A atuação permanente na terra Yanomami e o ano mais quente da história
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🔸 Crise no Equador: após a fuga de José Adolfo Macías Villamar, o Fito, líder de Los Choneros, maior facção do país, da cadeia no domingo, o presidente Daniel Noboa reconheceu ontem por meio de decreto que existe um conflito armado interno no país. O documento identifica 22 organizações criminosas como terroristas e ordena às Forças Armadas executar operações para neutralizá-las. Como reação, as facções iniciaram uma onda de ataques no país. O novo decreto foi editado horas depois com a declaração de estado de emergência. O Nexo explica cronologicamente o que está acontecendo no Equador, quem é Fito e Los Choneros e os motivos que levaram a situação atual de violência.
🔸 Quase um ano depois de declarada a emergência sanitária na Terra Indígena Yanomami, em Roraima, a mortalidade entre os indígenas permanece alta em consequência do garimpo ilegal na região. Após uma reunião ministerial com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ontem, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, anunciou um pacote de medidas permanentes para os Yanomami. Segundo o Congresso em Foco, será destinado R$ 1,2 bilhão para ações de proteção e amparo às comunidades indígenas locais, além da construção de um novo prédio para expandir a capacidade de atendimento da Casa de Saúde Indígena (Casai). A presença de forças de segurança no território também se tornarão permanentes.
🔸 Militares que já questionaram o sistema eleitoral e foram acusados de endossar a aspiração golpista que culminou no 8 de janeiro de 2023 seguem com trânsito livre no atual governo, como revela a Agência Pública. Esse é, por exemplo, o caso do ex-comandante do Exército e ministro da Defesa no fim do governo Bolsonaro, o general Paulo Sérgio Nogueira. Mesmo na reserva e fora de cargos públicos, ele segue participando de eventos com a cúpula militar da gestão Lula. O hacker Walter Delgatti Netto acusou Nogueira de abrir as portas do ministério para que ele ajudasse na produção de um relatório questionando a integridade das urnas eletrônicas. A corregedoria do órgão, já sob o comando do ministro José Múcio Monteiro (PRD), nunca apurou a denúncia.
🔸 Para ouvir: o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes era um dos principais alvos de bolsonaristas que participaram dos atos golpistas por sua atuação na Corte e também como presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em 2022. Dividido em seis partes, o podcast “Alexandre”, produção da Trovão Mídia e da revista piauí, destrincha o papel do protagonista inesperado da eleição mais acirrada da História do país, entre a aura de herói da democracia para uns e vilão para outros.
📮 Outras histórias
Proibidos de comercializar bebidas e alimentos durante os ensaios do pré-carnaval em Curitiba (PR) no último fim de semana, ambulantes organizam um protesto nesta quinta-feira (11), em frente ao prédio da prefeitura. Segundo o Plural, os eventos que antecedem o Carnaval oficial reúnem milhares de pessoas todos os anos aos fins de semana e são fonte de renda para esses trabalhadores e para o comércio local. Tesoureiro do bloco Garibaldis e Sacis, Sergio Ubiratã afirma que os foliões ficaram indignados com a retirada dos ambulantes: “A gente sabe que é uma região turística e a prefeitura agiu de maneira higienista para retirar os trabalhadores”.
📌 Investigação
Maior quilombo do Brasil, o Território Quilombola Kalunga, no norte de Goiás, é ameaçado por grilagens, esbulhos, expansões ilegais de fazendas, conflitos de posse, intimidações e garimpo ilegal. Os mais de oito mil quilombolas distribuídos em 56 comunidades esperam a titulação definitiva da área há quase 20 anos. “Existem muitas ameaças graves que não são denunciadas por medo; gente que aparece aqui fazendo terrorismo, pessoas armadas, apoiadas por forças policiais”, denuncia um morador da comunidade Engenho II ao Projeto Colabora. O Ministério Público Federal já identificou 50 pontos de invasões e dois pontos de garimpo ilegal dentro do Sítio Histórico e Patrimônio Cultural Quilombo Kalunga.
🍂 Meio ambiente
O ano de 2023 foi confirmado como o mais quente já registrado desde 1850 e, provavelmente, nos últimos 100 mil anos. É o que revela o relatório do Serviço de Alterações Climáticas Copernicus (C3S) da União Europeia. A temperatura média anual de 14,98°C esteve perto de atingir 1,5 °C acima dos tempos pré-industriais, um limite que os países pretendem evitar desde o Acordo de Paris de 2015. O Terra lembra que o ano passado foi marcado por recordes de eventos climáticos extremos, como ondas de calor, secas, inundações e incêndios florestais.
Em tempo: a ciência se debruça há décadas sobre a emergência climática, que se revela mais intensa a cada ano. Em oito episódios o podcast “Tempo Quente”, produção da Rádio Novelo, destrincha as atividades que estão lucrando enquanto o mundo colapsa – das empresas envolvidas na produção de energia aos desmatadores da Amazônia que empurram o gado para a floresta morta.
📙 Cultura
“A personagem é alguém que descobre caminhos ancestrais. Então pode ser um desejo meu de ter me descoberto mais cedo, ter conseguido expor isso no ambiente escolar, de ter sido ouvida e acolhida.” Flávia Oyátumbi é professora da rede municipal na zona leste de São Paulo, em Artur Alvim, onde também mora, e lançou no último ano o livro infantil “O Tesouro de Amina”. A Agência Mural conta que a obra celebra a cultura afro-brasileira e incentiva a aceitação e valorização da negritude. A protagonista, Amina, recebe o apoio de uma professora e da avó para valorizar seu sorriso com diastema – espaço entre os dentes superiores do meio – como parte da herança africana.
🎧 Podcast
Jornalista mais premiada do Brasil, Eliane Brum atua na cobertura sobre a Amazônia há quase 25 anos. Nascida no interior do Rio Grande do Sul, ela vive em Altamira, no Pará, desde 2017, e é uma das vozes ativas na luta pela preservação da floresta e dos povos que nela vivem. No último episódio da série “Pensando a Amazônia pela Literatura”, do “LatitudeCast”, produção da Amazônia Latitude, a jornalista compartilha seu olhar sobre a crise climática e a vivência na região. “A única saída que a gente tem para que as gerações que já nasceram, tanto as humanas como as mais que humanas, tenham alguma qualidade de vida neste planeta, é entender que os centros do nosso mundo é onde está a vida, são os enclaves de natureza, como a Amazônia”, afirma.
🙋🏾♀️ Raça e gênero
Desde 2003, a cada dois anos, diversas etnias do Xingu, no Mato Grosso, se reúnem na Assembleia Geral do Movimento Mulheres do Território Indígena do Xingu para discutir os deveres e direitos das mulheres indígenas. A nona edição do evento, criado pela artesã Watatakalu Yawalapiti, aconteceu em novembro passado. A revista piauí acompanhou os três dias do encontro e detalha que a sobrecarga de trabalho, problemas de saúde e o tempo das crianças na frente das telas são os principais temas que tiram o sono das mulheres dos 16 povos xinguanos reunidos. De acordo com a reportagem, um dos principais objetivos da assembleia é inspirá-las a participar da luta política.