gente sabe mais ou menos de onde vieram, como se deu a evolução do grupo. Já os pterossauros, como são animais tão especializados no voo, têm um esqueleto muito modificado, e a gente tinha pouca informação sobre como surgiram”, afirma o paleontólogo Rodrigo Temp Müller, que liderou o estudo.
📌 Investigação
O dinheiro nunca sacado pela população brasileira chega à casa dos bilhões. Na Caixa Econômica Federal, por exemplo, as cotas esquecidas do PIS/Pasep (direito de quem trabalhou com carteira assinada) somam R$ 25,5 bilhões. Como apurou a revista piauí, o valor corresponderia a um ano de Bolsa Família para três milhões de famílias. De acordo com a reportagem, “cerca de 10,4 milhões de trabalhadores que trabalhavam com carteira assinada entre 1971 e 1988, tanto na iniciativa privada quanto como servidores públicos, estavam aptos a sacar as cotas do PIS/Pasep até o dia 5 de agosto deste ano”. Já o dinheiro nunca sacado no Banco Central chega a R$ 7 bilhões. No entanto, mais de 28 milhões de beneficiários estão na faixa para resgatar até R$ 10. Ou seja, para a grande maioria trata-se de um valor irrisório, mas que, somado, poderia ser convertido em iniciativas.
🍂 Meio ambiente
Uma pequena cidade do Rio Grande do Sul enfrenta obstáculos para realizar a transição energética. Conhecida como a capital nacional do carvão, Candiota sofre pressão para a desativação de usinas termelétricas sem ter encontrado uma alternativa econômica. A Agência Pública explica que a cidade de cerca de 10 mil habitantes concentra 40% das reservas nacionais de carvão mineral. A redução dos combustíveis fósseis e as emissões de gases de efeito estufa são uma estratégia para mitigar os efeitos do aquecimento global. Para o município, porém, a preocupação é ter sua principal fonte de emprego e renda encerrada sem ter criado uma alternativa econômica. Dos 2.533 trabalhadores formais registrados no município em 2019, 445 atuavam na geração de energia elétrica (17,6% do total), 257 na extração do carvão (10,1%) e 30 no beneficiamento do mineral (1,2%).
Existem ainda mais de 4 mil garimpos ilegais na Amazônia. Segundo levantamento do WWF-Brasil, desde 1994, cerca de 2.300 toneladas de mercúrio foram despejadas na Amazônia brasileira, número que vem crescendo e pode chegar até a 150 toneladas de mercúrio por ano. O Envolverde destaca que as populações ribeirinhas e indígenas são as mais impactadas pela contaminação de mercúrio, apresentando níveis de infecção superiores ao estabelecido pela Organização Mundial de Saúde. Especialistas apontam a necessidade de controlar a cadeia produtiva do ouro e seus efeitos nas emissões ambientais de mercúrio, identificar e medir os eventos de poluição por mercúrio e desenvolver medidas de redução dos riscos e impactos da contaminação por mercúrio em populações vulneráveis.
📙 Cultura
O Sertão nordestino é cenário de fundo da série “Cangaço Novo”. Tendo estreado durante o 52° Festival de Cinema de Gramado, a produção chegou ao streaming na última sexta-feira. A Revista O Grito! conta que a obra é uma releitura contemporânea do movimento armado conhecido como cangaço e aborda uma realidade de disputas políticas e conflitos de terra, além de fazer referências ao imaginário popular sertanejo. Segundo o diretor Aly Muritiba, “o sertão contemporâneo brasileiro é uma grande contradição que explode em potência”. “Você tem o antigo, o arcaico, o ancestral, o imaginário, o lendário convivendo cotidianamente com o cosmopolita, com o contemporâneo, com o moderno”, afirma. A trama se desenrola ao redor de uma gangue de cangaceiros e alguns dramas familiares.
Reflexões sobre a representatividade da cultura popular surgem a partir da mostra “Reversos e Transversos: Artistas Fora do Eixo (e Amigos) nas Bienais”, coletiva que chega à cidade de São Paulo em 24 de agosto, na Galeria Estação. A exposição reúne trabalhos de artistas de diferentes regiões do Brasil e de fora do país. O curador Ayrson Heráclito fala ao Todos Negros do Mundo sobre a importância dos marcadores étnicos-raciais e sociais no meio artístico: “O pensamento decolonial e o pensamento antirracista, no momento histórico atual, vêm pressionando as hierarquias tradicionais do sistema da arte, com seus diferentes sujeitos, linguagens e poéticas, promovendo, por consequência, uma profunda revisão nas concepções de arte”. A mostra ficará na Galeria Estação, localizada no bairro de Pinheiros, até o mês de outubro.
🎧 Podcast
Quando o assunto é agricultura, há espaço suficiente para o cultivo destinado ao combate da fome? Segundo dados da ONG ACT - Promoção da Saúde, se cada 10% dos hectares que cultivam folhas de tabaco produzissem vegetais diversos, teríamos um acréscimo de 857,2 mil toneladas de alimentos para enfrentar a fome. No episódio “Menos Fumo, Mais Comida no Campo” do “Ciência Suja”, produção da Rádio Guarda-Chuva, a nutricionista Nayara Cortes Rocha, o economista Valter Palmieri Jr e o engenheiro Marcelo Moreno debatem sobre insegurança alimentar, alternativas para a diversificação de plantios e sobre o cultivo de fumo. O Brasil é o terceiro maior produtor de folha de tabaco no mundo e o maior exportador.
✊🏽 Direitos humanos
A contratação de empresas terceirizadas tem facilitado a isenção de responsabilidade em casos de violações. A informação é de um estudo da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV EAESP) e da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) publicado na revista Organizações & Sociedade. A Agência Bori destrincha os dados da pesquisa, que ilustra a realidade com o caso da rede Carrefour. No assassinato de João Alberto de Freitas, em novembro de 2020, as evidências foram de que o cliente da loja foi vítima do racismo estrutural. Mas a organização nunca chegou a admitir sua responsabilidade e apontou a empresa de segurança terceirizada como responsável. É esse o mecanismo adotado pelas corporações como forma de se isentar em casos de crimes e má-conduta.